O Marido Malvado - Capítulo 70
As tatuagens de Diego, antes ocultas sob o uniforme, estavam agora expostas sob a luz intensa do sol, criando uma imagem marcante. Sua figura imponente, somada às tatuagens, acrescentava uma camada extra de intimidação à sua presença. Qualquer pessoa que não o conhecesse talvez se afastasse instintivamente se o encontrasse na rua.
Mas não era apenas Diego, todos os cavaleiros de Cesare exalavam um ar de inacessibilidade. Tendo passado a vida como soldados, eram figuras formidáveis, com quem as pessoas comuns não saberiam lidar facilmente.
Eileen também teria ficado assustada, se não os conhecesse desde a infância. Essa familiaridade, no entanto, fazia com que enxergasse a bondade escondida sob suas aparências duras.
Ela sorriu de volta para Diego, que piscou para ela de modo brincalhão.
Incapaz de resistir ao seu gesto, Eileen soltou uma risada suave. Diego, que estava radiante de orgulho com a própria graça, logo retomou uma expressão mais séria. Cesare, observando a interação, deu um sorrisinho antes de voltar à conversa com Diego.
Voltando sua atenção para o pai, Eileen notou que sua expressão tinha ficado ainda mais sombria. Ele enxugou o suor da testa em silêncio com um lenço. Eileen hesitou antes de falar:
— O senhor está trabalhando na fazenda?
Diferente de antes, quando reagia de forma grosseira, o pai permaneceu calado. Diante do silêncio, ela insistiu:
— Como o senhor foi parar lá? Alguém te indicou o emprego?
Mais uma vez, não houve resposta. Embora a preocupação com seu pai devesse ser seu foco principal, outro receio começou a surgir.
‘Então, a casa está vazia agora?’
Sem ninguém para cuidar dela, a propriedade logo se deterioraria. Os pensamentos de Eileen voaram para as laranjeiras do jardim, raras e preciosas, um presente de Cesare. Ela decidiu que, assim que retornasse à residência do Arquiduque, pediria a Sonio que encontrasse um zelador para a casa quanto antes.
Sua preocupação com a casa voltou-se novamente para o pai, que ainda não respondera às suas perguntas. Buscando quebrar o clima, ela comentou suavemente:
— Fico feliz em ver que o senhor parece bem.
— Afff.
Ele resmungou com desdém. Eileen não entendeu o motivo da zombaria, afinal, ele realmente parecia mais saudável. Talvez fosse o novo estilo de vida. Não passava mais os dias deitado ou embriagado. O rosto antes avermelhado e inchado estava mais corado de forma natural, as olheiras haviam desaparecido, e seu olhar mais focado.
‘Talvez trabalhar na fazenda não seja tão ruim assim…’
Guardou o pensamento para si, sabendo que o comentário só o irritaria. Quando estava prestes a falar novamente, o pai murmurou algo:
— Você não faz ideia, não é?
Ele não estava olhando para ela, mas para Cesare, quando falou.
— Sempre foi assim. Eles mantiveram você num jardim de flores, garantindo que não soubesse nada do mundo real.
Mesmo sob o sol do meio-dia, seu olhar continuava fixo em Cesare, antes de lentamente voltar para Eileen. Com um misto de frustração e amargura, acrescentou:
— Sua mãe era igual. Por que vocês duas são tão obcecadas, não, tão enfeitiçadas, por um homem como ele?
Olhou para Eileen como se ela fosse a criatura mais infeliz do mundo. E, com um estalar de língua, concluiu com uma frase inesperada:
— Trabalhar na fazenda é melhor do que morrer.
E voltou ao silêncio. Eileen pensou em repreendê-lo por usar o nome da Arquiduquesa para seu benefício, mas desistiu. Discutir só traria mais desprezo.
Eileen manteve o olhar fixo nos próprios pés, enquanto seu pai soltava risadas amargas ocasionalmente. O silêncio entre os dois parecia se alongar, até que Eileen percebeu que a conversa de Cesare e Diego estava chegando ao fim.
A testa franzida de Diego indicava que a discussão não havia sido fácil. Frustrado, ele passou a mão pelos cabelos de maneira áspera, mas, ao notar o olhar de Eileen, forçou um sorriso.
