O Marido Malvado - Capítulo 84
Quando Eileen ingressou na universidade, enfrentou bullying severo. Admitida em uma idade jovem por meio de uma carta de recomendação do príncipe, não era surpresa que tanto alunos quanto professores nutrissem ressentimentos contra ela.
Embora dissesse a si mesma que era inevitável, havia momentos em que a solidão era difícil de suportar. Após passar o dia inteiro sem conversar com ninguém, ela se recolhia ao seu dormitório e escrevia sobre o seu dia no diário, pensando frequentemente em Cesare e nos cavaleiros da capital.
‘Como seria maravilhoso ter alguém com quem conversar e rir.’
No entanto, Eileen sabia muito bem que frequentar a universidade era um privilégio que não podia desperdiçar. Não estava em posição de reclamar da solidão ou do cansaço. Precisava se destacar e obter boas notas para retribuir a Cesare, que a apoiava em todos os sentidos. Sempre que se sentia exausta, pensava em Cesare, relendo suas poucas cartas repetidas vezes até se desgastarem, usando-as para fortalecer seu coração vacilante.
Conforme se dedicava aos estudos dia após dia, seus esforços começaram a dar frutos. O que antes parecia esmagador e difícil começou a fazer sentido. Começou a entender como tomar notas, completar tarefas, conduzir experimentos e se preparar para os exames, habilidades que eram novas para ela.
Foi mais ou menos quando as notas de Eileen começaram a melhorar que ela conheceu Lucio.
Um dia, Eileen notou um homem grande na biblioteca. Ele tinha uma constituição robusta, cabelo bagunçado e óculos grandes demais. Ficava constrangedoramente em frente à bibliotecária, segurando nervosamente um pedaço de papel. Após longa hesitação, finalmente reuniu coragem para falar com voz baixa.
“Hum… você sabe quando ele será devolvido?”
“Quando devolverem.”
Aparentemente, alguém havia pegado o livro que ele queria. A bibliotecária respondeu sem sequer olhar para cima, seu tom indiferente.
Enquanto o homem desanimado se virava para sair, ele esbarrou em Eileen, que estava parada por perto. Ele estremeceu, seu olhar fixando no livro nas mãos dela. Ela piscou surpresa e perguntou:
“Você estava procurando por este livro? Posso devolvê-lo agora mesmo.”
Ela sorriu, oferecendo devolver à biblioteca para ele pegá-lo imediatamente, já que não havia reservas. No entanto, o homem permaneceu em silêncio. Percebendo sua falta de resposta, o sorriso de Eileen vacilou, e ela hesitou antes de falar novamente, sentindo-se um pouco desanimada.
“Ah… me desculpe se te ofendi.”
Se arrependeu de ser muito direta com alguém que provavelmente não queria interagir. Enquanto se repreendia mentalmente, o homem subitamente estremeceu e gaguejou:
“N-Não, você não me ofendeu. É só que… você é a primeira pessoa a falar comigo.”
Ouvindo suas palavras e vendo seu rosto corado, Eileen sentiu uma forte sensação de afinidade. Ela tinha experimentado o mesmo isolamento.
Ninguém jamais havia falado com Eileen antes. Mesmo quando tentava iniciar conversas, a maioria das pessoas a ignorava. Sempre que oferecia ajuda, era frequentemente recebida com irritação e acusações de ser inconveniente.
Hoje, ela achou que novamente havia se intrometido por ser curiosa demais e se arrependia disso. Mas desta vez, alguém respondeu. Eileen não pôde evitar sorrir radiante, sem perceber que o homem a observava chocado. Ela respondeu alegremente:
“É a primeira vez que alguém responde a mim também!”
E foi assim que Eileen e Lucio começaram a se aproximar. Apesar das frequentes zombarias de outros que diziam que apenas pessoas esquisitas passavam tempo juntas, Eileen não se abalava. Estava absorvida demais em seus estudos para se preocupar com tais comentários. Ter alguém com quem compartilhar pequenos momentos de sua vida diária já era suficiente para ela.
Lucio mostrou ser alguém genuinamente gentil e prestativo. Aconteceu que ele estudava no mesmo campo e ajudava Eileen a se ajustar à vida universitária de várias formas.
Reservava tempo para ensiná-la e, a partir de certo ponto, emprestava de bom grado seus pertences sempre que ela perdia algo. Quando Eileen perdeu seu lenço, ele até lhe deu um novo de presente.
“Isso é caro demais…” — protestou Eileen.
“É… um gesto de gratidão” — respondeu Lucio, com o rosto corando.
O lenço era obviamente de alta qualidade. Quando Eileen tentou recusar, Lucio, com o rosto envergonhado, gaguejou:
“Eu realmente… espero que você o use.”
