Sob o Poder de Sua Crueldade - Capítulo 15
Ninguém sabia ao certo quantos eram os lobos de Reinhardt, onde estavam ou que tipo de trabalho realizavam. Tudo isso era mantido em absoluto sigilo. Mesmo depois de o próprio rei de Luxen, seu país de origem, tê-los traído, ele já não tinha conhecimento algum sobre eles — e, na verdade, a maioria das pessoas sequer sabia da existência dos lobos.
Ainda assim, havia alguns que acabaram vindo à tona.
O mais representativo deles era Simon von Bernheim.
De cabelos loiros e olhos vermelhos, Simon era um caso raro entre os lobos por ser de origem nobre. Além disso, era famoso por lidar com qualquer assunto com perfeição, tanto externamente quanto internamente.
Para o público, atuava como secretário de Oscar e diretor da Companhia Siderúrgica Reinhardt; nos bastidores, era responsável por comandar e coordenar os agentes pertencentes à família do marquês.
— Chame o médico com antecedência. E, se amanhã, a partir das cinco da manhã, o estado da mulher ainda for o mesmo, traga a dona do bordel.
— Sim.
Caminhando pelo corredor da suíte Royal do Hotel Ritz, em Pelfe, Simon deu ordens aos subordinados e, em silêncio, abriu a porta da suíte e entrou.
De dentro, vinha o som da água, como se Oscar estivesse tomando banho, e os lobos que se movimentavam no interior se aproximaram em silêncio.
— A chave foi assegurada.
Simon observou calmamente a chave que o subordinado lhe entregou.
— A réplica já está pronta; só falta fazer a gravação. E isto aqui é o comprovante de titularidade da chave e o documento de identificação.
Enquanto examinava os documentos recebidos em seguida, os olhos de Simon se estreitaram.
— Não dá para saber com certeza que tipo de escrita é essa.
— Sim. Disseram que no Banco de Pelfe também ficou em espera por causa disso.
Simon devolveu tanto a chave quanto o comprovante e deu as instruções:
— Copiem tudo exatamente como está e tragam uma versão decifrada. A chave deixem à cabeceira da cama, para que Sua Excelência a veja.
— Entendido.
— Façam também uma cópia do comprovante de titularidade. Quando a chave duplicada chegar, coloquem-na de volta no lugar original sem que ninguém perceba.
— Sim, senhor.
Simon fez um gesto para que os subordinados se retirassem, como quem diz que o trabalho estava concluído. Em seguida, atravessou os lobos que se moviam apressados e caminhou em direção ao quarto de porta aberta. Precisava verificar o estado da mulher.
A mulher que havia se tornado uma chave viva.
Considerando a legislação bancária de Pelfe, seria extremamente problemático se a mulher morresse ou perdesse a sanidade.
Simon empurrou o ombro da mulher, que estava deitada de lado, com o corpo encolhido. Ela foi deslocada com facilidade, como se não tivesse força alguma — até um toque leve bastou.
Sob a luz turva da lua, o vapor da respiração que escapava por entre seus lábios bem delineados parecia tremular como uma miragem. Ao encarar aqueles olhos abertos e vazios, Simon estalou a língua em voz baixa. Em seguida, mandou para fora os homens que estavam de guarda no quarto da mulher. Não lhe parecia nada adequado deixar alguém naquele estado sob os cuidados de homens que viviam no campo de batalha.
Depois de confirmar que ela ainda estava viva, saiu do quarto. Foi então que Oscar surgiu do banheiro. Como de costume, vestia apenas a calça do pijama, jogada de qualquer jeito.
— A chave, o documento de identificação e o comprovante de titularidade foram todos assegurados.
O lobo que havia colocado a chave à cabeceira da cama de Oscar imediatamente a pegou e a entregou a ele. Oscar recebeu a chave e a observou com calma antes de perguntar:
— Qual é o nome?
— ……
— Daquela mulher. Qual é o nome dela?
Com os olhos semicerrados, ele lançou um olhar em direção ao quarto onde a mulher estava e, em seguida, voltou-se para Simon.
— Não foi possível decifrar o documento de identificação. Por isso, o Banco de Pelfe também decidiu manter o processo em espera.
— Informe-se sobre os movimentos do Banco de Pelfe e do rei de Pelfe, e traga a versão decifrada do documento de identificação dentro de uma semana.
— Entendido.
