Senhorita Pendleton - Capítulo 03
Senhorita Laura Pendleton (2)
Senhorita Hyde esboçou um sorriso triste.
— Parece tolice, não é?
Senhorita Pendleton balançou a cabeça.
— Não. Quer dizer, é tolice, sim. Se meus pais soubessem o que estou pensando agora, desmaiariam. Já te contei, não é? Minha mãe leu minha carta. Como sempre, ela não sossega até ver absolutamente tudo o que eu escrevo ou leio.
Senhorita Hyde fez uma careta, como se tivesse mordido um limão. Era a mesma expressão que ela sempre fazia ao mencionar a mãe.
— Ela já está discutindo datas de casamento com Rosemary. Se eu disser que vou recusar a proposta do Sr. Fairfax, ela vai desmaiar. E, quando recobrar os sentidos, vai me agarrar e dizer:
“Vinte e cinco é a idade máxima em que se pode casar sem ser chamada de solteirona. Se acabar assim, vivendo da caridade de seus irmãos, nunca descansarei em paz. Não há mais nada nesta casa reservado para você. Todo o dinheiro que resta vai para a universidade de Alex e o dote da Emily. Então reaja.”
— Senhorita Hyde… Você está pensando em recusá-lo por ressentimento em relação à sua mãe?
A outra mulher balançou a cabeça negando.
— Não. No fundo, fico pensando que talvez eu devesse simplesmente fechar os olhos e aceitar esse casamento. Mas há uma parte de mim que grita “de maneira nenhuma”, que não posso tomar essa decisão.
Ela encarou diretamente a Senhorita Pendleton.
— O que você acha? Estou prestes a cometer um erro do qual me arrependerei?
A Senhorita Pendleton entendeu por que havia feito essa confidência. Talvez procurasse alguém que, como ela, estivesse à beira de se tornar uma solteirona.
— Senhorita Hyde…
Ela girou lentamente sua xícara de chá, pensativa, antes de falar.
— Eu a conheço há muito tempo. Sou amiga da sua irmã e devo a você um conselho honesto. Por isso, vou falar com franqueza, confiando que não vai me julgar mal. Viver como uma solteirona na Inglaterra… não é o ideal.
Ela viu os lábios da Senhorita Hyde se entreabrir levemente, mas se fecharem em seguida. Quis perguntar: “Tem sido difícil para você viver sem se casar, Senhorita Pendleton?”
Mas não perguntou, e, por isso, a Senhorita Pendleton ficou secretamente grata. Se tivesse perguntado, ela teria sido obrigada a responder com detalhes… o que deixaria um gosto amargo.
— É difícil, social e financeiramente, viver como uma mulher solteira. Como estamos falando do seu futuro, devemos ser prudentes. Então, a primeira coisa que quero dizer é: o Sr. Fairfax pode ser um bom homem, mas isso não tem relação com você aceitar ou não sua proposta.
A voz de Laura era gentil, mas firme.
— Aceitar um pedido de casamento apenas para poupar os sentimentos de alguém é uma forma de engano. Então, vamos deixar de lado os sentimentos do Sr. Fairfax. E os dos seus pais também. Olhe apenas para o seu próprio coração. O que sente ao pensar em se casar com ele? Em viver ao seu lado, dia após dia?
Senhorita Hyde olhou para a superfície escura da sua xícara de café por um momento.
— Acho que eu me sentiria completamente livre. Ele repetiu três vezes nas cartas que jamais me forçaria a nada depois do casamento. Iríamos cavalgar ocasionalmente, conversar… Ele sempre me ouve. Seria como ganhar um bom amigo.
— Concordo com você até esse ponto. O Sr. Fairfax é um homem de palavra. Respeitaria você por toda a vida e seria um amigo leal. Parece um casamento decente. Agora, a pergunta final, Senhorita Hyde. Você sabe o que acontece entre marido e mulher, não sabe?
A Senhorita Hyde a encarou. A Senhorita Pendleton olhou em volta discretamente, depois se inclinou um pouco mais e sussurrou:
— Não me refiro ao que acontece durante o dia. E sim à noite.
Ao ouvir isso, o rosto da Senhorita Hyde empalideceu por completo. A Senhorita Pendleton observou seu semblante em silêncio. Logo, pelo olhar que surgiu no rosto da amiga, percebeu que a resposta havia se tornado, irrevogavelmente, clara.
Sim. A resistência, no fundo, de seu coração, era sobre aquele ato íntimo entre marido e mulher. Aquilo que muitas mulheres tentam esquecer desesperadamente antes da lua de mel quando se casam com alguém que não podem amar. Senhorita Hyde, felizmente ou não, havia encarado essa verdade antes de aceitar a proposta.
— Boa tarde, Senhoritas Hyde!
De repente, ambas se assustaram, quase desmaiando. Enquanto sussurravam, o Sr. Fairfax havia chegado e agora se encontrava diante da mesa.
As duas se levantaram de súbito, como bonecas com molas. Felizmente, o Sr. Fairfax parecia completamente alheio ao teor da conversa e mantinha seu habitual sorriso caloroso e afável.
A Senhorita Pendleton rapidamente se recompôs e o cumprimentou com o sorriso gentil aperfeiçoado em doze anos de vida social, curvando-se levemente em uma reverência polida.
Mas a Senhorita Hyde, menos treinada em etiqueta social, mal conseguiu apagar a expressão desconcertada do rosto. Cambaleou levemente e se agarrou na amiga para manter o equilíbrio, exibindo suor frio e uma instabilidade pouco comum em sua postura habitual.
