O Marido Malvado - Capítulo 82
Depois de terminar suas palavras, Eileen mordeu o interior da bochecha, percebendo que havia falado impulsivamente ao presumir as intenções de Cesare. Agora temia ter sido presunçosa demais.
Incapaz de encará-lo, desviou os olhos e avaliou nervosamente sua reação. Tentando soltar gentilmente a mão que estava segurando, foi surpreendida quando Cesare apertou seu pulso mais uma vez.
A pegada era firme e um tanto áspera. Assustada, Eileen se encolheu, fazendo o homem afrouxar o toque rapidamente. Embora sua força tivesse diminuído bastante, ele não a soltou.
Por um tempo, ficaram ali, de mãos dadas. Suaves gotículas de água começaram a tocar a bochecha de Eileen. A garoa gradualmente se intensificou, e logo a chuva encheu o ar. O céu, nublado o dia inteiro, havia começado a chover novamente.
Felizmente, não era o aguaceiro torrencial do dia anterior. A chuva caía suavemente através das folhas, molhando Cesare e Eileen aos poucos.
Apesar disso, nenhum dos dois sugeriu voltar para a mansão. Apenas permaneceram ali, sob a laranjeira.
Depois de um tempo, Cesare soltou um suspiro baixo e largou a mão de Eileen. Pegou um lenço e o entregou a ela antes de tirar o casaco de seu uniforme e cobrir sua cabeça.
Agora abrigada pelo grande casaco, Eileen olhou para o homem enquanto ele enxugava seu rosto com as costas da mão.
— Vá para dentro.
Eileen balançou a cabeça. — Eu quero ficar ao seu lado, Cesare.
Ele apontou para as marcas em seu pescoço e perguntou:
— Mesmo depois do que aconteceu?
— Sim.
Quando Eileen não demonstrou a menor intenção de recuar, Cesare suprimiu uma risada amarga.
— Eu só vou fumar.
Ele ajustou o casaco sobre seus ombros delicados, deixando claro que ela não precisava ficar e suportar o cheiro de fumaça.
Apertando o casaco e o lenço com força, Eileen perguntou:
— Mesmo assim, posso ficar ao seu lado?
— …
— Eu quero ver você fumar.
Desde pequena, Eileen gostava de observar plantas, examinando e registrando meticulosamente cada detalhe. Mas, na verdade, havia algo que achava ainda mais fascinante que as plantas.
Era Cesare.
Desde o dia em que o conheceu, Cesare se tornou o assunto mais intrigante em seu mundo. Cada vez que o via, Eileen cuidadosamente documentava novas observações sobre ele em seu diário.
Ela queria aprender mais sobre as facetas deste homem que ainda eram desconhecidas para ela. Hoje, estava particularmente interessada em entender a estranheza que sentia ao vê-lo fumar.
Mas além da curiosidade, havia um sentimento mais urgente.
‘Eu não quero deixá-lo sozinho.’
Tanto ontem quanto hoje, Cesare parecia à beira de um abismo, como se estivesse segurando uma lâmina contra sua própria garganta. A ideia de proteger um homem que parecia destemido era absurda, por isso Eileen manteve seus sentimentos para si mesma. Mas naquele momento, estava decidida em ficar ao seu lado.
‘Ele continua dizendo coisas estranhas…’
Cesare não era do tipo a ficar perturbado por algo tão trivial quanto um sonho, o que apenas aprofundava sua preocupação. O fato de tê-la matado em seu sonho não importava muito, afinal, já havia decidido entregar sua vida por ele na realidade. Quantas vezes morresse em um sonho era irrelevante.
Eileen queria compartilhar seus pensamentos, mas tinha medo de que a repreendesse, então permaneceu em silêncio, apenas esperando sua resposta.
Quando ela não demonstrou ter a menor intenção de entrar e apenas o encarou, Cesare franziu a testa. Ele a puxou para mais perto, protegendo-a da chuva, e então pegou um cigarro novo. Ao acendê-lo, resmungou:
— Tudo isso é minha culpa. — O cigarro brilhou em uma chama vermelha-alaranjada quando se acendeu. Segurando-o entre os dedos, ele continuou: — Eu deveria ter ensinado você a ser cautelosa comigo.
