O Marido Malvado - Capítulo 67
Uma semana havia se passado desde o casamento do Arquiduque e da Arquiduquesa Erzet, mas as manchetes dos jornais e revistas ainda eram dominadas por histórias sobre o casal.
A edição de hoje trazia um artigo aprofundado que analisava a figura da Arquiduquesa Erzet. O texto exaltava sua beleza e descrevia o casal como um par perfeito, unido pelos deuses. Após páginas de elogios extravagantes, o artigo concluía com uma afirmação provocante:
[… Foi, de fato, o dia em que nasceu o verdadeiro Lírio de Traon. Aguardamos, com grande expectativa, o reinado da Arquiduquesa Erzet sobre os círculos sociais da capital.]
As mãos de Ornella tremiam enquanto segurava a revista. Depois de reler as últimas linhas repetidamente, forçou um sorriso, mas não conseguiu conter sua frustração por mais tempo. Com um movimento brusco, atirou a revista para longe.
A memória do casamento a atormentava. Eileen Elrod, que sempre fingira ser tão simplória e despretensiosa, havia se arrumado de forma deslumbrante para ofuscá-la naquele dia. O momento mais doloroso foi quando a atenção de todos se desviou dela para aquela mulher. Era uma memória impossível de apagar.
— Acalme-se.
O Duque Farbellini, sentado à frente de Ornella, falou com suavidade, tentando acalmar a filha. Sua voz era deliberadamente bondosa ao se dirigir à sua respiração ofegante.
— Há mesmo motivo para se irritar com algo tão banal? Isso é apenas o entusiasmo do momento. Assim que a empolgação passar, as pessoas voltarão a admirá-la como sempre.
Ele sinalizou a um criado para apanhar a revista descartada e, acendendo um charuto, acrescentou com um toque de indiferença:
— Que importância tem ser o Lírio de Traon? O que realmente me importa é a sua felicidade.
Ornella lançou ao pai um olhar furioso, os olhos avermelhados. Ao perceber aquele olhar, o duque suspirou, contrariado. Sua única filha, de temperamento normalmente dócil, perdia completamente a razão quando tomada pela ira — exatamente como a mãe.
— … Foi o Senhor quem quis isto.
Ela começou a tremer violentamente, dominada pela fúria. Seu corpo estremecia incontrolavelmente enquanto gritava:
— O senhor queria que eu fosse uma filha de quem pudesse se orgulhar mais do que de um filho! A mulher mais nobre de todo o Império!
O Duque arqueou uma sobrancelha quando a voz dela soou, aguda e quase estridente. Ele segurou o charuto entre os lábios e franziu profundamente a testa antes de o colocar no cinzeiro.
— Foi apenas o meu desejo? Você também queria isso, Ornella.
Apesar da frieza das palavras, havia um traço de afeição no olhar do duque ao encarar a filha rebelde.
— Acalme-se. Esse seu temperamento…
A repreensão, embora suavizada pelo carinho de um pai, estava impregnada de suas próprias expectativas. Para o duque Farbellini, a felicidade da filha só podia existir dentro dos limites que ele mesmo impunha.
Se Ornella alguma vez declarasse o desejo de casar com um poeta de rua, o Duque Farbellini seria o primeiro a intervir, garantindo que esse homem encontrasse um fim prematuro.
A hipocrisia do pai, falando sobre a sua felicidade, enojava Ornella. Enquanto tentava recuperar o fôlego, a fúria que a consumira pouco antes começou a se dissipar.
Passando os dedos pelos cabelos desalinhados, Ornella respirou fundo e falou, ainda trêmula:
— … Eu disse tantas vezes que deveria me casar com o Arquiduque Erzet, e não com o Imperador.
O duque suspirou.
— Mesmo sendo o duque Farbellini, eu não poderia obrigar o Arquiduque a se casar com você se ele não quisesse. E, naquela época, aquele homem estava à beira da morte. Como poderia colocá-la numa situação dessas?
