No Fim do Inverno - Capítulo 17
Apenas um dever
Era um dia radiante e ensolarado. Suaves raios de luz filtravam-se pelas cortinas esvoaçantes e deslizavam entre as grades da janela.
No meio daquela cena pacífica, Louise estava sentada com postura desleixada, balançando as pernas enquanto observava os dois homens trabalhando diligentemente.
Mais precisamente, ela olhava para o rei e o chanceler, que a ignoravam completamente.
Bocejo.
Ela estava terrivelmente entediada.
Ao soltar um longo bocejo, Johannes, o único ali que demonstrava algum resquício de humanidade, lançou um breve olhar. Mas foi só isso.
Vendo o rei indiferente voltar sua atenção aos documentos, ela não resistiu e falou:
— Eu até reescrevi o relatório, e você nem vai olhar?
— Como escreveu tão rápido? Não saiu rabiscando qualquer coisa, não é?
Johannes perguntou com desconfiança, lançando um olhar para o relatório dela, enfiado entre uma pilha de papéis ainda não revisados.
Atingida em cheio, Louise sorriu de forma travessa.
— Sério, o que a Avril vê em um viciado em trabalho como você?
— Por que está mencionando aquela pirralha agora?
Johannes franziu a testa, incomodado com o assunto.
— Você está prestes a se casar. É natural que ela venha à mente.
— Não a envolva nisso.
— E ela não é uma pirralha. É só um pouco mais nova que eu.
— Aham…
Johannes pigarreou, visivelmente desconfortável.
Ela o importunava desde criança, então ainda parecia uma garotinha para ele. Embora talvez não parecesse mais aos olhos dos outros.
— O chefe da família Evangel não vai aceitar isso em silêncio.
— É exatamente o que estou dizendo.
Glenton, que trabalhava em silêncio no canto, interveio suavemente, como uma enguia.
Se não fosse pela voz, ninguém teria percebido que ele estava ali, tão imerso estava na escrita, com a postura completamente serena.
Johannes estreitou os olhos ao encarar o rosto desavergonhado de Glenton.
— Gostaria de usar um nome mais familiar?
Tão rápido para empurrar uma causa, e agora se fingia de neutro.
Sentindo um leve traço de traição, Johannes desviou o olhar para a janela.
Parecia que seus pulmões estavam cheios de fumaça espessa.
Eunice von Pavlone.
Uma pessoa que ele mal havia superado, suportado e… esquecido.
Agora, apenas com seu nome escrito em um pedaço de papel, ela o abalava por completo, com sua presença vívida que o fazia se sentir miserável.
‘Eu sou apenas um dever para ela?’ 🥹
Não era difícil de compreender. Racionalmente, ele entendia perfeitamente. Afinal, tratava-se de um casamento político.
Mas só de pensar que Eunice tinha vindo até aqui sob ordens do rei — enquanto trabalhava, comia, até mesmo dormia — ondas de raiva fervente brotavam subitamente em seu peito.
Que tipo de ambiente Tranche criou para obrigá-la a isso?
Dentre todas as damas nobres, por que Eunice foi a escolhida?
Aquilo que antes era mera curiosidade, agora machucava sua alma.
O que ele aceitara como destino agora parecia suspeito.
A rigidez das palavras na carta que leu naquele dia só reforçava sua desconfiança.
‘Foi bem seca, considerando que era para o pai dela.’
Seus olhos azuis mergulharam em sombras.
Alheio a seus pensamentos perturbados, o sol da tarde lançava sua luz suave sobre ele, indiferente.
— Em apenas dois dias, você será um homem casado.
— …
Ele até queria se perder em pensamentos, mas Louise não deixava.
Considerou seriamente jogá-la pela janela, mas ela continuou falando.
— Bom, não importa o quanto o chefe de Evangel se enfureça, ele não pode cancelar o casamento na véspera.
Enquanto ela ria, Johannes soltou um suspiro carregado.
Não sabia ao certo quanto ao chefe de Evangel, Knoxville, mas sua filha, Avril… essa, sim, era perfeitamente capaz de fazê-lo.
‘Certamente aquela mulher descontrolada não iria tão longe, não é?’
Um calafrio percorreu sua espinha.
— A noiva é linda. Até a Avril não vai ter muito o que dizer. Aquela garota se acha a mais bela do mundo. Está precisando levar um choque de realidade ao ver alguém mais bonita.
— Não é?
— Como é?
Diante da súbita concordância, Louise, que tagarelava sem parar, arregalou os olhos.
E então ela viu.
Os lábios de Johannes se curvando levemente.
— …
Sua expressão se tornou estranha.
Seu rosto, antes sempre frio, agora tingia-se de um rubor incomum.
E em seus olhos, que sempre traziam uma frieza cortante, nasceu um brilho melancólico.
Era o rosto de um jovem apaixonado, ternamente vulnerável.
Os olhos de Louise tremeram violentamente.
— … O que é isso? Que nojo.
— Hã?
Esfregando os braços arrepiados, ela perguntou, enojada:
— Você se apaixonou à primeira vista, foi?
