O Marido Malvado - Capítulo 81
Como todos estavam ocupados com seus próprios deveres, era desafiador reunir os cavaleiros. Eileen, não querendo impor, decidiu solicitar a presença apenas do cavaleiro com mais tempo livre.
Naquela noite, Lotan chegou para ver Eileen.
[Sinto muito por chamá-lo tão de repente.]
Eileen fitou Lotan com uma mistura de gratidão e desculpas. Ele franziu suas grossas sobrancelhas, claramente confuso.
— Se a Arquiduquesa chama, então naturalmente eu devo vir, — respondeu, firme, quase como se a estivesse repreendendo por se desculpar. Eileen balançou a cabeça vigorosamente com sua resposta.
Respirando fundo, se preparou para falar. Sua voz, tensa e rouca, mal passou de um sussurro.
— Cesare… quase me matou.
Era evidente que, embora Lotan soubesse que Eileen tinha sido ferida por Cesare, não conhecia os detalhes. Eileen lutou para continuar, suas palavras forçando para sair, para o agora atordoado Lotan.
— Então ele… começou a se cortar diante de mim.
O semblante do cavaleiro mudou visivelmente com o choque. Eileen tomou um gole de seu chá quente para acalmar a garganta dolorida antes de falar novamente.
— Tenho medo que aconteça de novo… e que Cesare acabe se ferindo seriamente.
Ela bebeu mais chá, saboreando o calor que lhe acalmava a garganta.
Enquanto Eileen continuava a beber, Lotan soltou um longo e pesado suspiro.
— Vossa Graça, — disse ele, seu rosto marcado por cicatrizes contorcido em angústia e sua voz carregada de dor. — Por favor, priorize sua própria segurança acima de tudo.
Seu conselho ecoava o que Cesare havia dito, mas com um tom de profunda preocupação.
[Vou tentar o meu melhor], rapidamente rabiscou, em um pedaço de papel e mostrou a ele. Embora a expressão de Lotan permanecesse preocupada, decidiu não insistir.
[Se souber algo sobre o estado de Sua Graça… por favor, me diga.]
Eileen perguntou se Lotan tinha alguma ideia do motivo do homem estar se automutilando, mas apesar de suas súplicas e da tensão em sua voz, Lotan permaneceu em silêncio.
Embora sua aparência demonstrava geralmente um homem rude, Lotan sempre fora caloroso e gentil com Eileen. Era do tipo que frequentemente iniciava conversas e gostava de falar com ela, então era incomum que ele permanecesse tão calado por tanto tempo.
Pelo silêncio, Eileen percebia que Lotan sabia de algo, mas não podia contar.
‘Que frustrante.’
Ela podia dizer que havia um motivo para o seu silêncio, mas isso não diminuía sua frustração. Mordendo o lábio, sentindo-se exausta e resignada, ela pegou sua caneta para fazer outra pergunta.
[Então, o que devo fazer? Se algo semelhante acontecer novamente?]
Após um longo momento, Lotan finalmente falou, seu olhar fixo na caligrafia trêmula de Eileen. Suas palavras foram completamente inesperadas.
— Se algo assim acontecer novamente, — disse, — apunhale Vossa Graça com uma adaga.
Eileen ficou boquiaberta em choque. Lotan continuou, seu tom estranhamente racional, apesar da sugestão absurda.
— Você deve esfaqueá-lo como se realmente pretendesse matá-lo. Só assim ele voltará a si.
Ele explicou que ela deveria agir sem hesitação, assegurando que o homem não morreria do ferimento. Atônita, Eileen começou a rabiscar freneticamente a resposta.
[Como posso fazer isso? Eu não consigo! Não tenho confiança nenhuma!]
Lotan, lendo cuidadosamente a nota escrita às pressas e com erros ortográficos, ofereceu uma nova sugestão.
— Não tem confiança, então que tal treinar? Posso te ensinar a usar uma adaga.
Eileen balançou a cabeça vigorosamente com a oferta. A conversa tinha saído completamente dos trilhos. Um suor frio se espalhou por sua pele enquanto encarava Lotan, atônita.
Ele estava absolutamente sério, nenhum traço de brincadeira em seu rosto. Após insistir em que Eileen deveria esfaquear Cesare, finalmente retornaram ao assunto principal.
— Não podemos contar tudo ainda. Mas uma coisa é certa, Vossa Graça, sob nenhuma circunstância, suportaria vê-la ferida. Nunca. É por isso que sugeri que o apunhalasse — Lotan explicou, mantendo o tom sério e inabalável.
Com isso, a conversa terminou. Depois de ter chamado alguém apenas para acabar falando sobre treinamento com adagas, Eileen acompanhou Lotan até a saída da mansão.
Enquanto observava a carruagem partir, sua mente estava cheia de um turbilhão de pensamentos complexos. Em meio a suas reflexões, Sonio se aproximou silenciosamente e informou.
— Sua Graça retornou. Ele está no pátio. Deseja vê-lo?
