O Marido Malvado - Capítulo 17
Eileen ficou mais surpresa com o som do disparo da arma de Michelle. Instintivamente, pressionou as mãos contra o peito, enquanto o estrondo súbito fazia seu coração disparar descontroladamente.
Michelle soprou o cano da arma ainda fumegante e lançou um olhar triunfante para Eileen, seus olhos buscando aprovação. Infelizmente para ela, Eileen, completamente abalada, só conseguiu segurar a maçaneta da porta, com os pensamentos dispersos.
— Eileen!
No meio da multidão, uma mulher avançou apressada, seu xale escorregando dos ombros e revelando uma cascata de lindos cabelos loiros, deslumbrantes, que brilhavam como pó de ouro à luz do sol.
— L-Lena?
Eileen gaguejou, surpresa, chamando-a por seu pseudônimo. Observou maravilhada enquanto Malena lidava com facilidade com os soldados que bloqueavam seu caminho, usando apenas suas mãos delicadas.
— Tenho autorização de Sua Graça, o Arquiduque, para passar! E também sou conhecida de Eileen!
Eileen correu até Michelle, que estava no jardim.
— Madame Michelle! Ela é minha conhecida. Por favor, deixe-a entrar.
— Claro, permitirei sua entrada. Precisa de mais alguma coisa?
O sorriso de Michelle permaneceu inalterado, como se o caos não a afetasse. Essa serenidade deixou Eileen ainda mais confusa, perguntando-se como Michelle podia agir como se nada tivesse acontecido.
— As compras… eu ia sair para pegar—
— Tudo bem! Vou fazer as compras. Deixe isso comigo.
Michelle trocou a sacola de compras por um punhado de chocolates, colocando-os nas mãos de Eileen.
— Eu cuido de comprar algo gostoso. Você entra e passa um tempo com sua amiga.
Eileen se viu gentilmente conduzida de volta para dentro de casa, ao lado de Malena.
— …
Com um clique, a porta se fechou atrás delas, envolvendo o corredor em silêncio. Após alguns instantes, Eileen quebrou o silêncio com um cumprimento tímido.
— Bom dia, Lena.
Marlena respondeu secamente:
— Apenas me chame de Marlena. Agora você sabe de tudo.
— Ah, Marlena…
Eileen repetiu suavemente, oferecendo um sorriso simpático. A fachada orgulhosa de Marlena vacilou, sua expressão prestes a se desfazer em lágrimas. Era comovente ver sua vulnerabilidade contrastando com sua postura normalmente confiante. Colocando a mão no antebraço de Marlena, Eileen perguntou gentilmente:
— Como você chegou aqui? Está acontecendo algo, não está?
— Claro que está. Eu trouxe para você ver com seus próprios olhos!
Marlena respondeu, estendendo um jornal para Eileen. A manchete, impressa em letras enormes, chamou imediatamente sua atenção:
[O CASAMENTO DO ARQUIDUQUE… A NOIVA É EILEEN ELROD?!]
— Hã…?
Eileen emitiu um som de perplexidade. Tinha ouvido fragmentos de conversa lá fora sobre casamento, mas as vozes se misturavam, impossibilitando entender os detalhes.
— Então é verdade? — Marlena perguntou ansiosa. — Você vai mesmo se casar com o Arquiduque Erzet, Eileen?
Eileen olhou para Marlena por um momento antes de responder, com um leve atraso:
— Sim…
Era verdade.
Ontem, ela havia se encontrado com Cesare na residência do Arquiduque, segundo as palavras dele, concordara com o casamento.
No entanto, não esperava que a notícia do casamento saísse estampada no jornal do dia seguinte — e de forma tão grandiosa.
Após o recente movimento de reforma, os jornais estavam saturados de artigos sobre o Arquiduque Erzet. Embora o La Beretta fosse mais comedido, a imprensa sensacionalista estava em frenesi, relatando cada detalhe da vida do Arquiduque, desde suas roupas até seu perfume favorito, passando por suas preferências culinárias.
Chegaram a dedicar uma matéria especial sobre o hobby de Cesare de tocar piano.
Apesar dessa intensa atenção à vida privada do Arquiduque, havia uma ausência notável de qualquer menção a Eileen nos artigos, mesmo com o conhecimento generalizado do afeto do Arquiduque pela filha de sua babá.
Parecia que uma mão invisível controlava os jornais, mantendo Eileen fora do foco. Nenhum jornalista a importunava para entrevistas.
Mesmo durante incidentes recentes de grande repercussão, como o “Caso do Lírio” e o “Banquete Sangrento” na Cerimônia da Vitória, onde o envolvimento do Arquiduque foi relatado, a conexão de Eileen como amada de Cesare permaneceu oculta.
