Meu Amado Opressor - Capítulo 04

Imediatamente uma forte dor de cabeça atingiu seu cérebro. Ela apertou as têmporas e enrolou o corpo, sua cabeça parecia estar quebrada. Annette habitualmente tentou encontrar seu remédio para dor de cabeça, apenas para perceber depois que estava sem ele. Ela suspirou e se sentou.

A luz exuberante do amanhecer pairava no ar. Ela afundou mais na cama e esperou o sol nascer. Atualmente, costumava acordar cedo por causa de suas dores de cabeça, mas sempre matava o tempo silenciosamente assim. Até que o mundo acordasse e se movesse.

Ela gostava bastante dessa hora do dia. Gostava que ninguém parecesse estar vivo, incluindo ela mesma. Estava quieto. Pacífico. Tanto que desejou que o sol nunca nascesse.

Annette virou a cabeça para olhar para o assento ao lado dela. Era onde Heiner tinha se sentado ontem. Ela sempre acordava sozinha. Padânia era um país onde casais, tanto aristocratas quanto plebeus, normalmente usavam o quarto juntos, mas esse não era o caso deles.

No passado, Annette visitava o quarto de Heiner de tempos em tempos. Ela queria manter o relacionamento conjugal deles e desejava ter um filho. Os médicos disseram que seria difícil para ela conceber, mas ainda assim não desistiu.

Ela pensava que ter um filho melhoraria o relacionamento deles… E Heiner nunca recusou suas visitas ao quarto dele. Por quê? Por que ele nunca a rejeitou? Ele estava tentando fazê-la viver com esperanças vãs?

Mas Heiner também não era gentil no quarto. Eles faziam sexo no escuro, sem tirar a roupa e com as luzes apagadas. Annette nunca o tinha visto nu. Após o fim do ato, ele sempre saía do quarto antes do amanhecer. Mesmo que o quarto fosse dele. Era como se fosse um pecado passar a manhã juntos.

Annette fechou os olhos e se deitou. Sua cabeça latejava. Assim que amanheceu, chamou o médico. Dr. Arnold a examinou mecanicamente e tirou alguns comprimidos de sua bolsa. Eram os mesmos comprimidos de antes.

Annette franziu ligeiramente a testa. – “Essas pílulas não estão funcionando muito bem.”

“Madame, este é um remédio bom o suficiente, você parece querer algum tipo de remédio perfeito. Enxaqueca é uma doença comum. não há necessidade de ser hipersensível.”

“Está dizendo que devo conviver com essa dor de cabeça?”

“Sim.”

Annette fechou a boca. Ela não conseguia acreditar, mas não havia mais nada a dizer quando o médico disse que era assim. Não seria particularmente útil perguntar a ele de qualquer maneira.

“…Entendo, de certa forma. Mas não é só a dor de cabeça… meu corpo não parece estar bem ultimamente. Meu estômago também está muito nauseado, estive pensando se não poderia ser gastrite.”

“Provavelmente é relacionado ao estresse, falta de exercícios, etc. Evite alimentos estimulantes e ande um pouco em vez de ficar tanto tempo deitada.” – O tom de Arnold soou como se ele estivesse zombando da preguiça de Annette, que estava sempre confinada em seu quarto. Com certeza, sarcasmo disfarçado de conselho se seguiu. – “A madame cresceu preciosamente e é sensível até mesmo ao menor desconforto. Não posso ser seu médico particular, tenho muitos a atender aqui na mansão.”

“…Certo.” – Annette respondeu com voz arrastada. A alguns passos de distância, ela podia ouvir o escárnio dos servos. – “Entendo. Obrigado por me tolerar, Dr. Arnold.” – Annette sorriu gentilmente. No entanto, seus lábios mal se moveram.

***

“De qual gostaria, senhora?”

A criada mostrou-lhe vários vestidos. Todos eram roupas opacas de azul escuro ou cinza. Annette escolheu um vestido azul-marinho brilhante. Ela não queria que fosse muito escuro para uma festa. Após a queda da monarquia, Annette viveu uma vida simples. Heiner não disse a ela para fazer isso, mas ela mesma fez. Era óbvio que se usasse algo um pouco extravagante, seria imediatamente alvo de fofocas.

Durante todo o tempo em que esteve sendo arrumada para a festa ela ficou em siêncio. Fazia muito tempo que eles conversavam alegremente, contando todo tipo de elogios e fofocas. As servas geralmente seguiam a estrutura de poder da casa, mas isso não se aplicava à Annette. Elas eram todas cidadãs comuns e não tinham nenhuma relação com nobres durante a monarquia. Em vez disso, houve muitos casos em que elas perderam o que tinham para a família real e o exército ou se juntaram ao exército revolucionário. Isso significava que não havia absolutamente nenhuma razão para elas mostrarem qualquer favor ou simpatia a Annette.

“Devo prender seu cabelo?”

“Sim, por favor.”

“Como gostaria que fosse decorado?”

“Minha franja está cobrindo meus olhos, então eu gostaria que usasse um grampo.”

Mas seus sentimentos ruins em relação a Annette não eram expressos em nenhum grau maior. Seja por meio de fofocas, provocações ou irresponsabilidade. Eles não eram pessoas fundamentalmente más. Isso deixava Annette ainda mais angustiada.