Eventualmente, Eileen juntou o pouco dinheiro que tinha e comprou um presente similar para ele. Infelizmente, ela perdeu o lenço pouco depois de usá-lo. Quando se desculpou com Lucio, ele deu outro novo.
Lucio também gostava de dar pequenos presentes a Eileen: garrafinhas de água bonitas, pratos e garfos para lanches, canetas e cadernos para anotações, cada item pequeno, mas atencioso.
Sempre que Eileen tentava recusar, achando difícil retribuir, Lucio ficava visivelmente chateado. Implorava que aceitasse com seu semblante desanimado, Eileen não tinha escolha a não ser aceitar. Mesmo que frequentemente perdesse os itens pouco depois de recebê-los, ela apreciava profundamente sua gentileza.
Graças a Lucio, Eileen se ajustou bem à vida universitária. À medida que começava a alcançar boas notas e chamar a atenção dos professores, outros estudantes gradualmente passaram a se aproximar dela.
Naturalmente fez muitos amigos, mas Eileen sempre teve Lucio na mais alta consideração e permaneceu próxima dele. No entanto, seu relacionamento harmonioso foi abruptamente interrompido um dia.
“Eu… sinto muito. Sou uma pessoa muito, muito ruim…”
Lucio apareceu subitamente no meio da noite, murmurando palavras incoerentes. Ele devolveu os itens que ela havia perdido ao longo do tempo e então desapareceu como se estivesse fugindo.
Antes mesmo que Eileen pudesse perguntar o que estava acontecendo, soube no dia seguinte que Lucio havia tirado uma licença da universidade.
Meses depois, Eileen recebeu uma carta de sua mãe, que a obrigou a suspender seus estudos e retornar à capital. Ela tentou afastar os pensamentos de Lucio da mente, mas…
— Eu não te reconheci.
Lucio surgiu com uma aparência completamente transformada. Assim como Eileen havia tirado os óculos e cortado a franja, Lucio também aparou o cabelo antes bagunçado e dispensou os óculos. A gagueira e o desviar de olhar que o caracterizavam haviam desaparecido, tornando-o quase irreconhecível.
Enquanto Eileen o observava surpresa, Lucio corou levemente e tocou a própria bochecha, um hábito que tinha quando estava envergonhado.
Seu rosto ficou levemente corado, lembrando como costumava ser. As lembranças frescas do passado fizeram Eileen sorrir suavemente.
— É você, Eileen… que mudou tanto.
No entanto, Lucio tinha mudado em mais aspectos do que apenas sua aparência. Parecia estranho vê-lo olhando diretamente em seus olhos, um contraste gritante com seu comportamento anterior. Enquanto Eileen o observava com essa nova sensação estranha, os professores se aproximaram dela.
— Eileen… parabéns pelo seu casamento.
Falaram de forma constrangida, suas palavras saindo como um brinquedo de corda quebrado. Entregaram a ela um denso documento, olhando nervosamente para a equipe ao redor.
— Este é… o artigo de pesquisa publicado na revista acadêmica… e graças à permissão generosa do Arquiduque…
Enquanto os professores lutavam para organizar seus pensamentos, Eileen, sentindo seu desconforto, tomou a iniciativa de interromper.
— Por favor, sintam-se à vontade para me tratar como uma estudante ainda ansiosa para aprender com vocês.
Os professores olharam para ela por um momento, trocando olhares inquietos. Depois de uma breve pausa tensa, finalmente foram ao ponto.
— Com a permissão do Arquiduque, gostaríamos de ajudar na pesquisa atualmente conduzida pela Arquiduquesa.
🌸🌸🌸
O homem revirou os olhos desesperadamente. Seus membros amputados eram algumas das poucas partes ainda capazes de se mover livremente. Lotan olhava para ele com expressão indiferente, exalando fumaça do cigarro.
Depois de fumar por um tempo, ele empurrou o cigarro na boca do homem. Este se contorceu de dor enquanto o tabaco ardente queimava sua carne.
— Ugh, nngh…
O homem se debatia, tentando desesperadamente conter os grunhidos. Sabia que a presença diante dele não tolerava barulho.
Entre as luzes cintilantes e os sons de dor, o farfalhar de páginas viradas quebrou o silêncio. Era um som incongruente, emanando de Cesare. Reclinado relaxadamente na cadeira, ele folheava seu livro com calma antes de falar abruptamente.
— E quanto a Eileen?
— Ela está com os convidados que chegaram mais cedo, conforme previsto. No entanto, um visitante não convidado se juntou a eles — Lucio Zaetani.
Não havia necessidade de explicar mais sobre Lucio, Cesare lembrava de tudo sobre Eileen com clareza vívida.
— Permiti a visita dos professores, mas… — Cesare fechou o livro que estava lendo. — nunca autorizei a intrusão de pragas em minha casa.
Continua…
Tradução: Elisa Erzet