Meu Amado Opressor - Capítulo 13
Heiner parecia confuso como alguém que duvidava de seus ouvidos.
Fechando os punhos no colo, Annette falou novamente. – “Heiner… você deve ter me achado tão tola.” – Ela se sentia estranhamente vazia apesar de querer agarrá-lo pelos ombros e dizer algumas palavras de ressentimento. – “Se fingiu estar apaixonado por uma mulher que odeia e sente nojo… essa mulher foi uma tola por amá-lo, então deve ter rido muito por isso.”
Ela deu uma risadinha, como se fosse realmente engraçado, mas a risada logo diminuiu. Então ela continuou com uma cara séria.
“Deve ter sido hilário ouvir que eu te amava, mesmo quando a monarquia caiu, meus pais se foram e você alcançou tudo que queria.” – Ela se engasgou com suas emoções, mas nenhuma lágrima saiu. Uma voz tensa fluiu de dentro de si. – “Mesmo nesses três anos infelizes de casamento… eu ainda te amei durante todo esse tempo.” – Os olhos de Heiner pareceram tremer com essas palavras. Não, talvez sua visão tenha tremido, Annette pensou e baixou o olhar silenciosamente.
Durante esses três anos, seu amor foi quebrado inúmeras vezes, tornando difícil dizer sua forma original. Desmoronamento significa a necessidade de uma reconstrução. Por três anos, Annette frequentemente desmoronou e, por sua vez, frequentemente foi reconstruída.
‘Ele voltará para mim. Ele vai sorrir de novo. Ele vai mudar de ideia. Ele vai sussurrar palavras gentis de novo. Ele vai me amar de novo… Precisei me recompor depois de ser quebrada tantas vezes… Por quanto tempo mais precisarei fazer isso?’
“…Mesmo agora…” – Heiner quebrou o silêncio e perguntou com uma voz que parecia rachada. – “Mesmo agora, você ainda me ama?”
Annette pensou que as palavras dele eram sarcasmo ou ridicularização. Ele não falou com esse tipo de tom, mas soou assim para ela de qualquer forma.
Annette murmurou com um sorriso amargo no rosto. – “Se eu dissesse que sim, quão patética eu seria?” – O olhar de Annette se voltou para os lençóis da cama e falou sem expressão. – “Eu não sei bem. Eu amei o que você fingiu ser. Tudo que eu amava em você acabou sendo uma mentira, então meu amor não era uma mentira também?”
Veias saltavam das mãos de Heiner. Annette se lembrou do passado quando enterrava o rosto naquelas mãos.
“O que isso mudaria agora? Nada mudará. Mas também acho que… simplesmente não posso culpar o amor só porque a situação em que estou não é muito boa. Mas, de qualquer forma, meu coração não é mais útil para você. Quer eu te ame ou não, nada vai mudar.”
Annette, que havia levantado a cabeça novamente, tinha apenas um olhar pacífico no rosto. Como se nada tivesse acontecido.
“Isso nunca mais vai acontecer.” (A)
“…”
“Nunca mais.” (A)
****
Como ela havia vagamente previsto desde o momento em que entraram no hotel, parecia que Heiner estava planejando passar a noite ali. Seus assistentes trouxeram sua bagagem, que incluía uma muda de roupa, sapatos e artigos de higiene. Annette tomou um banho com a água quente fornecida pela equipe e quando saiu do banheiro estagnou no meio do caminho. Heiner, que ela pensou que ficaria em outro quarto, estava sentado à mesa folheando um jornal.
“…Você também vai ficar aqui?”
“Por quê? Quer que eu fique em outro quarto para que possa fugir de novo?”
“Não foi isso que eu quis dizer.”
Quando Heiner estava prestes a entrar no banheiro com suas roupas, Annette se apressou para lhe contar: – “Espere um minuto, peça para a equipe pegar um pouco de água morna.”
“Não precisa.” – Ele se virou novamente e, quando estava prestes a fechar a porta do banheiro, uma voz fria soou pela fresta da porta. – “Nem pense sair, a menos que queira ser arrastada de volta pelos atendentes.”
Depois que a porta fechou, Annette ficou ali, atordoada. Ela se sentiu um pouco confusa, pois ele parecia genuinamente bravo. Ela ouviu o som da água por um momento antes de se afastar. Sentou-se na penteadeira e apertou o cabelo molhado com uma toalha.
Na superfície do vidro estava o reflexo de uma mulher com olhos vazios. Não parecia haver um único sinal de vida. Annette esfregou o espelho uma vez, deixando uma marca de mão em seu rosto espelhado. Quando ela secou o cabelo e se deitou na cama, Heiner saiu do banheiro. Annette puxou as cobertas sobre ela e se enrolou.
Heiner apagou as luzes e então acendeu uma das lâmpadas a gás na mesa. A luz amarela iluminava fracamente um canto da sala. Ele tirou um envelope de documentos da mala e sentou-se em uma cadeira. Annette fechou os olhos e tentou dormir, mas não sentia sono, muito com ele ali ao lado. De vez em quando, ouvia-se o som de papéis sendo virados em meio ao silêncio.