Num movimento súbito e desafiador, Ornella arrancou o charuto do cinzeiro e tragou profundamente. O Duque, observando sua filha bufar furiosamente, mostrou um traço de diversão. O rosto dela corou de raiva e frustração enquanto soltava a fumaça e retrucava:
— Mas veja a situação agora. Eu estava certa, não estava?
Ela tinha certeza de que aquele homem alcançaria o posto mais alto — uma convicção moldada por anos reinando como a rainha dos salões.
Mas foi forçada a tomar uma decisão errada, e agora pagava o preço. Em vez de ser celebrada como Imperatriz, era a Arquiduquesa Erzet quem monopolizava toda a atenção.
Mesmo que viesse a ser Imperatriz, seria apenas no título. O amor e a admiração do povo do Império pertenceriam claramente à Arquiduquesa Erzet. Assim como aconteceu com Leone, cuja glória fora sempre ofuscada por seu irmão gêmeo.
Ao pensar no miserável Imperador, Ornella cerrou os dentes mais uma vez. O duque acendeu outro charuto e disse:
— Ainda assim, nada está decidido. Afinal, ele é apenas um Arquiduque, não um Imperador.
Repetindo as palavras do pai com ironia amarga, Ornella soltou uma risada breve:
— Um Arquiduque, que poderia se tornar Imperador a qualquer momento?
— Você acha que o seu pai permitiria que isso acontecesse?
O Duque, segurando um cortador na ponta do charuto, falou com um ar de indiferença e desdém.
— Sua Majestade também tem suas ambições, Ornella. Ouvi dizer que a Arquiduquesa Erzet vai realizar um chá hoje. Faça o que sempre faz.
Com um movimento rápido, cortou a ponta do charuto. O fragmento caiu sobre a mesa. Segurando a lâmina como se fosse uma guilhotina, o duque sorriu para a filha amada e acrescentou:
— Deixe a limpeza por minha conta.🤨🤨
🌸🌸🌸🌸
Era a primeira aparição pública oficial de Eileen como Arquiduquesa Erzet, e toda a equipe do palácio se empenhava ao máximo em prepará-la.
Apresentaram uma variedade de joias e vestidos, perguntando pelas suas preferências. Para Eileen — que só havia se vestido com luxo uma única vez, no dia do casamento —, tudo aquilo era avassalador.
Sem experiência no mundo da moda, decidiu confiar plenamente na equipe, deixando que escolhessem e a vestissem como achassem melhor. O resultado foi deslumbrante.
O vestido, confeccionado pelo mesmo ateliê responsável por seu vestido de noiva, foi fruto de uma colaboração entre três das melhores butiques.
Eileen acreditava que os elogios recebidos no casamento eram apenas cortesia, mas as donas dos ateliês realmente desejavam que ela exibisse suas criações.
O vestido, adornado com rendas e fitas delicadas, era tão luxuoso que quase a intimidava. A seda de alta qualidade cintilava de forma tão brilhante que Eileen se movia com extremo cuidado, receosa de danificar
a peça tão requintada.
Descendo as escadas com cuidado, segurando a barra do vestido como se carregasse algo vivo e frágil, foi recebida no hall por Diego — que, conversando com Sonio, arregalou os olhos de espanto e aplaudiu:
— Uau, minha senhora, você parece uma fada!
Pouco acostumada a receber elogios, ela corou e respondeu com timidez:
— Obrigada, Sr Diego.
Diego, autor do comentário galante, seria seu acompanhante designado naquele dia. Embora fosse um homem de grande utilidade em outras funções, Eileen se sentiu grata pela escolha. Era reconfortante ter Diego ao seu lado em sua estreia oficial como Arquiduquesa Erzet.
— Está tão deslumbrante, todos ficarão sem palavras.
Diego cobriu Eileen de elogios, aumentando a sua confiança, enquanto Sonio tentou descontrair o ambiente com uma piada gentil, apesar da sua evidente preocupação.
— Quando voltar, quero ouvir cada detalhe dessa grande aventura.
Graças ao incentivo dos dois, Eileen conseguiu relaxar um pouco. Com Sonio se despedindo à porta, ela embarcou na carruagem com Diego, e partiram rumo ao Palácio Imperial.
