No Fim do Inverno - Capítulo 11
Ela Adormeceu.
— Por que mencionar os nobres na frente da Eunice?
A voz cortante atravessou o ar. Mas apesar do tom frio do homem, Glenton permaneceu calmo.
— Johannes, de qualquer jeito, ela vai descobrir cedo ou tarde.
— Enquanto eu estiver cuidando disso, ninguém ousa falar descuidadamente na frente da Eunice.
Glenton fez bico, claramente em desacordo. Não ia desafiá-lo abertamente, mas fofocas sempre encontravam um jeito de se espalhar.
Ainda assim, discutir com esse homem teimoso não adiantaria. Era como falar com uma parede.
Com um suspiro discreto, Glenton mudou de assunto.
— O Lowell não veio com você?
— Ele está investigando a Terra da Morte.
Johannes ainda mantinha uma expressão fria, talvez resquício da discussão anterior. Mas pelo menos ele estava respondendo.
— Você deixou o Lowell para trás? Ele já está sobrecarregado de trabalho.
— O mato cresceu mais do que o esperado. O suficiente para formar um campo. Precisa ser investigado corretamente.
— …
Aquilo era inesperado.
Como se tivesse recebido uma nova missão, Glenton mergulhou em pensamentos profundos. Logo depois, seu rosnado baixo quebrou o silêncio novamente.
— De qualquer forma, não diga nenhuma bobagem para a Eunice.
Glenton ergueu uma sobrancelha, como se dissesse: ‘Você realmente acha que isso vai me impedir?’
— Claro, todos os doze chefes das casas se opõem ao casamento, mas tudo bem. Vou ficar quieto.
— Esse papo de destino também.
— …?
A confusão brilhou nos olhos de Glenton.
Ele já havia percebido que Eunice não se lembrava de Johannes. E pela forma como ela reagiu às indiretas, parecia ter esquecido dele também. Lowell certamente estava na mesma situação.
Para os três homens, Eunice era alguém especial. Mais precisamente, ela havia sido uma pequena luz que apareceu quando eles estavam em seus momentos mais sombrios.
Os três garotos órfãos, que há muito haviam esquecido como sorrir, encontraram alegria novamente depois de conhecê-la.
Era difícil acreditar que uma garotinha tão pequena pudesse ter esse poder. Mas ela sorriu trazendo chuva para seus corações rachados pela seca da vida.
— Por que não contamos logo a verdade para a Eunice? Que viemos do orfanato St. Laurent. Só perguntar se ela se lembra de nós.
— …
Uma sombra pairou sobre o rosto de Johannes. Enquanto Glenton observava o brilho sutil de emoção por trás daqueles olhos azul-pálido, ele perguntou, com o coração apertado:
— Johannes, qual é o problema?
— …
— Se ela se lembrar de nós, não seria algo bom? Você também quer isso.
— Nem tanto. Eu não me importo.
Sua voz era fria como gelo. As emoções turbulentas que haviam surgido antes desapareceram, como se nunca tivessem existido.
Ele estava com uma expressão tão vazia que era arrepiante. Por um momento, Glenton pensou ter visto o garoto que um dia experimentou uma despedida que nem sequer percebeu como tal.
Aquele rosto havia desaparecido após o último encontro na adolescência. Percebendo que aquela expressão havia ressurgido, Glenton soltou um suspiro pesado.
‘Tsc, bocó como sempre.’
Naquela época, Johannes agiu como se fosse durão, cheio de orgulho e bravata, mas parou de comer completamente.
Não havia sentido tentar convencê-lo mais.
Estalando a língua em pensamento, Glenton voltou seu olhar cansado para a janela, onde a noite já havia caído.
🌸🌸🌸
— Devo preparar seu banho?
Eunice assentiu ao ouvir a pergunta da criada, Hannah, dizendo que “sim, por favor.”Já havia aguentado o suficiente apenas com toalhas úmidas, e um banho quente era exatamente o que precisava.
Graças à eficiência de Hannah, logo teve o que queria. Enquanto o calor da água envolvia seu corpo, ela finalmente relaxou.
— Sua pele é tão branca e suave. Nem uma única cicatriz. É incrível.
Hannah trouxe uma pequena bandeja com frascos de vidro transparente enquanto falava.
— São óleos para banho. Gostaria de sentir o cheiro?
Ploc. O som das tampas sendo abertas ecoou no ar úmido. Eunice cheirou cada frasco, e fragrâncias suaves acariciaram seu nariz.
Casca de frutas, flores, mel, cada um com uma mistura única de ingredientes.
Honestamente, ela estava tão cansada que seu julgamento estava nebuloso. Qualquer um deles provavelmente serviria.
Percebendo a indecisão, Hannah fez uma sugestão:
— Este aqui é perfeito para relaxar. A senhorita deve estar cansada da viagem. Ajuda a dormir. O que acha?
— Parece bom. Pode ser esse.
Plinc, ploc
O óleo se misturou à água do banho. A fragrância suave encheu seus pulmões.
