Senhorita Pendleton - Capítulo 02
Senhorita Laura Pendleton (1)
Edward voltou seu olhar e examinou o salão de recepção.
Encontrar a Srta. Pendleton em meio ao mar de senhoras e senhoritas não era tarefa fácil. Era especialmente difícil para Edward, um marinheiro pouco acostumado ao esplendor dos trajes formais femininos. Ainda assim, ele precisava encontrá-la, pois sua esposa, ao seu lado, estava ficando cada vez mais ansiosa.
Ele tentou lembrar as características habituais da Srta. Pendleton: cabelos dourados-avermelhados presos com cuidado em uma rede, pele tão clara quanto a de sua esposa, roupas modestas e impecáveis.
E sempre usando um colar de pérolas em seu pescoço. Frequentemente era vista conversando baixinho com uma amiga em um canto ou observando os outros em silêncio.
Ele examinou cuidadosamente as áreas menos visíveis do salão e logo, a avistou. Como de costume, seus cabelos estavam presos com perfeição em uma rede, e ela vestia um traje de seda com poucos adornos. Estava em uma conversa séria com outra jovem igualmente simples em suas vestes.
Edward conduziu Elizabeth até a mesa delas.
Quando as duas senhoritas notaram o casal se aproximando, interromperam a conversa e se levantaram. Fizeram uma reverência educada. Algumas saudações formais e cumprimentos foram trocados.
Mas assim que a jovem ao lado da Srta. Pendleton rapidamente se desculpou para buscar comida no bufê, Elizabeth abandonou toda formalidade e se jogou nos braços da irmã.
— Mana, por que você não foi ao camarim? Você tinha que ver meu vestido!
A Srta. Pendleton acariciou suavemente os cabelos de Elizabeth.
— Desculpe. A vovó ficou tonta esta manhã, então precisei ficar com ela o tempo todo.
Elizabeth soltou o abraço e olhou para ela com preocupação.
— Ela não está gravemente doente, está?
— Não, nada grave. Só precisa descansar. O médico disse para ela não se esforçar, mas ficou tão brava. Disse que, de todos os dias, porque justo hoje, o dia do seu casamento.
— Oh não. Será que devo dar uma passadinha rápida lá antes de partirmos?
— Não, de jeito nenhum. Ela ficaria ainda mais brava se sua programação atrasasse por causa dela. E depois descontaria tudo no pobre Dr. Webster.
— Hmm, então, pelo bem do Dr. Webster, vou deixar para lá. Mas mande lembranças. Diga que escreverei assim que chegarmos à Itália. Ah, preciso comprar um presente! Mana, o que você acha que ela gostaria?
— Para a vovó? O de sempre. As partituras e os romances mais recentes da Itália.
— Perfeito. E para você?
— Histórias da sua viagem à Itália e um grampo de cabelo.
Elizabeth balançou a cabeça, como se já esperasse aquela resposta.
— Não, não. Você precisa de algo decente. Como um xale de renda branco como a neve, o mais caro e extravagante de toda a Itália.
A Srta. Pendleton soltou uma risadinha suave.
— O quê? Então minha resposta já estava decidida?
— Claro.
A Srta. Pendleton com seus olhos cinzentos profundos, olhou para Elizabeth com ternura.
— Mesmo sem isso, sua bagagem já vai estar transbordando de presentes. Não adicione peso desnecessário.
— Bobagem. Mesmo que eu não compre nada para mais ninguém, o seu eu não deixo passar. Se não fosse por você, Edward e eu nem estaríamos indo para essa lua de mel. Não é, Edward?
Quando Elizabeth se virou pedindo confirmação, Edward assentiu com a cabeça, colocando o máximo de convicção que seu rosto geralmente inexpressivo permitia.
— Você tem toda razão, Beth. Podemos esquecer dos outros, mas a Srta. Pendleton precisa receber um presente.
— Viu, mana? Até meu marido concorda.
A Srta. Pendleton sorriu sem jeito.
— Está bem, Beth. Só um grampo de cabelo simples já basta.
— De jeito nenhum. Aquele xale amarelo não combina nada com sua pele. Se continuar recusando, vou subornar sua criada e costurar o xale novo diretamente no seu vestido verde favorito!
A Srta. Pendleton caiu na risada. Suas bochechas normalmente pálidas ficaram levemente rosadas. Ela olhou para Elizabeth com olhos cheios de afeto e beijou suavemente sua testa lisa e macia.
— Tudo bem, Beth. Aceitarei com prazer.
Elizabeth retribuiu o beijo, a abraçou forte e encostou o rosto no ombro dela. Era reconfortante, como enterrar o rosto no colo da sua falecida mãe durante a infância.
Logo depois, ela se soltou do abraço e ficou novamente ao lado do marido. A nova Sra. Morton começou a compartilhar seus planos futuros com a Srta. Pendleton, desde o itinerário da lua de mel na Itália até o número de filhos que desejava ter e como queria criá-los.
Como sempre, a Srta. Pendleton escutou com atenção com seus claros olhos cinzentos e ofereceu palavras calorosas de encorajamento. Após algum tempo, e ciente de que não era adequado permanecer muito tempo numa única mesa, o casal se despediu com abraços e apertos de mão e partiu.