— O quê?
— Bom, é possível.
Esse último comentário veio de Glenton.
Sua voz serena e intervenções oportunas só o tornavam ainda mais irritante.
Como uma brisa passageira, o calor no rosto de Johannes desapareceu no mesmo instante.
— Louise, se vai continuar falando bobagens, saia.
— Por que só grita comigo? O Sr Glenton também falou!
— Fora.
— Afff. Sempre eu, o saco de pancadas…
— Vossa Majestade, Lorde Knoxville, da família Evangel, solicita uma audiência no salão do trono.
A última voz veio de fora da porta.
O semblante de Johannes se fechou.
Louise aproveitou o momento para cutucá-lo com um sorriso provocante.
— Parece que é Vossa Majestade quem tem que sair, não eu.
🌸🌸🌸
— Eu, Knoxville Evangel, saúdo o grande rei fundador que unificou Nordisch.
Enquanto o homem de meia-idade se curvava profundamente, Johannes passou por ele com frieza, caminhando pelo tapete vermelho.
Assentado no trono luxuoso e imponente, sua presença já naturalmente autoritária tornou-se ainda mais opressora.
Sem qualquer traço de sorriso, Johannes inclinou levemente a cabeça e olhou para baixo, onde Knoxville se endireitava.
O homem claramente viera contra a vontade, chegando apenas na véspera do casamento como forma de protesto.
Podia estar se curvando agora, mas, por dentro, certamente amaldiçoava o jovem rei como um insolente.
— Foi uma longa viagem, não?
Que viajem!
Apesar de geograficamente distante no norte, com o sistema de portais, era possível chegar em apenas alguns dias.
Percebendo o sarcasmo, Knoxville forçou um sorriso. Mas seus olhos não acompanharam o gesto.
— Vossa Majestade visitou pessoalmente Evangel. Eu não poderia deixar de vir.
— Como está a região?
— Sem novidades.
— Então não vejo motivo para esta audiência.
Um silêncio pesado caiu.
Espadas e lanças invisíveis pareciam cruzar o espaço entre eles.
Johannes recordou dos convites de casamento que enviara às Doze Casas, após firmar a aliança com Tranche.
E as petições que recebeu em resposta.
[… Diante da situação atual, por que uma estrangeira deve se tornar Rainha de Nordisch?
A aliança com o sul — praticamente outro mundo além da Terra dos Mortos — não traz nenhum benefício claro ao nosso reino.
Pedimos respeitosamente que Vossa Majestade reconsidere essa decisão precipitada e evite prosseguir sozinho em um assunto de tamanha importância nacional.
Submetemos esta petição com as assinaturas das Doze Casas que compartilham dessa preocupação…]
O ponto da longa petição era simples: que escolhesse uma de suas filhas.
Suas intenções eram tão transparentes que Johannes nem sequer sentira a necessidade de responder.
E agora, um deles vinha argumentar pessoalmente.
— Vossa Majestade, por favor, reconsidere.
— O casamento é amanhã.
— Ainda não é tarde demais.
— Avril jamais será rainha. Nem sobre o meu cadáver.
— …
Os olhos violeta de Knoxville arderam de fúria.
Sentindo a desafiadora ousadia, Johannes soltou uma risada sarcástica.
— Já não é hora de desistir?
— O senhor realmente vai descartar aquela pobre garota?
— Pobre? Quem, Avril?
— Ela passou anos com os olhos apenas para Vossa Majestade.
— Quem ouve até pensa que pedi por isso.
Um brilho desleal cruzou os olhos de Knoxville.
Era um olhar que ele exibia com frequência, e Johannes normalmente o ignorava — mas desta vez envolvia Eunice. E isso ele não podia tolerar.
As palavras saíram frias entre seus dentes cerrados:
— Se ousar olhar para a rainha dessa forma, não terminará bem para você.
— …
Knoxville abaixou a cabeça, mas o maxilar tremia de raiva.
Johannes já esperava por isso.
Seria difícil para Knoxville e Avril aceitarem, depois de todo o investimento para torná-la rainha.
Principalmente com o temperamento de Avril… ele precisava a todo custo evitar que ela e Eunice se encontrassem.
Olhando de cima, para Knoxville ainda sozinho no salão, Johannes falou com o tom um pouco mais suave:
— Darei crédito por deixar Avril para trás.
Ele dizia com sinceridade.
Saber que aquela mulher incontrolável não estava presente lhe dava um alívio que ele nem sabia que precisava.
Mas Knoxville ergueu a cabeça com um semblante confuso.
— O que quer dizer com isso?
— …?
Os olhos azuis de Johannes vacilaram levemente.
Existem certos relacionamentos no mundo em que duas pessoas parecem destinadas a se atormentar, mesmo sem querer, verdadeiros antagonistas naturais.
— Avril veio comigo para Berzan. Provavelmente está vagando em algum lugar do palácio neste exato momento.
Era exatamente esse o tipo de relação que eles tinham.
Continua…
Tradução: Elisa Erzet