Normalmente, Cesare seria o primeiro a procurar por ela ao retornar à mansão. Ter Sonio trazendo a informação significava que ele não viera ao encontro dela, talvez nem pretendesse fazê-lo.
— Não o vejo desde esta manhã. — Eileen murmurou.
Notando que Cesare fazia questão de vê-la primeiro, mesmo morando na mesma casa depois que ela se tornou Arquiduquesa. Parecia que hoje era sua vez de procurá-lo. Ela agradeceu a Sonio e seguiu para o pátio.
O lugar estava iluminado por lanternas e pelo luar, revelando cada detalhe da paisagem. Eileen caminhou silenciosamente pelo amplo espaço, meticulosamente cuidado pelos jardineiros da mansão. Era um local de destaque, onde cada planta era organizada com precisão.
À medida que Eileen se aproximava, ela viu Cesare parado sob a laranjeira. Ele se inclinou contra a árvore, sua expressão estoica, enquanto fumava um cigarro.
A visão do homem fumando era desconhecida para Eileen, e ela parou abruptamente. Seus olhos vermelhos encontraram os dela com uma calma perturbadora, como se já soubesse que ela estava ali desde o início.
Um silêncio peculiar, estranho, se estabeleceu entre eles. Cesare baixou o cigarro e exalou a fumaça, depois o apagou em um cinzeiro decorativo que se misturava perfeitamente ao ambiente.
Enquanto observava o cinzeiro, notou o objeto ornamentado parecendo um pilar sob a laranjeira. Foi só então que percebeu sua finalidade.
Cesare sacudiu a roupa com um gesto casual antes de voltar o olhar para ela. Eileen hesitou por um momento, mas acabou se aproximando. Ele permaneceu imóvel até que ela estivesse diante dele.
De pé diante de Cesare, Eileen olhou para o homem, respirando fundo. O leve cheiro de fumaça de cigarro a envolveu, marcando a primeira vez que sentia algo assim vindo dele.
Diante daquele lado desconhecido do homem, Eileen piscou várias vezes, sem saber como iniciar a conversa. A saudação casual que planejara parecia completamente inadequada nesse momento tenso, seus lábios permaneceram fechados, talvez devido ao seu comportamento incomum hoje.
Depois de uma longa pausa, Cesare se inclinou subitamente para mais perto.
— Porque você perguntou a outra pessoa — ele murmurou, seu hálito quente roçando sua bochecha. Sua voz era suave, porém insistente. — ao invés de perguntar diretamente ao seu marido?
Eileen engoliu em seco. Sua garganta, embora ainda levemente rouca pelo dia de chá e remédios, não doía tanto. Determinada a manter a compostura, respondeu com esforço:
— Você me contaria se eu perguntasse?
Cesare, a observando atentamente, respondeu calmamente:
— Apenas o que eu desejo revelar.
Reunindo coragem apesar de sua ansiedade, Eileen pediu:
— Por favor, me mostre sua palma.
Cesare tirou as luvas sem hesitar e mostrou a mão. A cicatriz causada pelo estilete havia desaparecido por completo. Eileen examinou sua palma e então encontrou seu olhar, que ele manteve firme.
Percebendo que esta poderia ser sua única oportunidade de obter uma resposta, Eileen agarrou sua mão com força e perguntou:
— Por que fez isso na casa de tijolos?
O vento farfalhou nas folhas da laranjeira, como ondas suaves. O olhar do homem permaneceu fixo nela, intenso e inabalável.
No início, pareceu que ficaria calado. Então começou a falar com um tom seco, distante, como se narrasse a história de outra pessoa.
— Uma vez tive um sonho onde vivíamos juntos na casa de tijolos.
Ele estendeu a mão livre e desenrolou a bandagem de Eileen, desfazendo habilmente o nó em torno de seu pescoço.
— Foi um sonho longo. Fiquei preso nele e andei pôr o que pareceu uma eternidade. Para escapar —
A bandagem branca deslizou, revelando as marcas abaixo. A voz do homem soou mais distante conforme continuava:
— Eu precisei que te matar.
Eileen permaneceu em silêncio, absorvendo o peso do que ouvira. O tom de Cesare suavizou um pouco quando acrescentou:
— Mas ontem, por um momento, não consegui distinguir entre sonho e realidade…
Sua voz se perdeu, e um sorriso frágil, vazio, cruzou seus lábios. Sua expressão exibia calma, mas seus olhos pareciam tão secos e fragmentados quanto vidro estilhaçado.
Ao ver aquela dor em seus olhos, Eileen sentiu um aperto no peito, como se estivesse segurando cacos de vidro com as próprias mãos. Lutando para conter sua própria angústia, ela sussurrou:
— … Foi apenas um sonho. Não era realmente eu.
Desejava que o homem não fosse atormentado por ilusões dela. Apertando sua mão com força, Eileen murmurou:
— Eu estou aqui agora, Cesare.
Continua…
Tradução: Elisa Erzet
Glaucia
Nossa que dóóóó gente 😢😢😢.