O Marido Malvado - Capítulo 68
O Barão Elrod andava bastante satisfeito ultimamente.
Apesar de sua casa ter mergulhado no caos e na ruína financeira, trazendo longos dias de miséria, seu ânimo fora inesperadamente restaurado pela ascensão extraordinária da filha ao posto de Arquiduquesa. Parecia uma dádiva dos céus. O Barão estava eufórico com a perspectiva de aproveitar o novo título de Eileen para obter vantagens, sonhando com os benefícios que isso traria.
No entanto, como pai da Arquiduquesa, ele sabia que precisaria manter um certo nível de dignidade. Assim, resolveu adquirir riqueza de maneira mais sutil do que antes. Mesmo antes do casamento, visitantes já haviam começado a chegar — trazendo bebidas e cobrindo-o de bajulações.
Ele imaginava um futuro em que jamais precisará fazer esforço algum, outros se encarregariam de lhe prover riquezas. Tudo o que teria de fazer era se divertir, assim era o que pensava.
Mas o sonho dourado do Barão Elrod começou a desmoronar no dia seguinte ao casamento.
Logo ao amanhecer, uma batida seca na porta o fez estremecer. Ao abri-la, se deparou com um homem imponente. Seus olhos se arregalaram de terror ao reconhecê-lo. Com metade do rosto marcado por cicatrizes de queimaduras, o visitante era alguém que o Barão conhecia bem.
— S-Senhor Lotan…? — gaguejou o barão.
— Bom dia, barão.
Instintivamente, o Barão Elrod recuou, sentindo as pernas fraquejarem. O homem diante dele era um dos guardas pessoais do Arquiduque Erzet.
Os quatro cavaleiros escolhidos e treinados pelo próprio Arquiduque eram absolutamente leais. Sua devoção era tamanha que obedeceriam a qualquer ordem, mesmo que isso custasse a própria vida.
Eram homens forjados em batalha — e, por isso, conhecidos por sua natureza impiedosa.
Certa vez, haviam forçado o Barão Elrod a sentar-se numa câmara de tortura e assistir a um homem sendo esfolado vivo diante de seus olhos.
(Elisa: Essa cena aqui se refere lá no início quando a Eileen está procurando o pai, o Cesare pegou esse saco de lixo para dar um aviso por tentar chantagear ele e vender a Eileen. O perfeito dessa novel é que tudo que o Cesare faz é muito bem explicado, por isso tem que ser bem atento a mínimos detalhes.)
O Barão Elrod, preso naquele inferno, foi compelido a suportar a cena horripilante por horas. Por fim, foi até mesmo forçado a sentar-se na cadeira onde a vítima estivera amarrada. Só de recordar aquele dia, se encheu de um terror tão profundo que sua visão pareceu escurecer.
Recordava do sangue quente e pegajoso em suas palmas, pernas e costas, e do fedor metálico e sufocante que parecia queimar os pulmões.
Enquanto essas memórias ressurgiam involuntariamente, o Barão Elrod forçou um sorriso pálido e trêmulo.
— A que devo a honra da visita…?
Não havia motivo algum para um dos cavaleiros do Arquiduque ir até uma casa onde Eileen já não morava. O pressentimento ruim o dominou — e, infelizmente, estava certo.
— O senhor deve vir comigo.
Lotan o agarrou pelo braço e arrastou para fora, sem explicações. O barão foi empurrado para dentro de um veículo militar, incapaz de sequer perguntar para onde estavam indo. Embora se tratasse, efetivamente, de um sequestro, o Barão Elrod só pôde tremer em silêncio durante todo o percurso.
Eles chegaram a um rancho a cerca de uma hora de viagem da capital. Este local tranquilo, administrado por um casal de idosos e seu filho, era cercado por planícies abertas.
— O senhor ficará aqui a partir de agora. — declarou Lotan.
A pequena casa anexa ao rancho seria sua nova morada.
O Barão Elrod congelou, seus olhos arregalados pelo terror de quem acabara de ouvir uma sentença de morte. Quis protestar, mas estava amedrontado demais pela presença imponente do homem diante dele.
Lotan lançou-lhe um olhar e emitiu um aviso claro.
— Não tente nada tolo.
A partir daquele dia, o Barão Elrod foi obrigado a trabalhar no rancho. Carregava fardos de feno, ordenhava vacas e tentava compreender como a vida o reduzira à condição de simples camponês. Era impossível conciliar a imagem de sua antiga vida de luxo com a dura realidade que agora o cercava.
Incapaz de suportar a ideia de permanecer em um lugar desprovido de álcool, mulheres e cassinos, o Barão Elrod buscou desesperadamente uma rota de fuga. No entanto, o casal de idosos e seu filho mantinham uma vigilância atenta sobre ele, e soldados patrulhavam os arredores, tornando a fuga impossível.
