No Fim do Inverno - Capítulo 01
Você escolherá o nome que conhece?
O vento do inverno uivava como se quisesse devorar o mundo inteiro.
Retornando de uma longa missão de reconhecimento, Johannes entrou no castelo coberto de neve. A cada passo, suas botas manchavam o chão recém-polido, acompanhadas pelo rangido de sua armadura completa.
Ele retirou o elmo e sacudiu os cabelos prateados como um leão sacudindo sua juba. Após apenas alguns passos, alguém correu em sua direção.
— Majestade. O senhor retornou.
O homem, de longos cabelos azul-marinho e óculos, falou num tom assustadoramente calmo, como se trocasse cumprimentos em uma tarde tranquila.
— Descobriu alguma coisa?
— Não. A missão foi inútil.
Desgostoso com as próprias palavras, os olhos azuis-gélidos de Johannes se estreitaram. Todo aquele esforço para nada. Embora, talvez, de certa forma, não ter o que relatar fosse um alívio.
Afinal, como dizem, “nenhuma notícia é uma boa notícia”.
— Glenton, preciso de um banho.
O que ele mais queria era lavar a sujeira de vários dias sem banho. Mas Glenton, o Chanceler inteligente e capaz de Nordisch, claramente não tinha intenção de deixar o rei ir tão cedo.
— Primeiro, isto.
Um pedaço de papel foi empurrado em sua direção. Johannes levantou uma sobrancelha, como quem diz: Você está brincando comigo? Ele não havia acabado de dizer que queria um banho?
— Água — ordenou, secamente, ao mordomo que passava.
Com aquela única palavra, Johannes lançou um olhar gélido a Glenton. O mordomo, rápido para entender, curvou-se profundamente e desapareceu escada acima para preparar o banho.
Johannes se virou para seguir, mas foi detido novamente pela mão firme de Glenton.
— Isto primeiro — insistiu.
Segurando dois envelopes como um negociante entregando cartas, Glenton os sacudiu levemente, como se o apressasse.
Johannes suspirou irritado e arrancou as cartas. ‘Que seja, vamos ver o que é tão urgente.’
— Cartas dos reinos do sul.
Os selos já haviam sido rompidos — Glenton claramente as havia lido. Johannes reconheceu o emblema sulista e estreitou os olhos.
— O sul? — repetiu, com ceticismo evidente. — O que eles querem?
O Sul e o Norte, separados pela vasta “Terra da Morte”, há muito se tratavam como habitantes de mundos distintos, distantes, indiferentes.
Mas agora, uma carta inesperada. O banho foi esquecido, e a curiosidade começou a se infiltrar.
Enquanto Johannes lia o conteúdo, seus olhos se estreitaram, quase imperceptivelmente. Terminou a primeira e abriu a segunda.
Algo devia estar acontecendo no Sul.
Dois reinos diferentes, enviando cartas sobre o mesmo assunto, ao mesmo tempo.
— Enviados vieram tanto de Tranche quanto de Candel. Se tivessem se encontrado, haveria sangue. Felizmente, o mensageiro de Candel partiu antes que o de Tranche chegasse, então evitamos que as paredes do palácio fossem decoradas com sangue.
Johannes ignorou o comentário seco e apertou a carta ornamentada em sua mão. O canto amassou com a força aplicada.
— Ambos querem casar com o senhor, Majestade. O que faremos?
Era isso que o aguardava após enfrentar uma nevasca.
Mesmo com a irritação crescendo, o olhar de Johannes permaneceu fixo em um único nome na carta:
[Eunice von Pavlone]
A voz de Glenton ecoou em seu ouvido, como se lesse os pensamentos do Rei.
— Vamos com o nome que o senhor conhece?
🌸🌸🌸
Reino de Tranche. Capital: Melvorne.
Convocada por ordem real, Eunice viajou às pressas para a capital e agora sentava-se no ar sufocante da câmara de audiências.
Haveria assento mais desconfortável no mundo?
Ela esperava encontrar apenas o rei Wilhelm II, mas a câmara estava cheia dos nobres mais poderosos do reino.
Seus olhos experientes a analisavam da cabeça aos pés, e Eunice se viu enxugando o suor nervoso de sua palma no vestido.
— Você veio de longe, senhorita Pavlone — ressoou a voz de Wilhelm II, preenchendo a sala.
Eunice instintivamente olhou para seu pai, o Duque Rockford von Pavlone. Talvez ele desse alguma pista sobre o motivo de sua convocação.
Mas a expressão de Rockford era ilegível, fria, distante. Seu coração doeu.
‘Por que ainda tenho esperanças?’