Ao contrário da sua visita anterior, em que utilizara a passagem privada reservada à realeza, hoje precisaria entrar pela entrada pública oficial, como exigia a formalidade da ocasião.
Quando Eileen saiu da carruagem, guiada por Diego, foi recebida por uma multidão de olhares curiosos. Diego emitiu um som de reprovação e murmurou entre os dentes:
— Minha nossa, parece um enxame de abelhas.
E a palavra “enxame” mal descrevia o número de pessoas. Havia mais gente ali do que nos grandes bailes do palácio.
Pálida de nervosismo, Eileen seguiu os passos de Diego com hesitação. Ele, atento, ajeitou discretamente a barra do vestido e sussurrou:
— Estão todos aqui apenas para te ver, minha senhora.
Muitos nobres que não haviam sido convidados para o casamento vieram apenas para vislumbrar a nova Arquiduquesa. Era difícil para Eileen acreditar que tanta gente se reunira por sua causa.
Graças à presença firme de Diego, ninguém se atreveu a se aproximar demais. Mas, de repente, ela se viu diante de alguém que preferia não encontrar.
— Eileen!
Uma voz feminina, alegre e familiar, ecoou. Uma mulher de longos cabelos loiros platinados se aproximava com um sorriso radiante. Era Ornella. Aproximando-se, ela a abraçou efusivamente.
— Senti tanto a sua falta! Como tem passado?
Para qualquer observador, pareceria uma reunião comovente entre velhas amigas. Eileen ficou ali, momentaneamente atordoada com a inesperada demonstração de afeto, enquanto Ornella continuava com o seu tom amável.
— Este é o meu pai.
Sorrindo, tocou o braço do homem ao seu lado — um nobre de meia-idade, de olhos verdes tão intensos quanto os de Ornella, embora ligeiramente mais escuros.
— É uma honra conhecê-la. Sou o duque Farbellini, Assef von Farbellini. Te vi apenas de longe no casamento, é a primeira vez que nos encontramos pessoalmente.
— A honra é toda minha, vossa graça. — respondeu Eileen, com a voz um tanto trêmula.
O duque retribuiu o sorriso, mas seu olhar, frio e avaliador, a fez estremecer. Um calafrio percorreu sua espinha, e ela precisou reunir toda a força para se manter firme.
Foi então que Ornella, fingindo surpresa, comentou:
— Ora, agora que vejo… o barão Elrod ainda não chegou? — perguntou num tom impregnado de sarcasmo. — Certamente ele não perderia um dia tão alegre.
Eileen entendeu a provocação: Ornella estava exibindo algo que ela jamais teria.
Enquanto Eileen lutava para encontrar uma resposta, Diego, que estava quieto atrás dela, puxou gentilmente o tecido do vestido, chamando sua atenção para outro lugar. Seguindo o seu olhar, Eileen viu um homem abrindo caminho pela multidão, agora silenciada.
Era Cesare — vindo ao seu encontro.
Mas ele não estava sozinho. Ao seu lado estava o barão Elrod, seu pai, com o rosto pálido e suando frio.
🌸🌸🌸🌸🌸
(NT/Elisa: Explicando Grão-Duque e Arquiduque.
Em coreano moderno, ambos acabam sendo traduzidos como»“대공”« (Daegong), porque:
“Arquiduque” literalmente seria “super duque” (prefixo Arqui- = “supremo”).
“Grão-Duque” é “grande duque” (prefixo Grão = “grande”).
Em coreano, os dois prefixos (Arqui/Grão) se condensam semanticamente em ⟨대⟩ (Dae), que significa “Supremo / Grande”.
⟨공⟩ (gong) significa “duque”.
E, por que eu sei que os dois personagens são ARQUIDUQUE e não GRÃO-DUQUE? Porque Cesare é um Príncipe (Príncipe Herdeiro) que abdicou do trono e do Título. Ele tem sangue Real de linhagem direta do Imperador. Dito isso, ARQUIDUQUE está abaixo apenas do Imperador. E somente um sangue de linhagem direta recebe tal título.
Continua…
Tradução Elisa Erzet