Sob o Poder de Sua Crueldade - Capítulo 12
— Eduquem-na.
(A dona do bordel está falando para as outras prostitutas ensinarem Seo-ah a ser uma prostituta.)
A dona do prostíbulo disse assim que entrou no quarto. Quem a amparava perguntou de imediato:
— A garota que chegou hoje?
— Então tem outra vadia pra educar além daquela?
Ela, que falava com elegância e se fazia passar por nobre, deixou escapar sua verdadeira face depois de muito tempo.
— De qualquer forma, as que não rastejam até aqui por vontade própria precisam de educação. Você sabe disso, não sabe?
— Sim, claro.
— Faça isso agora mesmo.
— Agora mesmo?
— Por que fica perguntando toda hora?!
— Normalmente a senhora investiga a identidade um pouco mais… tenta convencê-las na conversa…
— É uma garota que não tem para onde ir.
Ela cortou a conversa de forma abrupta e levou o cigarro à boca. A mão que o segurava tremia. A garganta parecia queimar, então, no meio de acender o cigarro, engoliu um longo gole de bebida.
O motivo de ter mandado o cocheiro embora e ido atrás da garota era simples: queria trocar mais algumas palavras, descobrir coisas sobre o entorno dela — por exemplo, se havia família que pudesse procurá-la caso desaparecesse.
Mas isso já não era necessário.
O casaco que ela tirou de costas, sem se virar. Os inúmeros bolsos pendurados no forro. Aquilo explicava, de imediato, por que ela não conseguira se desfazer daquela roupa nem mesmo sob o calor sufocante.
Ela conhecia bem o gosto da desgraça. Os hábitos de quem é encurralado só podem ser compreendidos por quem já esteve encurralado.
O gosto da desgraça, suspenso no ar, era doce.
— Não a machuque. Vale cinco mil.
— Entendido. Colocamos um pouco de anestésico e afrodisíaco?
— Se for pra não deixar marcas, tem que ser assim. Controle bem a dosagem. Não vá deixar a garota aleijada.
Então, como quem mexe em algo que preferia não revirar, perguntou:
— E aquele homem?
À pergunta dela, o funcionário que estava à porta respondeu imediatamente:
— Foi embora.
— Conferiu se a carruagem desapareceu?
— Sim. Confirmamos que seguiu na direção do Hotel Ritz.
Ela assentiu com a cabeça e despejou de uma vez a bebida forte pela garganta.
Ainda assim, havia algo incômodo.
Ele não parecia querer sexo. Então teria sido um impulso de justiça, um desejo de salvar a mulher?
Também não parecia ser isso.
O fato de ser um homem de identidade desconhecida a deixava extremamente desconfortável, mas, se tivesse a intenção de fazer alguma coisa, já o teria feito. Por isso mesmo, ela estava mais impaciente do que de costume. Também a preocupava o que a garota poderia estar fazendo depois de ouvir a palavra “bordel”.
— Comecem a educação agora mesmo, antes que a garota faça alguma besteira. Eduquem-na no quarto e, antes do amanhecer, coloquem-na na carruagem e mandem para Lotte.
— Sim, senhora.
— Escondam bem e só a tragam quando eu mandar. Já falei, controlem bem a dosagem. No momento em que virar inútil, o desgraçado que fez isso vai acabar do mesmo jeito. Entendeu?
— Entendido.
Ela bebeu mais um copo da bebida forte. Quando o álcool começou a fazer efeito, o coração inquieto, agitado pela ansiedade, foi aos poucos se acalmando.
Isso mesmo. Não é nada.
A noite estava transcorrendo sem problemas, e a garota não fora tirada dela.
Aparentemente, com a idade vem também o excesso de desconfiança.
Quando as mãos que tremiam como folhas de álamo finalmente se acalmaram por completo, ela voltou a parecer elegante, como a camareira-mor do palácio real.
E, por volta daquele momento, dezenas de lobos, contendo totalmente sua presença, começaram a se reunir em torno da bela mansão erguida às margens do rio Daube.
O jardim nos fundos do grandioso bordel, envolto pela escuridão da noite.
Entre as sombras negras das árvores ornamentais, uma silhueta se movia com tranquilidade.
O ilustre convidado de identidade desconhecida, que supostamente já havia deixado a mansão, passeava pelo jardim dos fundos do bordel. As mãos nos bolsos, a força relaxada na cintura — uma postura que fazia sua querida mãe ranger os dentes de ódio.
Oscar apagou completamente a imagem residual da mãe que por um instante ocupou sua mente, como se esmagasse uma bituca de cigarro sob o pé.
Enquanto isso, continuava a caminhar entre as árvores, como alguém que aprecia um passeio noturno.
A grama densa abafava seus passos, o vento que serpenteava pelo jardim ocultava sua presença. O olhar fixo, preso a um único ponto, era protegido pelas folhas cerradas das árvores acima de sua cabeça.
Como um predador avançando em direção à presa, Oscar seguiu em direção ao quarto da mulher e então parou em um ponto apropriado, encostando as costas no tronco de uma árvore.
O quarto dela ficava bem à sua frente. As cortinas estavam fechadas. Entre uma e outra, um fio de luz escapava, e, de vez em quando, algum movimento podia ser visto.
— Dizem que o rei de Pelfe já recebeu o relatório.
Ao ouvir o relatório de Simon, que havia se aproximado um passo, Oscar estalou a língua de leve.
Ele tentara barrar, no meio do caminho, o relatório relacionado ao cofre antes que chegasse ao rei de Pelfe, mas já era tarde demais.
Pelfe.
