No Fim do Inverno - Capítulo 12
Flor da Neve
Neve aqui, neve ali.
A neve branca havia se acumulado por todos os lados.
— Que frio.
Pegando um punhado do corrimão, Eunice sorriu como uma criança.
Observando-a com curiosidade, Hannah perguntou:
— Você gosta tanto assim de neve?
— É tão bonita.
Parecia macia e fofa como algodão, mas ao tocá-la, revelava uma textura fria e esfarelada.
Ela nunca tinha visto algo tão branco e bonito.
— No sul, a neve nunca se acumula assim. Mesmo quando cai, se espalha como poeira e desaparece. Você não tem a chance de realmente tocá-la.
— Isso parece uma sorte.
Eunice falou com um tom de inveja, mas a resposta de Hannah foi surpreendentemente direta. Confusa, virou a cabeça e viu Hannah murmurando com uma expressão vazia:
— Espere só uma semana. Você vai ficar tão cansada dela que nem vai querer ver.
— Que falta de romantismo, Hannah.
Eunice comentou em tom brincalhão, dando um leve empurrãozinho nela. ,A resposta que recebeu foi inacreditável:
— Os cavaleiros chamam isso de lixo do céu.
— O quê?
A coisa mais absurda que já ouvira. Como algo tão bonito poderia ser chamado de lixo?
O protesto que subiu até sua garganta foi interrompido pelas próximas palavras de Hannah:
— Quem você acha que tem que limpar tudo isso?
— …
Eunice olhou lentamente ao redor.
Terras vastas. A extensa cidade de Berzan.
Lembrou-se dos caminhos perfeitamente limpos no caminho para o palácio, não apenas onde os guardas marchavam, mas também das incontáveis ruas entrelaçadas da cidade. Tudo isso tinha que ser limpo por alguém.
Então é tudo feito por pessoas, hein.
Graças aos anos administrando o vasto Ducado de Pavlone, Eunice entendeu rapidamente o quanto a neve devia ser um incômodo em Nordisch.
Uma daquelas tarefas que só é notada quando não é feita. Já conseguia se imaginar coordenando a remoção de neve em breve. Estava começando a parecer um pouco com lixo, afinal.
‘Ah, não. Eu não precisava entender isso tão rápido.’
O encanto infantil que havia saboreado por um instante desmoronou em segundos.
— Você não precisará se preocupar com isso por um tempo. Vai tudo derreter no verão.
Uma voz grave interrompeu seus pensamentos.
Virando a cabeça, viu Johannes se aproximando, uma capa forrada de pele sobre os ombros. Os olhos verdes de Eunice tremeram.
‘Não. Agora não. Eu não estou pronta para isso.’
Vergonha e constrangimento surgiram como uma onda. Queria correr e se esconder, mas seus pés estavam enraizados no chão. Queria agarrar Hannah, que fez uma reverência educada e se afastou, mas só conseguiu lançar um olhar suplicante.
E, assim, ficaram sozinhos no jardim.
A brisa agitou suavemente os cabelos prateados do homem.
— Bom dia, Majestade — disse Eunice, fazendo uma reverência timidamente.
Seu rosto queimava ao se lembrar que ele a viu nua na noite anterior.
O que ele estaria pensando? O que havia acontecido enquanto ela dormia?
Seus pensamentos, antes minimamente organizados, agora escapavam como potros selvagens.
— Admirando a neve?
— Sim. Com a Hannah…
Sua voz sumiu enquanto observava sua expressão. Infelizmente, nada podia ser lido em seu rosto frio e impenetrável.
Ele assentiu levemente, olhando para o corrimão coberto de neve que ela havia mexido, logo voltou a olhar para o rosto dela.
E encarou.
Imóvel, como se vasculhasse profundamente seus olhos de jade, depois observando calmamente seus lábios firmemente fechados.
O olhar era intenso demais. Eunice engoliu em seco. Sua respiração aqueceu, ela quase perdeu o ar.
— Parece que você se dá bem com a Hannah. Ela ri bastante.
As palavras vieram após uma longa pausa. Sua voz era equilibrada, fria. Mas o fato de estar falando já aliviava sua tensão.
— Obrigada por me designar uma criada tão maravilhosa.
— Algum desconforto?
— Cheguei apenas ontem. Tudo tem sido perfeito.
— Bom.
A resposta foi simples. Mas Eunice não conseguia simplificar nada daquilo. Suas únicas interações desde a chegada haviam sido o banho e os preparativos da manhã…
— Hm…
Ela abriu finalmente a boca, tentando ao máximo manter a compostura.
