O Marido Malvado - Capítulo 91
A família do Duque Farbellini possuía uma das propriedades mais prestigiosas da capital — uma grande mansão que havia sido transmitida por gerações. Com o exterior marcado pela passagem do tempo, a mansão exalava um charme clássico, enquanto seu interior abraçava as últimas tendências do luxo moderno.
A propriedade, uma fusão de design de ponta com elegância tradicional, era motivo de imenso orgulho para a família Farbellini, assim como seus distintivos cabelos loiro-platinados. Afinal, Farbellini era o próprio coração do Império Traon.
O duque Assef Farbellini observava a mansão pela janela da carruagem enquanto se aproximavam, um sorriso satisfeito se espalhando por seu rosto. Talvez tivesse se excedido um pouco na festa daquela noite, mas sentia o peito inflar de orgulho por ser um Farbellini.
— Sim, não importa o quanto aquele indivíduo se debata…
Farbellini permaneceria para sempre. Mesmo que a família imperial mudasse, Farbellini continuaria seu legado como uma árvore antiga, firme contra a passagem do tempo.
Assef enfiou a mão no casaco para pegar um porta-charutos. Justo quando abriu a janela e se preparava para acender um charuto, a carruagem sacudiu violentamente e parou abruptamente. O porta-charutos caiu no chão, e os charutos caros se espalharam pelo interior.
Estalando a língua em irritação, Assef levantou levemente a voz para o cocheiro.
— O que significa isso?
O condutor, normalmente confiável, só frearia daquele modo por algo realmente sério. Em circunstâncias normais, Assef teria ignorado, mas o silêncio do homem o inquietou. Ele estava rígido, os olhos arregalados de apreensão, encarando algo à frente.
Assef seguiu o olhar do cocheiro, mas precisou fechar os olhos com força quando os faróis de um veículo em sentido contrário brilharam, cegando-o.
Quando a luz diminuiu e ele tornou a abrir os olhos lentamente, a cena diante dele parecia quase surreal. A carruagem estava cercada por soldados armados. À frente deles, encarando diretamente o veículo, estava um homem alto vestindo um terno.
Assef cruzou o olhar com o homem, cujos olhos vermelho-sangue enviaram um calafrio por sua espinha. Murmurou um palavrão sob a respiração — uma palavra que não usava há muito tempo. Uma batida suave na janela foi seguida pela voz retumbante de um soldado corpulento do lado de fora.
— Saia.
Era um dos cavaleiros do Arquiduque Erzet. Se Assef se lembrava corretamente, seu nome era Lotan. Ao reconhecer o nome, Assef abriu a porta e saiu da carruagem.
Quando seus pés tocaram o chão, o ar frio da noite o envolveu. Não era o frio da madrugada que ele sentia, mas o suor escorrendo por suas costas. Engolindo em seco, ele se aproximou do Arquiduque.
Apesar de não estar usando seu uniforme imperial, vestido apenas com um simples traje de noite, o Arquiduque era muito mais imponente do que os soldados armados. O ar estava pesado com o cheiro afiado e metálico de sangue, trazido pela brisa noturna, fazendo o peito de Assef se contrair.
— Boa noite, Duque Farbellini. A lua está brilhante esta noite.
O Arquiduque o cumprimentou com um tom casual, as mãos enfiadas nos bolsos, como se tivessem apenas se encontrado por acaso numa noite tranquila. Assef lambeu seus lábios secos.
Desde que se tornou duque, medo ou pânico eram emoções raras para ele, mas aquilo era diferente. Um terror primitivo apertou seu coração, desconhecido e perturbador.
O Arquiduque não podia simplesmente matar o Duque Farbellini sem o devido processo legal. Executá-lo ali não era uma opção. Afinal, Farbellini era uma casa nobre do império.
Mesmo se agarrando à lógica de que o homem não poderia matá-lo sem procedimentos formais, Assef não conseguia afastar o medo de que ele ignorasse as regras. Se o Arquiduque tivesse perdido a razão e decidido agir sem se importar com as consequências, poderia transformar Assef num cadáver crivado de balas ali mesmo — especialmente devido ao histórico recente de massacres silenciosos do Arquiduque.
— … O que traz Vossa Graça a uma hora tão tardia? — perguntou Assef, cuidando para não elevar a voz, receoso de que qualquer sinal de afronta pudesse provocar uma resposta mortal. Escolheu as palavras com extremo cuidado, e o olhar do Arquiduque, frio e implacável, parecia atravessá-lo por completo, como se o homem soubesse exatamente do que Assef temia.
— Um rato tem rondado o laboratório da minha esposa.
— …!
Assef mal conseguiu disfarçar o choque. Ele ouviu rumores de um intruso na residência da Arquiduquesa e havia simplesmente escolhido um jovem estudioso que considerava facilmente manipulável para a tarefa. Ordenara que observasse a Arquiduquesa e explorasse qualquer fraqueza que encontrasse. Em troca, prometera fortuna, prestígio e uma cobiçada posição.
