O Marido Malvado - Capítulo 83
Michelle compreendeu. Seu mestre nascera príncipe, o que naturalmente o levou a se tornar um soldado, e como tal, ele matava pessoas.
Se fosse filho de um açougueiro, provavelmente acabaria abatendo vacas ou porcos. Para Cesare, havia pouca distinção entre humanos e animais. Matar não tinha grande significado para ele.
— Se ele fosse filho de um açougueiro, eu provavelmente estaria estripando vacas ao seu lado.
Michelle resmungou para si, refletindo sobre as ações recentes de Cesare. Diego, parado ao seu lado, interrompeu.
— Vossa Graça?
— … Ah.
Michelle coçou a cabeça, constrangida, percebendo seu lapso. Independentemente de sua origem, Cesare sempre teria chegado ao topo. Ela riu, apontou para o prédio e assobiou de forma estridente.
Whiiik — o som penetrante cortou o ar da noite silenciosa, e instantaneamente, os soldados estacionados do lado de fora invadiram o prédio.
Enquanto eles arrombavam as portas, as pessoas dentro gritaram e fugiram em pânico. No entanto, aqueles sob a influência de álcool e drogas estavam muito instáveis para escapar rapidamente. Os soldados logo prenderam as figuras cambaleantes.
Michelle, que entrou com calma, agarrou um deles pela cabeça quando este tentou fugir como um rato e o jogou sobre uma mesa.
Bum! A mesa ameaçou se quebrar com a força do impacto. Com uma expressão indiferente, Michelle bateu repetidamente a cabeça do homem contra ela com ritmo constante — bum, bum, bum!
— Ugh…
Diego, que a havia seguido, adentrou, fez uma careta ao desviar de um dente que havia caído da boca do homem ensanguentado. Ele vasculhou o prédio enquanto Michelle, tendo nocauteado o homem, o jogou de lado e se juntou a Diego.
— Malditos idiotas — murmurou Michelle. — Eu disse para não mexerem com aquelas coisas, mas esses tolos tratam as leis do Império como se não significassem nada.
Diego deu de ombros diante da linguagem rude de Michelle, nada diferente de um bandido comum. Oficialmente, está operação era para prender usuários de drogas, mas não havia razão real para Michelle e Diego estarem envolvidos em algo tão trivial quanto prender viciados.
O propósito real da sua presença era obter uma lista dos nobres que usavam drogas naquele lugar. Cesare havia dado ordens específicas, assustadoramente até mesmo a data era exata, então não havia dúvidas de que a lista não seria precisa.
Mas Diego, que deveria estar auxiliando na busca, parecia distraído. Ele parou e se aproximou de Michelle.
Michelle, que havia disparado contra um canto suspeito, parou e se virou para ele.
— O que foi?
— Você se lembra quando explodimos aquela taverna em Fiore?
— Ah, sim.
Depois que Cesare executou o rei de Kalpen, ele havia explodido uma das maiores tavernas em Fiore. Na época, parecia uma decisão estranha, e até os cavaleiros de Cesare ficaram perplexos com o ato repentino e aparentemente aleatório.
— Agora que penso nisso… talvez aquela taverna fosse o lugar.
Seu comentário vago foi claro o suficiente para Michelle. Era um palpite de que o cadáver de Eileen poderia ter sido profanado lá após sua morte.
Michelle guardou sua arma e cruzou os braços sobre o peito, suas sobrancelhas se franzindo tão fortemente que suas sardas pareciam se agrupar.
— Eu também estava pensando nisso. Lembra daquela alucinação que Senon mencionou? Nela, que escolhas teríamos feito? Suponho que teríamos seguido Sua Graça, como sempre.
— … Muito provavelmente.
Não era certo, mas o que Cesare havia começado de forma sutil no Império Traon, um expurgo silencioso, mas implacável, não seria nada comparado ao que estava por vir.
Embora fosse o Comandante Supremo de Traon, o homem não tinha qualquer senso genuíno de patriotismo. O mesmo valia para seus cavaleiros. Eles eram provavelmente devotados a Cesare a ponto de participarem da matança com entusiasmo.
Pelo bem da falecida Eileen…
Michelle cuspiu um palavrão, a mera ideia disso azedando seu humor. A ideia de Eileen ‘ter morrido’ era revoltante.
— Você ouviu do Lotan, não foi?
— …
Michelle pressionou os lábios e assentiu em resposta à súbita pergunta. Quando souberam que seu mestre quase matou Eileen, os cavaleiros ficaram momentaneamente sem palavras.
Eles perceberam que o estado mental de Cesare era muito mais instável do que imaginavam, mas mesmo assim, não tinham uma solução clara, os deixando se sentir impotentes.
— Por enquanto, é melhor não fazer nada que possa provocar Sua Graça.
Diego suspirou, o rosto marcado pela preocupação enquanto compartilhava suas inquietações com Michelle.
— Mas aquele cara… disse que viria com os professores, para ver a senhora Eileen.
Michelle estreitou os olhos, incrédula.
— … Você quer dizer aquele stalker desgraçado?
🌸🌸🌸
Um leve traço de fumaça de cigarro pairava no ar, como uma memória distante roçando a ponta do seu nariz. Eileen coçou distraidamente a bochecha enquanto os eventos da noite anterior se repetiam em sua mente.
Ela se lembrava de estar lado a lado na chuva sob as laranjeiras, compartilhando um beijo.
“Nem todos os dias chuvosos são ruins, afinal.”
Cesare havia dito, levando-a de volta para dentro da mansão. Ao entrarem, Sonio, que observava do pátio, se aproximou imediatamente com uma toalha seca.
