No Fim do Inverno - Capítulo 13
Diga com clareza
Tudo havia derretido.
O presente precioso que ela tanto guardava agora era apenas um galho comum. A flor de neve que florescera na ponta havia desaparecido.
Com um olhar de pesar persistente, colocou o galho sobre a mesa. Já se passaram dois dias desde aquele momento… o passeio inesperado pelo jardim coberto de neve com Johannes.
Eunice relembrou a cena.
Quanto tempo caminharam, trocando palavras banais?
Então, sem aviso, Johannes parou de repente.
Confusa, olhou para o lado e o viu fitando algo à distância com desaprovação.
Seguindo seu olhar, ela viu o chanceler Glenton.
Com seus óculos reluzentes ajustados com precisão militar, a expressão do homem era tão afiada que até Eunice, alheia à situação, sentiu um calafrio.
— Acho melhor eu ir — foi a última coisa que ele disse.
Johannes virou-se bruscamente e partiu com passos rápidos, desaparecendo com Glenton ao seu lado. Observando suas costas se afastarem, Eunice foi tomada por um pensamento estranho.
O que era aquilo?
Ele parecia um estudante num dia ensolarado, a caminho de fazer uma prova. Ou talvez um trabalhador exausto, arrastando-se para mais um dia de labuta. Nada condizia com o título de “rei violento” que carregava.
Mas, pensando bem, quanto se pode realmente conhecer alguém em apenas alguns dias?
Eunice tentou juntar os poucos fragmentos que sabia. A situação atual do palácio… pilhas de documentos, e Johannes, afogado em trabalho.
E era só isso.
Uma conclusão estranhamente vazia. Ela suspirou longamente.
— Achei que pelo menos faríamos uma refeição juntos…
Mas não teve sorte.
Ela havia almoçado e jantado no dia anterior, e tomado o café da manhã naquele dia, sozinha.
Nem sinal de Johannes.
Como ele podia estar tão ocupado e ainda assim ter tirado um tempinho para ir até a Terra da Morte escoltá-la?
Agora que pensava bem, nada fazia sentido.
Seu olhar se desviou do galho para algo próximo.
As luvas do homem.
Ela também tinha luvas. Hannah as havia colocado em seu bolso naquele dia. Mas Eunice não quis usá-las. Fingiu não ter nenhuma.
Ela, que sempre viveu de forma correta, buscando desesperadamente a aprovação do pai, sem nunca burlar as regras… Quem diria que tinha esse lado sorrateiro?
Talvez a primeira vez seja a mais difícil.
Seus olhos verdes vacilaram com indecisão. Então, pegou as luvas e saiu do quarto.
🌸🌸🌸
Se ao menos aquele sujeito não tivesse interrompido…
Johannes, travando uma batalha contra uma pilha interminável de relatórios, franziu a testa ao lançar um olhar irritado para o rosto do chanceler.
Ele queria passar mais tempo com Eunice.
Mas Glenton o fuzilou com aquele olhar de longe, forçando-o a segui-lo como um gado.
Agora, já se passaram dois dias.
Ele dormiu debruçado sobre a mesa ou tirando cochilos rápidos no sofá. O mais perturbador era que Glenton também suportava esse inferno de papelada sem perder a postura.
‘Desgraçado resistente.’
Xingando Glenton mentalmente, Johannes pressionou os dedos contra as pálpebras cansadas.
Honestamente, a culpa não era do chanceler. Ele era o idiota que havia tomado a decisão insensata de atravessar meio mundo até a Terra da Morte só para ver Eunice, uma mulher que nem sequer se lembrava dele.
— Tsc…
Estalou a língua levemente, mas por dentro doía.
Ele mesmo havia causado tudo isso, se colocando naquela situação.
Suspirou. Era só aguentar até o casamento…
Lançou um olhar a Glenton, que seguia imóvel após duas horas.
Ele não prometeu três dias de folga depois para ele?
Se conseguisse eliminar o acúmulo de trabalho antes do casamento, ganharia três dias de descanso.
Até lá, Eunice seria oficialmente sua esposa. E então poderiam… fazer de tudo. Na cama…
— …
Seu foco aflorou de repente.
Movido por pura obsessão, Johannes virou as páginas dos relatórios em velocidade impressionante. Seus olhos percorriam as linhas, cada vez mais rápidos.
Folhea.
Folhea, folhea, folhea.
O som das páginas sendo viradas tornou-se cada vez mais frenético.
Glenton finalmente olhou para frente, parou o que fazia e encarou Johannes. Soltou um riso discreto entre os dentes.
— Se você trabalhasse assim normalmente, já teríamos terminado há eras.
— …
Johannes não respondeu. Seu silêncio dizia claramente: ‘Não me interrompa.’
