Meu Amado Opressor - Capítulo 08
Depois do almoço, uma criada informou Annette sobre o pedido de um visitante para uma reunião. – “Senhora, um cavalheiro deseja vê-la, disse que é um antigo conhecido.”
“Um conhecido meu?” – Havia algum conhecido que poderia visitá-la? Quando Annette já estava ficando confusa, ouviu um nome familiar.
“Sim, ele disse que você saberia quem é se ouvisse o nome ‘Ans’.”
Os olhos de Annette se arregalaram lentamente enquanto ela lembrava do nome. – “Ans…”? – Ansgar Stetter. O segundo filho do falecido Conde Stetter e amigo de Annette. Ansgar já havia cortejado Annette, mas isso nunca se materializou. Quando Annette se casou, ele foi estudar no exterior e não se ouviu falar dele desde a Revolução.
“Hm, senhora? O que devo fazer?”
“Ah, hm…” – Annette hesitou, incapaz de responder imediatamente.
Não era que não confiasse em Ansgar ou que estivesse desconfortável. Apenas… Era horrível vê-lo assim. Stetter era um amigo próximo de Rosenberg, foi também por isso que Annette e Ansgar cresceram próximos um do outro desde cedo.
Com a queda de Rosenberg, a família Stetter também entrou em colapso, mas Ansgar estava no exterior na época da revolução e felizmente evitou o desastre. No entanto, a posição de Annette e Ansgar era diferente. Não era meramente uma diferença de distância, ela estava em uma posição diferente não apenas de Ansgar, mas de todos outros nobres caídos.
Após a revolução, as forças revolucionárias usaram a opinião pública para justificar o derramamento de sangue e consolidar a agitação. Annette foi usada para essa propaganda. Ela era muito bem adequada para essa tarefa, pois tinha sangue real, um símbolo de ‘nobreza’ e era filha de um comandante militar. A imprensa mordeu Annette no pescoço para espalhar sensacionalismo anti-monarquia. Hoje, a imagem de Annette na Padânia era nada menos que uma vilã.
Annette, angustiada, finalmente deu sua permissão. – “Na sala de recepção… Por favor, deixe-o entrar na sala de recepção primeiro. Peça a ele para esperar um momento…”
“Sim, Madame.” – A criada abaixou a cabeça e saiu.
Annette sentou-se à penteadeira e olhou-se no espelho. A mulher que viu parecia melancólica e prestes desmaiar a qualquer momento. Ela aplicou uma maquiagem simples, batom vermelho nos lábios e blush nas bochechas, e pareceu melhor em um instante.
Quando desceu para a sala de recepção, um criado a esperava.
“O convidado…?”
“Ele está lá dentro. O chá já foi servido.”
Annette respirou lenta e profundamente, então abriu a porta da sala. Sua mão tremia levemente enquanto girava a maçaneta. Havia um leve aroma de chá na sala de estar e um homem de terno marrom sentado no sofá. Quando Annette entrou, Ansgar tirou o chapéu e se levantou do assento.
“Annette.”
“Já faz muito tempo.” – Annette respondeu claramente com um leve sorriso.
Mas ao contrário, um olhar feliz e triste era evidente no rosto do homem. Ansgar caminhou até ela e a abraçou com força. Annette quase chorou e colocou as mãos nas costas dele. Eles se separaram após um breve abraço. Ansgar não tirou os olhos do rosto de Annette enquanto se sentava novamente.
“Você parece muito magra.”
“É mesmo?”
“Mas ainda está linda como sempre.”
Annette riu sem responder. Ela rapidamente descartou o pensamento, imaginando se Ansgar ainda tinha sentimentos por ela. Se ele tinha ou não, não importava mais.
“Lhe enviei uma carta primeiro, mas você não respondeu. Então, não tive escolha a não ser visitá-la pessoalmente.”
“Acho que foi porque eu disse aos servos para filtrarem qualquer carta com endereços desconhecidos. Por acaso, não perdeu tempo visitando a velha mansão, não é?” – Annette disse isso como se fosse uma piada, mas a expressão de Ansgar não era alegre.
“Não. Claro que procurei a residência oficial primeiro, já que é a esposa do Comandante-Chefe.”
“Como tem passado? Por acaso voltou para ficar em Padânia?”
“Na verdade, não, apenas vim para resolver algumas coisas. Eu precisava vê-la pelo menos uma vez… agora estou trabalhando como embaixador da França.”
“França?”
“Fui para a França logo depois de me formar. Conheço muita gente lá.” – A maioria dos aristocratas da Padânia que partiram após a revolução desertaram para a França.
“Um embaixador. Você conseguiu, Ans.”
“O sucesso é algo que poderia ter significado uma vida melhor se tivesse sido vivido como antes.”
Annette sentiu um estranho desconforto em suas palavras. Vivido como antes. A vida antes da revolução. Uma vida que nunca aconteceria. Essa vida era realmente melhor? Talvez fosse. Talvez…
“Como você está, Annette?”
Annette de repente voltou a si. Ansgar estava olhando para ela com uma expressão simpática.
Ela respondeu asperamente. – “Hm, bem, eu apenas fico aqui.”
O olhar estranho de Ansgar parecia sugerir que ele sabia tudo sobre a vida de Annette. Certamente, ele não poderia saber. Especialmente se estivesse trabalhando como embaixador.
Depois de tomar um gole de chá, Ansgar abriu a boca silenciosamente. – “Eu me casei.”
“Ah, é mesmo? Parabéns. Quem ela…”
“Mas me divorciei ano passado.”