‘Por que ele veio até aqui se está tão ocupado?’
Mesmo depois de ouvir todas as informações de Heiner, ela ainda não conseguia entender seu comportamento. Heiner agia como se não quisesse vê-la, mas ao mesmo tempo, como se quisesse ficar sentado ao lado dela para sempre. Mas em qualquer uma das situações, o relacionamento deles era tão precário quanto estar em um lago raso e congelado.
Heiner trabalhou até tarde da noite e Annette o observou. O som da caneta escrevendo algo, seus dedos traçando o papel, sua respiração baixa… Somente depois de um tempo considerável Heiner apagou o lampião a gás e se levantou. Enquanto caminhava até a cama Annette se virou e se moveu para a beirada.
Heiner franziu as sobrancelhas diante das ações dela. – “Você ainda não dormiu?”
“…Não estou conseguindo dormir…”
Heiner subiu na cama com um olhar descontentamento no rosto.
Annette sentou-se trêmula e despejou água em um copo que estava na mesa lateral, então se abaixou e pegou a bolsa que estava debaixo da cama. Quando estava prestes a abrir a bolsinha de remédios Heiner segurou seu pulso.
“O que é isso?”
“Remédio.”
“Pílulas para dormir? Por quê?”
“Não consigo dormir.”
“Então toda vez que você não consegue dormir toma essas pílulas? Acha que isso é saudável?”
“Não é como se eu tomasse porque gosto.”
Heiner suspirou irritado e retirou os comprimidos das mãos dela.
Com as mãos ainda levantadas, Annette o observou impotente. Ela não tinha certeza de qual parte de si mesma o havia irritado novamente. O que tomar remédio tinha a ver com ele?
“Não tome mais essa coisa, quer ficar viciada nisso?”
“Eu vou cuidar de mim mesma.”
“Deixo faça o que quer e é assim que cuida de si mesma?”
Annette virou a cabeça para evitar os olhos dele. Era sempre assim toda vez que ela falava com Heiner, ele não gostava nada que ela fazia. Talvez apenas a mera existência dela o irritasse.
‘…Ele não era assim antes.’ – Ela pensava frequentemente no passado, mesmo sabendo que não fazia sentido ruminar. No passado, sempre havia amor e afeição em suas conversas. Às vezes eles brigavam, mas era só um pequeno conflito, como amantes normais.
Depois de uma briga, Heiner sempre estava disposto a se desculpar e buscar a reconciliação primeiro. Depois de fazer as pazes, ele sempre abraçava Annette e beijava sua testa e bochechas.
‘Olhando para trás… suponho que foi porque ele precisava manter um bom relacionamento comigo.’ – Porque para se tornar um membro da comitiva do Marquês, teria que se certificar de casar-se com ela.
Seu estômago revirou, mesmo que não tivesse comido nada. Annette virou-se para deitar, então voltou a cabeça ao som de Heiner se levantando novamente. Ele colocou o bule no fogo e selecionou algumas folhas de chá que o hotel forneceu. O som de água fervendo preenchia o silêncio. Logo, o quarto foi preenchido com o leve aroma de chá.
“Aqui.” – Heiner estendeu uma xícara de chá. Os olhos de Annette se arregalaram quando ela olhou para ele. – “Beba.”
Erguendo a parte superior do corpo, Annette aceitou a xícara de chá quente. Uma sensação de calor passou pela palma de suas mãos.
“Deve ajudá-la a dormir.”
“…O que é?”
“Camomila.” – A voz de Heiner ainda estava brusca e parecia aparentemente descontente. Ela não sabia o que ele estava pensando.
Annette tomou um gole de chá, observando a expressão dele.
“Me dê sua bolsa.” (H)
“Minha bolsa… por quê?” (A)
“Quero ver algo.” (H)
‘Ver o quê?’ – Engolindo suas palavras, Annette hesitantemente pegou a bolsa. Heiner a recebeu e sentou-se na cama, então dispôs os pertences da bolsa na cama, um por um.
“São estes os comprimidos para dormir?”
“Não, os comprimidos para dormir são estes…”
“Então, o que é isso?”
“Remédio para dor de cabeça.”
“E isto?”
“Remédio para náusea.” – Annette, observando seu rosto rígido, acrescentou como desculpa. – “Porque meu estômago não está muito bom ultimamente.”
“O que o médico disse?”
“Apenas…” – Annette ficou em conflito por um momento, mas então respondeu honestamente. “…Que estou exagerando.”
De qualquer forma, tudo teria sido revelado se Heiner tivesse perguntado a Arnold, mas não queria contar mentiras desnecessárias por causa do seu orgulho. Heiner segurou a bolsa de remédios silenciosamente por um tempo, então olhou silenciosamente para dentro da bolsa.
Depois de tirar a maioria dos pertences, Heiner pegou algo do fundo da bolsa. Era um pedaço de papel branco. O rosto de Annette endureceu quando ela percebeu o que era.
Era o cartão de visita de Ansgar Stetter.