Meu Amado Opressor - Capítulo 18
O sangramento parou no quarto dia.
A pedido de Heiner, o médico verificou os medicamentos que Annette estava tomando e sua expressão enquanto examinava os medicamentos não era muito boa.
“Ummm… Synagel é um medicamento proibido para mulheres grávidas tomarem nos estágios iniciais. Os médicos geralmente se certificam de que a paciente não está grávida quando o prescrevem. Seu médico já mencionou a possibilidade de gravidez? Os sintomas que mencionou são comuns em mulheres grávidas… e sua menstruação também parou.”
“Nenhuma palavra específica…”
“Hmmm, entendo. Primeiro, vou prescrever um calmante diferente deste. Os efeitos serão leves e duradouros.” – Annette assentiu. O médico, que havia escrito algo em um formulário, entregou a ela a receita. – “Se tomar muito remédio pode acabar tendo uma dor de cabeça por overdose. Não exceda as durações e dosagens prescritas.”
“Sim.” – Ela tinha acabado de descobrir que havia tomado um medicamento proibido para mulheres grávidas, mas, surpreendentemente, não teve nenhum sentimento a respeito.
O acidente não foi nada bom, a deixou como se houvesse um mau funcionamento em algum lugar do corpo dela, para ser mais preciso. Annette não conseguiu recuperar seu espírito confuso, mesmo quando o médico explicou os medicamentos que ela deveria tomar e saiu do quarto do hospital.
“…O médico.” – A voz embargada de Heiner quebrou o silêncio. – “Vamos mudar seu médico.”
Annette virou a cabeça lentamente para olhar para Heiner. Seus olhos de diferentes temperaturas se encontraram. Heiner a encarou, sem se mover nem um pouco, como uma pessoa que nem respirava.
Por fim, Annette balançou a cabeça lentamente. – “Não há necessidade disso.”
“Quantas vezes ele te examinou e não percebeu que estava grávida?”
“Está tudo bem.”
“O que quer dizer com está tudo bem?” – Heiner perguntou de volta em um tom bastante áspero.
Havia uma leve sugestão de raiva e preocupação sob seu rosto bonito, era uma expressão pouco familiar. Annette achou que ele estava exagerando. Ela realmente não se importava com nada e não precisaria de mais médicos de qualquer maneira.
“Bem, não importa agora…”
“Como assim não importa?”
Annette engoliu o suspiro que tentava escapar. Ela realmente não queria mais brigar com Heiner. Não porque estivesse preocupada com seu relacionamento, mas porque estava cansada de drenar sua energia mental com argumentos sem sentido.
“Por que você se importa?” – Annette virou a cabeça, pressionando a têmpora latejante com os dedos. – “…se quiser mudar, mude. Vai fazer o que quiser de qualquer jeito.” – Sua voz estava cheia de cansaço.
Os lábios de Heiner estavam pressionados em uma linha fina e não diziam nada. Um olhar ilegível se fixou no rosto de Annette. O ponteiro dos segundos no relógio de bolso soava regularmente, mas um silêncio inercial pairava entre eles.
Depois de um tempo, ele falou. – “O Dr. Arnold estava examinando não apenas a você, mas também a mim e aos criados da residência oficial. Não quero contratar alguém que não seja competente ou seja desonesto… não é só por sua causa.” – A voz dele estava mais suave do que antes.
Annette manteve os olhos na beirada da cama e assentiu distraidamente. A atmosfera que estava tensa gradualmente se acalmou.
“…Annette.” – Heiner a chamou, hesitando por um momento.
“Sinto muito que tenha passado por isso… Sinceramente, quem quer que seja responsável por isso seja responsabilizado. Legal e moralmente.
‘Sinto muito…‘ – ela repetiu mentalmente. Suas palavras soavam tão estranhas. Heiner falou como se estivesse consolando outra pessoa que não tinha nada a ver com ele.
Annette não conseguiu evitar rir alto. Ela preferia que ele não dissesse nada. Quanto mais ela iria esperar algo dele e se decepcionar? Ela esteve tão decepcionada com ele nos últimos três anos que não achava que poderia esperar mais nada.
Ele sentia muito.
Ele faria o responsável pagar.
Annette não tinha ideia do que fazer com tamanha simpatia barata. Ela queria desprezá-lo, queria ficar brava com ele, mas no fim do dia, tudo parecia vazio. Ele era o tipo de homem que olharia para a morte dela com o rosto inalterado e diria: “Que pena.”. Ou aliviado.
Annette escolheu mudar de assunto em vez de questioná-lo sobre isso. – “Quando terei alta?”
“Quando quiser.”
“Quero o mais rápido possível.”
“Ainda precisa se recuperar e não terminou seu acompanhamento psicológico…”
“Já disse que não preciso de acompanhamento, apenas chamarei o médico para a residência oficial.” – Annette falou em tom firme.
Sua voz estava mais fria do que quando falou de divórcio. Nos últimos três anos, Annette nunca havia dado uma ordem semelhante a Heiner, mas agora ela não sentia medo algum de contradizê-lo. Apesar de seu passado ter vivido como a pessoa mais próspera da capital, Annette não se sentia confortável em usar os empregados. Chamar o médico para a residência oficial era algo que ela teria dito no passado.
“…”
“Por que não?”