A Srta. Pendleton observou os recém-casados caminhando de braços dados. Seu coração se encheu de orgulho, assim como aconteceu mais cedo, quando viu Elizabeth passando pelo corredor com seu pai.
E como não se orgulhar? Fazia doze anos desde que conheceu Beth. Doze anos atrás, recém-saída do internato, ela visitou a propriedade dos Dayer com sua avó, e a pequena Beth tinha apenas sete anos na época.
A menina a levou para a sala de brinquedos, apresentou todas as suas bonecas e serviu chá açucarado que ela mesma havia preparado.
Daquele dia em diante, as duas se tornaram inseparáveis. Mais que amigas — irmãs. E agora aquela garotinha havia se tornado uma mulher, encontrado um marido maravilhoso e assumido um novo sobrenome. A emoção era avassaladora, doce e, de certa forma, um pouco triste.
Sentindo que talvez fosse chorar, a Srta. Pendleton balançou a cabeça e se sentou. Tomou alguns goles do café ao seu lado. Já estava frio e sem sabor. Foi então que a jovem que se afastara, a Srta. Jane Hyde, retornou à mesa com uma xícara de café quente e um prato de bolo.
A Srta. Pendleton notou uma nova mancha estranha na saia da Seta. Hyde, algo que não estava lá antes, e imaginou que ela devia ter se sujado enquanto comia, mas não comentou.
A Srta. Hyde trocou o café frio pelo quente e colocou o bolo entre elas. Seu rosto continuava preocupado, como antes.
A Srta. Pendleton suspirou internamente e retomou a conversa anterior.
— Então, acha que o Sr. Fairfax vai pedir sua mão esta semana?
— Sim.
A Srta. Hyde assentiu e pressionou a mão contra a testa.
— Provavelmente ele virá depois de amanhã. Vai se ajoelhar na sala, pegar minha mão e dizer diretamente que quer se casar comigo. Ele não é do tipo que enrola. Isso é tão difícil. Eu nem fazia ideia de que ele gostava de mim… Quem teria imaginado…
A Srta. Pendleton não mencionou que todos em Londres que os conhecia já havia percebido isso.
— Imagino o quanto isso deve ser chocante para você, Srta. Hyde. Propostas de casamento, são coisas que as pessoas planejam por muito tempo, mas para quem as recebe, pode parecer um acidente repentino. Ainda assim, suponho que seja um alívio ele ter avisado na carta. Mas, Srta. Hyde, me parece que você está mais preocupada do que apenas surpresa. Posso perguntar o que realmente a incomoda?
A Srta. Hyde mordeu o lábio e olhou para a Srta. Pendleton.
— Eu… não sei o que fazer.
— Não sabe?
A Srta. Hyde espetou o bolo com o garfo.
— O Sr. Fairfax é um homem maravilhoso. Ele me escuta, se importa comigo, e mesmo quando cometo os erros mais tolos, nunca franze a testa. Lembra quando caí do cavalo e apareci coberta de lama? Ele nem se abalou, me tratou como uma duquesa.
— Ele é um bom homem. Mas…
— Mas…?
A Srta. Hyde revirou os olhos cor de avelã, como se procurasse as palavras certas. Mas, no final, não disse nada. Apenas mordeu o lábio e continuou espetando seu pobre pedaço de bolo.
A Srta. Pendleton não conseguia entender o comportamento da Srta. Hyde.
O Sr. Fairfax era um pretendente ideal. Segundo filho de uma família tradicional do interior, empresário bem-sucedido no comércio, alto, bonito, com terras e uma casa no campo.
Para uma jovem solteira em Londres ficar tão aflita ao ser cortejada por um homem assim, só havia uma explicação possível: ela já estava prometida a outro. E o novo pretendente tinha perspectivas melhores que o atual.
Nesses casos, as mulheres se viam divididas entre a lealdade ao noivo e a tentação de trocar por algo melhor, como trocar um cavalo de carga por um puro-sangue. Às vezes, essa luta interna era tão intensa que parecia capaz de matá-las.
Mas a Srta. Pendleton podia afirmar com certeza que a Srta. Hyde não estava passando por esse tipo de dilema. Não era uma questão moral.
Ela nunca demonstrou o menor interesse por romance. Suas paixões eram críquetes, cavalos e livros grossos de capa de couro. A Srta. Pendleton a conhecia há mais de dez anos e poderia jurar diante de Deus que os interesses dela jamais haviam mudado.
A Srta. Pendleton tomou seu café em silêncio, esperando que Hyde falasse por conta própria. Mas Hyde continuou focada em mutilar seu bolo com o garfo, transformando-o numa massa disforme.
Claramente, havia alguma coisa em sua mente que ela não conseguia nomear nem compreender. Algo que não podia ser ignorado, não importa o quanto tentasse. Ela estava desesperadamente tentando entender uma emoção que desafiava explicação.
Era uma visão incomum para alguém como a Srta. Hyde, normalmente tão articulada e rápida com as palavras.
Finalmente, como se fincasse uma bandeira em seu próprio território, ela cravou o garfo no bolo amassado e murmurou:
— Srta. Pendleton, se eu recusar a proposta… o Sr. Fairfax ficará muito magoado, não é?
A Srta. Pendleton quase deixou a xícara cair.
— Então você está pensando em recusar?
Continua….
Tradução: Elisa Erzet