Senhorita Pendleton - Capítulo 01
Londres
Era o dia do casamento da Srta. Elizabeth Dayer e do Sr. Edward Morton.
Desde o momento do noivado, o casal havia atraído a atenção do público.
A Srta. Elizabeth era a única filha do Visconde Dayer, uma figura proeminente no Parlamento, e o Sr. Edward era o filho mais velho do Almirante Morton, um herói que comandou dezenas de batalhas navais nos últimos 30 anos.
A união dessas duas famílias nobres era considerada um dos eventos mais grandiosos da alta sociedade londrina.
Até mesmo os aristocratas de Londres, que adoravam fofocas tanto quanto destruir reputações, não conseguiam encontrar nenhum defeito real nesse casamento.
Em vez disso, comentavam sobre o designer do vestido de Elizabeth e o tipo de madeira usada nos móveis da casa que o Sr. Morton preparou para sua noiva.
No dia da cerimônia, carruagens esplêndidas e cavaleiros montados em belos cavalos chegaram à igreja um após o outro.
A lista de convidados era nada menos que ilustre, nobres renomados, políticos e militares estavam todos reunidos.
Assim que os convidados importantes se acomodaram, o Reverendo Royce, vestido com uma túnica branca, subiu ao altar para oficiar a cerimônia.
O salão ficou em completo silêncio, nem mesmo um sussurro.
O reverendo olhou para as pessoas, proferiu algumas breves e reverentes palavras sobre Deus, que testemunharia aquela união, e chamou o noivo.
Edward Morton surgiu na entrada.
Fiel à sua formação militar, caminhou com postura ereta e passos firmes e calculados.
Assim como seu pai, ele ingressou na marinha e, embora estivesse destacado longe de sua influência, liderou com sucesso várias batalhas navais. Com apenas 29 anos, já alcançou o posto de capitão.
Mas Edward não se tornou famoso em Londres por suas conquistas militares ou linhagem nobre, e sim por seu comportamento.
Um rosto frio, inexpressivo. Uma atitude reservada.
O tipo de postura adequada para comandar frotas, ele mantinha mesmo ao caminhar por Hyde Park até a igreja, ao ser apresentado as damas em bailes ou ao jantar com duques.
Por causa disso, os mais próximos de Edward tinham que se esforçar para garantir aos outros que ele não tinha más intenções com sua postura.
Mesmo no dia do seu casamento, sua expressão permaneceu inalterada.
Lábios firmemente cerrados, olhos azuis sem qualquer emoção.
Não havia alegria, nem mesmo um traço de nervosismo.
Os convidados estalaram a língua em silêncio. Como alguém podia ser tão impenetrável?
Logo, todos os olhares se voltaram para outra direção.
A entrada da igreja.
A Srta. Elizabeth Dayer, trajando um vestido branco como a neve e envolta em um xale transparente.
Com uma mão, segurava o braço do pai. Na outra, seu buquê.
Era o buquê mais fresco e belo entre as milhares de flores que decoravam a igreja, mas não se destacava em comparação com sua dona.
Desde sua estreia na sociedade, dois anos antes, Elizabeth era admirada por muitos, mas naquele dia, ela parecia diferente.
Não eram apenas seus traços deslumbrantes, seus cabelos dourados ou seus impressionantes olhos verde-oliva.
Seu rosto inteiro irradiava, transbordando de amor.
A cada passo que dava pelo corredor, os olhos de todos os convidados a seguiam, maravilhados.
Naquele momento, até mesmo o tão comentado vestido francês e o véu italiano que seu pai providenciou foram esquecidos.
Tudo o que importava era o caminhar de Elizabeth, sua expressão e seu sorriso.
As pessoas prenderam a respiração, hipnotizadas por cada movimento dela.
Finalmente, ela chegou ao altar e ficou ao lado do homem que se tornaria seu marido.
O visconde entregou gentilmente sua preciosa filha e se afastou.