Até que, certo dia, enquanto trabalhava sob o sol escaldante, foi novamente levado, sem aviso, num veículo militar — tão abruptamente quanto havia chegado.
Tremendo de medo e certo de que seria executado, seus olhos se arregalaram ao reconhecer as paisagens familiares da capital.
Uma vez de volta à capital, ele teve a oportunidade de tomar banho e vestir roupas novas e elegantes. Embora apreciasse à sensação de recuperar à aparência nobre, estava igualmente ansioso, sem saber o que estava acontecendo.
— Como tem passado? — perguntou o Arquiduque Erzet.
— V-Vossa Graça, o Arquiduque, — gaguejou o Barão Elrod.
Suando frio, fez uma reverência profunda. Diante dele, o Arquiduque Erzet trajando o uniforme do exército imperial, permanecia deslumbrante como sempre, sua beleza beirando o sobrenatural.
As íris vermelho-sangue do Arquiduque percorreram o barão, que fora meticulosamente preparado para aquela ocasião. O peso daquele olhar carmesim fez suas pernas vacilarem tremendo miseravelmente.
Com um leve sorriso, Cesare observou o homem lamentável à sua frente. Não fez qualquer tentativa de explicar o banimento abrupto ao rancho ou as condições para a soltura do barão. Em vez disso, deixou claro o propósito de sua presença ali.
— Hoje é o dia em que Eileen assume oficialmente o nome Erzet.
— A-ah! Já se passou tanto tempo…?
O barão sabia que fazia sete dias desde o casamento, mas havia esquecido completamente que aquele era o dia em que Eileen adotaria formalmente o sobrenome do marido. Passara a semana inteira obcecado com planos de fuga do rancho, sem pensar em mais nada.
— É uma ocasião alegre. — prosseguiu Cesare. — Portanto, seu pai naturalmente deve estar presente para parabenizá-la.
O barão assentiu freneticamente, com as mãos trêmulas, e seguiu o Arquiduque. Quando deu por si, já estavam no Palácio Imperial.
🌸🌸🌸
Ver o pai no Palácio Imperial parecia um sonho para Eileen — ou talvez um pesadelo.
Ela planejava visitá-lo pessoalmente para emitir outro aviso severo, mas jamais imaginara que ele apareceria por vontade própria.
Provavelmente Cesare deve tê-lo buscado…
Eileen encarou o pai, que parecia prestes a desmoronar, antes de voltar os olhos para Cesare. O homem a fitava com um sorriso tênue e enigmático. Com suas longas pernas cobrindo a distância rapidamente, ele alcançou Eileen em poucos passos.
O homem primeiro puxou Eileen para seu abraço, envolvendo os braços em sua cintura. Sem hesitar, inclinou a cabeça e beijou sua bochecha.
Um murmúrio coletivo ecoou pela multidão. O gesto de afeto do Arquiduque foi suficiente para prender a atenção de todos os presentes.
Acostumado aos olhares, Cesare ignorou completamente o burburinho. Ele sorriu calorosamente enquanto olhava para Eileen.
— Minha esposa finalmente chegou.
Surpresa com o abraço e o beijo, Eileen levou um instante para reagir. Depois, um leve sorriso desenhou em seus lábios.
Em seus braços, tudo parecia em ordem. A ansiedade e o desconforto que a atormentavam pareciam se dissolver. Tudo o que importava era a presença de Cesare.
Ainda que desejasse permanecer em seus braços, afastou-se devagar, fingindo ajeitar o cabelo para esconder o leve rubor que subia às orelhas.
— Obrigada por vir me buscar — disse ela, voltando-se primeiro para Cesare, depois para o pai.
O Barão Elrod olhou para Eileen com uma mistura de surpresa e incredulidade, como se lutasse para reconhecer a própria filha.
Acostumado a vê-la de cabelos desgrenhados com uma franja pesada e óculos grossos, mal podia acreditar que aquela mulher elegante era a mesma Eileen de outrora. Mesmo sem esperar por sua presença, Eileen o agradeceu com serenidade, como se tudo tivesse sido planejado.
Ao vê-la agir assim, um lampejo de divertimento brilhou nos olhos de Cesare. Seu sorriso deixava claro que achava a cena encantadora.
‘Será que minha atuação foi tão ruim assim?’— pensou Eileen, tentando disfarçar o nervosismo.
Eileen tentou o seu melhor, mas parecia que sua performance não fora totalmente convincente. Enquanto lançava um olhar nervoso a Cesare, ele apertou sua mão com leveza e segurança, um gesto silencioso de aprovação, reconhecendo silenciosamente seu esforço.
Finalmente, ele voltou sua atenção para o Duque Farbellini e Ornella, que, até aquele momento, haviam sido completamente ignorados.
Continua…
Tradução: Elisa Erzet