Ela ainda nutria expectativas em relação a ele?
Enojada com sua própria ingenuidade, Eunice forçou um sorriso agradável e respondeu ao Rei:
— Graças ao chamado de Vossa Majestade, pude respirar o ar revigorante de Melvorne pela primeira vez em muito tempo.
— Ouvi dizer que prefere a paz tranquila de Saint-Laurent.
Isso não era exatamente verdade. Ela apenas evitava Melvorne para ficar longe do Príncipe Herdeiro Kallion. Essa preferência fora mal interpretada.
Uma voz cortante interrompeu.
— Seja por gosto ou para inflar seu valor, é algo a se questionar.
Princesa Herdeira Lichena…
Eunice estremeceu e voltou seu olhar para ela. Ao lado de Lichena estava seu pai, o Duque Dale von Schwart.
Os olhares de desprezo da dupla pai e filha eram como facas. ‘É o Kallion quem se comporta vergonhosamente, Eunice queria gritar. Culpem sua própria família!’
Mas ela não podia dizer tais coisas em voz alta, não ali, diante do Rei e seus ministros reunidos.
Naquela sala, Eunice era a mais fraca. Sua família não a protegeria.
— Hmm.
Felizmente, Wilhelm II soltou um suspiro tenso. Ele sabia muito bem o mau comportamento de seu único filho.
As visitas constantes de Kallion a Saint-Laurent já haviam arruinado o casamento político destinado a fortalecer os laços com o Duque de Schwart.
Cada vez que Kallion fugia para ver Eunice, Lichena fervia, e o ressentimento de seu pai aumentava, envenenando ainda mais as relações reais.
— Majestade — disse Lichena docemente —, Lady Pavlone deve estar cansada da viagem. Talvez devêssemos ir direto ao ponto?
Como se ela fosse a única que ansiava por essa reunião.
Inquietação brilhou nos olhos verdes de Eunice. Uma onda gigantesca pairou sobre seu futuro. Sua mente ficou em branco com o pavor.
Em vez de falar, Wilhelm II lançou um olhar a Rockford. E, com esse sinal, seu pai finalmente se virou para ela.
— Eunice.
— Sim, pai.
Seu tom grave arrancou uma resposta curta. Ela prendeu a respiração.
— Você já tem idade para se casar.
‘O que é isso, de repente?’
Ela já tinha essa idade há mais de um ano. Ele não se importava quando ela vivia em Saint-Laurent. Nem sequer mencionara a temporada social de Melvorne.
E agora, diante de todos esses nobres?
Seu coração acelerou. Tão alto, ela temia, que os outros pudessem ouvir.
— É natural que você se case em breve.
— …
— Especialmente se seu casamento trouxer paz a Tranche.
— …
‘O quê?’
Desde quando casar uma filha equivalia à paz?
— Como filha da Casa Pavlone, confio que aceitará essa honra com graça.
— … Perdão?
As palavras saíram fracas, sua mente ainda tentando processar o que ouvira.
Tum. Tum. Tum.
Seu coração batia como um trovão em seus ouvidos.
Embora ditas educadamente, a verdade foi logo declarada claramente:
— Seu casamento com o Rei de Nordisch foi arranjado.
Uma aliança política.
Enquanto as implicações afundavam, Wilhelm II cravou o prego final.
— Com o sangue da Casa Pavlone ligado intimamente à família real, é uma combinação adequada. Sua conduta virtuosa sempre foi elogiada, esta decisão foi tomada em reconhecimento a isso. Confio que agirá com dignidade para solidificar essa aliança.
— …
Tudo parecia envolto em névoa. As vozes tornaram-se ruídos distantes.
Para uma nobre, não se casar até certa idade era uma vergonha. Eunice já havia se resignado a esse destino.
Nenhum homem ousava se aproximar dela, com medo de ofender o Príncipe Herdeiro Kallion.
Ela se tornara uma pária: desprezada por sua casa, alvo de fofocas da corte por atrair o interesse obsessivo de Kallion apenas por sua beleza.
Seu futuro parecia destinado a ser sua amante ou uma solteirona.
Agora, iria se casar.
Deveria estar grata? Isso era mesmo um alívio?
O Reino de Nordisch.
Uma terra severa e desolada além da “Terra da Morte”.
Um lugar onde as pessoas ainda conseguiam viver, mas seu rei…
— Ele é um monstro impiedoso, sem sangue ou lágrimas. Ironicamente, foi apenas por ser tão brutal e implacável que conseguiu unificar o Norte, esmagando as pessoas com medo e força.
Continua…
Tradução: Elisa Erzet