No c* da Cobra - Capítulo 31
— Tudo bem, — ela murmurou, forçando um sorriso. Isso sempre a fazia sentir um pouco melhor.
— A felicidade só vem para aqueles que se esforçam por ela — lembrou-se das palavras do sacerdote que visitava as favelas uma vez por ano, ditas enquanto ela voltava do lugar de lavar roupas. Enxugou suas lágrimas das bochechas.
— Só preciso tentar de novo.
Ela não se permitiria mais esperanças tolas. Não esqueceria seu lugar, não ultrapassaria os limites como escrava. E se ele quisesse seu corpo…
“Você parece não saber o que significa para uma escrava atender ao banho de seu mestre? Oferecer todo o seu corpo para meu prazer.”
A imagem dele no banheiro atravessou sua mente. Seus olhos dourados, frios e ardentes. A pressão firme de seu braço. Sua voz afiada.
“Considere-se afortunada.”
“Se ousar me testar de novo com suas tentativas patéticas de servir, farei coisas muito piores com você a noite toda. Estará implorando por misericórdia antes que a noite termine.”
Um desejo brutal irradiava de seu olhar. Ela não podia negar o medo. Era a primeira vez que alguém a olhava daquele jeito. Por um momento, quis fugir. Mas não era o mesmo terror que sentira quando aquele conde sem nome quase a violentara. Era… diferente.
Hilde apertou a saia, consciente da umidade entre as pernas.
— Talvez… — ela sussurrou, as palavras escapando como um suspiro. — … seja melhor assim.
Seu poder divino não parecia importar muito para ele. Ela era desajeitada, inepta em servi-lo, e já o havia irritado inúmeras vezes. Se ao menos pudesse manter seu interesse com o próprio corpo… talvez conseguisse sobreviver ali, como uma escrava de cama, por mais algum tempo.
— A governanta nunca disse o que aconteceria se eu não conseguisse servir o mestre.
Sem habilidades reais além de tarefas domésticas, ela não duraria muito neste arquiducado. Seria vendida, descartada, seu conforto atual substituído por dificuldades e sofrimento inimagináveis.
— … É melhor assim.
Hilde racionalizou, uma profunda resignação se instalando dentro dela. Ele precisava de um brinquedo, de um passatempo para se divertir até se cansar dela. Outra pontada de dor atravessou seu coração, mas ela a afastou. Era suportável. Enterrar a própria tristeza era algo em que Hilde havia se tornado muito boa.
— Eu não deveria estar… — começou, percebendo que seu mestre logo terminaria o banho. Tinha que se preparar. Com esforço, levantou-se, a fraqueza tornando isso uma luta. — Preciso preparar a xícara de chá… — Hilde abriu a porta e saiu, uma única lágrima, despercebida, traçando um caminho em sua bochecha e caindo no chão.
Benedict acabara de sair do banho e entrar em seu quarto quando viu uma figura pequena se movendo apressadamente ao redor da mesa do sofá.
— O que você está fazendo?
Assustada, Hilde se virou, revelando a mesa à sua vista. Um bule de chá, xícaras, uma bandeja de prata, um pequeno pote de folhas de chá.
—E-Eu ouvi dizer que o senhor toma chá após o banho.
Era verdade. Mas os olhos de Benedict se estreitaram, algo chamando sua atenção. Ele atravessou o quarto em passos largos.
— Mestre…?
Hilde recuou instintivamente, e o movimento a fez cair sentada no sofá. Benedict apoiou uma mão no encosto e, com a outra, levantou seu queixo.
— Você estava chorando?
Os olhos grandes e inocentes de Hilde se arregalaram ainda mais, como os de um coelhinho assustado. Brilhavam com lágrimas contidas, cintilando como joias rosadas.
— Eu te fiz uma pergunta.
Ele manteve seu olhar preso ao dela, recusando-se a deixá-la desviar os olhos. Finalmente, seus lábios pequenos se separaram.
— U-Um pouco…
— Um pouco? — Ele repetiu suas palavras, incrédulo.
Hilde se agitou, evitando seus olhos. A pele ao redor deles estava vermelha e inchada. Sua voz, geralmente clara, estava carregada por lágrimas contidas.
— Por quê? — ele perguntou, sua voz baixa e contida. O humor de Benedict ficou sombrio. Ele sabia que suas lágrimas estavam conectadas a ele, ao que acabara de acontecer entre os dois.
Foi por isso que a provocação descarada escapou.
