No Fim do Inverno - Capítulo 08
Uma besteira.
Deitado em sua tenda, Johannes refletia consigo mesmo.
‘Talvez eu não devesse ter pedido alojamentos separados.’
O jantar ao redor da fogueira, trocando conversas triviais com Eunice, tinha sido realmente agradável. Mesmo que não se lembrasse dele, parecia que a distância entre os dois havia diminuído, mesmo que só um pouquinho.
‘E se eu tivesse usado esse momento para passar a noite na mesma tenda…?’
— Haa…
Ele virou a cabeça na direção da barraca de Eunice, mesmo que a lona bloqueasse sua visão. Talvez fosse porque apenas algumas camadas finas de tecido os separavam, mas ele não conseguia parar de pensar nela.
— Eu sou tão patético.
Johannes decidiu que o melhor era parar de pensar demais e tentar dormir.
Mesmo após cruzarem o território da Terra da Morte em direção às terras de Nordisch, ainda havia vários dias de jornada até chegarem a Berzan. E foi ele quem insistiu em acomodações separadas.
Era sua maneira de mostrar consideração. Sua própria natureza conservadora também influenciava, dormir juntos antes do casamento não parecia certo.
Outros disseram: “E daí se as pessoas falarem?” E, às vezes, Johannes concordou.
‘Qual é o problema? Vamos nos casar de qualquer forma.’
Mas, na hora de decidir, sua boca agiu por conta própria.
“Certifiquem-se de que a tenda da futura rainha esteja bem preparada. Nada de desconforto. Muitas peles para mantê-la aquecida. Ela pode ser sensível ao frio.”
Ele mesmo havia perturbado os cavaleiros com os detalhes dos suprimentos dela.
— … Meu Deus, eu sou muito idiota.
E, no entanto, lá estava ele, completamente acordado e inquieto.
Johannes abriu os olhos novamente. Sua mente estava alerta demais para dormir.
‘Que seja. Melhor verificar o acampamento. Ver se os sentinelas estão fazendo seu trabalho direito.’
Ele se levantou do catre e saiu, afastando a aba da tenda. A noite tranquila se estendia acima, a lua e as estrelas lançando um brilho sereno. Tochas espalhadas pelo acampamento iluminavam o caminho claramente.
Após uma rápida inspeção, que serviu apenas como desculpa para “verificar o acampamento”, Johannes se virou para o único lugar que continuava chamando sua atenção.
Um passo e mais outro.
Chegou à entrada da tenda de Eunice e prendeu a respiração. Não entrou, apenas ficou ali, constrangido e desajeitado, reunindo coragem para encostar o ouvido contra a lona.
Ele esperava ouvir sua respiração suave. Mas não havia som algum. Nem mesmo o barulho de alguém se mexendo durante o sono.
‘Estaria dormindo profundamente?’
Ele se concentrou mais, tentando ouvir qualquer coisa.
— O que você está fazendo?
— Aaaaaai! Você me assustou! 😅😅
Com o coração batendo descontroladamente, Johannes se virou como uma criança flagrada roubando doces. Lowell estava ali, olhando para ele de cima a baixo como se fosse algum tipo de pervertido.
Preocupado por acordar Eunice, Johannes olhou para a tenda dela, antes de se virar para Lowell, apressado-se para explicar:
— E-Eu só estava… verificando se Eunice estava dormindo bem.
— Por que não entra e embala ela para dormir, como fazia quando era criança?
— …
— É isso que você quer fazer, está escrito na sua cara.
— Cala a boca.
Johannes rosnou em aviso, ainda tomando cuidado para manter a voz baixa e não acordar Eunice.
🌸🌸🌸
Era uma manhã clara, sem nuvens.
Após uma noite agitada, Eunice acordou com olheiras. O acampamento já estava em plena atividade.
Ela podia sentir os cavaleiros lá fora se movimentando. A pressão para se levantar rapidamente pesava sobre ela.
— Isso é ruim.
Ainda bem que ela havia trazido um espelhinho de mão.
Ontem, isso não seria um problema. As criadas que vieram com ela da Casa Pavlone cuidaram de sua aparência.
Mas agora, esta era sua primeira manhã com o grupo de escolta de Nordisch. Nenhuma criada para ajudar com maquiagem, cabelo ou vestido.
Claro, ela sabia se arrumar sozinha. Já fez isso muitas vezes. Não era difícil, só… incômodo sem os itens básicos.
Sem variedade de cosméticos, uma penteadeira, espelho de corpo inteiro, e água morna para lavar o rosto…
— Não dá nem para tirar a maquiagem direito. Melhor passar só um pouquinho.
Sozinha num acampamento cheio de homens, não podia nem pedir algo simples como água para lavar o rosto.