“Certo, vamos fazer o… tratamento lá.” – Heiner respondeu após alguns momentos de silêncio.
Seu olhar tocou os dedos de Annette, que também olhou para baixo. Uma voz áspera desceu sobre sua cabeça. – “Onde foi parar seu anel?”
Por um momento Annette não conseguiu entender suas palavras. – “…O quê?”
“Seu anel.” – Heiner olhou para o dedo anelar dela.
Annette deixou escapar um som “ah” tardiamente. O dedo anelar da mão esquerda dela estava vazio. – ‘Devo dar a desculpa de que deixei de lado porque era inconveniente?’ – Mas não havia razão para dar desculpas em uma situação em que ela já havia pedido o divórcio.
Depois de alguns momentos pensando, Annette calmamente respondeu. – “Eu simplesmente tirei.”
“Simplesmente tirou?”
“Não faz mais sentido usá-lo agora.”
Annette pensou que Heiner exigiria uma explicação, porque ultimamente ele estava bastante sensível a cada uma das ações dela. Inesperadamente, no entanto, Heiner não disse mais nada.
Olhando para o dedo anelar vazio dela por um momento, ele então virou a cabeça. – “…Descanse.”
***
O médico disse que não haveria problema se ela recebesse alta imediatamente. Não foi um ferimento grave e ela estava quase recuperada. O procedimento de alta ocorreu rapidamente. A notícia do aborto não vazou, mas o incidente e o hospital onde ela estava hospedada na época foram descritos em detalhes no jornal.
“Não conseguimos evitar que o incidente se espalhasse.” – Heiner disse, como se estivesse se desculpando.
No entanto, Annette não achava que ele deveria ter passado por esse problema por ela em primeiro lugar. – ‘Ser estraçalhada pelo público é diferente de ter a segurança ameaçada?’ – Annette pensou entorpecida e colocou seu chapéu de aba preta. Até seu vestido e sapatos eram pretos, fazendo-a parecer uma mulher indo a um funeral.
Annette puxou ligeiramente a cortina da janela. A luz, pontilhada com as sombras das gotas de chuva na vidraça, refletia nas costas de sua mão. Chovia lá fora. Guarda-chuvas redondos pairavam na entrada do hospital. Eram os repórteres que tinham vindo esperá-la. Seu olhar sem calor encarava o grupo.
Houve uma batida na porta e ela atendeu ainda olhando pela janela. – “Entre.”
A porta se abriu com um estrondo e uma voz baixa ecoou atrás dela. – “Já levei todas as suas coisas para o carro, vamos.”
Annette finalmente soltou a mão da cortina. Ela se virou, pegou sua bolsa na cama e saiu do quarto do hospital. Quatro atendentes a escoltavam.
“Se os repórteres se reunirem, não digam nada.” – Heiner, que caminhava ao lado dela, sussurrou suavemente. Annette olhou para ele. – “Estão esperando impacientemente para pegar qualquer coisa. Não dê nem mesmo uma resposta simples.”
Por causa da diferença de altura, apenas seu maxilar afiado e lábios firmes eram visíveis no campo de visão de Annette. Sob a iluminação azulada do corredor, ele parecia um grande fantasma.
“Entendeu?”
“…Sim.” – Annette abaixou a cabeça novamente e respondeu automaticamente.
Um silêncio frio pairava no ar enquanto desciam no elevador reservado somente para nobres. Annette puxou para baixo o véu preto do chapéu e seus dedos começaram a tremer levemente.
Quando eles entraram no saguão pelo corredor, os olhos das pessoas no prédio de repente se voltaram para ela. O saguão, estranhamente silencioso, parecia estranho. Annette manteve os olhos nas pontas dos sapatos e se concentrou apenas em se mover em linha reta.
O atendente na frente estendeu a mão para a porta de entrada e ombros de Annette enrijeceram de nervosismo e medo. No momento em que a porta se abriu, o som da chuva e do caos a alcançaram. Os flashes das câmeras estouraram na chuva.
“Ela saiu!”
“Acendam as luzes!”
“Por favor, olhe para cá!”
“É vontade da senhora que seu prontuário médico seja mantido em sigilo?”
“Tem alguma razão para pensar que esse tiroteio foi por rancor?”
“Tem alguma intenção de dar entrevistas?”
As perguntas, lançadas como gritos, ecoavam em seus ouvidos e os flashes a cegavam. Os atendentes bloqueavam a reunião de repórteres. Um fino nó ósseo se formou nas costas da mão de Annette enquanto ela agarrava a alça de sua bolsa como uma tábua de salvação.
Heiner protegeu Annette, quase a abraçando. Seu cheiro familiar atingiu suas narinas, mas Annette não conseguia se sentir segura. Por muito tempo ela esperou que esses braços grandes a protegessem, mas agora que ela pensava nisso, era impossível desejar sua proteção desde o início. Não seria melhor se ela apenas cobrisse os olhos para não ver nada?
Cacos de lâmpadas quebradas esmagavam-se sob seus calcanhares. Toda vez que o flash da câmera disparava, havia um som de estalo.
“…Está em um relacionamento secreto?”
“…no decorrer da declaração…”
“…Senhora!” – No meio da comoção, uma voz aguda de repente perfurou seus ouvidos. – “Madame Valdemar!”