O Gatinho que Chora Todas as Noites - Capítulo 02
— Saia da frente.
— Não seja tão ríspida, Katie. Se estou oferecendo ajuda, tudo que você precisa fazer é dizer “obrigada”.
Um homem bonito, de cabelos dourados, bloqueava o caminho de Katie. Apoiado na porta com uma das mãos, sua postura era tão casualmente insolente que era difícil acreditar que tivesse sangue real.
Katie ficou diante dele, segurando várias espadas nos braços. Ela havia sido encarregada de organizar as lâminas de treinamento usadas pelos cavaleiros veteranos.
— Não há razão para Vossa Alteza ajudar uma simples cavaleira como eu. Eu dou conta, então, por favor, saia do caminho.
Já era a segunda vez que repetia as mesmas palavras. Katie estava começando a se irritar.
O homem à sua frente era Damian de Aesoleum, o Segundo Príncipe do Império.
Embora fosse um forte candidato ao trono, isso pouco importava a Katie. Ela havia se infiltrado no império sob uma identidade falsa para cumprir uma missão crucial, não era, de fato, uma cidadã daquele lugar.
— Tão ríspida… Esse seu olhar é claramente desrespeitoso.
— Você já sabe. É assim que eu sou.
Katie soltou um suspiro breve e passou pelo homem. Esperava que o infeliz a bloqueasse novamente, mas, por algum motivo, Damian obedientemente a deixou entrar no depósito.
Uma por uma, ela pendurou as espadas nos suportes. Sentia o olhar dele cravado em suas costas, mas ignorou, não tinha interesse em fingir familiaridade.
Faz três anos desde que ela chegou ao império. Usando a identidade preparada pelo reino, Katie se tornou uma cavaleira em treinamento. Durante esse tempo, desempenhou fielmente o papel de leal cão do império, ascendendo de cavaleira novata para uma patente de médio escalão.
Tudo não passava de uma atuação, porque ela era uma espiã infiltrada.
Treze anos atrás, a aliança foi rompida e a guerra estourou. Incontáveis vidas foram perdidas ou arruinadas.
Ao contrário das expectativas de que o reino logo cairia sob o ataque do império, a guerra se arrastou sem rumo até que, por fim, uma trégua foi firmada.
Dizer que a guerra acabou, seria incorreto, ela apenas foi suspensa. “Interrompida temporariamente” seria uma expressão mais adequada.
E em tempos assim, espiões surgem como pragas, Katie era apenas mais uma entre muitos.
Ela se infiltrou sob a ordem de “monitorar os movimentos ameaçadores do Império contra o Reino”.
Se não tivesse salvado Helion de Aesoleum, o Primeiro Príncipe, naquele dia, Katie não teria sido consumida pela culpa e se voluntariado como espiã. Provavelmente ainda estaria vivendo uma vida pacífica com sua mãe.
Helion era um raro vilão que havia arruinado tanto sua vida quanto o destino do Reino.
Foi então que uma mão grande surgiu por trás dela, segurando o suporte onde ela estava prestes a pendurar a próxima espada.
Katie ficou presa entre o homem e o suporte. Se virou, visivelmente irritada.
— O que você pensa que está fazendo?
— Eu disse que ia te ajudar.
Damian, que até então estava na porta, de alguma forma se aproximou sem ela notar. Estava tão absorta em seus pensamentos que não percebeu a aproximação daquele canalha.
— Eu deixei claro que não precisava.
— Mentira. Sei que disse isso por timidez. Você ficou balançando o rabo de propósito, só para eu olhar. 🙄
Que absurdo insano esse maluco estava falando agora? Katie encarou o homem, incrédula.
— Saia da minha frente.
Era a terceira vez que dizia isso. Também era uma frase que repetia mais de cem vezes desde que conheceu esse desgraçado.
Se havia algo que Katie fazia bem como espiã, era atrair a atenção do homem, mais provável, a se tornar imperador. E se havia uma coisa que fizera muito mal, era justamente isso.
