O Marido Malvado - Capítulo 89
Eileen hesitou, sem saber se deveria mencionar a declaração de Lucio. Parecia desnecessário falar sobre acontecimentos tão antigos, especialmente vindos de um passado distante.
Como o soldado que os conduziu provavelmente já havia relatado tudo a Cesare, ela temia que mencionar o assunto soasse como ostentação. A situação em si parecia estranhamente surreal.
Receber uma declaração era provavelmente um evento único na vida. Ela sempre se viu de forma objetiva, apesar da ligeira mudança na aparência após tirar os óculos, sua melancolia e falta de brilho permaneciam inalteradas. Parecia impossível que alguém a achasse atraente.
Perdida nesses pensamentos insignificantes, Eileen percebeu tarde demais que ainda não havia respondido à pergunta de Cesare. Decidiu omitir a confissão e dividir apenas informações neutras.
— O senhor Lucio talvez se torne professor na Escola de Farmácia. Parece ser um forte candidato. Ele vem publicando artigos constantemente e mudou muito, tanto física quanto mentalmente, enquanto eu estive fora. É realmente impressionan—
Suas palavras cessaram quando o beijo de Cesare a interrompeu. A pressão gentil de seus lábios dominou seus sentidos. As mãos que percorriam sua coluna e agarravam com firmeza sua cintura prolongara o beijo mais do que ela esperava.
Quando o beijo finalmente terminou, Eileen soltou um suspiro excitado, as bochechas coradas. Tocou nelas com o dorso da mão, tentando esfriá-las. Seus lábios, levemente inchados, ficaram entreabertos enquanto encontrava o olhar de Cesare.
— Eu queria te beijar — murmurou Cesare, suavemente.
Eileen, com os lábios ainda úmidos, respondeu:
— … Você já beijou.
— Hmm, sim, beijei.
O sorriso de Cesare era gentil quando ele colocou outro beijo em seus lábios, um toque suave e rápido. Eileen engoliu um gemido involuntário, seu coração palpitando incontrolavelmente, apesar de sua vergonha.
Envolvida no abraço do homem, suas mãos se mexeram enquanto ela murmurava:
— De qualquer forma, não falamos sobre nada importante…
Cesare não respondeu com palavras. Em vez disso, beijou o pescoço dela com delicadeza, seus lábios roçando levemente contra sua pele enquanto continuava a tirar seu vestido.
Eileen estremeceu quando o ar frio encontrou sua pele nua. Após seus encontros recentes com velhos conhecidos, estar tão perto de Cesare agora parecia quase surreal.
Alheia à realidade, ela olhou para ele. Seus vívidos olhos vermelhos pareciam absorver completamente os dela. Gradualmente, sua expressão suavizou. A mão grande repousou gentilmente sobre sua cabeça, e o carinho de seus dedos a envolveu numa sensação calma e acolhedora.
Enquanto era envolvida por seu toque, a mente de Eileen vagou para o passado — para o momento em que retornara à propriedade, abandonando seus estudos.
Havia recebido uma carta de sua mãe e, dominada por um súbito senso de urgência, retornou à casa de tijolos com suas laranjeiras balançando ao vento. Parada do lado de fora, hesitou, incapaz de se forçar a entrar.
O farfalhar das folhas ao vento era o único som que ouvia antes de finalmente reunir coragem para abrir a porta. Um profundo senso de melancolia a invadiu quando entrou.
“Lily…”
A voz da mãe, carregada de tristeza, ecoou pela casa escura. As luzes apagadas lançavam tudo em sombras, e os olhos vermelhos pela fadiga e choro encararam Eileen com uma intensidade amarga.
Eileen colocou sua bolsa ao lado e se aproximou. Com um abraço cauteloso, tentou confortá-la, mas sua mãe, como se esperasse por esse momento, desencadeou uma torrente de emoções reprimidas.
Eileen foi engolida pelo desabafo de ressentimento e desespero da mãe. Ela amaldiçoou o pai de Eileen, lamentou sua situação terrível e declarou que, sem o apoio da filha, já teria sucumbido ao desespero. A liberdade acadêmica que uma vez apreciara na universidade agora parecia um sonho distante diante da dura realidade em que enfrentava.