Ali estavam eles, diante do altar: um radiante de felicidade, o outro ainda frio como o gelo.
Um sentimento de pena invadiu o coração dos convidados.
Edward Morton acabara de ganhar uma esposa tão bela, e mesmo assim não parecia nem um pouco feliz.
Muitos dos solteiros elegantes sentiram uma repentina e inexplicável irritação.
O reverendo fez um sermão breve e claro sobre fidelidade e devoção matrimonial, bem ciente de que a elite londrina não tinha paciência para discursos longos.
Logo, o casal trocou as alianças, e o Reverendo Royce permitiu que se beijassem.
Edward se inclinou lentamente e tocou levemente os lábios de Elizabeth com os seus.
Mas, justo quando os aplausos estavam prestes a começar, um suspiro surpreso ecoou entre os convidados mais próximos do altar.
Eles se entreolharam, tentando confirmar o que haviam visto, e encontraram a mesma expressão de choque nos rostos uns dos outros.
No momento em que Edward se afastou de Elizabeth, uma lágrima escorreu de seus olhos.
Meu Deus!
Ele rapidamente a enxugou com a mão, apagando a evidência. Mas até mesmo os mais distantes, que não haviam visto a lágrima, perceberam que algo aconteceu.
Aqueles que testemunharam pessoalmente ficaram eufóricos com a ideia de se gabar por verem Edward Morton chorar. Seus aplausos estrondosos acompanharam o casal pelo corredor.
Após a cerimônia, os convidados se dirigiram a um salão de banquetes próximo.
Lá, os aguardava uma recepção à altura do evento.
Talheres de prata em todas as mesas, porcelanas importadas da Índia, montanhas de buffet preparadas por chefs honrados trazidos da França, e até mesmo uma fonte de vinho. Uma orquestra digna de qualquer casa de ópera completava a cena.
O Visconde Dayer, que normalmente vivia modestamente, apesar de seu status, claramente gastou uma fortuna naquele único dia.
Enquanto os convidados se acomodavam e aproveitavam o banquete, os recém-casados Morton vestiram suas roupas de recepção, Elizabeth em um vestido lilás, Edward em um terno claro começaram a circular para agradecer pessoalmente as figuras importantes que compareceram.
Entre os aliados políticos do visconde e os camaradas militares do almirante, havia dezenas de mesas para visitar.
Mas Elizabeth, sem mostrar nenhum sinal de cansaço, esvoaçava pelo salão como uma borboleta, sorrindo calorosamente.
A já deslumbrante noiva iluminava o ambiente com seu charme, e todos estavam encantados.
No entanto, os oficiais aposentados, amigos do Almirante Morton, eram diferentes dos demais: barulhentos, tagarelas e muito bêbados.
Eles mantiveram os noivos reféns por mais de vinte minutos com suas histórias embriagadas, indo muito além dos limites de uma conversa educada.
Elizabeth, ainda sorrindo, de repente apertou o braço do marido com uma força surpreendente, quase um beliscão.
Edward inclinou-se discretamente em sua direção.
Ainda sorrindo, ela sussurrou, só para ele ouvir:
— Se não fugirmos desta mesa agora mesmo, vou jogar esses cavalheiros respeitáveis na fonte de vinho.
Edward acenou levemente.
Ele mencionou casualmente a localização da sala de fumantes e insinuou que, em uma das gavetas, havia um estoque de charutos finos.
Naturalmente, a sala também tinha conhaque e xerez da melhor qualidade.
Os oficiais imediatamente abandonaram suas esposas e dirigiram-se para lá. As esposas envergonhadas rapidamente liberaram o jovem casal.
Elizabeth desabou em uma cadeira vazia, pálida como um fantasma, muito mais do que estava na igreja.
Edward voltou com um pedaço de bolo e uma xícara de café do buffet.
Entregou-lhe o café e então a alimentou com o bolo, pedaço por pedaço.
