Meu Amado Opressor - Capítulo 03
“Se o que você disse é verdade e ainda está vivendo em abundância por ser minha esposa, não há razão para querer se separar. O fato de ter ido tão longe faz parecer que há algo por trás disso.”
“Não, isso não é verdade. Eu só não quero mais viver com você.”
“Por que me odeia agora que sabe que eu lhe traí?”
“Eu não odeio você, Heiner.”
Os olhos de Heiner se contraíram brevemente. Ele fez um pequeno movimento dos lábios como se quisesse dizer algo. Annette não esperou por ele e falou primeiro.
“Eu não odeio ninguém. Mesmo que todos no mundo me odeiem, eu não odeio. Porque eu não mereço isso.”
Heiner parecia incrédulo que tais palavras tivessem saído de sua boca. Annette se sentiu um pouco estranha. Será que ele achava que ela estava presa na residência oficial, fervendo de raiva com todos, sem um pingo de culpa?
“Todos os jornais dizem que a escória da ditadura deve ser destruída. Não tenho certeza de qual parte de mim precisa ser destruída, mas estou disposta a fazer isso se desejar.”
Annette ainda não estava familiarizada com política, mas ela sabia qual era a causa. Ela sabia o que eram direitos humanos e o que era democracia. Ela até sabia por que as pessoas queriam estabelecer um novo sistema. No passado ela não sabia e não queria saber, mas agora ela sabia.
Havia um sentimento de culpa, dívida e vergonha. Claro, isso não era realmente baseado em entendimento. Ela só veio a entender porque todos no mundo diziam que ela estava errada. Se passaram três anos após a queda da monarquia. Três anos era tempo suficiente para encurralar a mente de uma pessoa.
“Está disposta? Entende o que está dizendo?”
“Não me importo com nada, desde que me dê o divórcio.”
Mesmo que ela caísse, não queria cair como esposa de Heiner Valdemar. Ela não queria que o homem que ela amava a visse cair. Este era o último orgulho restante de Annette. A única coisa pela qual ela queria ser compensada era pelo tempo que passou amando Heiner.
“Divórcio, divórcio, divórcio.” – Heiner sibilou. – “Talvez seja porque viveu uma vida muito fácil até então, por isso o divórcio parece ser fácil para você.”
“…O que poderia ser difícil nisso? Contanto que você concorde, será rápido.”
“Eu não concordo.” – As mãos grandes dele agarraram os ombros dela. O calor que ela sentiu através da camisola era excessivamente quente. Ele disse ferozmente – “Eu discordo.”
“Não tenho mais nenhum benefício para você. Como eu disse, sou apenas uma mancha em sua reputação. Por favor, me deixe ir.”
Mas Heiner agarrou seus ombros com ainda mais força. Eles estavam tão próximos que seus rostos quase se tocando. Sua respiração foi sufocada pela força feroz.
A voz baixa e profunda dele penetrou nos ouvidos dela. – “Você dever ficar feliz em ser minha mancha.”
“Heiner.”
“Você sempre será minha esposa, nunca deixará este lugar, nunca sonhará com liberdade ou felicidade. Expiará seus pecados ao se entregar a todos os seus infortúnios.” – Heiner disse ferozmente.
Seus olhares colidiram. Estavam próximos o suficiente para sentir a respiração um do outro. Quando Annette franziu a testa levemente para a dormência em seus ombros, Heiner finalmente a soltou. Um silêncio perigoso caiu. A atmosfera aquecida se acalmou lentamente. Depois de observar Annette por um tempo, ele abriu a boca de maneira mais calma.
“Haverá um banquete de abertura no Belen Hotel em alguns dias. Você comparecerá comigo.”
“….”
“Como minha esposa.”
Ele acrescentou para dar ênfase. Os olhos de Heiner, antes abalados, aquietaram-se novamente. Como um mármore bem esculpido, havia uma maldade irreconhecível em seu rosto impecável e elaborado.
“Eu não quero.” – Annette se rebelou pela primeira vez.
“Você terá que ir.”
“Eu não quero ir.”
“Por que, não gostava tanto de festejar?” – Heiner perguntou sarcasticamente. Ela tinha ido a muitas festas e reuniões sociais diferentes antes de seu casamento.
“Se eu não quiser, vai me arrastar à força?”
“Pense com cuidado. Se continuar indo contra minha vontade dessa maneira, eu poderia até trancá-la em um hospício pelo resto de sua vida.”
“…O quê?”
