Senhorita Pendleton - Capítulo 06
Senhorita Laura Pendleton (5)
A discussão continuou por algum tempo lá dentro. A Srta. Pendleton ficou quieta ao lado da porta, ouvindo. Logo, a Sra. Maclean saiu bufando do quarto, seu rosto vermelho de frustração. Vendo sua amiga parada à porta, ela desviou o olhar, envergonhada.
— Laura… Sinto muito, mas acho melhor não falar com ela hoje.
A Srta. Pendleton sorriu.
— Está tudo bem, Rosemary. Não se preocupe com isso.
Vendo que a Srta. Pendleton não mostrava ressentimento, a Sra. Maclean pareceu se sentir ainda pior e baixou ainda mais a cabeça.
Claro, seria mentira dizer que a Srta. Pendleton não estava magoada. Mas depois de fazer vinte e cinco anos, ela se tornou muito consciente de como os outros a viam.
Uma solteirona. O maior medo das mães com filhas.
Desde que desistiu do casamento, ela aceitou essa percepção como inevitável.
Para aliviar o desconforto da amiga, a Srta. Pendleton deu leves tapinhas em seu ombro e subiu rapidamente as escadas.
Toc, toc.
A Srta. Pendleton bateu na porta da Srta. Hyde no quinto andar. Não houve resposta do lado de dentro. Talvez ela estivesse dormindo, ou se escondendo em silêncio, na esperança de que a visitante fosse embora, pensando que sua família havia enviado alguém. A Srta. Pendleton aproximou os lábios da porta e falou suavemente.
— Srta. Hyde, sou eu, Laura Pendleton. Você está dormindo?
Logo, ouviu-se um farfalhar dentro do quarto, seguido de respingos de água, o som de tecidos sendo ajustados. Chinelos se aproximaram da porta, que se abriu com um clique.
A Srta. Pendleton ficou sem palavras. A Srta. Hyde, que sempre fora esbelta, parecia terrivelmente abatida. Havia o boato de que ela vinha recusando todas as refeições há dias, não devia ter comido nada há algum tempo.
A Srta. Hyde deixou a Srta. Pendleton entrar em seu quarto, ofereceu-lhe a cadeira de balanço e sentou-se na cama.
Ao entrar, a Srta. Pendleton lutou para controlar sua expressão, tendo dificuldade em esconder seu constrangimento.
As casas geminadas em Londres, usadas apenas durante a temporada social pelos nobres de suas propriedades rurais, eram muito menores e mais simples. Muitas vezes não tinham bibliotecas ou salões de baile, e as salas de visitas, quartos principais, de hóspedes e berçários não passavam de uma fração daqueles em uma propriedade no campo.
Em famílias grandes, as senhoritas solteiras dividiam quartos e, se recebessem um quarto só para si, ele costumava ser pequeno e apertado.
Mas o quarto da Srta. Jane Hyde era pior que o normal. Mesmo com apenas uma cama, um pequeno guarda-roupa e uma cadeira, ele parecia cheio. Seus livros não estavam em estantes, mas empilhados num canto.
O que mais causava pena era a pilha de papéis e o tinteiro no parapeito da janela. Não mais alto que uma cadeira, o parapeito servia de mesa.
Percebendo o olhar da Srta. Pendleton pousar sobre os papéis, a Srta. Hyde ajoelhou-se na almofada sob o parapeito, fechou o tinteiro e virou os papéis espalhados.
— Se eu escrevo na sala de estar, minha mãe sempre tenta ler.
Observando-a ajoelhada, a Srta. Pendleton percebeu que essa deveria ser sua postura usual para escrever. Era uma visão de partir o coração.
— Vim porque soube que você não tem comido. Sua irmã está muito preocupada.
— Oh!
— Não importa quão baixa esteja sua autoestima, você não deve arruinar sua saúde. Trouxe alguns biscoitos de framboesa. Por favor, tente comer pelo menos um pouco.
A Srta. Hyde não respondeu. A Srta. Pendleton chamou uma criada para trazer os biscoitos.
Sentada na cama, a Srta. Hyde encarou silenciosamente o prato, depois virou-se para a janela sem os tocar.
— Se você está se sentindo culpada pelo Sr. Fairfax, não se preocupe. Quando visitei a Srta. Janet Fairfax recentemente, ela me disse que ele estava caçando na propriedade de seu irmão. Ele certamente não desistiu da comida.
Hyde evitava os olhos da srta. Pendleton, continuando a olhar para as ruas de Londres, perdida em pensamentos. A melancolia emanava de seu perfil. Mas não havia lágrimas, nenhum sinal de coração partido, apenas uma tristeza silenciosa.
Que emoção estava escondida em seu coração?
A Srta. Pendleton se levantou e sentou ao lado dela, pegando suavemente seus dedos firmes e longos, mãos acostumadas a segurar rédeas e canetas.
Miss Hyde não se afastou, nem se abriu. Ela simplesmente permaneceu sentada.
Depois de um momento, a Srta. Pendleton perguntou:
— Você se arrepende?
Depois de uma pausa, a Srta. Hyde balançou a cabeça.
