O Marido Malvado - Capítulo 69
Cesare fez uma pausa, observando em silêncio o Duque Farbellini e Ornella. Sua altura naturalmente lhe conferia uma presença imponente, fazendo-o parecer olhar para eles de cima.
O Palácio Imperial estava repleto de nobres de toda a capital, reunidos para ver a Arquiduquesa Erzet. Enquanto Cesare os observava quietamente no meio da multidão, o Duque Farbellini, incapaz de suportar o silêncio por mais tempo, foi o primeiro a falar
— Vossa Graça, Arquiduque Erzet.
A família Farbellini há muito era reconhecida como uma das principais forças políticas do Império Traon. Como um político experiente, o Duque Farbellini escondia suas emoções por trás de um sorriso cortês.
— Meus parabéns. O sétimo dia finalmente chegou.
A intenção do duque era clara: trocar cumprimentos formais e se retirar com elegância, evitando maiores envolvimentos agora que Cesare havia chegado.
No entanto, Cesare não tinha intenção de deixar o duque sair tão facilmente. Ele deu um passo à frente, trazendo o Barão Elrod, que estava tremendo atrás dele, para o centro das atenções.
Eileen, que lutava para manter a compostura, estremeceu involuntariamente. O duque Farbellini e Ornella também demonstraram surpresa momentânea, seus olhares vacilando.
Era quase inédito um mero barão ser introduzido numa conversa que envolvia um duque, sua filha e um Arquiduque.
— Por favor, cumprimentem-se. — Disse Cesare com um sorriso torto.
O duque Farbellini, claramente surpreso, disfarçou o desconforto e estendeu a mão para o Barão Elrod para um aperto de mão.
Em circunstâncias normais, o Barão Elrod jamais teria a oportunidade de sequer conhecer alguém do status do Duque. Agora, estavam frente a frente, apertando as mãos como se fossem iguais. Foi um duro golpe para o orgulho do Duque Farbellini, que sempre vivera com um senso de superioridade nobre.
Como o Barão Elrod era pai da Arquiduquesa Erzet, e Cesare havia sugerido pessoalmente a apresentação, recusar o aperto seria embaraçoso. Assim, o Duque cedeu com relutância.
Eileen observou nervosamente o olhar frio do duque Farbellini enquanto ele apertava a mão de seu pai. Apesar de seu evidente desconforto, o Barão Elrod conseguiu completar o gesto.
Ornella parecia prestes a falar, mas foi contida pelo Duque Farbellini, que pousou uma mão em seu braço. Com um leve sorriso, se dirigiu a Cesare:
— Não imaginei que Vossa Graça valorizasse tanto sua esposa.
Cesare respondeu à provocação com indiferença casual:
— Dizem que um homem é capaz de vender seu próprio país quando está perdidamente apaixonado.
A multidão suspirou chocada. Uma declaração tão audaz, vinda de um nobre, era, ao mesmo tempo, escandalosa em sua intensidade, surpreendentemente romântica.
Cesare, o único em uniforme entre os cavalheiros de trajes formais, parecia ainda mais imponente. Sua declaração aberta de amor provocou rubor e suspiros discretos entre as damas e nobres presentes.
Aqueles fascinados por fofocas e romances pareciam se deleitar com a cena dramática que se desenrolava diante deles. O Duque Farbellini, colocado no papel de vilão, enrijeceu sob o olhar de Cesare.
O Arquiduque o fitava de cima com visível satisfação e continuou:
— Ultimamente têm circulado rumores na capital de que enlouqueci. Parece que o senhor demorou para ficar sabendo, duque.
— … Vossa Graça, Arquiduque Erzet, por que diria algo assim?
— Porque é verdade. Então não se preocupe com isso.
A admissão de loucura por parte de Cesare deixou o duque Farbellini sem resposta. Enquanto o Duque hesitava, Cesare fez uma leve e deliberada reverência.
A proximidade repentina fez o duque Farbellini recuar instintivamente. Embora fosse apenas por reflexo, o gesto foi humilhante e o deixou trêmulo, seus olhos revelando seu desconforto.
A expressão de Cesare permaneceu impassível enquanto o encarava fixamente. Eileen sentiu como se estivesse sendo repreendida e prendeu a respiração.
Os vívidos olhos vermelhos pareciam ameaçar qualquer um que os encarasse. Não é novidade que seu olhar intenso não era meramente um efeito dramático, mas uma genuína fonte de desconforto para a maioria das pessoas, que lutavam para manter o contato visual.