“Está feito. Sua Excelência está esperando lá fora.” – A serva disse rigidamente, abaixou a cabeça e então recuou.

Annette colocou um lenço e remédio para dor de cabeça na bolsa, como era seu costume, e saiu da residência. O carro estava estacionado na entrada do portão. Ela podia ver Heiner pela janela do banco de trás. O motorista abriu a porta e Annette entrou e sentou-se cuidadosamente ao lado dele.

Enquanto arrumava a bainha grande de seu vestido, Heiner apoiou o queixo em uma das mãos e olhou fixamente para fora da janela. Seu perfil parecia elegante e forte. Um homem realmente inescrutável, ela pensou.

Annette era péssima em festas, mas um parceiro tinha que acompanhá-lo e Heiner sempre a levava. Ele disse a ela para fazer o mínimo como esposa do Comandante Chefe.

“Heiner, eu sempre tenho que ir? Por que não encontra outra parceira…?”

“Por que eu faria isso se tenho uma esposa?”

Por que ele se daria ao trabalho de levá-la para um lugar onde ninguém a queria? Ele era realmente um homem difícil de entender. Agora ela podia ver que a resposta era realmente fácil. Deve ter sido porque ele oferecer mais miséria para Annette, que raramente saía da residência, porque era raro encontrar um lugar onde a malícia fosse tão clara e flagrante quanto em festas.

O carro saiu suavemente. Não houve diálogo de nenhum tipo entre eles. Annette virou a cabeça para o outro lado. Um céu claro de outono se estendia além da janela. Árvores da rua passavam. Ninguém estava olhando para ela, mas ela examinava suas expressões.

***

“Vossa Excelência! Já faz muito tempo.”

“Obrigado pelo convite, Sr. Schmidt.” – Heiner e Arno riram e apertaram as mãos um do outro. Arno Schmidt era um comerciante muito rico e um grande apoiador da revolução.

“Claro que tenho que convidá-lo, é um grande investidor em nosso hotel.”

“Ouvi dizer que está planejando abrir outra filial em Menhaven.”

“Primeiro, vou ficar de olho na transição e decidir quando for a hora certa. Hum, por que os romores estão voando por aí ultimamente…? Oh, ouvi que grupos pró-Franche e Rutland uniram forças…”

“Estamos atualmente fazendo disso nossa maior prioridade para fazer com que os países menores se juntem a nós na negociação. Não sei se teremos sucesso, mas faremos o nosso melhor.” – Arno sorriu aliviado.

Negócios hoteleiros, negócios de mineração de ouro, guerras civis em outros países, facções republicanas e monarquistas, fofocas na capital… Várias histórias foram trocadas. As pessoas gradualmente se reuniram em torno de Heiner e formaram uma multidão.

Annette não abriu a boca o tempo todo. Foi porque ninguém a cumprimentou ou falou com ela. No passado, eles a cumprimentavam, mas agora nem isso faziam. De qualquer forma, Heiner não se importava nem um pouco com a forma como ela era tratada.

“Bem, senhor. Ouvi dizer que o senador Günther lhe fez uma proposta de casamento!”

“Receio ter recusado essa oferta.”

“Ah, isso… O senador deve ter ficado muito decepcionado.”

“Por que recusou? Havia tantas pessoas dizendo que ela combina bem com o senhor!”

As mãos de Annette apertaram. Eles agiam como se ela não estivesse ali. Não era nenhuma novidade, mas discutir o pedido de casamento de um marido na frente de sua esposa era claramente desrespeitoso com ela.

“É claro que recusei.” – Heiner retribuiu com um sorriso educado, mas não caloroso. – “Não tenho certeza do porquê ele fez aquela proposta em primeiro lugar. Eu já tenho uma esposa.”

Com essas palavras, os olhos das pessoas permaneceram em Annette por um momento, depois se dispersaram novamente.

Heiner acrescentou. – “A Srta. Annelie Engels é uma mulher maravilhosa e se casará com um homem melhor do que eu.”

“Nossa, qual noivo melhor que Vossa Excelência em Rochester?” – Concordância e risos se seguiram.

Annette não conseguiu suportar a ignorância e a estranheza, então ela pegou um dos copos de coquetel. O coquetel tinha um pouco de teor alcoólico alto, e assim que ela tomou um gole, o calor arranhou o fundo da garganta. Não era ruim. Era melhor se concentrar nessa sensação.

“Ouro foi descoberto em Langstein…”

“Como os direitos de mineração-“

Toda a conversa parecia agora um barulho distante. Annette bebeu seu coquetel em transe. Ela queria desesperadamente ir para casa o mais rápido possível. Ela estava quase terminando o terceiro copo quando alguém o arrancou de sua mão. Annette olhou para cima, perplexa. Era Heiner. Ele estava conversando como se nada tivesse acontecido.

Ela queria dizer algo, mas parecia difícil interromper. Por fim, quando estava prestes a pegar outro copo de coquetel, uma mão grande agarrou levemente seu ombro para pará-la. Annette olhou para ele novamente e viu que Heiner estava franzindo levemente a testa.