Sob o Poder de Sua Crueldade - Capítulo 14
— Uuuh… hrrrgh…!
Era como se a língua estivesse derretendo. Aquele inferno grotesco — o cheiro da própria carne queimando, enfiando-se nas narinas — fazia um único segundo parecer uma eternidade. O demônio de olhos azul-gélidos não concedeu sequer a chance de implorar por misericórdia. Limitou-se a encarar de cima, com um olhar assustadoramente indiferente.
Quanto tempo teria passado?
O olhar de Oscar, que observava o homem, finalmente se desviou.
Onde seus olhos se detiveram estava a dona do bordel, trazida em silêncio pelos lobos. Ela fitava, atônita, o coração daquele inferno onde todos os sons pareciam ter sido apagados.
— A… —
Oscar, que esmagava um homem adulto com a maior facilidade, sacudiu a mão e então se esticou, erguendo o corpo. Só então o homem, agora com os movimentos liberados, começou a rastejar em direção a ela, emitindo sons animalescos. Mesmo depois de reduzir um homem à condição de fera, Oscar permanecia exatamente o mesmo de quando pisou naquela mansão pela primeira vez.
— Você veio?
O tom baixo e suave lhe causou arrepios. Cinco mil isso vale, pedra bruta aquilo. Todos os pensamentos que tentou reunir para manter a razão desapareceram como a maré baixa diante do medo instintivo. Ela desabou, estatelando-se no chão.
— Perdoe-me.
Oscar a observou em silêncio, e os lobos se moveram antes mesmo que o dono desse qualquer ordem.
— Foi um erro meu, por favor, poupe-me.
Ao lado da dona do bordel, que jazia prostrada no chão, algo grande caiu com um baque seco. Por reflexo, ela virou o olhar: dois homens, vivos ou mortos, era impossível dizer.
— Aah!
Tomada pelo pânico, ela se ergueu bruscamente e caiu sentada. Começou a recuar, arrastando-se sobre as nádegas, quando um dos lobos a empurrou na direção dos corpos caídos. Arremessada com brutalidade sobre aquele monte que não sabia se era de cadáveres ou não, o cheiro metálico e nauseante de sangue lhe invadiu os pulmões. A ânsia veio imediatamente.
— Ugh… ugh!
Enquanto vomitava tudo o que tinha no estômago, um pesado saco de dinheiro foi atirado à sua frente. Ao ver a bolsa encharcada de vômito, ela percebeu que aqueles sob seu corpo eram traficantes de pessoas — os homens que haviam trazido a garota.
Tremendo, ela voltou a se prostrar sobre o próprio vômito. A testa e os cabelos ficaram enredados naquela sujeira, mas isso já não lhe importava nem um pouco.
Ela vasculhou a própria mente, tentando entender por que aquilo estava acontecendo com ela. Por que aquele homem desconhecido se apegou tanto à mulher, por que estava fazendo aquilo com ela. Mas isso já não era o mais importante. Só pelo fato de ter capturado uma mulher, iria ser triturada como carne. E motivos para que ela própria fosse triturada não lhe faltariam.
— E-eu… por favor, me perdoe.
Passo a passo.
Toc, toc.
Quanto mais aqueles passos lentos se aproximavam, mais ela tremia, à beira de desmaiar. O quanto fora tola ao se orgulhar de já ter passado por tudo na vida. Desde que nasceu, nunca sentiu tamanho terror.
— Perdão… por favor… me perdoe…
Pensamentos sobre a época, sobre provas, sobre ousar enfrentá-lo — tudo isso pareceu um sonho distante.
Oscar parou a um passo dela, enfiou as duas mãos nos bolsos e fitou em silêncio a nuca que tremia de forma lastimável. Assim, fez uma última avaliação sobre o que fazer com ela.
Qual escolha seria a mais eficiente.
A mulher que Simon acreditava estar cavando a própria cova ainda teve, ao menos, um pouco de sorte. Numa Felpe tão pequena, ver sangue desnecessário muitas vezes não era exatamente sábio.
— Hoje não houve nenhum hóspede que tenha passado a noite aqui.
A dona do bordel assentiu apressadamente com a cabeça.
— Sim, claro.
— A mulher comprada por cinco mil também nunca existiu, afinal.
— Certamente.
— E a limpeza.
Oscar cutucou com o pé os dois corpos.
— Posso confiar que você dará conta disso sozinha? Se não tiver certeza, eu faço.
— Não, não… por favor, acredite em mim.
A dona do bordel repetia mecanicamente respostas sem ao certo saber o que estava dizendo.
— Certo. Então posso confiar em você?
No instante em que aquelas palavras assustadoramente gentis caíram sobre sua cabeça, ela agradeceu a Oscar como se ele fosse o salvador de sua vida.
— Muito obrigada.
Mas era cedo para achar que estava realmente viva.
— A propósito… o que você deu para ela?
Ela ergueu a cabeça, surpresa, e notou que, de alguma forma, Oscar já estava de pé ao lado da cama. Ele se inclinou levemente na direção da mulher.
A pobre garota, cuja única proteção era a frágil porta, mudou em questão de segundos. Mesmo à primeira vista, sua pele estava pálida, quase sem cor.
O rosto que antes era pálido agora estava vermelho. Seus olhos piscavam de um foco para outro, indo e voltando.
—Haah…
A respiração, ao mesmo tempo lenta e ofegante.
Na verdade, Oscar achava curioso que a dona do bordel tentasse proteger aquela mulher a todo custo, apenas pelo que podia ver através da fresta da porta. O mesmo aconteceu quando ouviu o preço pelo qual ela foi comprada. Como poderia alguém pagar tanto por uma mulher que mal conseguia encarar outra pessoa?