— Você se sentiu humilhada?
— Ugh!
— Você sente aversão de ir para a cama comigo? — Benedict agarrou sua nuca com força. — É por isso que estava choramingando e soluçando como uma miserável patética?
(Elisa: Ai ai, além de psicopata, ainda tem Alzheimer. Como eu vou te defender? 😅🙄)
— Não… não é isso…
Sentia-se estranhamente enfurecido. Foi ele quem havia arrastado-a até ali contra sua vontade, plenamente ciente da falta de consentimento, e ainda assim era ele quem agia como se estivesse descontente.
Benedict sentiu-se incomumente agitado. Isso era raro para ele, um homem geralmente apático, cujas emoções negativas ocasionais nunca atingiam grande intensidade. Contudo, não havia razão para esconder seu mau humor, então Benedict deixou suas emoções cruas se mostrarem.
— Você teria morrido naquela noite, sua pirralha, se não fosse por minha ordem.
— …!
As palavras, cuspidas como uma maldição, carregavam malícia e ameaça indisfarçáveis.
— Você não achou estranho o silêncio na mansão na noite em que foi capturada?
Seu pequeno corpo enrijeceu.
— Ah, minha escrava sofreu um choque? — Um sorriso cruel brincou em seus lábios enquanto ele explicava com falsa gentileza: — Sim. Eu matei todos. Até o último, nem uma formiga sobrou rastejando. — Não seria bom que rumores desnecessários se espalhassem quando ele tinha um reino a conquistar. — Em outras palavras, concedi a você a vida como um bônus. — Ele tocou sua bochecha pálida: — Portanto, eu sou o seu mestre. Benedict acrescentou, mostrando os dentes em um sorriso.
Seus cílios prateados tremeram, mas Benedict não se importou. Seu humor já estava arruinado; o que lhe importava o medo de sua escrava?
Agora certamente ela responderia algo como: ‘Eu não sabia, ou obrigada por me salvar, ou desculpe.’ Era só isso que ela era capaz de dizer, não é?
Benedict esperou pacientemente. Após um momento, os lábios de Hilde se separaram.
— Não… foi desagradável… — O que saiu foi uma resposta inesperada. — Eu… fiquei aliviada.
— O quê?
Sua mão afrouxou levemente com sua reação imprevista.
Hilde, com o pescoço agora um pouco mais livre, confessou lentamente com sinceridade:
— Eu… eu não tenho outra utilidade para o senhor, Mestre… então fiquei aliviada ao descobrir algo que eu podia fazer, mesmo que seja isto…
— …
— Eu… eu não quero ser expulsa daqui. Ser enviada para outro lugar… é aterrorizante.
Foi uma resposta completamente inesperada. Benedict olhou para ela, então falou como se a testasse.
— Você não ficaria feliz em ser abandonada? Deve estar desesperada para voltar à sua terra natal.
Hilde balançou a cabeça.
— Não tenho para onde ir. Sou órfã…
Não havia ninguém esperando por ela, nenhum lugar para acolhê-la. Conforme suas palavras seguintes confirmaram que ela não tinha raízes no reino caído, Benedict sentiu seu humor gradualmente melhorar.
— Você não tem para onde ir se for abandonada aqui?
Aceno, aceno. Observando sua cabecinha balançar obedientemente, seus nervos tensos relaxaram, e seu semblante afiado suavizou. Uma estranha sensação de satisfação floresceu dentro dele, mas Benedict não se deteve nisso. Em vez disso, sua generosidade incomum vinha de um sentimento de contentamento, como o de um predador saciado.
— Você não é totalmente inútil. — A mão que havia apertado seu pescoço se afastou. Ele mudou de posição, dando-lhe algum espaço. — Faça.
— Como…?
Benedict apontou com o queixo para a mesa.
— Parece que você escolheu um chá de que eu gosto bastante.
— Ah, este…
Uma expressão de aflição cruzou seu rostinho. Provavelmente foi escolha de Greta. Benedict apreciou seu desconforto enquanto esperava por sua resposta.
— A governanta me deu.
— Uma resposta honesta. Hmm, —ele murmurou, sentando-se no sofá oposto e assentindo.
Diante do sinal, Hilde se levantou e começou cuidadosamente a preparar o chá. Um momento depois, ela despejou o líquido na xícara e recuou. Um aroma tentador subiu do líquido carmesim.
Continua…
Tradução: Elisa Erzet