— Foi a melhor escolha, tanto para o Sr. Fairfax quanto para mim.
— Você realmente sente isso?
A Srta. Hyde olhou para ela e assentiu.
— Sim.
A Srta. Pendleton deu um sorriso tênue.
— Então isso é tudo que importa.
A Srta. Hyde olhou para ela por um longo momento, como se quisesse dizer algo. Mas seus lábios tremeram e se fecharam novamente. Em vez disso, lágrimas brotaram em seus olhos.
Ela baixou a cabeça. Suas lágrimas caíram sobre a mão enluvada da Srta. Pendleton. Esta, nada disse, apenas segurou sua mão fortemente.
Quando sua luva de camurça ficou encharcada, a Srta. Hyde levantou finalmente a cabeça, o rosto marcado por lágrimas. A Srta. Pendleton enxugou-o gentilmente com a outra mão.
— Srta. Pendleton.
A voz da Srta. Hyde estava rouca.
— Você vê um futuro para si? — A Srta. Pendleton ponderou a questão antes de assentir. — Você vai herdar alguma coisa?
— Não receberei nenhuma herança. Essa foi a condição para ser aceita como uma Pendleton.
É o mesmo para mim. Não receberei nenhuma herança.
A Srta. Pendleton estudou o rosto marcado de lágrimas da Srta. Hyde. Estava cheio de emoções conflitantes, ansiedades e culpa. Todos os sentimentos mesquinhos que diminuem uma pessoa.
— Você está pulando refeições porque tem medo do futuro?
A Srta. Hyde não respondeu.
— As pessoas podem encontrar um jeito de viver, de alguma forma.
— … Eu não quero viver apenas de qualquer forma.
A Srta. Hyde balançou a cabeça.
— Nossa família vem decaindo desde que nosso pai morreu. Ninguém admite, mas pelo comportamento do John, é óbvio. Se perdermos esta casa, teremos que nos mudar para o campo. E, como estou solteira, terei que viver sozinha com minha mãe. Pelo resto da vida.
Ela estremeceu.
— Prefiro morrer de fome agora.
— Pode haver outro caminho, Srta. Hyde.
— Qual caminho? Perdi minha última chance aos vinte e cinco. Governanta? Nunca completei um ano inteiro de escola, não aprendi francês ou pintura direito. Empregada doméstica, então? Nem consigo acompanhar meu próprio chapéu. Seria demitida em uma semana. Vou acabar morrendo de depressão vivendo com minha mãe ou fugindo e me tornando uma vagabunda. É melhor morrer agora, em segurança, em casa.
A Srta. Pendleton a observou.
Ela sentiu déjà vu. Ah, os vinte e cinco anos. Também havia enfrentado os mesmos medos nessa idade. Vendo o último trem do casamento partir, sem herança à vista, se sentiu em perigo.
Viver uma vida solitária nem era o maior medo. O verdadeiro terror era a pobreza. E a indignidade que sempre vinha junto.
Todas as noites, ela temia que sua segurança e conforto desaparecessem pela manhã, deixando-a na ruína. Esse medo a atormentava.
Levou um bom tempo até que pudesse dormir tranquila novamente.
A Srta. Pendleton sorriu gentilmente para a desolada Srta. Hyde.
— Você pode ser qualquer coisa, Srta. Hyde.
— Como o quê?
— Bem, uma cigana. Uma cartomante. Uma bruxa.
— O quê?
— Uma boticária. Uma toureira. Uma fada.
A Srta. Hyde pareceu incrédula com sua súbita fantasia.
— Srta. Pendleton, você está brincando…?
— Ou… uma datilógrafa.
A Srta. Hyde ficou em silêncio.
— Uma vez pensei em me tornar datilógrafa. Comprei uma máquina de escrever para isso, antes de perceber que ser governanta era mais prático. Foi caro, então precisei usar minhas economias. Contínua no escritório, embora eu não a use há séculos. Muito cara para doar, mas posso emprestar para você.
A Srta. Hyde piscou.
— Venha à minha casa todos os dias das seis às oito da noite para duas horas de prática de datilografia. Em três meses, Srta. Hyde, você será a melhor datilógrafa de toda Londres. Poderá trabalhar em qualquer escritório que precise de trabalho com documentos, e então, em vez de morar com sua mãe, poderá viver em uma pensão com moças da sua idade. Combinado?
A Srta. Pendleton pegou um biscoito da bandeja e colocou suavemente na mão de Hyde.
Ela olhou para o biscoito por um momento e então começou a mordê-lo. Logo pegou outro da bandeja e comeu também. Miss Pendleton a observou e pensou:
Vinte e cinco. Uma idade cruel para uma senhorita solteira. Mas para uma mulher que encontra uma maneira de se sustentar, pode ser a idade de um novo começo.
🌸🌸🌸
E um mês depois, o Sr. Fairfax, que passara seu tempo nos campos de caça de seu irmão abatendo dezenas de pintassilgos para curar seu coração partido, retornou a Londres.
Com ele estava Ian Dalton, o jovem parente de sua sogra e seu amigo mais querido.
Continua…
Tradução: Elisa Erzet