Meu Amado Opressor - Capítulo 12
As costas de Heiner estavam voltadas para a lua, então sua expressão era difícil de ver na sombra. Por algum motivo, as pernas de Annette enfraqueceram assim que ouviu a voz dele, então Heiner segurou firmemente os braços dela enquanto ela cambaleava. Assim que recuperou o equilíbrio, ele a levou para a areia.
Annette olhou para Heiner com cautela, ao luar seu rosto estava sombreado, mas sua figura era pálida e bela, como uma estátua perfeita. Sua mandíbula se apertou quando ele encontrou seu olhar, os olhos cinzas escureceram nitidamente, como se estivessem afundando.
Annette murmurou. – “Está atrasado, pensei que viria me buscar mais cedo.”
“Calce os sapatos e arrume suas coisas. Agora.” – Heiner ordenou, parecendo completamente inflexível.
Com um pequeno aceno, Annette tentou se mover, mas parou. Ela sentiu uma dor aguda no pé. Ela acidentalmente havia pisado em algo e sangue estava escorrendo, ela se perguntou se deveria pedir a Heiner para pegar seus sapatos, mas difícil falar com ele casualmente, mesmo que não fosse um pedido difícil.
Heiner, que a observava, suspirou um tanto agitado. – “Fique parada.”
Ele andou até onde estava a bagagem dela, e pegou seus sapatos e uma sacola, que Annette inadvertidamente aceitou. A próxima coisa que percebeu foi que seu corpo subitamente foi levantado. Ela soltou um grito curto e agarrou o casaco de Heiner, que tinha uma apoiando suas costas e a outra sob seus joelhos, com seus sapatos balançando em seus dedos.
“Eu posso andar…!” – Annette exclamou em pânico, mas ele não respondeu. A bainha do vestido, que tinha ficado molhada na água do mar, encharcou as roupas de Heiner.
“Não é como se eu não pudesse andar. Me coloque no chão, Heiner.” – Annette disse repetidamente, mas ele fingiu não ouvi-la.
Eventualmente ela finalmente desistiu e relaxou seu corpo. Heiner saiu rápido da praia segurando Annette e seus sapatos em direção a um hotel próximo. Entretanto, mesmo quando estavam na entrada do hotel, Heiner não parecia inclinado a colocá-la no chão então Annette torceu o corpo ligeiramente e tentou escapar.
“Você realmente precisa me descer, vou calçar meus sapatos…”
“Fique quieta.” – Ele a interrompeu com uma voz sombria. O humor de Heiner parecia muito ruim.
‘Eu fugi e o deixei bravo… Por quê?’ – Annette se perguntou enquanto olhava para o pescoço dele, onde as veias tênues estavam tensas.
Ela não esperava que ficasse bravo, na verdade, pensou que ele enviaria seus assistentes para pegá-la, dar-lhe algumas palavras de aviso e trancá-la em seu quarto.
“Oh, desta vez posso acabar em um hospital psiquiátrico.” – Enquanto Annette previa o futuro com indiferença, Heiner entrou no hotel.
Quando chegaram sob as luzes brilhantes, Annette enterrou o rosto no peito dele pois estava com medo de que alguém a reconhecesse. O cheiro único do corpo de Heiner ficou mais forte e ela permaneceu quieta com o nariz em seu peito.
Ela podia sentir o corpo dele enrijecendo levemente. Heiner não podia não gostar disso, mas não havia o que fazer, foi ele quem recusou seu pedido para colocá-la no chão. Se ele não quisesse ter contato próximo com ela, poderia simplesmente tê-la deixado ir embora. No entanto, apenas os lábios de Heiner endurecem um pouco, ainda segurando-a com firmeza.
Depois de receber uma chave para um quarto na recepção, Heiner entrou no elevador. Eles não conversaram nem mesmo depois de chegarem ao quarto. Assim que Heiner entrou no quarto jogou os sapatos dela para o lado, também pegou o papel que Annette estava carregando e o jogou descuidadamente. A bolsa, que ela tinha colocado no saco de papel, caiu no chão.
Heiner ergueu as sobrancelhas quando viu a bolsa preta. – “Você deixou na praia? E se alguém tivesse roubado?”
“…Sim.” – Ela não pensou na possibilidade.
Parecia estúpido, mas ela realmente não pensou. Annette nunca pensou que alguém pudesse “roubar” suas coisas. Era um ato muito inculto e vulgar roubar as coisas de alguém, nunca tinha imaginado tal ato. Não havia nada lhe faltando, então não havia nada para roubar. Além disso, Annette sempre teve empregados e, naturalmente, eles protegiam sua bagagem. Era algo com que ela não precisava se preocupar.
Enquanto Annette estava imersa em sua nova iluminação e choque, Heiner, ainda com ela em seus braços, foi em direção ao banheiro. Ele a desceu sobre a banheira que estava encostada na parede e ela se recostou levantando seu pé machucado.
“Eu vou arrumar as coisas.” – Com isso, Heiner olhou para o rosto dela por um momento, então rapidamente se virou e saiu do banheiro.