Ao ver Annette com uma expressão um pouco confusa, Ansgar riu. – “Nós nos casamos por necessidade de qualquer forma. Eu precisava de cidadania.”
“Ah…”
“E você?”
“Eu?”
“Vai continuar neste casamento?”
Annette ficou sem palavras com a pergunta direta dele. Não simplesmente porque não conseguia escolher o que dizer. Havia criados esperando na sala de estar. Todos os criados na residência oficial eram do pessoal de Heiner. Em outras palavras, todas as conversas que ocorressem aqui seriam relatadas a Heiner.
“Em primeiro lugar…”
“Quer continuar aqui? Não está alheia ao que seu marido fez conosco, está?”
“Eu não sou tão estúpida, Ans.”
“Nunca foi minha intenção sugerir que…”
“Eu sei. Eu quero o divórcio também. Só não agora.” – Annette hesitou por um momento.
O que ela deveria dizer? Que o marido não concordava com o divórcio? Que ela não poderia garantir as chances de ganhar o julgamento do divórcio? E que se ela persistisse seria trancada em uma instituição mental? O que quer que ela escolhesse dizer, as palavras seriam muito longas.
Annette olhou para o servo parado atrás dela como uma sombra e deu uma resposta vaga. – ”Bem… um divórcio agora seria meio difícil.”
“Não teria para onde ir quando se divorciasse, certo?”
“Está aqui para me deixar ciente das minhas circunstâncias?”
“Não leve isso tão a sério, Annette. Estou sinceramente preocupado com você, só não quero mudar de assunto sem motivo.” – Ansgar soltou um suspiro curto enquanto levantava as mãos e as mostrava como se não tivesse más intenções. Ele cerrou os dois punhos e depois os abaixou novamente. Logo uma confissão decisiva fluiu. – “Venha comigo para a França.”
“…O quê?”
“Ainda tenho você em meu coração. Sempre pensei que, assim que eu me estabelecesse, levaria você comigo. Se casar-se comigo, receberá cidadania francesa.”
“….”
“Sei como é a atmosfera em Padânia. Você foi usada pelas forças republicanas e seu marido concorda com elas, não vai ajudá-la. No momento sou sua melhor opção.”
“….”
“Segure minha mão, Annette.” – Ansgar sorriu gentilmente para tranquilizá-la. – “Você será mais feliz.”
“….”
“Eu lhe farei feliz pelo resto de sua vida.”
Annette olhou para o rosto confiante dele. Ansgar esperou pacientemente pela resposta dela. Depois de pensar em algo, Annette respondeu fracamente.
“Meu marido… ele não permite.”
“Se vocês se divorciarem e se tornarem estranhos, permissão não significa nada.”
“Ele é o Comandante-Chefe, não tolerará atos contra sua vontade.”
“Annette, por acaso você…” – Um leve espanto cruzou o rosto de Ansgar. Annette vagamente adivinhou o que ele estava prestes a dizer. Por acaso seu marido a tenha trancado aqui e abusado mental e fisicamente…? Bem, era isso que parecia.
Ela não podia dizer que Ansgar ele estava cerrado, mas Annette não queria parecer lamentável. Nem mesmo nessa situação.
“Seja lá o que esteja pensando, Ansgar, estou bem. Não precisa se preocupar.”
“Além da questão do divórcio… a situação geral é demais para você.”
“Três anos.” – Annette o interrompeu calmamente. – “Por três anos tenho suportado isso. Não vejo razão para não poder suportar mais.”
A expressão de Ansgar ficou um pouco estranha. Em pouco tempo, a atmosfera havia afundado. Annette fechou os olhos por um longo tempo e então sorriu calmamente.
“Quero colocar meus pensamentos em ordem primeiro. Foi muito repentino. Tudo bem?”
“Certo. Falei demais do ponto principal, não foi? Desculpe. E-Eu estava esperando por hoje há muito tempo, mas do seu ponto de vista, deve ter sido repentino.” – Ansgar coçou a bochecha, envergonhado. Seu pescoço e lóbulos das orelhas estavam levemente vermelhos.
Annette balançou a cabeça. – “Não, eu deveria ter recebido sua carta. Hm, de que maneira devo falar com você? Lhe responderei mais tarde.”
“Ah, sim! Tenho que lhe dar minhas informações de contato. Aqui está meu cartão de visita… Oh, vou colocar meu endereço atrás também, estou hospedado em um hotel, pode perguntar meu nome na recepção ou ir diretamente ao meu quarto.”
Ansgar tirou desajeitadamente uma caneta de dentro do casaco e escreveu o endereço no verso do cartão de visita. Sua aparência lembrou Annette do garoto com quem ela havia brincado no passado. Entretanto, ele era um tanto desconhecido para ela agora.
“Bem, certifique-se de me ligar novamente, sempre que precisar de ajuda é só me avisar.”
“Claro. Obrigada.”
Ansgar se levantou com pesar e Annette o acompanhou até o portão, apesar das tentativas de Ansgar de impedi-la. Ele era um velho amigo que tinha vindo visitá-la novamente e ela estava muito feliz, mesmo em tais circunstâncias. De volta ao prédio, Annette fechou a porta da frente e se apoiou nela por um momento. A desolação que havia envolvido a área após a partida de Ansgar era especialmente pesada.
Annette olhou para o cartão de visita dele. [Ansgar Stetter.] Família Stetter. O embaixador da França, conhecidos, nobres exilados, casamentos. Forças republicanas…
Annette murmurou lentamente em voz baixa. – “…Restauração da monarquia?”