No c* da Cobra - Capítulo 32
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Benedict ergueu a xícara, com movimentos elegantes e contidos. Deu um gole lento, o sabor singular preenchendo sua boca. Sua sobrancelha mexeu de forma quase imperceptível. ‘Ela não poderia saber preparar chá antes, deve ter aprendido aqui. Aprende rápido, surpreendentemente.’
Ele pousou deliberadamente a xícara no pires com um leve tilintar. A mulher se sobressaltou, voltando o olhar para ele, o nervosismo evidente. Benedict permaneceu em silêncio, bem ciente de como sua expressão habitualmente impassível parecia aos outros. Como esperado, Hilde fechou os olhos, depois os abriu, falando com uma determinação recém-encontrada.
— De-devo preparar de novo?
— Bem, o que você acha?
A contra-pergunta nasceu de um impulso cruel. Ela tinha um rosto que muitas vezes despertava nele vontade de atormentá-la. Como agora. Hilde alternou o olhar entre o chá quase intocado e ele, depois respondeu com a voz trêmula:
— E-Eu… eu não sei…
— Então, beba.
— Oi?
— Prove.
Desconcertada e sem saber o que fazer, ela finalmente gaguejou:
— Co-como posso be-beber o chá do senhor…?
— Beba.
A palavra final foi uma ordem, uma ameaça firme de que ele não toleraria mais demora. Finalmente percebendo que não poderia evitar a situação, Hilde ajoelhou-se diante da mesa. Ele observou enquanto seus dedos finos e pálidos se curvavam ao redor da alça da xícara, seus lábios se abrindo levemente antes que a xícara os tocasse, o chá levemente frio desaparecendo entre seus lábios avermelhados.
— Como está?
Hilde hesitou, então respondeu cautelosamente:
— O aroma é perfumado… mas o sabor é amargo…
— E?
— Me-Mestre, não entendo muito de chá.
Incapaz de suportar o interrogatório contínuo, ela olhou para ele como se pedisse por ajuda, apenas para provocar ainda mais sua veia cruel.
— É mesmo? — Benedict sorriu levemente, batendo na xícara. — Então beba mais.
Hilde estava assustada. Seu mestre era imprevisível. Justo quando ela achava que o clima havia suavizado, ele ficava frio de novo sem aviso. ‘Será que preparei o chá tão mal assim?’ Ela não entendia muito de chá. Tinha experimentado algumas vezes enquanto praticava, mas não conseguia distinguir uma boa infusão de uma ruim.
— O que está fazendo? Beba mais.
— Mestre…
— Você não quer?
Hilde balançou a cabeça. Ela não podia recusá-lo. Tinha uma premonição quase certa de que, se o fizesse, ele se tornaria muito, muito mais assustador do que havia sido no banheiro mais cedo.
— Eu vou beber.
Ela levou o chá aos lábios novamente. O sabor é amargo, adstringente. E o aroma perfumado, frutado. Era o mesmo de antes. ‘O que eu faço…?’ Ele perguntaria de novo, mas ela já havia descrito o único sabor que conseguia perceber. Não podia mentir e inventar um sabor diferente. Lágrimas encheram os olhos de Hilde. Ela não queria chorar, mas hoje, sentia-se inexplicavelmente sobrecarregada por uma tristeza profunda. Era como se estivesse sendo cruelmente atormentada. Ainda assim, ele não parecia estar se divertindo. Apenas ela perdia o controle das próprias emoções de forma tola. Piscou rapidamente, tentando conter as lágrimas que se acumulavam.
— Quem disse que você podia chorar?
Seu queixo foi levantado. Ele havia se inclinado diante dela, o rosto agora próximo. A visão embaçada pelas lágrimas dificultava ler sua expressão, mas podia sentir seu olhar fixo em seu rosto, examinando intensamente, como se vasculhasse cada centímetro seu.
— Você ficou tão abalada assim por beber um pouco de chá?
— N-Não…
— Então?
— Eu… hic… eu não sei reconhecer o gosto.
— Ah. — Ele soltou um breve suspiro, murmurando: — Ela não sabe o sabor…
Então estendeu a mão e passou levemente as pontas dos dedos por sua testa.
— Por que minha escrava não sabe? — Seus dedos traçaram a linha de suas sobrancelhas, desceram pelo nariz e pelas bochechas, depois acariciaram delicadamente seus olhos cheios de lágrimas, com cuidado e periculosidade, como se estivessem avaliando algo. — É tão óbvio.
Hilde sentiu o toque estranho, mas não conseguiu dizer para ele parar.
— Hmm? Posso perceber com apenas um pequeno gole.
