No Fim do Inverno - Capítulo 10
Destinados a Estar Próximo.
A comitiva real continuava em direção ao norte. Ao entrar no território de Nordisch, a temperatura caiu como por mágica. Naturalmente, as roupas de todos se tornaram mais espessas.
Eunice ajustou seu casaco forrado de pele e olhou calmamente pela janela da carruagem.
Um mundo de puro branco.
Era uma visão rara para alguém do sul, onde os invernos eram relativamente amenos. A neve no sul caía como grãos de milheto e derretia assim que tocava o chão.
Mas ali, ela se acumulava espessa como veludo.
Hipnotizante. Como entrar em uma pintura.
— Então esta é a Terra do inverno.
O inverno… podia ser uma estação belíssima.
Quanto mais ela observava, mais admiração sentia. Talvez porque esta fosse a terra onde ela viveria agora. Cada paisagem desconhecida atingia seu coração como uma onda.
De algum modo, apesar da incerteza sobre o futuro, sentia que se apaixonaria profundamente por aquele lugar.
“Dizem que ele é um monstro sem sangue nem lágrimas. Ironicamente, foi justamente por sua brutalidade e frieza que conseguiu unificar o norte. Subjugou o povo com poder e medo.”
Seriam verdadeiros os rumores do sul? O povo de Nordisch realmente temia Johannes?
Era uma pergunta que insistia em voltar à sua mente.
E não era à toa. Tudo que ela viu dele nos últimos dias havia sido tão… inesperado.
Seu lado humano e gentil nas conversas. O respeito e lealdade demonstrados por seus cavaleiros. O rosto severo ao dar ordens.
Quando sem expressão, ele era assustadoramente intimidador, mas quando sorria, podia ser dolorosamente lindo.
Mais do que tudo, Johannes carregava o peso da vida que levara. Rústico, cru, ele transbordava a essência de alguém moldado por estações impiedosas.
O pôr do sol já tingia o mundo de tons dourados quando a comitiva ultrapassou os muros cinzentos de Berzan. Diziam que a terra era árida, mas não parecia ser o caso para ela.
— É lindo.
Casas encantadoras de tijolos agrupadas chamaram sua atenção. A neve cobria os telhados pontiagudos que tanto a encantaram pela janela. Caminhos limpos revelavam o trabalho diligente de mãos cuidadosas.
As pessoas acenavam sorridentes para a comitiva. Não havia traço de pobreza em seus rostos. Nem medo.
‘Parece um bom lugar para se viver.’
Era, honestamente, surpreendente. Especialmente considerando o quanto ela ficou apavorada ao receber a ordem real de se casar.
Um sorriso tranquilo surgiu nos lábios de Eunice. Talvez… o futuro que a aguarda não seja tão ruim.
Ao chegarem ao palácio, a carruagem parou. Pela janela, ela viu Johannes dispensar os cavaleiros:
— Eu mesmo farei isso.
Ele se aproximou e abriu a porta.
— Bem-vinda a Berzan.
— Obrigada.
Eunice colocou a mão na dele e desceu.
O ar frio a envolveu. Cada respiração formava uma nuvem branca que logo desaparecia no ar.
Olhou para cima, um palácio imponente preencheu sua visão. Rústico, mas forte, exaltava uma presença sólida, como se nada pudesse penetrar suas paredes.
— Não está muito frio?
Ela se virou ao ouvir sua pergunta gentil e encontrou Johannes a observando.
Eunice compôs rapidamente a expressão. Devia estar parecendo uma criança deslumbrada.
— Estou bem. Mais que isso, esta cidade é verdadeiramente maravilhosa.
— Fico feliz que tenha gostado.
Seus olhos azuis como gelo tremeram levemente, como se ele estivesse ansioso por sua opinião.
‘Por quê? Por que ele está me tratando com tanta gentileza?’
Ela era apenas um peão, escolhida aleatoriamente para selar uma aliança entre Tranche e Candel. Talvez Johannes estivesse um pouco mais interessado no território de Candel do que no de Tranche.
Ou talvez ele apenas quisesse saber como o reino que construiu ao longo dos anos parecia aos olhos de uma estrangeira.
Eunice guardou os pensamentos para si e o seguiu para dentro do palácio.
Lá dentro, uma luz cálida a recebeu. Um enorme lustre pendia do alto teto, e as paredes eram adornadas com tapeçarias ricamente trabalhadas.
Espadas e escudos. Vassalos ajoelhados. Um herói recebendo juramentos de lealdade. Provavelmente uma homenagem ao próprio rei fundador, Johannes.
— Bem-vinda ao Reino de Nordisch. Sou o Chanceler Glenton Rochester.
