No c* da Cobra - Capítulo 27
Um som suave de sucção encheu o ar enquanto ele puxava gentilmente a carne macia abaixo, um cheiro doce de maçã subindo com uma sensação de prazer formigante.
— Nossa, — ele murmurou, se afastando levemente e estalando a língua. — Isso é mais… prazeroso do que esperava.
O que começou como uma provocação brincalhona despertara um prazer surpreendentemente primitivo.
Benedict alternou entre os lábios macios mais algumas vezes, parando apenas quando eles começaram a inchar.
— Minha escravinha não tem paciência. — comentou.
De que serviam se ficavam assim, inchados, depois de apenas alguns beijos? Imaginou o grito assustado que a coelhinha soltaria ao ver seu reflexo na água da fonte na manhã seguinte.
Não seria desagradável, assistir à sua aflição durante toda a noite, imaginando o que lhe acontecera, seria bastante divertido. No entanto, a diversão de sua completa ignorância também tinha um apelo único. Após um momento de contemplação, Benedict fez sua escolha e se levantou da cama.
— Durma bem — sussurrou, dando um leve tapinha em sua bochecha antes de seguir para o cômodo ao lado, seus próprios aposentos. Caminhou até uma mesa e abriu um pequeno estojo de remédios, seus olhos dourados brilhando ao examinar o rótulo de um frasco. Poção do sono.
— Que mestre tão atencioso, preocupado até com os pesadelos de sua escrava — riu, jogando o frasco para o alto antes de pegá-lo de volta. Ela dormiria profundamente aquela noite.
Vários dias se passaram. Hilde, confinada ao quarto ao lado do aposento do Arquiduque, não viu Benedict nem uma vez. Embora sua ausência tivesse sido compreensível antes, devido às suas viagens, era estranho agora que ele havia retornado ao castelo.
— Com licença, sabe onde o Mestre está? — ela perguntou finalmente a uma criada que passava, recebendo como resposta apenas uma observação seca de que ele estava cuidando de seus afazeres. Hilde decidiu ficar acordada e esperar por ele. Não era por nenhum motivo impróprio.
— Ao menos… eu deveria agradecê-lo — pensou. Por cuidar de seu ombro, por atender ao seu pedido de poupar o servo, por relevar sua desobediência em sair do quarto. Mas, apesar de todos os seus esforços, o sono inevitavelmente a dominava, e ela acordava com o sol já alto no céu. As noites em claro só resultavam em ela dormir demais.
— Será que ele sequer vem aqui? — se perguntou, se sentindo tão isolada quanto estivera na carruagem a caminho da propriedade. Qualquer vestígio da sua presença era apagado pelos outros servos que arrumavam o quarto antes que ela acordasse. — Eu poderia fazer isso? O mestre confiou a mim seus cuidados… — sugeriu.
— A governanta mandou você focar na sua recuperação — veio a resposta. Sem nada para ocupar seu tempo, o ânimo de Hilde afundou. Ela observou a atividade movimentada do lado de fora da janela por um tempo antes de se sentar com as costas contra a parede, joelhos dobrados contra o peito. Um suspiro melancólico escapou de seus lábios.
— Eu só queria ser útil…
O que estava fazendo ali, afinal? Embora não tivesse vindo para a propriedade dos Bertolph por sua própria vontade, nem tivesse escolhido seu dilema atual, uma sensação de culpa e inadequação pesava muito sobre ela.
As palavras do Arquiduque sobre escravos inúteis e sua expressão intimidadora a assombravam.
— Se eu continuar sem ter o que fazer, e todos perceberem que não sirvo para nada… — Seus pensamentos despencavam num buraco escuro e desolado. — Não, — murmurou, forçando-se a quebrar o ciclo de negatividade.
Não podia se permitir sucumbir a tais pensamentos. Era um caminho para a autodestruição. As coisas melhorariam. Tinham que melhorar.
— Só preciso me recuperar rápido e trabalhar direito — afirmou, tentando fortalecer sua determinação. Foi então que um som suave de farfalhar chegou aos seus ouvidos. A princípio, ignorou, poderia ser o vento, o sussurro das folhas, ou o roçar das cortinas contra a parede. Era tão sutil.
Mas quando o som veio novamente, Hilde se sentou, examinando cuidadosamente o quarto. Seu olhar encontrou um coelhinho branco encolhido na varanda, tremendo.
— O que um coelho está fazendo aqui…?
O medo de ser acusada de tentar outra fuga atravessou sua mente, mas a hesitação durou pouco. Abrindo a porta, pegou o coelho sem pensar duas vezes e o levou para dentro. Ao colocá-lo gentilmente no chão, um pequeno grito lhe escapou.
— Ah, não…
A barriguinha do coelho, até então escondida, estava coberta de sangue, como se tivesse sido atacado por um predador. Instintivamente, as pontas dos dedos de Hilde brilharam com uma luz suave e curativa. Acariciando o pequeno corpo quente enquanto ele tremia de dor, ela sussurrou:
— Só um momento. Vai ficar tudo bem.
