No c* da Cobra - Capítulo 26
— H-Hã…?
A reação dela foi de total surpresa. Greta já esperava por isso e, em vez de insistir, serviu água em um copo e o entregou a Hilde, mudando de assunto com naturalidade.
— O ferimento no seu ombro é bastante profundo. Tente não usar o braço esquerdo até que esteja totalmente cicatrizado.
— Então… como vou atender o mestre…?
— Ele não gosta de ser servido e está acostumado a ficar sozinho. Tentar ajudá-lo na sua condição só será um incômodo.
— Ah… — Hilde respondeu baixinho. — Desculpe. Eu não tinha pensado nisso.
— Sim. Por enquanto, é melhor focar na sua recuperação. — Greta se levantou. — Agora, descanse. Avisarei à cozinha para preparar seu jantar.
— M-Mas… eu posso fazer isso…
— Esqueci de mencionar, — Greta interrompeu firmemente, — Sua Graça te proibiu de sair do quarto. Acredito que saiba o motivo.
Os olhos delicados de Hilde tremeram ao serem questionados diretamente sobre sua transgressão. Ela baixou rapidamente o olhar.
— Me desculpe…
— Você fez algo muito perigoso. Teve sorte desta vez, mas ninguém sabe o que pode acontecer da próxima.
Qualquer outra pessoa já teria sido executada. Greta não acrescentou essas palavras, pois sua intenção não era assustar Hilde.
Em vez disso, ofereceu um conselho sincero:
— Sua Graça não é misericordioso com aqueles que o traem ou desobedecem. Não se esqueça disso.
O Arquiduque era um mestre verdadeiramente impiedoso, particularmente implacável quando se tratava de mentiras. Hilde não parecia alguém capaz de mentir facilmente, e isso preocupava ainda mais Greta. Se Hilde tentasse, seria descoberta imediatamente.
— Nunca tente enganar Sua Graça. É melhor ser honesta e implorar por perdão. Entendeu?
Hilde assentiu.
Com um suspiro leve, Greta saiu do quarto para informar ao senhor do castelo, o Arquiduque, conforme instruída, que sua mulher havia despertado.
Sozinha, Hilde permaneceu atônita por um momento antes de finalmente se levantar da cama. Ela colocou o copo de água intocado sobre o criado-mudo e se aproximou do pequeno espelho sobre a penteadeira.
Hesitante, seus dedos tocaram a fita amarrada abaixo do pescoço.
— O Mestre não teria me tratado…
Finalmente, ela puxou a ponta da fita, e o laço se desfez. O tecido macio se abriu, revelando o pano enrolado em seu ferimento. Não tinha sido obra dela.
A maneira como o pano estava amarrado era diferente. E… era o mesmo nó que ela viu quando examinou o ferimento pela primeira vez ao chegar ao castelo.
— … Foi realmente ele.
Quando ouviu pela primeira vez, ela negou interiormente. Tinha certeza de que a governanta havia se enganado. Mas agora…
— Por quê…?
Desde o primeiro encontro até aquele momento, Hilde sempre tivera medo dele. O homem não hesitava diante de sangue — fosse o dele ou de outra pessoa. Ela não pôde deixar de notar sua familiaridade com a matança.
Era cruel e de sangue frio, desprovido de piedade ou remorso. Esse era o mestre que Hilde conhecia. Além do mais, aquele homem havia tirado o único tesouro que possuía…
— …
Ela tocou, com cuidado, o espaço vazio abaixo do pescoço, mas não sentiu nada. Uma fisgada aguda de dor apertou seu coração, uma onda de tristeza que ela tanto tentara reprimir.
‘Sasha. Eu perdi seu amuleto. Sinto muito.’ Silenciosamente pedindo desculpas, Hilde acalmou suas emoções turbulentas. Só então conseguiu olhar novamente para o espelho.
O curativo cuidadosamente enrolado em seu ombro chamou sua atenção mais uma vez.
— Foi… só um capricho momentâneo.
Ela falou em voz alta, tentando desesperadamente evitar guardar qualquer falsa esperança. Precisava se lembrar que era uma escrava, nada especial, e que não deveria ultrapassar seus limites.
Ainda assim, Hilde não conseguiu tirar os olhos do nó em seu ombro por um longo tempo.
🌸🌸🌸
Diziam que gêmeos traziam desgraça e má sorte. Gêmeos imundos. Filhos do demônio. Ser odiada, atormentada e agredida era natural. Olhares de desprezo, insultos, espancamentos e incontáveis atos de discriminação.
Suportou aquela vida cruel porque tinha sua irmã gêmea. Sua única amiga e família, a única que a compreendia, sua única fonte de conforto e calor.