Embora Eileen não estivesse muito molhada, Cesare havia colocado o casaco do uniforme sobre ela, mas ainda assim certificou de cuidar dela primeiro. Entregou seu uniforme ensopado a Sonio e gentilmente secou Eileen com a toalha.
‘Nós dormimos juntos também.’
Adormeceu nos braços do homem, o som da chuva a acalmando. Cesare parecera ter dormido bem também. Embora ela não o tivesse visto dormir, sua expressão mais tranquila esta manhã sugeria que havia descansado melhor que o habitual.
Eileen sorriu para si mesma, então rapidamente compôs sua expressão. Mesmo sem ninguém olhando, sentiu uma pontada de vergonha. Balançando a cabeça, voltou sua atenção à pesquisa.
O laboratório do Arquiduque estava equipado com todas as ferramentas que Eileen precisava, um mundo à parte de seus dias anteriores quando mexia em um cômodo escuro com equipamentos ultrapassados.
Naquela época, sua pesquisa era com ópio barato e de baixa pureza, mas agora tinha acesso a fresco e podia usá-lo livremente, graças ao apoio inabalável de Cesare. Isso fez os experimentos progredirem muito suavemente.
Enquanto esperava a água ferver, Eileen revisou meticulosamente seu registro de experimento.
Seu objetivo era extrair cerca de 10% do componente analgésico do ópio em forma cristalina. No entanto, isolar o agente que alivia a dor dos compostos desnecessários se mostrava mais desafiador do que esperava.
Ela vinha filtrando o ópio com água fervente e adicionando repetidamente vários compostos químicos na tentativa de refiná-lo.
— AFFF…
A impaciência começou a surgir, enquanto ela ansiava por resultados mais rápidos. Embora se lembrasse de manter a calma, seu coração se recusava a se aquietar.
Para acalmar a mente, Eileen olhou para a papoula que havia colocado perto da janela. Suas pétalas vermelhas, banhadas pela luz do sol, pareciam vibrantes e frescas. A visão da cor carmesim naturalmente a lembrou de alguém.
O analgésico que ela estava desenvolvendo, chamado Morpheu, era inspirado no deus dos sonhos. Eileen esperava que pacientes sofrendo de dor encontrassem alívio e descanso através de Morpheu.
Segundo o mito, havia duas portas no reino do deus dos sonhos: uma feita de osso e a outra de marfim.
Sonhos que passavam pela porta de osso eram sem significado e facilmente esquecidos. No entanto, aqueles que passavam pela de marfim carregavam a vontade dos deuses.
Eileen se perguntava se os sonhos de Cesare tinham vindo pela porta de marfim. Se sim, que significado poderiam ter? Pelo que o homem disse, parecia que ele repetia o mesmo sonho…
‘E, de todas as coisas, um sonho onde ele me mata.’
Era impossível não sentir curiosidade pelo significado por trás disso. Quando Eileen estava prestes a desligar o gás, a água ferveu completamente, e uma batida educada ecoou pelo laboratório. Um criado entrou, anunciando a chegada de um visitante.
— Os visitantes chegaram para ver a senhora. Estão adiantados do horário agendado. Devo pedir que aguardem?
— Não, tudo bem. Vou recebê-los agora!
Eileen organizou rapidamente os equipamentos do laboratório e correu para fora. Era uma visita que ela aguardava ansiosamente: seus professores da universidade.
Ela ajeitou sua roupa e desceu até a sala de estar. Lá, encontrou um homem e uma mulher de meia-idade, junto a um jovem que se sentava de maneira desconfortável, olhando ao redor nervosamente. Pareciam impressionados pela grandiosidade da residência do Arquiduque.
Os convidados, que tomavam seu chá de forma constrangida, se levantaram imediatamente quando Eileen entrou. No início, não a reconheceram e hesitaram, mas quando os cumprimentou com um sorriso radiante, finalmente perceberam quem era e chamaram seu nome.
— Eileen!
Os professores exclamaram com alegria, mas seu entusiasmo rapidamente diminuiu enquanto olhavam ao redor para os servos. Embora os mesmos continuassem a sorrir, seus olhos careciam de calor, deixando os professores visivelmente nervosos.
— É um prazer revê-la…
Gaguejou um professor, tentando ser educado. Antes que pudesse continuar, Eileen deu um passo à frente e apertou suas mãos com firmeza.
— Sejam bem-vindos! Estava ansiosa para vê-los.
Sua calorosa saudação trouxe um brilho emocional aos olhos dos professores. Nesse momento, o jovem que estava quieto finalmente falou.
— Como você tem estado? 🤢🤮
O jovem tinha um rosto amigável, mas Eileen não o reconheceu. Piscou, confusa, supondo que fosse um dos alunos dos professores. O homem sorriu timidamente e se apresentou.
— Sou eu, Lucio.
— O quê? Senhor Lucio…?
O choque de Eileen era evidente. Lucio havia sido seu colega mais próximo durante os dias de universidade, mas sua aparência havia mudado tanto que ela não o reconheceu de imediato.
— Senti sua falta, Eileen.
Enquanto Eileen permanecia ali, boquiaberta, Lucio acrescentou com um sorriso suave:
— De verdade, muita. 🙄
(Elisa: Depois leva tiro e não sabe porque 🤣)
Continua…
Tradução: Elisa Erzet
Fernanda
Oiii Elisa, tudo bem? 💕 Muito obrigada pelo capítulo, eu amei!
Será que você poderia dar uma olhadinha na troca de capítulos? Achei que ficou um pouquinho confuso e fiquei com medo de ter perdido algo 😅✨
Obrigada por sempre entregar tudo com tanto carinho!