Hannah massageava suavemente os braços e ombros de Eunice com bolhas de sabão. Suas pálpebras pesavam como se tivessem chumbo.
Estava tão confortável. Sentir-se tão segura em um país estrangeiro parecia estranho.
Mesmo achando esquisito, Eunice afundou no sono como alguém preso em areia movediça.
— Onde está a Eunice?
— Bem… ela adormeceu…
Ela achou ter ouvido a voz de Johannes em seu sonho.
🌸🌸🌸
A luz clara da manhã dançava por suas pálpebras.
Era a que ela mais gostava, a luz que abria o dia. Mas, de alguma forma, naquela manhã parecia sutilmente diferente.
Ao abrir os olhos lentamente, uma estranha sensação de peso se instalou sobre ela.
Não tinha reparado direito no quarto no dia anterior, mas agora os detalhes surgiam com clareza.
Eunice sentou-se e examinou os arredores.
Uma cama com dossel de tecido grosso. Um sofá longo com bordados dourados em tecido verde-escuro. Uma mesinha baixa de estilo vintage à frente. Um toucador e uma cômoda de carvalho escuro. Um tapete com padrões ornamentados…
Tudo estava ali, e mesmo assim o quarto parecia estranhamente vazio.
Como um espaço que foi preenchido com móveis, mas ainda faltava a presença humana.
‘Quando exatamente eu adormeci?’
Seu raciocínio foi cortado por uma pontada na parte de trás da cabeça. Seus olhos desceram até a camisola que estava usando.
— … Quando eu troquei de roupa?
Ela nem sequer reconhecia a peça.
Com o rosto perdendo a cor, ela pulou da cama e foi até o espelho.
Um laço amarrado desajeitadamente em seu peito chamou sua atenção. Definitivamente não foi feito por ela. Mas também não parecia coisa da Hannah.
— … Eu dormi na banheira?
Franzindo a testa, Eunice tentou lembrar da noite anterior, então choramingou.
Era assim que ela arruinava sua primeira impressão?
Devia ter causado problemas para a empregada logo no primeiro dia. Esse pensamento a fez suspirar.
Não tinha ideia de como Hannah conseguiu levá-la para a cama.
Toc, toc. Nesse momento, alguém bateu na porta.
— É a Hannah.
Perfeito. Bem na hora.
Eunice tentou não pensar demais e pediu para ela entrar. Logo, Hannah apareceu com os braços cheios de itens.
— Você acordou cedo. Dormiu bem?
— Muito bem.
Bem até demais.
Os olhos verdes de Eunice acompanharam os braços ágeis de Hannah. Era difícil imaginá-la carregando uma pessoa.
Provavelmente não a levantou. Se a arrastasse pelo chão, Eunice teria acordado. Talvez outras pessoas tenham ajudado?
— A propósito, por favor, pode falar de forma mais casual comigo, senhorita.
Hannah olhou de volta enquanto arrumava os acessórios.
— Logo será nossa rainha, afinal. É justo falar de forma mais informal.
— …
Eunice ainda sabia pouco sobre o Reino de Nordisch. Também não conhecia ninguém ali. Estava sendo cautelosa.
Não havia ninguém que precisasse conquistar mais do que sua empregada pessoal. Se não o fizesse, quem saberia o que poderia vazar de seus movimentos?
Já havia sido enviada ali como uma refém…
— Certo. Farei isso, então.
Vendo o sorriso brilhante de Hannah, Eunice sentiu que isso era aceitável. Ela se aproximou para examinar os novos acessórios, provavelmente presentes de Nordisch.
— E as bagagens de Tranche?
— Este é apenas um quarto temporário até o casamento. Suas coisas foram levadas para o quarto que você usará a partir da próxima semana.
— Entendi.
Então era temporário.
Isso explica o vazio que sentia antes.
E então Hannah mencionou algo que estava incomodando Eunice.
— Você devia estar muito cansada ontem. Adormeceu na banheira.
Eunice sorriu sem graça, sentindo-se culpada.
— Você deve ter tido dificuldade para me levar para a cama.
— Hã?
— Hã?
Ambas repetiram as palavras uma da outra, sentindo um desentendimento. Seus olhos se encontraram.
— …
— …
Um silêncio estranho caiu entre elas. Os olhos verdes de Eunice tremulavam como um barquinho em meio à tempestade.
Então… quem a havia carregado? Quem a vestiu?
Como se respondesse à pergunta não dita, Hannah bateu palmas e corou.
— Ai meu Deus! Deve ter sido Sua Majestade quem a vestiu.
— …!
— Você adormeceu na banheira, e ele apareceu bem na hora. Eu saí logo depois, então não sei o que aconteceu depois. Hehe.
— …
‘Não… qualquer coisa, menos isso…’
Sua cabeça girou.
Eunice fechou os olhos com força, dominada pelo constrangimento.
Como ela poderia encarar Johannes agora?
Continua…
Tradução Elisa Erzet