No c* da Cobra - Capítulo 28
Hilde reuniu sua coragem. — Não vou usar meu poder divino sem sua permissão novamente.
As palavras, sussurradas, mas claras, saíram de seus lábios trêmulos.
— Da próxima vez, vou perguntar primeiro… então, por favor, poderia me perdoar só desta vez?
Ele a encarou em silêncio por um longo momento. Seu olhar parecia penetrante, ou talvez fosse a intensidade de seus belos olhos dourados, únicos, que dificultava sustentar seu olhar.
Após um tempo, Benedict soltou seu queixo e colocou o coelho em seus braços.
— Solte-o.
Os olhos de Hilde se arregalaram, incrédula com a facilidade inesperada de seu perdão. Mas a presença sólida e quente da vida contra suas palmas era inegavelmente real. As lágrimas que ameaçavam transbordar foram instantaneamente substituídas por um sorriso radiante.
— Obrigada.
Os olhos de Benedict seguiram Hilde enquanto ela se apressava em direção à varanda. ‘Então, ela sabe sorrir.’ Quando seus olhos marejados de lágrimas se curvaram de alegria, foi como se uma flor de pêssego banhada pelo orvalho tivesse subitamente desabrochado. Sua voz, embora ligeiramente embargada, carregava uma leveza recém-descoberta que era agradável aos seus ouvidos. Muito mais do que seus pedidos e choramingos, dos seus gritos de medo e dor.
— M-Mestre. — Hilde, tendo colocado o coelho na borda da varanda e dado um último afago carinhoso, se voltou para ele. — A sua… cobra continua no quarto?
Benedict lançou um olhar para onde seu animal de estimação estivera. A serpente, que já avançava rastejando em antecipação à presa que em breve seria liberta, congelou sob o olhar de seu mestre.
Hilde, alheia à cena dentro do quarto, perguntou com cautela, com uma expressão preocupada no rosto:
— Se estiver tudo bem para o senhor… poderia manter sua cobra afastada por um tempinho…?
Embora plenamente ciente das intenções de sua cobra, Benedict respondeu despreocupadamente:
— Por quê? Está com medo de que minha cobra coma o coelho?
— Não exatamente, mas… — Hilde hesitou, depois fechou os olhos e confessou: — Me desculpe. Estou um pouco preocupada.
Uma risada seca escapou dele diante de sua honestidade desarmante. Com um movimento do queixo, ele concedeu.
— Apenas solte-o.
Hilde assentiu e acariciou o coelho.
— Vá. E nunca mais volte aqui. Uma cobra assustadora mora neste lugar e pode te comer. Entendeu?
Benedict se sentiu estranhamente incomodado ao ouvir suas instruções para o animalzinho. Era natural que uma cobra comesse um coelho. Era a lei da natureza que a presa se oferecesse ao predador. Ainda assim, sua voz suave e clara era bastante agradável de ouvir. Ele imobilizou sua cobra, impedindo-a de se mover.
Finalmente, depois que o coelho saltou para os arbustos, Hilde voltou para ele e inclinou a cabeça.
— Obrigada, Mestre.
— Não passa um único dia em paz, não é mesmo?
Uma expressão levemente ressentida cruzou seu rostinho.
— E-Eu tenho ficado quieta até agora…
— Quieta? — Benedict zombou. — Com o ombro nesse estado, você nem podia cumprir suas tarefas. Eu a deixei se recuperar, e você me retribui espionando meus movimentos?
— Espionando…?
— Foi uma cena e tanto, te ver encolhida no chão, cochilando toda vez que falhava.
Ondas de choque se espalharam por seus olhos rosados. Não era surpresa que ela estivesse assustada, ele tinha revelado que sabia de suas atividades clandestinas.
Os lábios de Benedict se curvaram em um sorriso de escárnio.
— Então, achou que poderia recuperar seu colar me bajulando?
— Não. Isso não é… — Hilde mordeu o lábio, incapaz de terminar a frase.
Problemático. Se ele visse sangue, não conseguiria se conter.
— Eu só queria agradecer. E-Eu não estava tentando recuperar meu colar dizendo coisas que não sinto… Ah!
Por impulso, Benedict estendeu a mão e tocou sua bochecha. Sua pele macia e quente encontrou sua palma. Hilde estremeceu, dando instintivamente um passo para trás, apenas para sentir as costas contra a parede.
— Não fuja.
Enquanto ela não desse as costas e corresse, ele poderia ser condescendente. Ele acariciou suavemente sua pele delicada com o polegar.
Não deveria tentar enganá-lo, ou mesmo tentar esconder qualquer coisa de seu olhar. Ele nunca tolerou enganação, muito menos de uma escrava.
— Seja o seu objetivo o colar ou outra coisa…
Se ela ousasse tentar escapar novamente, ele rasgaria sua pele delicada em pedaços. Benedict continuou a acariciar sua bochecha, avaliando sua maciez. Não seria agradável ser cortada. Precisava eliminar qualquer possibilidade de sua escrava tentar tal coisa, ou, melhor ainda, impedi-la até mesmo de considerar tal ideia. Mesmo que isso significasse incutir medo nela.