Com a chave na mão, Oscar começou a caminhar. Atrás dele, ouviu-se o som de Simon deixando a suíte, mas a atenção de Oscar estava inteiramente concentrada no que repousava em sua palma.
A chave.
O metal frio e rígido era menor e mais simples do que ele havia imaginado.
Houve um tempo em que, se pudesse encontrá-la, ele estaria disposto a revirar até o fundo do mar. Quando a procurava desesperadamente, ela não dava nem sinal de existir — e agora, afinal, de onde tinha surgido, aparecendo por conta própria?
— Bem… se isso for o preço por ter levado uma punhalada nas costas de um idiota, não é exatamente ruim.
Murmurando em tom autodepreciativo, Oscar parou ao chegar à porta.
O olhar azul-acinzentado, que até então fitava a chave, ergueu-se à frente.
Além da porta escancarada, havia uma mulher, sem saber em que estado estava nem por quem fora arrastada até ali. A mulher deitada na cama, banhada pela luz da lua. Entre ela e ele, pairava apenas uma escuridão impotente.
Após uma breve hesitação, Oscar voltou a se mover.
A luz da lua que entrava quebrada pela janela tocou-lhe a ponta dos pés — depois os tornozelos — até que ele caminhou por completo para dentro daquele brilho pálido e parou à cabeceira da cama.
A luz da lua que entrava delineava com nitidez o perfil de seu rosto, recortando-o em sombras negras. Metade envolto em luz, metade submerso na escuridão, Oscar fitava a mulher.
A mulher que havia se tornado uma chave viva tinha um rosto que ele jamais imaginou.
Na mente de Oscar, quem empunhava a chave era sempre alguém no ápice do poder.
Um rei dos piratas que atravessava dos mares do sul de Norfolk até as águas orientais; um senhor das drogas que dominava todo o tráfico; o líder de uma organização violenta — ou talvez até o rei de um país.
Mas, no fim, era apenas uma mulher como aquela.
Um riso vazio escapou de seus lábios. Contudo, a autodepreciação logo se dissipou, ressecando no ar, e no lugar do riso restou apenas um olhar frio e implacável.
Esse olhar percorreu lentamente o rosto da mulher.
O rosto exposto, sem qualquer defesa, era extremamente exótico. Os cabelos castanho-escuros, espalhados sobre a cama como algas na água, faziam sua pele parecer ainda mais branca.
Além da aparência estrangeira, havia outra coisa que se destacava: todas as linhas que a compunham eram tão finas que pareciam prestes a se quebrar ao menor toque.
O contorno delicado do queixo e do pescoço, os ombros estreitos — que mal pareciam ter dois palmos de largura —, os dedos e os pulsos empurrando o lençol sem parar, os pés pequenos e os tornozelos visíveis sob a barra enrolada da saia.
A mulher era… como dizer… Era como um desenho feito a lápis, muito pálido.
Seguindo aquelas linhas suaves, como se nenhuma tivesse sido traçada com força, o olhar subia até alcançar os olhos abertos demais.
O corpo do homem, talhado como se fosse esculpido a golpes de lâmina, inclinou-se sobre a mulher oferecida como um sacrifício.
O foco, que ia e vinha como um lampejo intermitente, parecia ter desaparecido por completo. Ainda assim, não eram olhos de um morto. Os olhos esbranquiçados e vazios de quem perdeu a vida causavam repulsa só de olhar. Os dela, ao contrário, haviam se tornado tão transparentes que dava a sensação de se enxergar o fundo.
Como se fosse inútil continuar baixando o olhar e escondendo o rosto, a mulher o encarou. Ou melhor — como não havia foco algum, talvez fosse mais correto dizer que ela simplesmente permitiu que o olhar dele atravessasse suas pupilas.
A luz da lua, que antes se derramava sobre a face de Oscar, mudou de direção e pousou sobre o rosto da mulher. Foi como se cores embebidas em água começassem a se infiltrar naquele desenho em preto e branco feito a lápis.
A textura dos olhos, como se várias camadas tivessem sido sobrepostas uma a uma com lápis de cor finamente apontado; os cílios, delicados fio a fio.
— ……
Naquela noite, o homem que havia tirado a vida de tantos outros fitava a mulher que trouxera à força como se a estivesse saqueando com os olhos, a ponto de esquecer quanto tempo já passara assim.
