O Gatinho que Chora Todas as Noites - Capítulo 05
— Então… você está procurando uma cavaleira de cabelos pretos e curtos?
Cheche coçou a sobrancelha com uma expressão preocupada. Como capitão da guarda real do Palácio do Crepúsculo, ele era o cavaleiro designado para proteger Helion.
— Os olhos dela são acinzentados. Não é uma cor comum, então deve ser fácil encontrá-la.
— … Eu não registro a cor dos olhos de todos os cavaleiros.
— Isso já é motivo suficiente para desqualificação do seu cargo.
— Não, ela nem sequer está locada no nosso palácio! Como espera que eu saiba os registros de todos os cavaleiros designados à propriedade de Sua Alteza Damian?!
Cheche protestou, indignado, mas Helion o ignorou, simplesmente empurrando um grosso livro de registros de cavaleiros em sua direção, como quem diz: “Comece a trabalhar.”
Resmungando, Cheche folheou o livro obedientemente. Restringiu a busca às cavaleiras do palácio de Damian, mas havia poucas pistas, detalhes físicos como cor do cabelo ou dos olhos não eram registrados.
— Tem algo mais específico para me ajudar?
— Quanto mais eu tenho que mastigar as coisas para você? Descobrir isso é o seu trabalho.
Helion recostou-se preguiçosamente no parapeito da janela, apoiando o queixo na mão com um ar de completa indiferença.
Cheche lançou um olhar fulminante ao seu superior insensível antes de, distraidamente, deixar o olhar se perder pela janela. Um grupo de cavaleiros se aglomerava lá embaixo, como se algo interessante estivesse acontecendo.
— Ah! Parece que vai começar um duelo.
— Um duelo?
— Sim. Vê aqueles dois no centro do círculo com espadas?
— Vai! Vai!
Os cavaleiros lá embaixo estavam ocupados demais torcendo para perceber qualquer outra coisa. Os nomes Arnin e Katie ecoavam alternadamente, aparentemente, eram os duelistas.
Um duelo entre cavaleiros era sempre emocionante. Absorto inconscientemente no espetáculo, Cheche mal percebeu o sorrisinho suave ao seu lado.
— … Vossa Alteza?
Quando virou a cabeça, Helion estava sorrindo, uma expressão de puro divertimento.
— Cheche. Dizem que quando as coincidências se repetem, é destino.
— … Quem disse isso?
— Encontrei ela.
— Encontrou… o quê?
— Minha cavaleira.
A resposta seca fez a mente do Cheche acelerar. Quando Helion dizia “minha cavaleira”, só podia significar uma coisa: alguém que pretendia trazer para sua guarda pessoal. E se já a tinha encontrado, isso significa que…
‘Espere. Ele está mesmo considerando aquela cavaleira como sua guarda?!’
Os olhos de Cheche se arregalaram em descrença.
— Isso é impossível, Vossa Alteza! O senhor não pode simplesmente nomear uma cavaleira como sua guarda pessoal!
Não era questão de preconceito, e sim de praticidade.
Um guarda tinha que permanecer ao lado de seu senhor 24 horas por dia. Não apenas no escritório, mas no quarto, e, em emergências, até no banho! Uma mulher?!
— A lealdade não é limitada pelo gênero.
— Essa lealdade é justamente o problema! Ela estava designada ao palácio do príncipe Damian! Como pode confiar nela o suficiente para trazê-la para seu círculo mais íntimo?!
— Ela apenas foi designada para lá. Isso não é prova de deslealdade.
— Então e quanto à habilidade dela?! É apenas uma cavaleira de patente baixa!
Na Guarda Imperial, a patente era marcada por insígnias no peito, uma para júnior, duas para média e três para sênior.
E a mulher lá fora? Tinha apenas duas.
Cheche abriu a boca para protestar novamente—
CRACK!
Um som cortante e explosivo ecoou.
A mulher saltou no ar, sua espada de madeira descendo em um arco ofuscante.
Cheche prendeu a respiração.
Foi rápido. Mais rápido do que a maioria dos cavaleiros poderia acompanhar.
O som de um melão partindo, seguido pelo estalar da madeira despedaçando.
— A-A espada de treino…
Cheche esfregou os olhos, mas a cena diante dele não mudou.
A espada de madeira estava em estilhaços.
— Isso é novidade.
O sorriso de Helion se aprofundou.
— Então, Cheche, ainda acha que ela não tem habilidade?
Cheche não conseguiu responder.
Uma cavaleira de patente baixa derrotando um sênior? Era inédito. Sua força era tão surpreendente que era um mistério por que ainda não havia sido promovida.
Quando a mulher se aproximou do edifício, ela levantou a cabeça.
E Cheche congelou.
‘Seus olhos.’
Exatamente como Helion disse: acinzentados. Um cinza líquido e cintilante, como nuvens de tempestade encharcadas pela chuva.
‘Ah.’
Agora entendia por que ela se mantinha escondida.
Aquele rosto era perigoso. O tipo de beleza que, uma vez notada pelos poderosos, jamais teria paz.
E o pior…
O homem mais poderoso do império já havia fixado os olhos nela.
Gatinha.