O Sr. Fairfax a olhou com preocupação.
— Está se sentindo mal, Senhorita Hyde?
— Ah, n-não…
— Tem certeza? Está pálida.
— Acho que… comi algo que não caiu bem.
— Entendo. Quer que eu a leve para casa em minha carruagem?
— Não! Estou bem!
A voz da mulher saiu como um grito, e rapidamente murmurou para disfarçar o nervosismo:
— Acho que ficar mais um pouco com a Senhorita Pendleton vai ajudar. Ela é ótima com… massagens nas mãos…
— Ah, entendo. Bem, se precisar de algo, até mesmo um médico, não hesite em pedir.
— Estou realmente bem, de verdade…
Ainda assim, o Sr. Fairfax continuou a observá-la com preocupação. Então, como se lembrasse de que não era educado encarar por tanto tempo uma dama solteira, voltou-se para a Senhorita Pendleton.
— Está encantadora como sempre, Senhorita Pendleton.
— Oh, o senhor é muito gentil.
— Ouvi dizer que você emprestou a Janet a edição original em francês de um romance de Dumas? Ela tem estudado bastante ultimamente, passando duas horas por dia praticando o idioma. Se puder visitá-la e ajudar a melhorar suas habilidades de conversação, ficaríamos muito gratos.
— Claro, farei uma visita em breve. Tomar chá com a encantadora Senhorita Janet é sempre um prazer.
O Sr. Fairfax pareceu satisfeito com o elogio à irmã e sorriu amplamente.
— Ah, tem mais uma coisa que gostaria de pedir.
— Por favor, fale. O que é?
Sua expressão ficou séria ao falar.
— Você se lembra que mencionei um primo da minha idade?
— Ah, sim. O nome dele era Ian…
— Ian Dalton. Ian Dalton Whitefield.
— Sim, me recordo. Um jovem cavalheiro com muitos sobrinhos, não era?
A Senhorita Pendleton conhecia bem o nome Ian Dalton. Ele surgia ocasionalmente nas conversas com o Sr. Fairfax e sua irmã.
Um jovem proprietário de terras da região de Whitefield, em Yorkshire. Um investidor astuto que havia multiplicado sua herança mais de quatro vezes em apenas alguns anos.
E, segundo Janet Fairfax, um homem de beleza extraordinária. Tão bonito que até mesmo seu irmão parecia comum em comparação. Chegou a afirmar que ele era mais atraente do que o Sr. Edward Morton.
Nunca tendo visto homem mais belo que o Sr. Morton, a Senhorita Pendleton não conseguia sequer imaginar como seria o tal Ian Dalton.
— Isso mesmo. Crescemos juntos e frequentamos Eton. Na universidade, ele foi para Cambridge e eu, para Oxford, e aí nos separamos. Ele planeja visitar Londres em cerca de um mês. Escreveu perguntando se poderia se hospedar na minha casa em vez de ficar no hotel. Eu ia responder dizendo que, claro, ele será muito bem-vindo.
Ele continuou calmamente:
— Mas logo após a carta de Ian, chegou uma da irmã dele, a Sra. Robert Fairfax, que também é minha cunhada. Ela espera que o irmão faça muitos amigos em Londres. Amigas, especialmente.
A Senhorita Pendleton já pressentia o que ele iria pedir.
— Mas, veja, eu passo a maior parte do tempo em clubes de cavalheiros, fumando e afins. Não conheço muitas damas. Por isso queria pedir sua ajuda, Senhorita Pendleton. Poderia apresentar meu primo Ian a algumas de suas amigas?
— Não seria difícil… mas será que o Sr. Dalton concordaria com isso?
O Sr. Fairfax deu de ombros.
— Para ser honesto, é totalmente minha cunhada insistindo nisso. Aos trinta, é hora de um cavalheiro pensar em casamento. Mas aquele sujeito se enterrou em suas terras e não parece inclinado a procurar uma esposa.
A Senhorita Pendleton assentiu. De fato, para os homens, completar trinta anos raramente era motivo depressa.
Especialmente para alguém como Ian Dalton, um proprietário abastado. Para um homem com fortuna, nem aos cinquenta ele seria considerado velho demais.
Ela não nutria má vontade por Fairfax ou Dalton, mas a ideia de um solteirão desinteressado em casamento observando suas amigas com indiferença como se as avaliasse era incômoda.
— Deve haver muitas damas refinadas perto de suas terras. Parece desnecessário ele vir até Londres para isso. E mesmo sem minha intervenção, a sociedade londrina o receberia de braços abertos, se ele quisesse.
A Senhorita Pendleton recusou com toda a delicadeza possível. Mas o Sr. Fairfax insistiu:
— Compreendo. Você não gostaria de apresentar suas amigas a um homem que nem pensa em casamento. Valoriza demais a amizade para isso. Mas… não poderia, ao menos, considerar aceitar Ian Dalton como um novo amigo? 🥰
Continuou com entusiasmo sincero:
— Ele é realmente um bom homem. Não só por sua riqueza, ele valoriza sua família e é um amigo profundamente atencioso. É um pouco excêntrico, admito, mas… garanto que suas qualidades superam em muito seus defeitos.
A Senhorita Pendleton sorriu — de forma genuína, sem qualquer má vontade.
Que homem gentil, pensou ela. Fazer tanto por um amigo que nem é parente direto…
Após uma breve pausa para refletir, ela assentiu.
— Sim. Ficarei feliz em conhecê-lo como amigo. Por favor, nos apresente quando ele chegar a Londres.
Continua…
Tradução Elisa Erzet