Mas, aparentemente, o estudioso foi capturado quase imediatamente. Ou melhor, parecia que não tinha sido apenas capturado —
‘Será que o Arquiduque já esperava por isso? Teria armado uma armadilha?’
A mente de Assef acelerou com a percepção de que cometera um erro crítico — um que o Arquiduque já previa. A próxima pergunta do homem cortou a tensão como uma lâmina.
— Como vai a senhorita Farbellini?
Em vez de confrontar Assef diretamente sobre seu crime, a única pergunta do Arquiduque era uma ameaça sutil, mas refinada. Oprimido pelas implicações, Assef exalou profundamente. Enquanto cálculos políticos rodopiavam em sua mente, ele deixou de falar como Duque Farbellini, mas como um pai.
— Vossa Graça… fui tolo. Por favor, imploro por vossa misericórdia.
Um homem que surge no meio da noite com soldados apontando armas para ele poderia facilmente voltar sua atenção para aterrorizar a filha de Assef em seguida. Criada em meio ao luxo como o Lírio de Traon, não estaria preparada para o espetáculo de pólvora e sangue. Enquanto Assef inclinava a cabeça e implorava por perdão, o Arquiduque aceitou seu pedido de desculpas com aparente generosidade.
No entanto, em troca de deixar o incidente passar, o Arquiduque fez um pedido inesperado.
— Me entregue a pena do leão.
Ele estava exigindo a relíquia mantida pela família Farbellini — a pena dourada que, segundo a lenda, teria caído do leão alado do mito fundador. Sempre que Assef olhava para aquela pena, ele secretamente a ridicularizava, questionando se era realmente de um leão ou apenas um pedaço dourado de algum pássaro comum.
O fato de o Arquiduque Erzet, conhecido por seu desprezo por superstições e não acreditar nos deuses, estar agora exigindo aquele objeto deixou Assef estupefato. Claro que entregaria a pena se isso significasse salvar sua vida, mas…
Incapaz de suprimir uma súbita onda de curiosidade, Assef ousou fazer uma pergunta ao homem.
— O que Vossa Graça realmente deseja?
Desde que a notícia da execução do Rei Kalpen chegara a seus ouvidos, Assef vinha se sentindo profundamente intrigado com os motivos de Cesare. Decapitar um rei foi uma decisão extrema, muito pior do que negociar um acordo e mantê-lo vivo. O que poderia ter levado Cesare a agir de forma tão imprudente?
Mas não era imprudência; e sim confiança. Imediatamente após a execução, o Arquiduque desmantelou com rapidez o exército de resistência que se formara em torno do príncipe herdeiro de Kalpen. Tipicamente, tal rebelião persistiria por meses, mas Cesare parecia saber exatamente quais nobres apoiavam a resistência, como a abasteciam e onde estavam posicionados. A resistência foi esmagada completamente em menos de um mês — uma vitória surpreendentemente rápida, quase sobrenatural, como se o Arquiduque tivesse um discernimento divino ou tivesse se tornado um deus.
Assef temia o Arquiduque antes, mas agora era diferente. Era como se Cesare tivesse adquirido uma compreensão quase profética do mundo, capaz de prever e manipular eventos com uma precisão assustadora. A situação se tornara tão surreal que Assef quase riu.
As ações aparentemente proféticas do Arquiduque continuaram mesmo após seu retorno ao império. Os nobres de Traon se viram impotentes contra sua previsão. O homem não apenas desmantelou o poder das famílias nobres, como também começou a eliminá-las uma a uma. Muitos perderam seus títulos de forma desonrosa ou foram silenciosamente assassinados. A maioria nem sequer recebeu funerais adequados.
Mas por quê? Os massacres do Arquiduque pareciam excessivos, e Assef não conseguia compreender sua motivação. Não parecia que Cesare quisesse tomar o trono imperial; até mesmo aqueles que poderiam ter sido aliados valiosos tiveram fins sangrentos. Para quem, afinal, se destinava aquela matança silenciosa? Assef queria, de fato, entender as intenções de Cesare.
— … O que eu desejo, você pergunta.
O Arquiduque ponderou por um momento antes de responder, quase como se falasse consigo mesmo.
— Se eu tivesse que dizer… paz.
O rosto de Assef se distorceu em descrença, interpretando as palavras do Arquiduque como zombaria. Um homem que deixava um rastro de sangue e carnificina não poderia verdadeiramente desejar paz.
Percebendo a reação de Assef, o Arquiduque continuou, falando lentamente, seu olhar inabalável.
— Se eu não a desejasse, afinal…
Seus olhos vermelho-sangue se fixaram em Assef com uma intensidade arrepiante, e um sorriso torto curvou seus lábios.
— Você acha que ainda estaria aqui, vivo, diante de mim neste exato momento?
Continua …
Tradução: Elisa Erzet
Fernanda
Obrigada pelo capítulo amando muitooo❤️❤️🙏