Ainda assim, no meio do deserto, se preocupar com a aparência pareceria ridículo. Mas ela também não queria parecer uma bagunça na frente de Johannes.
Especialmente porque ele, com certeza, estaria impecável de novo hoje. Ela queria parecer pelo menos melhor do que ele.
Usou o pequeno espelho para arrumar o cabelo e ajeitar o vestido. A maquiagem era quase inexistente, apenas o mínimo. Escolhera um vestido que não precisava de espartilho.
Comparada ao seu visual habitual, parecia simples.
— Fazer o quê.
‘Talvez só um pouco mais de pó?’ Após um momento de hesitação, ela aplicou um pouco mais com cuidado.
🌸🌸🌸
‘Ela não vai tomar café da manhã?’
Johannes começou seu dia antes do amanhecer, observando os cavaleiros se moverem com disciplina. Seu olhar vagou, inevitavelmente, em direção à tenda de Eunice.
O café da manhã geralmente era uma refeição simples: carne seca, frutas desidratadas ou pão. Ele instruiu um cavaleiro a levar comida para Eunice, mas ela nem sequer apareceu. Apenas respondeu lá de dentro, dizendo que estava bem.
Bem, ela sempre foi exigente para comer quando era criança.
“Johan, descasca para mim?”
“Aff, de novo? Dá aqui.”
Ela lhe entregava uma laranja que mal conseguia segurar com suas duas mãozinhas. Ele ainda se lembrava do aroma fresco e cítrico sob a árvore de freixo em um dia ensolarado.
Resmungando, ele descascou a fruta inteira. Então ela a dividia ao meio e lhe oferecia uma parte.
Enquanto ele enfiava tudo na boca de uma vez, Eunice saboreava devagar, gomo por gomo.
“Quando eu crescer, vou me casar com você, Johan.”
“ … O quê?!”
“Porque você descasca laranja para mim!”
“Cof, cof! Sua pirralha. Você vai esquecer tudo isso um dia.”
Ele quase se engasgou. Quando a olhou incrédulo, ela sorria radiante.
E ela realmente esqueceu. Completamente.
Essa percepção ainda doía.
Talvez, para ela, o orfanato fosse apenas um lugar que visitava ocasionalmente, por diversão. Ela era filha de um poderoso duque.
E ela tinha seis anos na época, o que mais se poderia esperar?
Johannes cerrou o maxilar. Não deixaria Lowell perceber que estava incomodando.
— Vossa Majestade — disse Lowell, aproximando-se.
Aquele tom… zero respeito.
Johannes arqueou a sobrancelha:
— O quê?
Lowell olhou em volta e perguntou:
— Devemos iniciar uma investigação oficial?
— No mato?
— Sim.
Johannes já vinha pensando o mesmo. Era bom que a terra estivesse se recuperando, mas não saber o motivo era inquietante.
Ele assentiu.
— Logo deixaremos as planícies ao seguirmos para o norte. Reúna os magos e peça para investigarem.
Os magos originalmente haviam sido incluídos apenas para proteger Eunice, por formalidade. Ninguém esperava que a investigação na “Terra da Morte” se tornasse real.
Ainda assim, com Johannes por perto, a escolta era a melhor proteção que alguém poderia pedir.
Lowell respondeu afirmativamente, e o olhar de Johannes voltou para a tenda de Eunice.
A lona se mexeu. Depois, a aba foi puxada e Eunice saiu.
Seus olhares se encontraram.
— Euni—
… ce, bom dia, — era o que Johannes pretendia dizer, mas sua expressão imediatamente se fechou.
‘Aquela mulher…’
Ele havia claramente feito contato visual. Mas ela virou o rosto e entrou de volta, como se nem o tivesse visto.
Os olhos de Johannes se estreitaram.
— Foi impressão minha, ou ela me ignorou?
— Pareceu isso mesmo. Você fez alguma besteira ontem?
Lowell o olhou de lado.
Uma besteira?
Eles tiveram uma conversa normal, até agradável, antes de se separarem. Nada estranho. Nada que ele pudesse imaginar que a tivesse chateado.
— … Ela deve ter visto você espiando a tenda dela como um pervertido no meio da noite.
— …
‘Impossível…’
Johannes era bom em se mover silenciosamente. Se ela percebeu, a culpa só podia ser do Lowell.
‘Droga.’
Passou a mão pelos cabelos, frustrado, e lançou um olhar fulminante para Lowell.
— Quê? O que foi que eu fiz?
Lowell, é claro, permaneceu descarado. Um homem nascido para ser socado. Johannes abriu e fechou os punhos repetidamente, resistindo ao impulso de derrubá-lo ali mesmo.
‘Calma. Ela tem medo de você. Se contenha.’
Observando o local onde Eunice havia desaparecido, Johannes se concentrou em não perder a paciência.
Continua…
Tradução Elisa Erzet