O Marido Malvado - Capítulo 71
Eileen, mantendo um olhar cauteloso sobre ele, contestou timidamente:
— Como uma vaca e uma pessoa podem virar amigos?
Diante dessa objeção perfeitamente racional, Cesare riu baixinho e continuou a andar em ritmo tranquilo, guiando Eileen.
— Talvez possam. O Barão pode muito bem provar isso desta vez.
A caminhada prosseguiu entre conversas leves, e o assunto sobre o pai dela naturalmente ficou para trás.
Eileen mencionou que precisava de alguém para cuidar da casa de tijolos. Cesare concordou prontamente em encontrar um zelador e acrescentou:
— Passarei lá no caminho de volta, esta noite.
Normalmente, ela teria ficado contente com a oferta e aproveitado a oportunidade para buscar alguns pertences que havia deixado na casa de tijolos. No entanto, Eileen permaneceu em silêncio.
Ao perceber a falta de resposta, Cesare parou e olhou diretamente para ela, seu olhar claramente exigindo uma explicação.
— Hoje… — ela finalmente conseguiu dizer, lutando para encontrar as palavras certas. — Poderíamos ir outro dia?
Cesare estreitou os olhos de forma travessa e perguntou:
— Por quê?
Ele sabia perfeitamente do motivo, tendo causado tantos problemas a Eileen desde a manhã. Eileen, corando, tentou explicar.
— Porque… quero ir para a cama cedo. Estou um pouco cansada. Se não for incômodo para você, Cesare… A casa de tijolos não vai fugir, podemos ir lá com calma…
— Você não precisa dormir apenas no quarto do Arquiduque.
Eileen entendeu imediatamente a insinuação. Atordoada, ela olhou para Cesare com olhos arregalados e trêmulos, mas logo desviou o olhar. As orelhas coradas estavam visíveis, mas ela não fez nenhum movimento para cobri-las, envergonhada demais até mesmo para fingir que arrumava o cabelo.
— Então vou dormir na casa de tijolos…
Cesare pegou a mão dela com um sorriso e acelerou o passo. Eileen, com o rosto ainda vermelho, seguiu-o.
Logo chegaram à residência imperial. Só de pensar em encontrar o imperador, fez com que seus nervos, antes relaxados, ficassem tensos novamente.
Ao entrar na residência, Eileen seguiu para a sala de audiências formal, diferente da vez anterior. Lá, Leone já esperava pelo Arquiduque e pela Arquiduquesa Erzet.
— Finalmente, os protagonistas chegaram, — saudou ele com um sorriso.
Cesare o cumprimentou brevemente enquanto olhava para o chá e os petiscos sobre a mesa.
— Estamos um pouco atrasados.
— Era de se esperar. Pensei que vocês não chegariam antes do pôr do sol. Deixaram vocês saírem facilmente?
— Na verdade, não. Só vim por um caminho menos movimentado.
Leone riu calorosamente com a resposta despreocupada de Cesare. Depois de um momento, voltou seu amplo sorriso para Eileen.
Enquanto Cesare recebia o comportamento amigável do imperador com naturalidade, Eileen não conseguia fazer o mesmo. Como uma autômata com defeito, ela cumprimentou de forma rígida:
— Vossa Majestade.
O sorriso de Leon se alargou diante da reverência educada, e ele fez um elogio generoso:
— Agora que cortou o cabelo e tirou os óculos, parece muito mais uma verdadeira Arquiduquesa. Devia ter feito isso antes.
As sobrancelhas de Cesare franziram levemente diante do comentário. Eileen, sem saber o que responder, apenas murmurou um “obrigada” e fez uma pequena reverência. Sempre se sentia constrangida com elogios sobre sua aparência.
— Desde o casamento, a nobreza não para de falar sobre você. Todos os jornais e revistas de Traon, até os tabloides, estão cheios de elogios à beleza da Arquiduquesa.
Leone comparecera ao casamento, mas Eileen não conseguia lembrar dele. Na verdade, não se recordava de ninguém que comparecera à cerimônia. Seus nervos a fizeram esquecer tudo, exceto o quão bonito Cesare estava em seu uniforme.
— Irmão.
O imperador parecia ansioso para continuar conversando com Eileen, mas Cesare o interrompeu abruptamente. Percebendo a deixa, Leone assentiu e chamou um servo, que trouxe documentos sobre uma bandeja dourada.
Leone pegou os papéis e os colocou diante de Eileen. Era uma certidão de casamento, confirmando seu novo título de Arquiduquesa Erzet e a adoção do sobrenome da família Erzet, selado pelo Imperador de Traon.
