Solstício (novel) - Capítulo 00
Prólogo
“Se pudesse, após a morte, permanecer assim. Eu te mataria e, em seguida, te amaria.”
Por: William Shakespeare, ⟨Otelo⟩ Ato 5, Cena 2
🌸🌸🌸
O corpo estirado na cama balançava conforme o homem estocava. Toda a força já a havia abandonado, e ela não conseguia mais mover nem um dedo por vontade própria.
— Você jogou muito bem, Lily Gray.
Seus pulsos, amarrados com um cinto de couro, ardiam. Sua pele parecia ter sido esfolada enquanto resistia. Por mais que cerrasse os dentes, gemidos escapavam de sua garganta a cada vez que a penetração brutal golpeava seu interior..
— Ah, hm…!
Sua pélvis, esticada ao limite, gritava. Mas mesmo isso não era nada comparado às suas outras lesões.
Uma dor aguda percorria toda a sua caixa torácica a cada respiração, como se suas costelas estivessem trincadas. Sua coxa, onde havia levado um chute no joelho, estava completamente dormente.
— Ou… devo te chamar de River Winstead, a vadiazinha do FBI?
— Cala a boca, hng, seu pedaço de lixo…
O homem apenas riu friamente diante de seu insulto flagrante. A tranquilidade de um predador cravando os dentes no pescoço de sua presa.
Manchas de sangue borravam os cantos de sua boca. Era do ferimento causado pelo soco que ela havia desferido antes de ser dominada, ou era o sangue daquela que estava sendo violada? A especulação sem sentido terminou assim que o membro enorme penetrando por baixo ganhou ainda mais força.
— Abra a boca.
— Vai se foder, seu filho da puta lunático.
— Não quer? Melhor ainda.
A mão esquerda que segurava suas pernas agarrou o cabelo de River. O toque bruto fez sentir como se o couro cabeludo estivesse sendo arrancado. A mão direita, que a estrangulava, também subiu pela linha de seu maxilar como uma cobra. Assim que ela pensou que ele estava puxando seu queixo à força, um beijo brutal desceu como um raio.
Não, aquilo poderia mesmo ser chamado de beijo? Um nome tão romântico era bom demais para um ato de subjugar a presa, mordendo os lábios e chupando com força a língua.
Ele beijou River como se fosse devorá-la por inteiro. Cada vez que seu pau atingia impiedosamente o colo do útero, sua língua quente invadia sua boca.
Um gosto forte e metálico de sangue permeou as línguas entrelaçadas. Devia ser porque o sangue fervia em sua garganta. Ou talvez ela estivesse morrendo, submersa no próprio sangue.
Sua respiração gradualmente se tornou ofegante. Não era fácil inspirar nem expirar, enquanto ele a penetrava por baixo implacavelmente, sem dar nem um momento de descanso.
— Hng, ah, ah, hum…!
River ofegou finalmente por ar, liberada do beijo torturante. Sua cabeça girava à medida que o oxigênio insuficiente chegava de uma só vez. No entanto, o pênis que penetrava não parou. Sua vagina, completamente preenchida, parecia prestes a rasgar a qualquer momento.
Mesmo em meio aos gemidos crescentes, o sussurro do homem foi impiedosamente claro.
— Mantive você ao meu lado porque valia a pena observar, mas quem diria que você seria uma bella donna que se infiltrou para me apunhalar pelas costas.
Uma raiva gelada estava escondida em sua voz aparentemente suave. No momento em que River encontrou os olhos azuis penetrantes do homem, ela ofegou.
A sentença já havia sido decretada. Assim que o ato terminasse, este homem a mataria.
Mas se essa morte seria rápida e pacífica, não era algo que ela pudesse garantir.
O volume que empurrava profundamente em suas paredes internas era atordoante. River tossiu e mal conseguiu respirar. A morte não parecia tão distante. Não haveria chance de escapar, então talvez fosse melhor simplesmente morrer.
— Está doendo? Mas ainda assim, você parece estar gostando bastante.
A cabeça presa na mão do homem foi então forçada para baixo, para olhar.
— Aqui… sua boceta está devorando o meu pau com muita avidez. Consegue ver?
A vagina engolia o pau dele entre as pernas bem abertas. Cada vez que o grosso membro entrava e saía da carne macia, o lugar que já havia sido conquistado tantas vezes era violado novamente.
— Está doendo. Para com isso. Sandro… por favor.
Cada vez que seu membro alargava e penetrava suas paredes internas em convulsão, o sêmen que se acumulava na passagem interna sinuosa era expelido. Uma espuma esbranquiçada com tom rosado se formava na junção. Ela sentia como se estivesse queimando até a morte com o calor da fricção que a invadia.
— Nada mal. Sempre pensei: você tem talento… Não é comum uma mulher aguentar meu pau até o fim.
A glande dura parecia martelar contra seu útero, preenchendo quase até o umbigo. Se o homem pressionasse apenas um pouco mais, talvez abrisse um buraco em seu diafragma ou em sua barriga.
Minha barriga parece que vai estourar…
— Me responda, Lily, ou melhor… Winstead. — Ele perguntou, com seu pau enterrado até a raiz. A mulher tremia como se fosse sufocar, enquanto sua mão grande pressionava seu abdômen. — É por isso que você nunca usou o presente que eu te dei no seu aniversário falso?
Ah, o presente de aniversário…
Sua última memória que tinha, enquanto ainda era Lily Gray, voltou vívida à sua mente. A bela paisagem com a espuma branca se agitando. A brisa suave do mar e o sussurro suave de Alessandro. Até mesmo as batidas do seu coração que ela sentira quando seus olhos se encontraram.
O que havia acontecido apenas uma semana atrás agora parecia uma mentira.
— Para, hng, por favor, Sandro…
O olhar do homem parecia indiferente, estranhamente frio, ou talvez ardendo com uma intenção assassina. Mesmo se estivesse em pleno controle de si, não conseguiria decifrar a emoção em seus olhos.
Em sua visão que ia se apagando, River reuniu suas forças restantes e mal proferiu uma palavra.
— Apenas… me mate…
‘Me mate, Sandro. Por favor, apenas me mate. Mesmo que eu caia no fundo do inferno assim.’
Mas, infelizmente, a misericórdia da morte não foi concedida.
— Desculpe. Não posso fazer isso.
Quanto tempo ela teria durado em um jogo onde nunca teve chance?
Alessandro, sem tirar os olhos da mulher debaixo dele, puxou um revólver do coldre atrás das costas. Não havia como a presa, cuja vontade de resistir já estava quebrada, evitar o cano prateado.
O objeto duro colidiu contra seus dentes alinhados e cravou-se de maneira brutal. Em sua consciência vacilante, River sentiu o cheiro ácido da pólvora e a frieza do metal.
Estava carregado com uma bala. Se ele apenas puxasse o gatilho, tudo estaria acabado. A parte de trás da cabeça de uma mulher cega de amor, de uma agente capturada, ou da amiga de infância seria despedaçada.
Ela não sentia medo da morte. Pelo contrário, a recebia de braços abertos.
Se ele apenas puxasse… se apenas pressionasse o dedo indicador…
A memória de River terminou ali.
(Nota: William Shakespeare, “Otelo”, Ato 5, Cena 2. A fala é dita por Otelo e Desdêmona, momentos antes de assassiná-la, refletindo a tragédia do ciúme e do amor possessivo que permeia a peça.)
(Bella Donna vem do italiano “mulher bonita”. Seu sentido simbólico representa beleza perigosa, sedução que traz risco, mistério e dualidade entre o belo e o mortal.)
Continua…
Tradução: Elisa Erzet