Os jornalistas, normalmente obstinados, evitavam abordar Eileen por medo do Arquiduque. Mas hoje, Cesare anunciou com ousadia seu casamento ao Império, revelando ao mundo a existência de Eileen.
Enquanto lia repetidamente a palavra “casamento” no jornal, Eileen sentiu o peso da situação cair sobre si. Percebeu que não havia para onde fugir.
Ela realmente ia se casar com Cesare.
— Me dê sua mão.
Eileen, saindo de seu transe, voltou à realidade ao ouvir a voz irritada. Instintivamente estendeu a mão direita, mas Marlena, visivelmente frustrada, exigiu a esquerda, batendo no peito em sinal de impaciência. Eileen trocou rapidamente de mão e a estendeu.
Marlena inclinou a cabeça para trás, inspecionando o quarto dedo da mão esquerda de Eileen. Fechou os olhos com força, tentando conter a raiva. Quando os abriu novamente e olhou para Eileen, seu olhar era feroz como o de uma leoa.
— Ele não te deu um anel?
— Ah, isso…— Eileen respondeu timidamente, se encolhendo.— Não ganhei um…
— Ele é o Arquiduque, pode comprar quantos anéis quiser!
Ela estava furiosa, perguntando por que Eileen não havia recebido nem mesmo um anel de noivado do Arquiduque, que poderia muito bem ter dado um anel de diamante grande o suficiente para todos os dedos.
Eileen acalmou Marlena olhando de soslaio para o quarto onde estaria seu pai.
— Marlena, você pode falar mais baixo, por favor?
— Ah, desculpe. Esqueci dos repórteres lá fora.
Embora os repórteres não pudessem ser ouvidos no jardim, Eileen preferiu não corrigir o mal-entendido, preocupada com a reputação terrível do pai.
— Eileen. Não, senhorita Elrod — Marlena a chamou formalmente, fazendo Eileen acenar com a mão em recusa.
— Está tudo bem, me chame pelo nome. — Eileen insistiu.
— … Eu não sabia que você era uma nobre. E certamente não esperava que fosse alguém que o Arquiduque estimasse tanto.
— Eu também não sabia que Marlena era uma dançarina.
Marlena deu uma risadinha, quase como um suspiro, e Eileen não conseguiu evitar acompanhá-la.
Entre os clientes de Eileen, Marlena ocupava um lugar especial.
Na sua primeira visita ao laboratório de Eileen, Marlena sofria complicações após um aborto. Apesar disso, brincava com leveza sobre o sangramento constante, demonstrando uma combinação única de humor e resistência.
“Ouvi falar do seu talento. Você tem uma poção que faça a morte parecer bonita e sem dor? Pagarei o que for preciso.”
“— ?”
Marlena dissera, jogando uma bolsa pesada de moedas de ouro sobre a mesa, que pareciam infinitas ao se espalharem.
Eileen olhara brevemente para o ouro, pegando apenas uma moeda antes de reorganizar silenciosamente a bolsa e devolvê-la. Com naturalidade, perguntou:
“Gosta de chocolate quente? Porque é tudo que eu tenho para beber.”
Rapidamente preparou uma xícara e a entregou a Marlena, que a encarou, surpresa. No entanto, encontrou conforto no calor das mãos de Eileen e no doce aroma da bebida, o que a levou a tomar um gole.
“Farei o remédio que deseja. Mas vai levar tempo.”
“Quanto tempo?”
“Hmm… Cerca de um mês. Mas você precisa vir aqui a cada três ou quatro dias para exames.”
Eileen explicou o tempo e esforço necessários para criar uma poção feita sob medida para Marlena. Ao recolher a xícara vazia, ofereceu um lembrete:
“E não se esqueça de procurar um médico para cuidar direito da sua saúde.”
Ela destacou a importância de manter-se saudável para garantir um fim gracioso, uma ideia que Marlena, para sua própria surpresa, se viu inclinada a aceitar. Refletindo depois, parecera absurdo, mas naquele momento vulnerável, sua mente fora persuadida pela convicção de Eileen.
Marlena seguira diligentemente os conselhos, mantendo sua saúde com visitas regulares ao médico e idas semanais ao laboratório. Em cada visita, Eileen rapidamente avaliava sua condição antes de oferecer lanches deliciosos.
Impressionada, Marlena decidiu retribuir, trazendo uma variedade de doces requintados – desde bolos de famosas confeitarias até balas exóticas importadas, ela não poupava esforços para encontrar os melhores doces.
A alegria de Eileen a cada nova guloseima era evidente, suas reações lembravam a felicidade de uma criança. Marlena achava aquilo adorável. Mas não conseguia deixar de se perguntar: mesmo com a profissão simples de Eileen, ela parecia muito acostumada a tais luxos.
O pensamento passou por sua mente: ‘Será que você gasta todo o seu dinheiro só com lanches?’
Continua…
Tradução Elisa Erzet