A mão de Eileen tremia levemente ao segurar a caneta-tinteiro. Respirando fundo, apertou os lábios e assinou seu nome no final do documento. A pena riscou o papel com um som suave.
[Eileen Elrod Karl Erzet]
Ao largar a caneta sobre a mesa, Eileen estudou sua assinatura com uma sensação de estranheza. O nome “Karl Erzet” soava estranho anexado ao seu. Ela uma vez admirou como combinava perfeitamente com o nome de Cesare, mas agora, com seu próprio de sonoridade suave, parecia deslocado.
‘Mas não há o que fazer.’
Por mais desconexo que parecesse, Eileen agora era oficialmente a Arquiduquesa Erzet. Nem mesmo figuras de alto escalão, como o duque Farbellini ou o próprio Imperador Leone do Império Traon, poderiam contestar sua nova posição.
Havia apenas uma pessoa que poderia questioná-lo: Cesare.
‘Mas se eu me esforçar, vai ficar tudo bem.’
Se ela se dedicasse, poderia permanecer ao lado dele como a Arquiduquesa. Eileen reforçou mentalmente sua determinação. Enquanto estava imersa em seus pensamentos, Leone assentiu para Cesare, que estava revisando os documentos.
— Já vão embora?
— Sim.
— E que tal tocar uma música no piano antes de irem?
A menção ao piano fez os olhos de Eileen arregalar. Havia muito tempo que não o ouvia tocar.
Cesare tocara piano durante suas aulas de dança, mas ela não o ouvira desde então. Mesmo durante sua estadia na residência do Arquiduque, o piano permaneceu em silêncio.
Eileen lançou uma olhadinha para Cesare, tentando disfarçar a curiosidade, parecia apenas uma observação casual, mas a expectativa era clara. Cesare, como sempre, parecia ler seus pensamentos sem esforços. Quando voltou o olhar para ela, Eileen se viu encarando diretamente seus olhos vermelhos, e, naquele instante, teve a sensação de que seus pensamentos haviam sido expostos.
— Piano…
Uma vez que a palavra escapou, não havia como voltar atrás. Incapaz de continuar sua frase, Eileen sentiu uma pontada de constrangimento. Cesare deixou os documentos de lado e respondeu com um tom leve.
— Se a senhora deseja.
Leone pareceu surpreso com a prontidão de Cesare, mas não pôde evitar arquear as sobrancelhas e sorrir.
— Graças à Arquiduquesa, teremos o privilégio de ouvir uma apresentação rara.
O palácio possuía uma sala dedicada a um magnífico piano de cauda negro, posicionado diante de amplas janelas por onde entrava a luz dourada do sol. O instrumento, banhado em brilho natural, era uma visão deslumbrante.
Cesare ajustou o banco à sua altura e tocou algumas teclas para verificar o som. Enquanto fazia isso, olhou para Eileen.
Perdida em admiração, Eileen voltou finalmente a si. Seu olhar parecia perguntar se ela tinha alguma música em mente. Mas Eileen, mais habituada a questões práticas que a refinamentos culturais, pouco conhecia de repertório pianístico. A única peça de que se lembrava era a usada em suas aulas de dança.
Leone, ao seu lado, veio em seu auxílio.
— Gostei daquela que você tocou da outra vez. Que tal essa?
Eileen mostrou interesse, lançando um olhar esperançoso a Cesare, mas ele não começou de imediato.
Então, inesperadamente, iniciou a melodia. A primeira peça era familiar, aquela que ele tocou durante suas aulas de dança. Ao terminá-la, passou para a que Leone pediu.
A nova peça era diferente de tudo que Eileen já ouvira antes. Começava com uma melodia leve e arejada, mas rapidamente se transformava para algo mais veloz e complexo. Os dedos longos de Cesare se moviam com destreza sobre as teclas, o toque delicado e movimentos fluidos em forte contraste com a imagem do homem empunhando armas e espadas.
Eileen o observou, hipnotizada pela interpretação. Estava completamente fascinada pela beleza da execução.
— Sabe, Cesare nunca foi ruim em nada desde pequeno. Eu não imaginava que tocasse piano tão bem. — comentou Leone, com voz suave, rompendo o encanto da música.
Assustada, Eileen virou a cabeça para a fonte da voz suave que filtrava através da música. Olhos azuis tão diferentes dos de Cesare, brilhavam em um sorriso caloroso.
— Ele realmente é um irmão mais novo perfeito, não é?
Continua…
Tradução: Elisa Erzet