(Elisa: Ela é muito preciosa🥺)
Poucos instantes depois, os ferimentos estavam completamente curados. O coelho mexeu o narizinho, se virou e olhou para ela.
— Tudo bem agora?
Hilde sorriu, sentindo uma onda de realização invadindo-a. Em sua ociosidade e desespero, havia salvado uma pequena vida.
— Tenha cuidado para não se machucar de novo — aconselhou.
O coelho esfregou o focinho em sua mão e lambeu seus dedos em resposta, alargando seu lindo sorriso.
— Espere só um instante, vou te limpar.
Preocupada com o sangue seco grudado em sua pelagem branca, ela se virou para procurar algo com que pudesse limpá-lo. Foi quando congelou, um pequeno grito preso na garganta. Ela havia feito contato visual com o homem que entrara no quarto, silencioso como uma sombra.
— Mestre…
Ele estava parado próximo da porta, os braços cruzados, um sorriso sarcástico curvando seus lábios.
— Minha pequena escrava anda aproveitando outro passeio solitário?
— Não, não é isso — Hilde apressou-se em explicar. — Havia um coelho ferido na varanda, então eu o trouxe para dentro para curá-lo. Eu realmente não saí.
— Um animal ferido apareceu justamente na varanda?
Ele ergueu uma sobrancelha. Hilde assentiu nervosamente, aguardando sua reação. E se ele não acreditasse nela? Mas havia guardas tanto na porta quanto na varanda dessa vez. Enquanto ela buscava freneticamente alguma justificativa, sua voz baixa cortou seus pensamentos.
— E por acaso era um coelho.
O olhar de Benedict passou por Hilde até pousar no animalzinho no chão. Como se percebesse sua atenção, o coelho congelou e começou a tremer violentamente.
‘Ele deve estar descontente por eu trazer um coelho para dentro sem permissão,’ —pensou Hilde, abrindo a boca para se desculpar.
Mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, Benedict reduziu a distância entre eles e agarrou o coelho pela nuca.
— Mestre…! — Hilde exclamou em choque quando o coelho guinchou e se debateu na mão dele.
— Silêncio — ordenou, sua voz afiada como aço. As lutas frenéticas do animalzinho cessaram sob o peso de sua presença opressora. Virando a criatura em sua mão, os olhos de Benedict se estreitaram. — Um macho.
Hilde piscou, sem compreender. Ou, melhor, incapaz de captar a implicação de suas palavras. Seu olhar fixo no coelho, temendo por sua segurança, ela perguntou com cautela:
— O senhor… não gosta de coelhos?
— Não — respondeu ele, o tom curto e preciso. Mas antes que Hilde pudesse sentir qualquer alívio, ele acrescentou: — Coelhos machos são simplesmente inúteis. — Seu olhar desviou para um canto do quarto.
— Devo dá-lo para minha cobra? — Seguindo seu olhar, Hilde recuou. Enrolada no canto, com a cabeça erguida, estava uma serpente negra como azeviche.
— Não, por favor, não!
Apressando-se para ficar de pé, Hilde se posicionou na frente do coelho, protegendo-o entrelaçando as mãos em súplicas.
— Por favor, devolva o coelho. Eu imploro.
— Creio que mencionei que tenho uma cobra de estimação. Trazer sua refeição para dentro do quarto sem permissão foi seu erro, não foi?
— Eu… — A voz de Hilde se embargou, um nó formando em sua garganta. Seus olhos e nariz arderam. ‘Eu só queria salvá-lo.’ Não o havia resgatado para ser alimento da cobra.
Ela só desejava tratar o ferimento ali mesmo, na varanda, e soltar o animal assim que estivesse curado, ainda que isso lhe custasse a fúria dele. O arrependimento a inundou.
— Além disso—
— Ugh…!
— É problemático que você use seu poder divino tão livremente. — Benedict deu um passo adiante, seu rosto a centímetros do dela, segurando seu queixo para cima, seu olhar dominador. — Esse poder me pertence.
Seus olhos dourados brilharam com uma luz cruel, predatória e intensa, como uma serpente pronta para atacar. Medo e ansiedade apertaram sua garganta mais uma vez. A memória do rosto impassível do homem enquanto sondava seu ferimento de flecha, acusando-a de tentar fugir, passou por sua mente.
A voz fria ao cortar as mãos do servo, cruelmente, culpando-a por sua morte iminente. Mas mesmo assim… Hilde se agarrou à memória dos raros momentos de gentileza que ele havia demonstrado. Atendendo seu pedido aparentemente impossível, examinando seus ferimentos… Teria sido tola, ingênua, por encontrar esperança naqueles pequenos e vacilantes lampejos de calor?
Continua…
Tradução: Elisa Erzet