Sua voz baixa, quase sinistra, seu olhar se aprofundando. Uma tensão inexplicável a manteve presa.
Seu toque acendeu um calor, um rubor se espalhando onde quer que seus dedos tocassem. Em seguida, ele roçou os lábios ressecados e entreabertos com o polegar. A sensação úmida contra sua pele delicada enviou um arrepio estranho por sua espinha.
— Quer que eu lhe diga? — Sua voz tinha um tom suave. Hilde, desesperada para escapar da tensão, assentiu inconscientemente. — Bom. Benedict de repente tomou um gole de sua xícara. No instante seguinte, seus lábios estavam sobre os dela.
Ela recuou com a intrusão súbita. ‘Não.’ Mas mesmo enquanto tentava se afastar, sua nuca foi firmemente agarrada. Sua cabeça inclinou para trás, seus lábios selando-se mais completamente aos dele.
Uma onda de chá morno inundou sua boca. O líquido amargo e adstringente revestiu sua língua enquanto a dele, quente, sondava entre seus lábios, invadindo sem hesitação. A carne, misturada ao chá, mergulhou fundo em sua garganta.
Os movimentos de lambida, acompanhados do chá, eram habilidosos e rítmicos. Ele provocou e esfregou a pele sensível dentro de seu palato, um lugar que ela mesma nunca havia tocado, fazendo arrepios percorrerem sua espinha.
Uma névoa tomou conta de seus sentidos, mas mesmo assim ela tentou escapar. Contudo, quando ele envolveu sua língua como uma serpente, puxando com avidez, sua força se esvaiu. A sensação intensa e crua a deixou incapaz de pensar.
Ele segurou seu corpo agora maleável com mais firmeza, pressionando sua vantagem. O som de carne molhada colando e se separando ecoou entre eles. Saliva, que ela não sabia dizer de quem era, misturada ao chá, escorria continuamente por sua garganta.
Benedict enfim se afastou, deixando-a sem fôlego e atordoada.
— Você precisa respirar, — sussurrou, seus lábios quase ainda tocando os dela.
Seu hálito e as vibrações sutis faziam cócegas em seus lábios. Ela ofegou em busca de ar, o peito subindo e descendo, ainda consciente da baixa ressonância junto à sua boca.
— Ainda não entendeu? — Suas palavras, enquanto se afastava lentamente, fizeram seus cílios tremular. — É doce — revelou, por fim.
Lutando para recuperar os sentidos, os olhos de Hilde se arregalaram mesmo enquanto ofegava.
‘Doce?’ Seu olhar confuso o questionava. Ele riu baixinho e a chamou:
— Coelhinha.
Hilde estremeceu, os olhos se voltaram para a varanda. Mas a porta estava firmemente fechada, e o coelho que ela havia curado e salvo não estava à vista.
— Para onde está olhando? Seu mestre está chamando você.
Seus olhos arregalados retornaram a Benedict. Os lábios se moveram sem emitir som, até finalmente formarem palavras.
— Eu…?
Os lábios vermelhos se curvaram num sorriso afirmativo. Seus olhos se estreitaram quando perguntou:
— E então, como foi?
‘Como foi?’ Hilde, sinceramente, não conseguia lembrar. Desde o momento em que sua língua, mesclada de chá, invadiu sua boca, sua mente ficou em branco.
Enquanto hesitava, sem saber o que responder, Benedict acariciou suavemente sua bochecha corada.
— Você não sentiu o gosto de novo, não é? Então terei que dar outro gole.
— Não, eu…
— Então você sentiu?
— Isso é…
Hilde não podia negar. Mesmo sem sua instrução para não mentir, ela nunca foi boa em enganar.
— Suponho que não tenho escolha. — Ele pegou a xícara de chá meio vazia e ordenou: — Abra a boca.
Seu sorriso brincalhão havia desaparecido, substituído por uma expressão gélida. Enquanto ela hesitava, surpresa, ele se inclinou mais perto, seus olhos se encontrando.
— Você não disse que queria ficar aqui? Então tenta agradar seu mestre.
As palavras foram suaves, mas a implicação era um aviso claro. Os lábios de Hilde tremeram.
— Abra a boca.
Seus lábios selados tremeram, então se separaram levemente como se concedendo permissão.
— Boa menina.
A expressão severa de Benedict derreteu em um sorriso pintado.
— Desta vez, saboreie.
E então ele devorou seus lábios, como um predador sobre sua presa.
Sua mente ficou em branco novamente.
‘Tenho que encontrar… o sabor… do chá… Preciso pensar… Mas o que devo fazer?’
Continua …
Tradução: Elisa Erzet