A voz clara fez Eunice desviar o olhar das tapeçarias.
No centro do Grande Salão, um homem impressionante de cabelo azul-marinho e óculos que acentuavam seu ar intelectual e gentil.
Atrás dele, dezenas de criadas e guardas permaneciam em formação impecável.
Eunice levantou a saia com graça e fez uma reverência.
— Sou Eunice von Pavlone. Agradeço por sua calorosa recepção, Chanceler Glenton.
— O prazer é meu.
Sua voz carregava algo além da formalidade.
Havia uma curiosidade calorosa, como se ele realmente estivesse feliz com sua chegada.
Eunice observou enquanto o chanceler se aproximava.
— Minha senhora.
Com elegância fluida, ele tomou sua mão e se curvou, beijando o dorso dela.
Eunice congelou.
Como descrever essa sensação…?
Era como se algo enterrado há muito tempo em seu coração tivesse sido despertado.
— Imaginar que a senhora cruzou a Terra da Morte com um corpo tão pequeno… A viagem foi dura?
Seus olhos se encontraram quando ele se endireitou. Por trás dos óculos, seus olhos castanhos brilhavam como os de um predador.
‘Tudo para uma primeira impressão gentil,’ pensou Eunice, sorrindo discretamente.
— Graças aos cuidados de Sua Majestade, foi bastante confortável.
— Isso é um alívio.
Então por que ele está olhando tão fixamente?
Seu olhar a despia como um bisturi. Alguém poderia realmente exercer tanta pressão
apenas com um olhar?
— Se faste da minha noiva.
Uma voz infantil cortou o clima.
Livre do olhar sufocante, Eunice estava prestes a se sentir aliviada… até ver Johannes encarando Glenton com um olhar gélido.
O Chanceler pareceu ofendido.
— O que eu fiz?
— A sua saudação foi longa demais.
Eunice piscou. Foi? Repassou mentalmente a conversa, confusa.
Então veio a voz desavergonhada de Glenton:
— Ah, não pude evitar. Me senti estranhamente atraído pela senhora.
— …!
‘Ele é louco?’
Os olhos de Eunice se arregalaram em choque. Apesar da observação arriscada, Glenton parecia completamente calmo, na verdade, satisfeito, até sorrindo para Johannes.
Ele não tem medo de Johannes?
— Minha senhora.
— Sim?
Ainda atordoada pela tensão, ela se virou para ele. O homem sorriu ainda mais.
— É impressão minha… ou nós já nos encontramos antes?
— Ah…
‘Ele é definitivamente louco. Ou imortal.’
No entanto, ela não podia simplesmente negar.
Porque também sentia aquilo.
— Que estranho. Eu tive a mesma sensação…
De repente, o ar ficou gelado, como se as paredes do palácio tivessem desaparecido e o inverno tivesse invadido.
Eunice não ousou olhar para o lado. Não queria ver a expressão de Johannes.
Mas Glenton continuava falando, alheio.
Ela queria selar a boca dele com cola.
— Deve ser o destino, minha senhora. Estamos destinados a estar próximos.
— Haha… Profissionalmente, é claro?
Essa foi a tentativa dela de consertar.
Se sentindo condenada, Eunice fechou os olhos.
Johannes abruptamente deu um tapa no peito de Glenton.
— Agh!
— Afaste seu corpo imundo dela.
A boca de Eunice se abriu, surpresa.
Diante de todos… humilhando o chanceler?
Criadas e guardas fingiram educadamente não ver. Mas o divertimento sutil deles passou despercebido por ela.
Glenton colocou a mão no peito, protestando:
— Por que logo aqui?! Já disse que só estou vivo porque sou eu!
— Melhor assim. Parece que o seu destino é apanhar de mim para sempre.
Ignorando o chanceler indignado, Johannes envolveu o braço nos ombros de Eunice e começou a levá-la para longe.
Até que a voz fria de Glenton ecoou:
— Aonde pensa que vai? Tem uma montanha de documentos esperando por você.
Johannes estremeceu ao lembrar.
Eunice observou em silêncio, confusa.
— Não seja ridículo. Acabei de chegar.
— E daí? Eu fiquei limpando a bagunça que você deixou.
— Mesmo assim…
— Os nobres estão furiosos. E você só—
— Glenton!
Sua voz tensa dizia tudo: ele estava escondendo algo.
— Vá na frente.
Como esperado.
Johannes acenou com a cabeça para uma das criadas, sinalizando que levasse a futura rainha para seus aposentos.
Eunice nada disse. Um sentimento de inquietação cresceu em seu peito.
A vida em Nordisch… não seria simples.
Continua…
Tradução Elisa Erzet