Considerando apenas a extensão territorial ou o tamanho da população, era um Estado-cidade que não chegava nem aos pés de um ducado mediano.
Ainda assim, apesar da turbulenta história moderna de Norfolk, Pelfe nunca perdeu seu status de reino. Havia várias razões para isso, mas a decisiva era o banco.
O Banco Real de Pelfe.
Fundado há cerca de quatro séculos como o primeiro banco a abrir suas portas no continente de Norfolk, o Banco de Pelfe era famoso por jamais vazar informações de seus clientes. Não importava quem fosse o titular do cofre: seus dados eram tratados como segredo de Estado de primeira classe, a ponto de nunca terem sido divulgados nem mesmo diante de solicitações de reis estrangeiros.
Ao receber depósitos, não perguntavam a origem do dinheiro. As informações sobre o proprietário eram sigilo absoluto.
Era natural que todo tipo de dinheiro sujo do continente de Norfolk acabasse fluindo para o Banco de Pelfe. Recentemente, corria até o boato de que parte da fortuna oculta da decadente família real de Polia havia sido parar ali.
Pelfe, por si só, tornou-se um gigantesco cofre dos poderosos do continente de Norfolk. E, para proteger seu dinheiro secreto, esses mesmos poderosos tratavam as leis bancárias de Pelfe como algo sagrado.
Um grupo representativo disso era a Aliança da Família Real de Norfolk.
Até cerca de um século atrás, as casas reais de cada país, incapazes de conquistar os territórios umas das outras, se agarravam e lutavam como matilhas de cães. Agora, de forma quase risível, passaram a usar o termo aliança para cultivar uma falsa camaradagem. Era um exemplo claro de que a era em que status e terras garantiam poder estava chegando ao fim.
No entanto, o dinheiro sujo, por si só, podia se tornar um motivo suficiente para assassinato. Antes da criação das leis bancárias, não eram raros os casos em que filhos matavam os próprios pais para roubar o dinheiro guardado nos cofres.
No fim das contas, para proteger tanto suas fortunas quanto as próprias vidas, os poderosos exerceram enorme influência sobre a formulação da Lei Bancária de Pelfe.
Em poucas palavras, a Lei Bancária de Pelfe não impunha limites para depósitos, mas estabelecia restrições severas para retiradas.
O cofre só poderia ser aberto pelo próprio titular que o tivesse criado ou por um herdeiro que o tivesse recebido por meios legítimos. Mesmo alguém de posse da chave não poderia abri-lo caso não fosse o proprietário legítimo.
Havia, porém, uma exceção: caso o titular original morresse sem concluir adequadamente o processo de herança, após vinte anos contados a partir da data de abertura do cofre, o direito de abri-lo passaria também à pessoa que tivesse obtido a chave.
O cofre número 5555 se enquadrava exatamente nesse caso.
Para proteger a segurança da pessoa que possuía a chave, o banco emitia ao portador um Certificado de Confirmação de Direito de Aquisição. Esse documento significava que, caso o verdadeiro proprietário não aparecesse, o portador se tornaria o dono legal do cofre. A emissão desse certificado era limitada a uma vez por período determinado.
O titular do direito de aquisição passa por uma avaliação rigorosa e, enquanto o processo de verificação está em andamento, é reconhecido como proprietário temporário do cofre. Ele não pode abri-lo de imediato, mas isso significa que passa a estar sob a proteção da Lei Bancária de Pelfe. Caso, nesse período, o titular do direito de aquisição desapareça por qualquer motivo, mesmo que a chave exista, o cofre será considerado envolvido em atividade criminosa e permanecerá lacrado pelos vinte anos seguintes.
A mulher recebeu o Certificado de Confirmação de Direito de Aquisição da chave, e esse fato foi comunicado ao rei de Pelfe, que tratava a lei bancária como se fosse a própria vida.
Isso significava, em outras palavras, que a mulher havia se tornado uma chave viva.
Simon prendeu a respiração ao lado de Oscar.
Imerso no silêncio, Oscar mantinha o olhar fixo, de forma quase obsessiva, em um único ponto.
A mulher tinha sido azarada.
Azarada ao extremo por ter se tornado o alvo de Oscar. Talvez fosse possível dizer que tivera sorte por ter obtido o certificado de direito de aquisição antes que ele pudesse agir, mas, diante de ter virado um alvo, teria sido muito mais vantajoso simplesmente vender a chave por uma soma exorbitante.
Foi então que Oscar se afastou do tronco da árvore ao qual estava apoiado de forma oblíqua. Simon, por reflexo, ergueu o olhar para a mansão. Um agente colado à janela do andar logo acima do quarto onde a mulher estava hospedada apontava para baixo com o dedo.
Oscar deslizou pela escuridão como se fosse o próprio luar em movimento. Os lobos que haviam se infiltrado silenciosamente por toda a mansão observavam seu líder, contendo a respiração. Para que nenhuma pedra atrapalhasse seus passos firmes, o caminho já havia sido cuidadosamente limpo com antecedência.
Quando Oscar subiu a escada com passos displicentes, dobrou o patamar e finalmente chegou ao corredor, os homens que guardavam o quarto da mulher já estavam sendo “removidos” pelos lobos. Dois brutamontes corpulentos eram arrastados pelo chão, mas não se ouvia som algum.
Oscar passou por eles sem sequer olhar e parou diante da porta.
Fitou por um instante a maçaneta, depois ergueu o olhar para a porta fechada.
Do outro lado da fina porta, vazavam gemidos abafados, um cheiro estranho e uma risada vil, carregada de excitação.