— Se for pega fugindo—
— E-Eu não vou fugir, —Hilde jurou antes que ele pudesse terminar a ameaça. —Eu já prometi… isso não vai acontecer.
Ela não estava sem medo. O leve tremor em sua voz traía seu pavor. Seu olhar também se movia nervosamente, evitando o dele, percorrendo o chão.
— Então, não precisa me dizer o que acontece se eu fugir… porque eu não vou fugir de qualquer maneira…
Benedict, com os olhos semicerrados, olhou intensamente para baixo, para sua escrava. Era uma mulher extraordinariamente sensível às feridas e à dor dos outros. Até ouvir uma descrição do sofrimento facilmente a angustiava.
Uma dose saudável de medo era necessária, mas não pretendia torturá-la com detalhes. Decidiu parar por ali.
— Muito bem.
O alívio floresceu visivelmente em seu rosto. Estranhamente, a visão disso o irritou, embora tenha sido ele a ameaçar. Foi por isso que as palavras saíram abruptamente.
— Você não consegue esconder um único pensamento. É impressionante.
— Eu…?
— Há mais alguém aqui além de você?
Seus olhos, já grandes e redondos, se arregalaram ainda mais.
— O-O senhor sabe o que eu estou pensando?
— Você acabou de sentir alívio por não ter que ouvir que punição os escravos fugitivos recebem.
— Como o senhor…
Seus lábios entreabriram-se levemente. Quando a carne vermelha de sua boca se tornou visível entre seus dentes bem alinhados, Benedict, inconscientemente, lambeu os próprios lábios.
Ele havia enfiado seus dedos dentro daquela boca uma vez. A sensação de sua língua contra eles enquanto os movia voltou à sua mente. A sensação macia e úmida da carne que cedia.
Um calor lento desabrochou nas pontas dos dedos. Sua sobrancelha se contraiu, e ele afastou a mão de sua bochecha.
— Bem, a honestidade não é uma coisa ruim. — Acrescentou casualmente: — Já que vou descobrir de qualquer forma, não se dê ao trabalho de tentar me enganar. Entendeu?
Ele deu leves batidinhas em sua bochecha e um pequeno — Sim, escapou.
Satisfeito, os lábios de Benedict se curvaram em um sorriso sutil. De repente, ocorreu que ainda não sabia seu nome. Ele realmente precisava chamá-la pelo nome?
Você, garota, escrava. Ele tinha muitos substitutos. Mas, olhando para seu rosto límpido, sentiu-se curioso. Mentalmente, percorreu alguns nomes.
Veronica, Angela, Elena, Theresa.
Nenhum deles combinava com ela.
Insatisfeito com sua curiosidade, franziu a testa em irritação.
— Vossa Graça, sou eu, Moritz.
Seu ajudante o chamou do lado de fora da porta. O tom levemente apressado indicava assunto urgente. Benedict virou-se para receber o relatório. A cobra rastejou para fora do quarto à sua frente.
— M-Mestre.
O chamado o fez parar. Ele olhou para trás, para ela. Ela o tinha chamado sem pensar? Seus olhos se encontraram, e ela hesitou, então falou cautelosamente.
— Meu nome é Hilde.
— …
— Eu pensei… talvez o senhor ainda não soubesse meu nome.
Benedict não respondeu. Ele caminhou até a porta. Antes de segurar e empurrar a maçaneta, ele murmurou silenciosamente seu nome.
Hilde. Era um nome bastante bonito.
🌸🌸🌸
Hilde não ficaria sozinha no quarto por muito tempo quando Greta entrou.
— As coisas provavelmente ficarão um pouco caóticas no castelo por um tempo. É melhor trancar as janelas.
Greta disse enquanto travava cada janela. Percebendo a tensão incomum em seu rosto, Hilde perguntou com cautela:
—Aconteceu alguma coisa?
Greta olhou pela janela em vez de responder. O olhar de Hilde seguiu naturalmente, e ela viu soldados se movimentando apressadamente do lado de fora. Entre eles estava o Arquiduque. Montado em um cavalo negro como azeviche, ele se destacava de forma notável.
— Uma horda de bestas monstruosas atacou.
Assustada, Hilde voltou o olhar para Greta.
— B-Bestas monstruosas invadiram…? Então, o povo do território…
A lembrança da besta-aranha que encontrara a caminho do arquiducado lhe causou um arrepio involuntário. Ainda não conseguia esquecer o horror daquele momento.
— Os cavaleiros estão contendo-as nas muralhas, mas não há como dizer quanto tempo conseguirão resistir. Sua Alteza foi pessoalmente, então só podemos torcer pelo melhor.
Os olhos trêmulos de Hilde se voltaram para a janela.
‘Ele não pode se machucar.’
Ela esperava que todos ficassem em segurança. Sem ferimentos, sem dor, ninguém machucado…
Hilde tocou instintivamente seu pescoço agora dormente e vazio, e orou sem perceber. Pelo retorno seguro dele.
Uma suave luz dourada, despercebida por ela, cintilou brevemente e desapareceu das pontas dos dedos apoiados no vidro da janela.
Bestas-aranha escalavam em enxames as muralhas externas de pedra de Bertolph.
— Detenham todas!
Continua…
Tradução: Elisa Erzet