Observando o sorriso de Diego, Eileen sentiu as palavras de seu pai perfurarem seu coração.
“Sempre foi assim. Eles mantiveram você num jardim de flores, garantindo que não soubesse nada do mundo real.”
Cesare, Diego, os outros cavaleiros, até mesmo Sonio, todos escondiam coisas de Eileen. Mas ela entendia que sempre havia uma razão por trás disso. Tudo era feito por ela, para protegê-la.
Seu olhar caiu sobre a aliança em seu dedo, um símbolo palpável dos sonhos de infância. E, ainda assim, ela às vezes a sentia estranhamente distante.
Embora Cesare desejasse poupá-la da verdade, Eileen pressentia que ele esperava o dia em que ela própria a descobriria.
Ela notou as pétalas espalhadas a seus pés, caídas da árvore próxima, e empurrou uma delas suavemente com o sapato.
Sempre foi assim. Sempre que estava sozinha no palácio, Cesare a levava ao jardim. Lá, Eileen passava as horas encantada com as plantas, sem perceber que, na verdade, estava apenas esperando por ele.
Desde o momento em que Cesare descobriu o amor de Eileen por plantas, ele nunca se esqueceu. O homem se lembrava de detalhes que ela mesma já havia esquecido, garantindo que todas as suas necessidades, quer ela estivesse ciente delas ou não, fossem atendidas.
Eileen havia se acostumado à atenção de Cesare desde a infância. Não achava nada estranho naquilo, embora soubesse que, aos olhos de outros, havia algo peculiar naquele vínculo.
Mesmo agora, sem compreender totalmente a realidade que a cercava, aceitava tudo, convencida de que era para o seu bem.
Uma pessoa comum talvez tivesse percebido que algo estava errado no momento em que notasse uma anomalia na aliança de casamento ou em qualquer outra coisa.
Mas Eileen não conseguia duvidar de Cesare. Criada dentro de seu abraço protetor, ela nunca aprendera a desconfiar, nem temer o homem. Todo o seu mundo existia dentro das muralhas que ele erguera ao redor dela, e fora delas, ela simplesmente não sabia existir.
Enquanto esses pensamentos a envolviam, a conversa entre Cesare e Diego chegou ao fim. Eileen afastou seus pensamentos complicados. Diego fez uma respeitosa saudação e falou.
— Acompanharei o barão de volta, minha senhora.
— Senhor Diego.
Sem pensar, Eileen o chamou. Diego parou, curioso sobre o que ela tinha a dizer, mas a própria Eileen não tinha certeza.
— … Tenha cuidado no caminho. E obrigada por hoje.
No fim, conseguiu apenas uma despedida educada. Diego sorriu, talvez achando suas palavras tímidas, mas inclinou-se novamente antes de se afastar. Seu pai o seguiu a contragosto, com a expressão de quem marchava para a morte.
Sozinha com Cesare, Eileen hesitou antes de perguntar:
— Foi você quem enviou meu pai para a fazenda?
Ela sabia que o pai jamais teria ido por vontade própria. Alguém o havia forçado — e só havia uma pessoa capaz de fazer isso.
Cesare confirmou sem rodeios:
— Quer que eu o traga de volta?
Ela deveria ter exigido de imediato a libertação dele, mas as palavras se prenderam em sua garganta.
Afinal, Cesare só se preocupava com um barão de posição tão baixa porque ele era o pai dela.
Era fácil entender por que Cesare quis afastá-lo, para impedir o pai de explorar o nome da Arquiduquesa para ganho próprio.
‘Talvez ele deva ficar lá um pouco mais… Quem sabe até o ajude a parar de beber.’
Embora tenha sido um pensamento que ela rapidamente descartou, Cesare pareceu lê-lo e o disse por ela:
— Parece que o barão se adaptou bem à vida no campo. Até o gado já se afeiçoou a ele.
As palavras de Cesare, embora ditas com uma fachada de lógica, pareciam quase absurdas, como se dissesse que seria cruel privar o gado de sua nova companhia.
Continua…
Tradução: Elisa Erzet