Ter acesso a alguém com tanto poder e informação era útil. Mas era profundamente lamentável que aquele bastardo fosse um pervertido.
O homem fez exatamente o oposto do que ela pediu. Aproximou-se ainda mais de Katie, pressionando seu pênis completamente rígido contra o seu cóccix.
— Katie… Você já era assim desde a primeira vez que te vi. Mandei você treinar, mas só ficou me encarando, me provocando.
Isso era mentira. Ela só estava observando seu alvo.
— E mesmo assim, você se recusa a me dar seu corpo. Por quê? Se for minha concubina, terá um futuro brilhante.
— Não diga essas coisas. Sou uma cavaleira, não prostituta.
— Sim… E é isso que deixa um homem ainda mais louco.
A respiração de Damian ficou pesada. A mão que segurava o suporte apertou com mais força, e os movimentos de fricção da ereção dele aceleraram.
Katie cerrou os dentes. Poderia empurrá-lo facilmente, mas não sabia quanta força usar.
Se o empurrasse com força demais, ele certamente cairia, e então sua lealdade seria questionada. Agredir um príncipe que jurou proteger. Poderia até ser expulsa da cavalaria.
Isso arruinaria a missão. Ela não teria coragem de retornar ao Reino.
Mas se o empurrasse de leve, ele claramente não a soltaria.
‘Droga!’
Ela se sentia completamente enojada. Queria usar sua espada para cortar fora a parte do corpo onde o pau do homem tocava.
— Ora, ora. Que espetáculo curioso eu presencio ao acordar.
Foi então que uma voz suave os alcançou. Tanto Katie quanto Damian se sobressaltaram, interrompidos em meio à cena grotesca.
No canto do armazém, um homem estava deitado sobre uma pilha de esteiras. Ao contrário da área onde estavam, ali era escuro, intocado pela luz do sol que entrava pela janela.
— É uma nova peça em cartaz?
(Elisa: Hahaha debochado esse meu garoto 🥰)
Só então Katie percebeu como a situação devia parecer aos olhos daquele homem. Na penumbra, apenas eles estavam sob a luz do sol. Devia parecer um palco iluminado diante de uma plateia mergulhada na escuridão.
‘E agora?’
Mal teve esse pensamento, Damian recuou, se afastando rapidamente. Não dava ouvidos quando ela pedia, mas aquela interrupção claramente o desestabilizou.
— H-Helion?
E ao ouvir o nome, Katie também empalideceu. Helion era o nome do Primeiro Príncipe do Império Aesoleum. O mesmo homem que ela salvou naquela época, o dia que desejava esquecer.
A fera de cabelos negros que retribuiu bondade com crueldade. Seu maior inimigo, e do Reino. O canalha do século, cuja sombra arrastou as duas nações de volta à guerra.
Katie o encarou com um olhar afiado. Mas, no momento em que encontrou seus olhos dourados brilhando na escuridão, estremeceu incontrolavelmente e virou o rosto.
Eles não podiam se encarar. Embora seu cabelo prateado estivesse escondido pela tintura, não podia fazer nada quanto aos seus olhos.
Helion era conhecido por levar mulheres de cabelos prateados e olhos cinzas para sua cama. Era uma obsessão detalhista demais para ser mero gosto.
Katie suspeitava que ele procurava traços dela naquelas mulheres.
Não entendia por que ele era tão obcecado pela aparência da mulher que ele próprio havia traído. Mas uma coisa era certa:
Nada de bom viria se ele reconhecesse seu rosto. Podia ser arrastada para à cama dele, ou, na pior das hipóteses, ter sua identidade descoberta.
‘Por favor… apenas passe direto.’
No entanto, contrariando seu desejo, Helion se levantou lentamente de sua postura relaxada e começou a caminhar em direção aos dois.
O homem exalava um leve cheiro de charuto, misturado ao aroma fresco de grama. Os dois perfumes, que, em teoria, não combinavam, mas se harmonizavam perfeitamente quando se misturavam nele.
Continua…
Tradução Elisa Erzet