Elizabeth aceitou a comida em silêncio até o prato ficar vazio.
Aqueles que observavam de longe mal podiam acreditar no que viam.
Meu Deus, Edward Morton agia como uma mamãe – pássaro alimentando sua parceira!
Assim que ela terminou o bolo, Edward ajoelhou-se ao seu lado e massageou suavemente suas panturrilhas inchadas por baixo da saia.
Elizabeth, com as bochechas coradas, olhou em volta e rapidamente pegou sua mão.
— Já está bom. Estou bem agora.
— Tem certeza?
— Sim.
Ele soltou sua perna e segurou sua mão.
— Você pode relaxar. Já cumprimos todas as obrigações.
— Ótimo. Estou exausta. Mais do que quando danço quadrilhas até o amanhecer.
Edward brincou com a aliança em sua mão e então sorriu levemente.
— Ah, estou começando a me preocupar que você vá tropeçar e cair em meus braços de novo.
Elizabeth arregalou os olhos.
— O quê?
— Você se lembra do nosso primeiro encontro, não é? No baile da Sra. Jensen, na escada. Você pisou em falso e caiu nos meus braços.
Elizabeth soltou um “Ah!” e então riu.
— Não diria que caí nos seus braços. Foi mais como uma colisão. Bem forte.
— Sim. Muito forte. Tanto que você ficou com o nariz sangrando. Minha camisa branca ficou vermelha. Pensei que você fosse desmaiar, e estava prestes a chamar um médico, mas em vez disso, você enfiou algodão no nariz e voltou direto para a dança.
Elizabeth riu.
— Minha música favorita tinha acabado de começar. Como eu poderia ir embora? Além disso, meu vestido era cor de outono, mal dava para ver. Mas por que você foi embora tão cedo naquela noite? Eu tinha certeza de que você me convidaria para dançar.
— Eu não podia ficar com aquela camisa. Qualquer um poderia pensar que eu tinha levado um tiro. E imaginei que você estivesse envergonhada demais para me olhar de novo. Claro, você não estava nem um pouco envergonhada.
Elizabeth sorriu, como se dissesse: claro que não.
Vendo aquele sorriso, Edward não pôde evitar sorrir também.
Quem conhecia Edward sabia o quão raro era fazê-lo sorrir.
Elizabeth era uma das poucas que conseguia.
— Mesmo assim, não pense que eu não estava envergonhada. Quando nós encontramos de novo, você me olhou com aqueles olhos tão frios… Eu me senti tão pequena. Pensei que você estivesse bravo.
— Foi por isso que você fugiu tão rápido?
— Eu mal conseguia engolir minha comida. Você me olhava com aqueles olhos azuis gélidos como se estivesse pensando: “Que garota ridícula. Será que ela consegue comer direito?”
— Hmm. Eu olho para minha mãe e avó da mesma forma.
— Se um dia você tiver uma audiência com Sua Majestade, vai olhar para ela assim também?
— Provavelmente.
— Então, pelo amor do reino, não faça contato visual com ela. Se ela continuar olhando, você não vai viver muito.
Edward riu e acariciou seu queixo levemente com os dedos.
— Mesmo depois de tudo isso, parece um milagre que você tenha aceitado meu pedido de casamento.
— Sinceramente, se alguém me dissesse três meses atrás que eu me tornaria a Sra. Morton, eu não acreditaria. Nem mesmo se fosse minha irmã Laura —Oh
De repente, Elizabeth levantou como se tivesse lembrado de algo urgente.
— Laura! Eu não a vi hoje! Meu Deus, esqueci completamente minha mana!
Edward também se levantou, surpreso.
— Você quer dizer a Srta. Pendleton?
— Sim! Edward, querido, por favor, me ajude a achar a Laura! Se eu não a encontrar hoje, só poderei vê-la depois da nossa lua de mel!
Continua….
Tradução Elisa Erzet