Até dando um apelido carinhoso que nunca usara na vida.
🌸🌸🌸
— Meu Deus, Katie. O que aconteceu?
Wayne saiu para recebê-la com uma expressão alarmada. Ele era um espião do reino que se infiltrara no império um ano antes de Katie. Como um homem-feral herbívoro, suas habilidades de combate eram limitadas, mas seu conhecimento em medicina herbal era excepcional, permitindo-lhe trabalhar como médico na enfermaria.
— Não estou me sentindo bem. Me dê algum remédio.
Katie largou o homem que arrastava e falou friamente. Wayne colocou o sujeito estendido no chão sobre uma cama antes de se aproximar dela.
— Onde está machucada? Sua testa está encharcada de suor frio.
— Não estou ferida…
Katie mordeu o lábio no meio da frase. O duelo terminou em um instante. Com um único golpe, ela derrotou Arnin, não houve chance sequer de se machucar.
Seu mal-estar vinha de outra coisa completamente diferente.
Até o duelo, seu corpo estava normal. Sentia-se um pouco estranha, mas nada mais. Não tinha febre, nem estava suando desse jeito.
Wayne logo entendeu a situação quando Katie não conseguiu continuar.
— É por causa do seu cio.
— Isso é estranho. Meu último ciclo terminou recentemente.
— Esse é apenas o seu segundo, certo? É normal que o cio seja irregular quando você acabou de atingir a idade adulta.
Wayne caminhou até sua caixa de remédios e tirou um comprimido redondo.
— Não é bom depender demais de remédio. Tente lidar com isso sozinha, se puder.
— … Sozinha?
Katie o encarou com olhos confusos. Wayne conteve um suspiro diante daquele olhar inocente.
— Quero dizer, bem…
O que será que os pais dela estavam fazendo para não lhe ensinarem nem o básico sobre sexo? Ele já havia percebido isso na primeira vez que ela veio durante o cio, Katie era alarmantemente ignorante sobre o assunto.
Por outro lado, tendo entrado ainda bem jovem no palácio e sido treinada como espiã, talvez simplesmente não houvesse tempo para que seus pais lhe ensinassem.
Ainda assim, como é possível que, aos vinte anos, ela não tenha nenhuma experiência?
Wayne soltou um suspiro profundo, mas decidiu abrir a boca para dar a ela um mínimo de educação sexual básica, antes tarde do que nunca.
— Se tentar suprimir o cio apenas com remédio, vai sofrer por uma semana inteira. Mas se fizer… aquilo, vai se recuperar em um dia.
— Aquilo…?
Mas sua explicação não pôde continuar. A porta se abriu violentamente, e um fluxo de cavaleiros invadiu a enfermaria.
— Arnin!
— Meu Deus! Sua testa está inchada como um melão! Doutor, ele vai ficar bem?
Katie estalou a língua diante da intrusão indesejada e guardou rapidamente o remédio no bolso. Antes que o grupo barulhento a cercasse, ela saiu rapidamente.
Wayne observou sua retirada com preocupação. Mas, com os cavaleiros o bombardeando com perguntas, ele não teve escolha a não ser voltar sua atenção para eles.
O remédio de Wayne sempre foi eficaz. Arnin, que havia sido nocauteado por Katie, acordou antes de metade do dia ter se passado.
— Arnin! Você sabe o susto que nos deu? Pensamos que algo terrível tinha acontecido.
— Juro, aquela brutamontes… Como pode alguém bater tão forte a ponto de fazer isso com uma pessoa?
Os cavaleiros balançaram a cabeça, incrédulos, enquanto o ajudavam a se levantar. Após o tratamento, ele deixou a enfermaria em direção ao alojamento da guarda.
— Mesmo que fosse um duelo, há limites. Hoje em dia, a maioria deles não é só para inglês ver?
— Pois é. As regras são claras, vence quem tocar o adversário primeiro.
Essa nova regra surgiu à medida que o número de cavaleiros disponíveis para a guerra diminuía. Era uma medida para evitar mais baixas em suas fileiras já reduzidas.
Era também por isso que as rapieiras, tradicionalmente usadas em duelos, haviam sido substituídas por espadas de madeira, menos risco de ferimentos graves.
— Calem a boca! Estão zombando de um homem ferido agora?
Arnin, que até então mantinha a cabeça baixa, explodiu em um rugido.
— Hein? O que deu em você de repente?
— Vocês passaram o tempo todo me insultando!
No fundo, Arnin sabia que aquelas palavras eram um consolo.
Mas o problema era seu orgulho ferido. Cada sílaba soava distorcida em seus ouvidos, arranhando sua autoestima já em frangalhos.
Com uma bufada furiosa, ele empurrou os cavaleiros que o ajudavam.
— Saiam da minha frente! Eu ando sozinho!
— Sinceramente, que ingratidão.
Os cavaleiros balançaram a cabeça em desaprovação. Arnin cerrou os dentes e avançou, mas, talvez pela concussão, suas pernas tremiam e ele mal conseguia andar reto. Os outros suspiraram profundamente e voltaram a apoiá-lo, passando-lhe os braços pelos ombros.
Continua…
Tradução Elisa Erzet