Glenton ficou pasmo. Nunca tinha visto Johannes tão eficiente.
— Eunice tem um efeito notável. Devo usá-la com mais frequência.
— Cala a boca.
Johannes nem tentou negar. Apenas franziu ainda mais a testa e se concentrou.
Precisava terminar. Nada de distrações.
Toc toc.
Que inferno.
Justo quando ele finalmente estava entrando no ritmo.
Irritado, Johannes levantou a cabeça.
— O que foi?
Sua voz soou fria.
Após uma breve pausa, o guarda respondeu do lado de fora da porta:
— A senhorita Eunice von Pavlone deseja vê-lo.
— …!
Os olhos de Johannes se arregalaram.
Ele e Glenton se entreolharam, atônitos. Suas expressões idênticas os faziam parecer reflexos um do outro.
‘Por que Eunice está aqui?’
A pergunta pairava no ar, estampada mutuamente em seus rostos confusos. Viraram-se em sincronia na direção da porta.
Johannes limpou a garganta rapidamente tentando se recompor.
Seus frios olhos azuis retomaram a calma.
Pelo menos por fora.
— Deixe-a entrar.
Com sua permissão, Eunice entrou com graciosidade.
Com passos leves, aproximou-se como uma fada encantada.
De alguma forma, tudo parecia diferente.
A cada passo dela, era como se flores de primavera desabrochassem no escritório monótono.
‘Sempre foi tão cheio de luz aqui?’
Johannes nunca havia notado.
— Espero não estar atrapalhando.
— De forma alguma.
O homem mal-humorado que até então rosnava contra interrupções havia desaparecido. Eunice cumprimentou Glenton com um aceno educado e aproximou-se da mesa de Johannes.
‘Por que ela veio?’
A curiosidade brilhou no frio olhar de Johannes.
Sem dizer o motivo da visita, Eunice apenas observou ao redor, fingindo examinar o escritório.
— O que foi?
Johannes perguntou, de forma direta.
Por mais que estivesse feliz em vê-la, o tempo até o casamento era curto.
Eunice hesitou, então falou.
— Você parece muito ocupado.
— E?
Ele arqueou uma sobrancelha.
Não fazia ideia do rumo da conversa.
E não gostava de rodeios.
— Eu só… pensei que você pudesse estar ocupado.
— Diga com clareza.
Não pretendia soar rude, era apenas seu jeito normal de falar, mas Eunice enrijeceu na hora.
Glenton lançou ao homem um olhar torto por trás dela, advertindo-o silenciosamente para falar com mais delicadeza.
‘Ops.’
A voz de Johannes suavizou levemente.
— Ah, sim, tenho um tempinho agora.
Foi então que algo chamou a atenção.
Eunice segurava algo com firmeza, como se fosse um último fio de esperança.
Ela se remexeu, talvez percebendo o olhar dele, e colocou cuidadosamente o objeto sobre a mesa.
— Obrigada pelo outro dia.
A expressão de Johannes se tornou curiosa.
— Você veio devolver isso?
‘Sério?’
A pergunta não dita pairava no ar.
Ele estava ocupado.
Não havia necessidade de devolver algo tão insignificante quanto um par de luvas naquele momento.
Ele a encarou.
Eunice começou a divagar:
— Já se passaram dois dias, não sabia como devolver… Pensei que nos encontraríamos, mas não aconteceu. Comemos separados, dormimos em quartos diferentes…
— …
— Então, quero dizer…
— Veio porque sentiu minha falta?
Seu rosto ficou vermelho como um tomate. Com sua pele pálida, o rubor era ainda mais vívido.
Johannes observou a mudança, encantado, depois riu gostosamente. Simplesmente não conseguiu evitar.
— Haha.
— Não é isso! Trouxe de volta e pensei que talvez pudesse ajudar… Lembrei que o senhor Glenton disse que havia muita papelada!
— Hahaha!
Sua voz desesperada aumentou, ficando mais aguda. Até isso era insuportavelmente adorável.
Johannes caiu em gargalhadas, exibindo os dentes brancos.
De canto de olho, viu Glenton balançando a cabeça com uma expressão que dizia: “Sério mesmo? Você está se divertindo com isso?”
‘Se eu continuar rindo, ela vai chorar.’
O rosto de Eunice era puro desespero.
Johannes se esforçou para conter o riso, pegou as luvas sobre a mesa e sacudiu levemente.
— Você poderia ter devolvido depois. Mas obrigado, de qualquer forma.
Aquilo era uma clara despedida.
Mas Eunice não foi embora.
Estava envergonhada demais, porém determinada a manter a farsa de que viera ajudar.
Johannes reprimiu o sorriso que ameaçava escapar e disse:
— Você já ajudou. Agora concentre-se apenas no casamento.
Continua…
Tradução Elisa Erzet