Padre Pervertido X Freira com Dias Contados Para Morrer - Capítulo 01
Certa vez, existiu uma mulher que foi chamada de bruxa.
Ninguém sabia sua verdadeira identidade, mas, quando seus três maridos morreram em rápida sucessão, as pessoas começaram a chamá-la de “a bruxa devoradora de maridos”.
A mulher era bela e possuía uma imensa herança deixada por seus falecidos esposos. Levava uma vida extraordinariamente rica e devassa, sem dar a menor importância à sua infame reputação.
No entanto, ninguém escapa do tempo, e o fim dela foi miserável. Envelhecida e doente, foi enviada a um templo para passar seus dias.
Devido aos rumores sobre seu mau temperamento e maldições, nenhuma das freiras do templo queria cuidar dela.
No fim, a tarefa de cuidar daquela “bruxa”, Madame Rosalie, recaiu naturalmente sobre Rarien Claude, a “maior tola do templo”.
Crash
O som de louças se espatifando ecoou pelo quarto.
Madame Rosalie, que dava algumas colheradas na sopa, atirou o prato de lado.
— Parece que a senhora não gostou da minha sopa outra vez. Sinto muito, Madame Rosalie.
Situações assim já eram familiares. Rarien começou a recolher as louças espalhadas sem se abalar.
— Achei que hoje passaria, já que a senhora tomou três colheradas.
— A senhora não gostou das louças? São talheres de prata, especialmente encomendadas pela madre superiora. Mudei porque me preocupei de que pudesse machucar caso os pratos quebrassem. Não gostou deles?
Mesmo sem resposta, Rarien continuou a tagarelar sem se desencorajar.
Ela chegou até a arregalar os olhos, como se quisesse confirmar se havia feito algo errado.
— Ou será que esfriei demais a sopa? Achei que não suportava coisas muito quentes… Ou talvez… Ah! Não está temperada ao seu gosto?
— Está tudo errado.
Com um suspiro de irritação perante o interrogatório persistente, Madame Rosalie falou finalmente.
— O cheiro de carne apodrecida é tão nauseante que não consigo comer.
— Apodrecida? Quando apliquei a pomada mais cedo, parecia que estava cicatrizando bem. A senhora precisa comer direito para sarar direitinho.
Madame Rosalie estava acamada havia muito tempo. Quando a sobrinha não pôde mais cuidar dela, foi enviada ao templo. Por ser negligenciada durante a doença, desenvolveu feridas graves de cama. O cheiro pútrido vinha justamente delas.
Assim que assumiu a responsabilidade por Madame Rosalie, Rarien percebeu a gravidade do caso e começou a limpar o corpo com água de ervas e a aplicar pomadas para tratar as feridas.
— Vai coçar por causa da secreção. É porque a pele nova está se formando, então, por favor, não coce.
— Deixe para lá.
— Como disse?
— Este corpo já está morrendo. Pare de desperdiçar seus esforços e vá embora.
O quarto mergulhou em silêncio após aquelas palavras cortantes. Rarien, cabisbaixa, abriu a boca com cautela.
— … Só por hoje.
— O quê?
— Vou tentar só por hoje, depois vou embora. Já cheguei até aqui, seria um desperdício jogar fora o que preparei.
Era sempre assim.
Rarien podia ser pisoteada, mas sempre se levantava como se nada tivesse acontecido. Como uma flor silvestre nascendo à beira da estrada, possuía uma resistência teimosa.
— Quantas vezes esse “só por hoje” já aconteceu?
Mesmo diante dos resmungos, Rarien abriu bem a janela para arejar o ambiente. Uma brisa fresca entrou. Ela respirou fundo, satisfeita com o ar, e voltou para Madame Rosalie com o rosto mais alegre.
— Está com frio?
Quando ela tentou verificar o cobertor, Madame Rosalie, irritada, afastou a mão de Rarien.
— O sol está bom hoje. Já é o começo do verão lá fora. Respirar um pouco de ar fresco vai te fazer bem.
Apesar da sua frieza, Rarien não se desanimou. Era o início do verão, quando o verde estava mais bonito.
Ela sentia mais pena da paciente que tinha de ficar na cama num dia daqueles, do que a vergonha de ser rejeitada.
De alguma forma, Rarien conseguiu um vaso de dálias brancas e o colocou sobre a mesa de cabeceira.
O aroma suave das flores se espalhou pelo quarto, trazido pela brisa.
— Não são lindas? Trouxe porque o perfume é tão agradável… Ver flores sempre faz a gente se sentir melhor, não é?
— …
— Dizem que as dálias florescem por muito tempo. Cem dias, por isso as chamam assim.
Rarien sussurrou como quem compartilha um segredo.
— Quando a senhora se sentir um pouco melhor, vamos passear juntas. Conheço um jardim muito bonito…
— Por que você vive como uma tola?