Enquanto a tristeza da mãe transbordava, Eileen a abraçou com mais força, na esperança de oferecer algum alívio. No entanto, em vez de reconfortada, Eileen sentiu como se seu próprio calor estivesse sendo drenado, deixando-a mais fria e solitária.
Assumindo as responsabilidades, Eileen iniciou a árdua tarefa de negociar o pagamento das dívidas. Visitou credores e tentou adiar prazos — algo que sua mãe, com o orgulho de Baronesa Elrod e antiga babá do príncipe, jamais conseguira fazer.
Eileen vendeu tudo o que tinha valor, incluindo sua preciosa coleção de livros e textos acadêmicos da universidade, exceto os presentes de Cesare. Apesar de todos os esforços, ainda assim faltava dinheiro. A dívida era esmagadora, e embora a tentação de ceder ao desespero fosse forte, ela lutou para afastar tais pensamentos.
Voltar para a propriedade da família, no entanto, não trouxe apenas desvantagens. Permitiu reencontrar Cesare, preenchendo um vazio que nem os estudos, ou novos relacionamentos haviam conseguido ocupar. Ao revê-lo no palácio, sentiu uma profunda sensação de realização que tanto ansiara.
“Vossa Graça” — Eileen murmurou, olhando para Cesare, que havia se tornado ainda mais imponente desde seu último encontro. O respeito e a admiração que o homem despertava como deus da guerra lhe caiam perfeitamente.
Enquanto olhava para ele, Eileen percebeu que seus sentimentos haviam evoluído. Desde seu primeiro encontro até agora, sua admiração por Cesare havia se aprofundado em algo muito mais intenso.
Eileen ansiou por segurar a mão de Cesare, beijar sua bochecha e ser aquela que recebia seu olhar terno. Ainda assim, sabia que esse desejo era doloroso e desanimador, pois acreditava ser algo que jamais se realizaria. Para Cesare, ela parecia nada mais que uma criança, não uma mulher digna de seu afeto.
Conter seu coração acelerado tornou-se uma luta difícil diante da realidade de sua situação. O comentário casual de Cesare a trouxe de volta ao presente.
“Você finalmente voltou ao palácio.”
Haviam se passado quinze dias desde o retorno dela, devido ao tempo gasto resolvendo os problemas da família. O rosto de Eileen corou profundamente enquanto ela se desculpava.
“Me desculpe…”
Seu atraso não foi devido apenas a questões familiares, havia hesitado em enfrentar Cesare por vergonha. Apesar de seu apoio em ajudá-la a ingressar na universidade, ela retornara sem alcançar nada de significativo. Se sentia envergonhada por não corresponder às suas expectativas.
Sua situação piorou desde sua partida para a universidade, tornando ainda mais difícil sentir-se confiante em sua presença.
“Você cresceu um pouco?” — Cesare perguntou casualmente, colocando a mão levemente em sua cabeça. O gesto familiar agora parecia estranho, dadas as mudanças em seus sentimentos.
Cesare percebeu a tensão no ar ao observar sua reação e sorriu. Em vez de retirar a mão, começou a afagar gentilmente sua cabeça. Eileen se viu completamente submetida a seu toque afetuoso.
“Perdeu o interesse em mim?” — Cesare perguntou, com um tom levemente brincalhão.
Eileen, surpresa, negou imediatamente:
“Não, de jeito nenhum!”
A sobrancelha de Cesare franziu levemente, seus olhos fixos nela enquanto continuava a observá-la.
“Então?”
“É que… faz muito tempo desde a última vez que nos vimos…”
Sua tentativa de explicar suas emoções saiu desajeitada, e Cesare inclinou um pouco a cabeça, sua expressão suavizando. Com um sussurro que soou tanto como um apelo quanto uma ordem, ele disse:
“Não me evite, Eileen.”
(Elisa: Webtoon também feito por mim disponível na Nocturne)
Continua…
Tradução: Elisa Erzet