Os olhos do homem se estreitaram enquanto a observava. Eileen contra-atacou mentalmente sua observação, pensando que não teria funcionado mesmo se ele a tivesse ensinado. No entanto, manteve esse pensamento para si.
Ele fumou em silêncio enquanto Eileen permanecia calmamente ao seu lado. O som rítmico da chuva batendo nas folhas preenchia o espaço quieto.
Seu cabelo preto, úmido pela chuva, grudava em sua pele. Com o olhar baixo, Cesare fumava com expressão indiferente, virando ocasionalmente o rosto para soprar a fumaça.
Cada vez que o homem exalava, Eileen franzia o nariz com o cheiro forte. Era áspero, mas era Cesare, então parecia suportável. Quando Ornella fumava, Eileen achava desagradável, mas agora, com ele, parecia diferente.
Enquanto o observava fumar sob a laranjeira, na chuva, ela se ouviu perguntar sem pensar:
— Posso tentar também?
Cesare soltou uma risada baixa, incrédulo.
— O quê, você quer experimentar tudo o que eu faço?
— Não é isso, mas…
Ela esperava que ele recusasse de imediato, mas, para sua surpresa, não negou. Em vez disso, colocou o cigarro que estava fumando entre seus pequenos lábios.
Eileen piscou em espanto, sentindo o cigarro agora repousando em sua boca. Sem qualquer instrução adicional, ela tragou instintivamente, e, imediatamente, caiu em uma crise de tosse violenta.
A fumaça áspera fez seus olhos lacrimejarem, e seu rosto ficou vermelho enquanto ela lutava para recuperar o fôlego. Cesare apagou rapidamente o cigarro em um cinzeiro e pegou de volta o lenço que havia dado a ela, enxugando gentilmente sua boca enquanto ela continuava a tossir.
— Agora você já sabe como é. Não vai querer repetir, não é? — disse em tom provocador.
Apesar de suas palavras brincalhonas, Eileen entendeu a mensagem subjacente. Parecia que estava tentando avisá-la que nem tudo o que fazia era para ela.
Cesare não fazia questão de esconder suas intenções. Deixava tudo claro o suficiente para que até alguém tão ingênua quanto Eileen pudesse compreender.
Eileen olhou para ele com olhos marejados, o homem a encarou em silêncio. Seus olhares permaneceram fixos por um longo tempo, e naquele momento, Eileen percebeu o quão completamente estava cercada por ele, suas roupas, a fumaça de cigarro, até as marcas que havia deixado em seu pescoço. Tudo a envolvia.
Envolta em seu casaco grande, protegida da chuva, Eileen abriu os lábios.
— Cesare… —Sob a intensidade do olhar carmesim, sussurrou com a voz trêmula: — Eu sei que não sou confiável, mas vou dar o meu melhor. Então…
Uma leve dor latejou em sua garganta. Eileen engoliu, ignorando o incômodo, e continuou:
— Se houver algo, qualquer coisa, que eu possa fazer para ajudar, por favor me diga.
Desejava poder carregar o sofrimento dele em seu lugar. Com essa esperança desesperada, olhou para Cesare quase suplicante.
Mesmo na escuridão, seus olhos carmesim brilhavam intensamente, uma luz antinatural que parecia quase desumana, como uma lança perfurando seu coração. Eileen prendeu a respiração, esperando por sua resposta.
Eventualmente, Cesare esboçou um leve sorrisinho. Ele puxou o casaco que a cobria, deixando-o cair no chão molhado com um baque suave. Sem se preocupar com a lama manchando o tecido, segurou gentilmente as bochechas de Eileen com suas mãos.
O homem se inclinou e silenciosamente a beijou. Na chuva, sob a laranjeira, seus lábios se encontraram. Eileen fechou os olhos e retribuiu o beijo.
Após alguns momentos de ternura, Cesare se afastou lentamente. Lambeu os lábios molhados e a encarou com intensidade inabalável.
Encharcado pela chuva, o homem emanava um perigo sedutor. As íris vermelhas pareciam ainda mais vívidas, brilhando como chamas ardentes.
— Para você começar a ser cautelosa comigo, — disse, estreitando brevemente os olhos, — terei que me esforçar muito.
Continua…
Tradução: Elisa Erzet