— Perdão?
Madame Rosalie perguntou de forma direta.
— Outras freiras não aguentaram nem um dia. Até meus próprios parentes de sangue me abandonaram neste templo. As pessoas me chamam de bruxa azarada, achando que posso amaldiçoá-las. Por que continua suportando?
Era verdade: todos haviam se recusado, e Rarien acabou assumindo. Ainda assim, desde que recebera a tarefa, queria fazer o seu melhor.
Rarien hesitou por um instante e respondeu com um sorriso tímido:
— Bem… alguém precisa fazer isso.
— E quanto a sua vida? Já fez sexo com um homem?
Rarien congelou diante da pergunta inesperada.
A castidade era uma regra não escrita entre as freiras. Sabendo disso, a pergunta parecia zombar dela.
— Nem sequer pode desfrutar das coisas mais básicas, então quem é você para cuidar de alguém?
Como não estava incorreto, ela não tinha resposta. O olhar de Rarien caiu pesadamente.
— Todo mundo acha que tem tempo de sobra. Eu também achava. Se você tivesse apenas 100 dias de vida, ainda viveria assim?
— Eu…
Madame Rosalie deu o golpe final na jovem, que ficou sem palavras.
— Eu vou morrer amanhã. Então não venha bancar a virtuosa na minha frente.
No dia seguinte, Madame Rosalie morreu, como havia previsto. Disseram que partiu tranquilamente, dormindo. Parecia mentira.
‘Se eu soubesse, teria feito melhor por ela.’
Ao saber da morte, Rarien sentiu o coração pesar. Chorou em segredo, tomada por uma tristeza sem motivo.
Embora tivesse sido repreendida severamente todos os dias, ela tinha se afeiçoado pela pessoa que visitava todas as manhãs e tardes como parte da sua rotina.
Para Rarien Claude
Na mesa de cabeceira, onde estava o vaso de dálias, havia uma carta endereçada a ela.
Todos pensaram que seria uma nota de agradecimento da Madame Rosalie para Rarien, por seus cuidados diários.
‘Eu não fiz nada para merecer isto…’
Envergonhada, mas grata, Rarien pensou que, afinal, a mulher que parecia incapaz de derramar uma gota de sangue, havia se lembrado dela.
[Rarien,
Você foi a maior tola entre todas as pessoas que conheci em minha vida.
… Sim, era o tipo de coisa que ela diria. Um tanto ríspida, mas não uma pessoa ruim, certo?
Rarien lembrou-se do jeito áspero de Madame Rosalie e continuou lendo.
Eu sou, de fato, uma bruxa, como dizem os rumores.
Isto foi um desenvolvimento totalmente inesperado.
E esta é a maldição que lanço sobre você.
Rarien Claude, você morrerá em 100 dias.]
— O quê…? Eu?
Os olhos de Rarien tremeram ao ler a última linha.
🌸🌸🌸
Durante a cerimônia, ela não conseguiu se concentrar. Sentada, fingindo rezar, empurrou os óculos grossos que escorregavam pelo nariz.
— Eu vou morrer em cem dias?
Não… já se passaram quatro dias, então restam 96.
De repente, foi sentenciada à morte. Ouvir aquilo foi como levar uma pancada na cabeça.
— … Pode ser brincadeira.
Tentou se convencer de que era apenas uma maldição sem fundamento. Mas havia algo perturbador demais para ignorar.
Os rumores sobre os três maridos ricos que morreram jovens eram verídicos demais. Madame Rosalie até previu a data da sua própria morte.
“Ela murmurava palavras incompreensíveis… dava medo.”
“Dizem que cantava músicas estranhas durante a noite.”
Madame Rosalie era, sem dúvida, uma bruxa.
Recordar os sussurros das outras freiras, cada uma alegando ter visto provas, a deixava louca.
E, acima de tudo, havia o vaso de dálias.
Um presente que ela levara para oferecer esperança, flores que duravam cem dias.
Agora, Madame Rosalie tinha partido, e apenas o vaso permanecia.
Rarien pegou de volta o vaso que havia lhe dado.
Nele, estava escrito, em traços suaves: 96.
Ontem era 97, no dia anterior 98, e quando o trouxe pela primeira vez, 100.
Os números começaram a surgir logo após a maldição.
Por isso, Rarien não pôde mais negar a maldição de Madame Rosalie.
O vaso, que antes simbolizava “a esperança de florescer por cem dias”, agora era o vaso do desespero, “apenas cem dias para viver.”
— Por que ela me amaldiçoou? O que fiz de errado?
Se sentia injustiçada. Tudo o que fez foi se esforçar ao máximo.
Chegou até a orar sinceramente pela recuperação de Madame Rosalie.
Mas, ao que parecia, sua sinceridade não havia sido ouvida.
Continua…
Tradução: Elisa Erzet