Nos olhos castanhos, coloridos como se fossem feitos de dezenas de traços minuciosos, lágrimas começaram a se acumular, tremulando. Um calor fervilhante, quase crepitante, ameaçava…
Era naquele instante — em que, mesmo sem saber como, havia nos olhos marejados uma contradição tão miserável que ela parecia não saber o que fazer consigo mesma.
— Hã… ngh…
A mulher, que até então apenas respirava de forma fraca enquanto permanecia imóvel, estremeceu de repente e deixou escapar um gemido agudo. Quando os olhos, antes arregalados, se estreitaram, as lágrimas acumuladas escorreram para o lado. As pupilas, que até então eram apenas transparentes, turvaram-se num instante, como se estivessem embriagadas por algo, e ela virou o rosto para o lado. Com isso, a nuca branca ficou completamente exposta diante dele. Naquele pescoço fino — que parecia que se partiria se fosse segurado com uma única mão —, um pulso azulado pulsava, saltando de forma visível.
Foi mais ou menos nesse momento que um brilho estranho passou pelos olhos do homem, tão turvos quanto os dela.
— Ha.
Recobrando a razão, Oscar soltou uma risada seca e afiada, passando a mão pelos cabelos para trás.
Essas drogas… são mesmo ridículas. Bastam uma ou duas gotas para deixar alguém nesse estado.
Endireitando o corpo que, por um breve instante, havia se inclinado, Oscar virou-se, deixando para trás aquelas impressões cortantes. Não havia nada a ganhar continuando a encarar uma mulher fora de si. Com esse pensamento frio, ele deu um passo à frente — mas foi interrompido por um som inesperado.
Crec.
O som de carne sendo mordida ecoou no ar.
Oscar, que havia se virado de costas para ela, voltou-se num reflexo rápido demais para ser consciente. Os lábios vermelhos, de onde antes escapavam gemidos úmidos, estavam agora fortemente cerrados.
— …!
Num instante, ele avançou até a cama e apoiou um joelho sobre o colchão. Mesmo com o rosto contorcido de dor, a mulher insistia em morder a própria língua, e Oscar segurou a parte de trás de sua cabeça com uma mão para sustentá-la.
Havia cheiro de sangue.
Mesmo inconsciente, parecia que ela tentava resistir ao efeito da droga mordendo a própria língua, como se preferisse aquilo a se deixar levar.
Com a mão livre, Oscar agarrou o queixo dela e pressionou as extremidades da mandíbula com o polegar e o dedo médio. Tentou forçar a abertura da boca pressionando a articulação, mas, apesar do olhar turvo, a mulher não abriu os lábios.
A tensão marcou profundamente a testa de Oscar.
Aquela chave — que ele chegara a aceitar que talvez nunca se abrisse, ou que nem sequer pudesse ser aberta — foi algo que ele procurou como um louco. Desejou com desespero, a ponto de em alguns dias afundar numa angústia quase mortal; em outros, tornou-se apático, como se já tivesse esquecido. As circunstâncias haviam mudado, é verdade, mas talvez ele tivesse fingido esquecer porque precisava seguir em frente.
Mas ao que parecia, ele nunca havia esquecido de fato. Caso contrário, aquelas emoções de desejo insano não teriam voltado com tamanha força. Dizem que aquilo que se aprende com a mente se dissipa, mas o que o corpo aprende permanece até a morte.
Quando a mulher mordeu a própria língua até sangrar, Oscar sentiu o estômago se contrair com força, como se algo brotasse das profundezas do seu corpo.
— Não.
Rosnou de forma áspera e enfiou os dedos entre os lábios cerrados da mulher. Os dedos, avançando como se esmagassem os lábios vermelhos, forçaram passagem pelo espaço entre os dentes que mordiam a língua com força. A língua lisa e quente se enrolou na ponta de seus dedos.
— Relaxe.
— Hrrk…
Era um tom cortante, que até os lobos evitariam, mas a mulher, entorpecida pela droga, não reagiu. Ela apenas parecia querer, a qualquer custo, morder a própria língua para recuperar a consciência, usando toda a pouca força que tinha para afastar Oscar, que a impedia.
A mão fina agarrou o pulso grosso e empurrou. Dos olhos marejados, lágrimas continuavam a escorrer, enquanto ela tentava, ao menos com a língua, expulsar os dedos longos que invadiam sua boca. Esforçava-se ao máximo para afastá-los — para então voltar a morder a própria língua.
Desse jeito… não dava.