Mas vendo essa cena, Oscar começou a entender o que a dona do bordel tinha visto nela.
Ele endireitou o corpo curvado e se voltou para a dona do bordel.
— Já fez uma besteira inútil, hein?
A dona do bordel, tremendo, rastejou pelo chão até a cama. Nunca se sentiu tão arrependida por ter ordenado que a educação começasse naquela noite.
A mulher estava encolhida sobre a cama, emitindo gemidos finos. Era óbvio à primeira vista: o afrodisíaco já havia se espalhado pelo corpo.
A mente afundava abaixo da consciência, enquanto todos os sentidos ficavam hiperativos. Nessa condição, todo o corpo se tornava sensível ao toque. Cada gesto provocava rubor e gemidos. Nesse meio, mulheres nesse estado eram chamadas de “instrumentos”.
O estado dela era perfeito para “educação”, mas para a dona do bordel, que tinha sua própria vida pendendo por um fio, cada gemido da mulher parecia roubar parte de sua própria existência. Ela tentou explicar a situação a Oscar desesperadamente.
— E-então… não é uma droga séria. Só que… o corpo dela está um pouco paralisado e os sentidos estão extremamente sensíveis…
— Traga o antídoto.
As palavras cortantes, tão bruscas, pareceram apertar seu pescoço, e lágrimas começaram a escorrer.
— Desculpe… o antídoto… não… eu… ah…!
Ela agarrou as mãos pisoteadas e abaixou a cabeça. Mas o peso do olhar que atingia a nuca era ainda maior que a pressão sobre suas mãos.
— Não é uma droga mortal! Dei uma gota de Elros e uma gota e meia de Exros. Com o tempo, o efeito se dissipa naturalmente.
— Além disso, havia outra coisa?
— Não, não dei mais nada! De jeito nenhum!
Ela implorava com desespero.
— Estávamos no meio da educação. Se a situação piorasse, eu também sairia prejudicada, entende? Por favor, confie em mim! Com certeza, com o tempo, o efeito vai passar naturalmente…
— Quantas horas duram?
— Entre sete e nove horas. Pela manhã de amanhã, ela estará consciente! Por favor, confie em mim.
— ……
O cheiro de cigarro voltou.
Ela instintivamente percebeu que uma nova avaliação sobre sua própria vida estava em andamento.
“Será que, depois que ele terminar esse cigarro, vai me matar?” Pensar nisso fez sua mente quase ficar branca de medo extremo.
Ploc.
Uma ponta de cigarro ainda acesa caiu ao lado de seu corpo de bruços. Ela não teve coragem de olhar para Oscar e, em vez disso, fixou os olhos no cigarro caído ao seu lado. A fumaça vazia pairava sobre seus olhos cheios de desespero. Ao redor dela, como se tivessem esperado o momento, os lobos começaram a se mover silenciosamente.
Lágrimas silenciosas escorriam.
A vida que antes parecia um pântano passou rapidamente diante de seus olhos. Finalmente, parecia que poderia viver um pouco…
Enquanto pensava isso, repetia incessantemente com a boca:
“Salve-me, eu errei, salve-me.”
O terror da morte fazia com que esquecesse espaço e tempo. Como uma máquina quebrada, repetia sempre as mesmas palavras.
Quanto tempo teria passado repetindo “salve-me”?
— Então, por que vocês não se entendem e percebem seus limites direito?
Ao ouvir essa voz súbita, ela levantou a cabeça com um rangido. Diante dela estava um lobo, com olhos vermelhos cheios de irritação, encarando-a.
O homem abaixou o corpo suavemente, como se a sombra se assentasse, e encontrou os olhos dela.
— Você disse claramente sete a nove horas, não foi?
Ela acenou com a cabeça como em transe. Ele então se ergueu novamente com a flexibilidade de um lobo esticando a cintura e pisou no cigarro de Oscar que ainda não tinha se apagado, apagando-o.
— Não saia por aí à toa. Fique quietinha. Encontrar você não seria problema, mas se me fizer procurar, ainda vou cobrar a taxa de serviço por isso.
— …S-sim….
— Viva direitinho, comportada.
Depois de lançar essas palavras que pareciam fora de lugar, ele vasculhou rapidamente o quarto mais uma vez e desapareceu pela porta.
Ela ficou sentada em estado de choque, sem perceber, mexendo no próprio pescoço.
Mas a sensação de alívio por estar viva durou pouco; e se por acaso a outra mulher não acordasse…? A calafrio de uma noite de verão percorreu seu corpo, e ela vomitou, exaurindo-se completamente, sem nada mais para expulsar.
***
Os agentes de elite da família do Marquês Reinhardt, conhecidos coletivamente como “lobos”.
Quando a família Reinhardt ainda era a casa do Conde da Fronteira, eles eram os soldados particulares da família; com o passar do tempo, acabaram se escondendo nas sombras.
Receberam tarefas um pouco mais perigosas e um pouco mais secretas.
Espionagem, sabotagem, assassinato, busca.
Ao realizarem cada uma dessas missões, passaram de agentes da Ordem para espiões, e, em algum momento, começaram a ser chamados de “lobos”.
O objetivo dos lobos era apenas um: lealdade absoluta ao mestre que os acolheu e criou.
Sem nação ou etnia, pertenciam unicamente a Reinhardt. Reinhardt era seu país e seu povo; os objetivos do mestre eram os deles.
E, invertendo esse extremo de lealdade, significava que qualquer um que não alcançasse tal fidelidade não era chamado de lobo, sendo expulso ou descartado.