Então, um dia, após enfrentar mais uma crueldade simplesmente por ser gêmea, um pensamento proibido brotou em seu coração infantil.
‘Se Sasha não estivesse aqui. Se eu não fosse uma gêmea… não precisaria viver assim. Estaria em uma casa quentinha, com lareira, contando histórias felizes com meus pais.’
‘Deus… por que me fez gêmea?’
Exausta e atormentada, ela se ressentiu de Deus e de sua única irmã. E naquele dia, um terrível acidente aconteceu. Como se respondendo à sua prece tola, Deus tirou a vida de sua irmã inocente.
‘Sasha. As pessoas falam que gêmeos trazem desgraça. Que arruinam tudo. Essa sou eu. Se não tivesse nascido… não fosse sua gêmea… Sasha, você não teria morrido tão tragicamente.’
— Desculpe… Me perdoe, Sasha.
Benedict observava a mulher que chorava enquanto dormia. Sob a luz do luar, seus cílios prateados, encharcados de lágrimas, tremiam com tristeza.
‘Ela está tendo um pesadelo.’
Ela pedia desculpas repetidamente a alguém, embora o nome não fosse pronunciado. Ele deduziu facilmente de quem se tratava, já que a mulher estava encolhida de lado, as mãos juntas sobre o peito, como se segurasse algo ao redor do pescoço.
Ele se lembrou do objeto que jogara na gaveta de sua escrivaninha: um colar de madeira desgastado pelo uso ao longo dos anos. Aquilo o incomodava. Não gostava. Mas, ainda assim, não conseguia se desfazer dele. Então, apenas o enfiou na gaveta.
— Me desculpe…
‘Ela parece genuinamente arrependida. O que será que ela fez?’
Ele estava curioso. Benedict sentou-se na beirada da cama, o pequeno colchão cedendo levemente sob seu peso.
— Que mal minha escrava poderia ter cometido?
Ele precisava saber, para evitar que ela cometesse o mesmo erro novamente. Ele enxugou uma lágrima que escorreu por sua bochecha pálida e levou o dedo à língua.
— Doce.
Seu cheiro, seu sangue, suas lágrimas — tudo era doce, como uma maçã mergulhada em mel. Ele saboreou o gosto de mais algumas lágrimas antes de inclinar a cabeça e murmurar:
— Todos os humanos com poder divino são assim?
Seria ideal ter outro para comparar, mas aqueles que possuíam poder divino eram raros, tornando isso impossível.
— Bem, descobrirei eventualmente.
Ele já havia ordenado a seus homens que reunissem informações relacionadas ao poder divino. Desvendaria seus segredos um a um. Afinal, ela era sua.
Benedict envolveu suas pequenas mãos nas suas e ordenou suavemente:
— Pare de chorar. E pare de tocar aquele colar que não está mais aí.
Quer fosse devido às suas palavras ou mera coincidência, os soluços da mulher diminuíram. Ela caiu em sono profundo e tranquilo.
— Ela é obediente quando está assim.
Ele riu suavemente, depois se inclinou lentamente e passou a língua sobre sua pálpebra esquerda úmida de lágrimas. Após saborear a doçura residual, repetiu o mesmo gesto no olho direito antes de levantar a cabeça.
— Inacreditável… — O aroma e o sabor emanando de sua pele macia eram de seu agrado. — Não tive mais dor de cabeça.
Ele não sabia quanto tempo o efeito duraria, mas até agora, havia sido tranquilo. Surpreendentemente, desde o momento em que ela adormecera, sua mente se sentira extremamente clara.
E assim…
— Sou bastante tolerante com você, embora pareça completamente alheia a isso.
A mulher o temia profundamente, mas Benedict era relativamente gentil com ela. Ele sabia disso. Poupou sua vida apesar da grave ofensa. Não a torturou, nem a aprisionou.
— Então tente ser igualmente tão adorável assim quando estiver acordada.
Suas pontas de dedos repousaram na bochecha macia dela. Ele traçou de forma brincalhona os contornos de seu rosto por um momento, os dedos deslizando até os lábios pequenos e rosados.
— …
Ele havia beijado esses lábios. Ela não estava respirando, então havia sido uma medida necessária, mas ele colocou seus lábios contra os dela, devolvendo ar aos seus pulmões. Na verdade, o homem nem sequer percebeu o que estava fazendo até se afastar.
— Foi por causa da doçura?
Benedict acariciou e pressionou suavemente seus lábios macios, demorando-se por um longo momento. Então, abruptamente, inclinou o corpo.
Continua…
Tradução: Elisa Erzet