— Sobre ontem à noite… peço desculpas.
Uma das sobrancelhas de Johannes arqueou levemente, como quem perguntasse: “Pedir desculpas pelo quê?”
— A Hannah me contou. Eu adormeci durante o banho…
— Ah, é isso.
— …
Então ele não está negando.
Eunice fechou os olhos. Queria desaparecer. Toda aquela compostura anterior era só fachada. Ele aceitou aquilo com naturalidade demais.
Queria virar pó. Mas forçou os olhos a se abrirem e olhou para ele.
Johannes esperava que ela continuasse.
— Eu… por acaso fiz algo estranho enquanto dormia?
Enquanto perguntava, seu rosto já corado ficou vermelho como uma maçã. Os olhos, azul-claro dele se arregalaram levemente com a mudança, e logo os cantos dos lábios se moveram. O homem levantou a mão para cobrir a boca.
— …
Então ela fez algo ou não?
Esquecendo que ele era rei, teve vontade de ameaçar rachar seu crânio se ele não respondesse.
Mas o que saiu foi bem mais gentil:
— Se ronquei, ou babeei… eu estava muito cansada. Normalmente, durmo bem quietinha.
— O quê?
Johannes a olhou como se ela tivesse dito a coisa mais absurda do mundo, depois explodiu em gargalhadas, mostrando os dentes.
— Vossa Majestade…
Sua voz tremia como a de um cabritinho assustado.
Isso é de mais.
Como ele podia rir tão livremente na frente de uma noiva mortificada?
Começou a se preocupar que realmente fez algo vergonhoso.
Estava perto de chorar de constrangimento
— Você dormiu lindamente, não se preocupe.
— …!
Sua voz doce como mel roçou seu ouvido. Os olhos verdes de Eunice vacilaram novamente. Ele recuperou a compostura, mas um sorriso brincalhão ainda pairava em seus lábios.
Algo estranho e desconhecido fez cócegas no coração.
Ao mesmo tempo, sentiu um alívio estranho com aquelas palavras “dormiu lindamente”.
Pressionou a mão fria contra a bochecha em chamas.
Ainda bem que havia brincado com a neve antes.
— Ah…!
De repente, Johannes agarrou sua mão. Ela ofegou de surpresa.
O homem que ria há poucos instantes, agora franzia a testa, claramente descontente.
‘O que foi agora?’
Antes que pudesse pensar, ele estalou a língua:
— Sem luvas? Tsc.
Tirou as próprias luvas, enfiou no bolso do casaco e começou a aquecer as mãos dela com as suas.
Talvez pela diferença de temperatura, pareciam fogo. Suas mãos grandes e calejadas massageavam as dela com delicadeza, provocando uma sensação estranha na espinha. Suas palmas formigavam, como se eletricidade corresse por seu corpo.
— Eu entendo que você está encantada com a neve, mas assim vai acabar tendo uma necrose.
— Necrose?
— É quando uma parte do seu corpo congela e morre. Se for tarde demais para tratar, nem magia de cura pode ajudar.
Falou algo tão sombrio com tom tão calmo. Com o coração acelerado, Eunice olhou para ele com expressão preocupada.
— Então a neve é perigosa?
— Pode-se dizer que sim.
— Atraindo as pessoas com a beleza, e depois causando necrose… isso é assustador.
‘Como você.’
— É mesmo?
Ele parecia divertido com a interpretação dela. Uma leve risada escapou de seus lábios.
Depois de aquecer bem os dedos dela, Johannes pegou as luvas que havia guardado no bolso e cuidadosamente as colocou em suas pequenas mãos.
Não serviam direito, ficaram enormes, de forma engraçada.
— Você precisa tomar muito cuidado no meio do inverno. Pessoas morrendo congeladas não é raro por aqui.
— Que estação estamos agora?
— Inverno.
— O que isso significa?
É inverno o ano todo.
Eunice soltou uma risadinha.
Nesse momento, Johannes esticou o braço e arrancou algo acima deles. Alguns flocos de neve caíram, e um galho coberto de gelo apareceu à vista.
— Quando a neve derreter, será verão. Não vá ficar mais quente.
Ele colocou o que pegou nas mãos dela.
— Ainda bem que você chegou enquanto as flores da neve continuam por aqui.
Na ponta do galho, a neve congelada havia formado a figura de uma flor delicada.
Eunice olhou para ela, encantada, repetindo seu nome suavemente.
— Flor da neve.
Uma flor que só florescia em Nordisch.
Continua…
Tradução Elisa Erzet