Embora o duque Farbellini tentasse manter a compostura, o leve tremor em seus dedos o traía. Após alguns segundos de tensão, Cesare finalmente falou:
— Agradeço suas felicitações, duque.
Ele ofereceu um sorriso torto, como se estivesse zombando do duque tenso, antes de concluir o breve encontro.
— Espero que continue a abençoar nosso casamento no futuro.
Foi uma ameaça velada. Antes que o duque pudesse responder, Cesare virou e se afastou.
Eileen o seguiu, lançando um olhar para trás — viu o duque e Ornella encarando-os com fúria, enquanto Diego tentava amparar seu pai, ainda atordoado.
Aliviada por ver que o pai estava bem, Eileen voltou a atenção para Ornella.
— Eileen! — chamou Ornella, a voz clara e vibrante.
Com um sorriso radiante, como se brincasse com uma amiga, falou como se o olhar de raiva anterior nunca tivesse existido:
— Estou ansiosa pelo convite para o chá!
Até Eileen, geralmente desatenta a sutilezas, compreendeu a intenção. Mencionar o chá em público era uma forma de torná-lo inevitável, forçando-a a se envolver com o círculo social de Ornella.
No entanto, Ornella não sabia que Eileen já havia incluído seu nome na lista de convidadas.
Cesare parou por um momento, e Eileen respirou fundo, discretamente. Correspondendo ao sorriso de Ornella, respondeu com doçura:
— Claro. Já preparei o convite.
Assim como Ornella havia dispensado as formalidades, Eileen também o fez:
— Por favor, certifique-se de vir, Ornella.
Os olhos de Ornella se arregalaram, surpresa por ser tratada de forma tão familiar, mas logo suavizaram em um sorriso doce como sorvete derretendo: 🤢🤢
— Estarei esperando.
Eileen se virou rapidamente, apertando com força a mão de Cesare. Sua resposta havia sido calculada, e ela não confiava em si para continuar a conversa.
Cesare riu baixinho e retomou a caminhada com Eileen, sussurrando enquanto andavam.
— Vamos para um lugar mais tranquilo?
Com o coração ainda acelerado pelo confronto, Eileen levou a mão ao peito e assentiu depressa:
— Sim…!
A caminhada para um lugar mais tranquilo se mostrou desafiadora, com pessoas continuamente se aproximando. Algumas não podiam ser ignoradas, então Eileen e Cesare tiveram que trocar cumprimentos e se envolver em breves conversas.
Eileen sentiu um genuíno alívio quando encontraram o Conde Domenico. Ele a avistou de longe e se apressou em sua direção, quase tropeçando em seu entusiasmo.
Sua recepção calorosa e entusiasmada era tão afetuosa que, sem querer, Eileen não pôde evitar pensar nele como um cachorro grande e dócil.
O encontro com alguém tão amigável deixou Eileen à vontade, permitindo que ela interagisse com os outros com mais conforto.
Finalmente, eles chegaram a uma área isolada no jardim, onde Cesare posicionou Eileen sob uma grande árvore florida.
— Espere aqui um momento.
Cesare então acenou para Diego, que prontamente trouxe seu pai para ficar com ela antes de retornar ao lado de Cesare.
O homem ficou a uma distância respeitosa, garantindo que Eileen e seu pai estivessem à vista, mas fora do alcance de serem ouvidos, e começou a conversar com Diego.
Eileen se virou para o pai, um tanto constrangida. Fazia apenas uma semana desde que o vira pela última vez, logo após o casamento, mas parecia que meses haviam se passado.
— Pai, como o senhor está…?
Antes que terminasse a frase, ele se inclinou e sussurrou, aflito:
— Me ajude, Eileen.
Eileen piscou, surpresa com o pedido inesperado. O pai, enxugando o suor frio da testa com um lenço, a fitava com olhos arregalados e desesperados.
— Foi você que me mandou para a fazenda?
— Fazenda?
— Sim! Estou numa fazenda agora, ordenhando vacas!
— Vacas…?
Eileen mal podia compreender o que ouvia. A imagem do pai, acostumado a uma vida de bebida e jogos, agora ordenhando vacas era absurda demais para assimilar.
Justamente quando ela ia pressionar por mais detalhes, seu pai ficou mudo, seu choque era evidente.
Diego os observava atentamente. Tinha tirado o terno do uniforme e o apoiara sobre o ombro, revelando antebraços tatuados sob as mangas arregaçadas da camisa. Quando seus olhares se cruzaram, Diego ofereceu a Eileen um sorriso silencioso e enigmático.
Continua…
Tradução Elisa Erzet