A porta permaneceu aberta.
Annette hesitou por um momento, então arregaçou a saia e lavou apenas as pernas e os pés. Com a porta aberta, ela só conseguia fazer isso, não havia água quente de qualquer forma, e um banho seria difícil. A água lavou o sangue e a areia, mas revelou que o ferimento era mais profundo do que esperava.
Parecia que Heiner estava falando com alguém, talvez seu atendente, enquanto isso ela rapidamente se enxugou com uma toalha. Quando saiu do banheiro Heiner já tinha ligado o aquecedor a óleo e até mesmo retirado o kit de primeiros socorros.
Ele gesticulou, como se estivesse dizendo para ela se aproximar e se sentar. Enquanto Annette cuidadosamente se sentava na cama, Heiner examinou silenciosamente o ferimento em seu pé. Enquanto isso, ela reparou que a mão dele em volta de sua perna era particularmente grande e quente.
Por algum motivo, Annette não conseguia suportar o constrangimento daquela situação. Apesar de serem um casal, nunca olharam direito para o corpo um do outro. Era só um pé, mas o constrangimento era o mesmo. Por outro lado, o rosto de Heiner estava tão rígido quanto sempre. A série de ações de desinfetar o ferimento, aplicar remédio e então enfaixá-lo parecia familiarmente feita, como se fosse um hábito antigo.
Enquanto dava o nó na atadura, Heiner falou em tom frio. – “O que diabos estava pensando?”
“….”
“Era tão importante vir a um lugar como esse que teve que enganar os atendentes?”
“…”
“Por quê? Tinha um encontro aqui com Ansgar Stetter?” – Heiner sentou-se com um joelho no chão e olhou para ela com olhos raivosos. Mas a mão que segurava seu pequeno pé era gentil. – “…Em um lugar como este?”
Annette abriu a boca silenciosamente. – “Eu apenas quis ver o mar.” – Seus olhares em choque causaram uma pequena ondulação no ar. Annette inclinou a cabeça. – “Então por que eu deveria pedir sua permissão para vir a um lugar como este? Foi isso que pensei.”
“Com ou sem permissão, esqueceu que é a esposa do Comandante-Chefe? Está em sã consciência para sair sem um acompanhante?”
“Por isso pedi o divórcio, porque não quero mais ser a esposa do Comandante- Chefe.”
“Então sua pequena fuga foi uma rebelião para se divorciar?”
“Não necessariamente, eu só queria ver o mar…”
Heiner suspirou e colocou o pé no chão. – “Bem, não parece que veio aqui só para isso.”
“…”
“Estava planejando nadar no mar à noite?”
“O quê…?!” – Annette abriu a boca para negar, mas não conseguiu pensar em uma resposta adequada, então finalmente fechou os lábios novamente. Annette não tinha certeza do porquê tinha feito isso, mas definitivamente não pretendia se afogar ali e morrer. No entanto, não significava que ela queria continuar vivendo assim…
“…Eu só queria molhar os pés.” – Annette, aflita, simplesmente respondeu. Ela não sentiu nenhuma necessidade de explicar a ele como se sentia, como estava se sentindo e o que se passava em sua mente.
Heiner levantou um canto da boca com uma expressão de travessura desconhecida. – “Suponho que sim.” – Ele falou devagar, como se tentasse se convencer. – “Você tem medo de muitas coisas, do escuro, de altura, da água…”
Annette olhou para ele sem expressão. As palavras de Heiner estavam meio certas, meio erradas. Ela ainda tinha medo de muitas coisas, mas os exemplos que Heiner mencionou estavam no passado. Annette não tinha mais medo do escuro, agora gostava mais do escuro do que da luz. Ninguém conseguia se ver nele. Além disso, não tinha mais medo de altura e vendo que entrou na água sem hesitar, talvez também não tivesse mais medo de água. Era um tipo um pouco diferente o medo que Annette tinha agora.
“Enquanto todos temos medo de coisas insignificantes… você nem se preocupou com o que poderia lhe acontecer na ausência de atendentes. Eu sempre odiei que agisse dessa forma.”
“…”
“Não pode nem supor que alguém possa roubar suas coisas? Um pensamento tão inocente…”
“…”
“O mundo mudou, mas você continua a mesmo. Por mais frustrante que seja, nada mudou, é a mesma mulher fútil daquela época.” – Heiner terminou suas palavras como se estivesse mastigando cada palavra, mas não pareceu nem um pouco aliviado depois de soltá-las.
‘Quanto ódio guardado’ – Annette pensou distraidamente.
Um canto do seu peito doía como se tivesse sido escavado, mas sua mente estava tão calma quanto se estivesse com defeito. Annette retraçou suas memórias, quantos anos tinha o ódio dele? Quando exatamente ele começou? Foi desde o momento em que se viram pela primeira vez ou foi antes mesmo de saberem que o outro existia?
“…Heiner.” – Ela disse. – “Você deve ter rido muito de mim.”
O que ele pensou quando ela confessou seu amor?