“Não importa o quanto negue que não é louca, ninguém vai acreditar em uma palavra que disser. Tente e verá ou apenas faça o que eu digo. Não adianta fugir. Eu definitivamente vou te encontrar. Você não quer passar o resto da vida trancada em um hospital psiquiátrico.” – A voz dele era como cacos de vidro quebrados alojados em seus ouvidos, sílaba por sílaba.
Annette empalideceu e encarou Heiner. Sua cabeça rangia como uma cadeira desnivelada. A mão que segurava o cobertor tremia levemente. Este era realmente Heiner Valdemar? O homem que ela tanto amou? Os olhos frios de Heiner não estavam diferentes do normal, mas agora ele era como um estranho para ela. Tão estranho que era assustador.
Por que ela não percebeu isso antes? Ela deveria ter percebido desde o momento em que seu pai morreu… ou quando ele ficou frio de uma hora para outra… ou desde o começo quando ele se aproximou dela pela primeira vez. Como ela nunca percebeu?
Não… ela sabia a verdade, só não conseguia admitir. Ela estava mentalmente exausta na época da revolução e precisava se segurar em algo. Foi em Heiner. Annette fez lavagem cerebral em si mesma repetidas vezes, porque nunca teria suportado de outra forma.
Uma vez ela pensou que o amor dele voltaria. Os momentos que eles se amaram, as estações que eles amaram…
“Responda.”
Ah. Por que ela não percebeu antes?
Annette abriu a boca para dizer algo, então fechou-a novamente. Sua voz não saiu bem. Ela mal engoliu uma respiração trêmula e assentiu, aparentemente invisível. Apesar de seu acordo, Heiner não parecia nada satisfeito. Em vez disso, parecia infeliz, como se não gostasse do medo que havia plantado nela e da fraqueza que vinha com isso.
Um olhar cinza-pálido examinou lentamente seu rosto. Seus olhos pareciam infinitamente frios, mas continham um calor estranho. Por algum motivo, Annette achou difícil olhá-lo nos olhos e abaixou a cabeça. Eventualmente, Heiner se levantou da cama e ele saiu do quarto com muita pressa, sem olhar para trás.
BAM! A porta se fechou atrás dele com uma força enorme.
Annette sentou-se em transe, acalmando sua mente confusa. Era como se uma tempestade tivesse passado sobre ela. O que tinha acabado de acontecer parecia já ter acontecido há muito tempo.
Com um suspiro curto, Annette abriu a gaveta da mesa de cabeceira. Dentro havia vários pacotes de pílulas para dormir que tinham sido prescritas pelo Dr. Arnold. Ela abriu o pacote e pegou um dos três comprimidos e colocou os outros dois no pote de remédios. O pote de remédios, que era do tamanho de uma mão, já estava mais da metade cheio.
Annette há muito tempo vinha colecionando pílulas para dormir como um esquilo escondendo comida. Cada vez que o armário de remédios ficava mais pesado, ela se sentia inexplicavelmente mais segura.
Ela fechou os olhos e se deitou, esperando o remédio fazer efeito. Ela esperava não ter pesadelos esta noite.
***
“É por isso que não fui estudar no exterior, sou um pouco tímida e não falo nenhuma uma língua estrangeira. Ouvi dizer que tem viajado muito para o exterior, Heiner. É verdade?”
“Sim, já trabalhei em muitas operações.”
“Você fala a língua de Franche?”
“Sim, mas há muitos lugares que falam uma língua comum.”
“Quantas línguas você fala?”
“Quatro idiomas. Fui educado em uma instituição desde cedo.”
“Uau, isso é realmente impressionante, não tenho aptidão alguma para estudar.”
“Sei que é muito boa tocando piano.”
“Eu… bem, toco desde criança. Por muito tempo sonhei em ser pianista… mas não mais hoje em dia.”
“Por quê?”
“Estou um pouco cética sobre meu talento, não sei se esse caminho é realmente o certo para mim. Ah, não precisa levar isso muito a sério. De qualquer forma, seria considerado mais elegante tocar piano como um hobby do que uma profissão na minha posição.”
“… Sua performance é excelente. Tenho certeza de que será uma excelente pianista.”
“Haha, o quê? Você nunca me ouviu tocar!”
“Você é muito boa.” – Heiner disse pomposamente.
Annette deu um tapinha travesso em seu braço e riu. Ele sorriu. Pétalas de rosas tremulavam ao vento. A cena ficou turva como uma névoa, depois ficou clara novamente. As estações mudaram de novo e de novo. Eles sempre estavam juntos.
O cenário passou, passou, passou. Agora o céu noturno estava cheio de estrelas em um dia de verão, eles estavam em um barco flutuando perto do lago.
“Annette, quer se casar comigo?” – Heiner se ajoelhou e colocou um anel no dedo anelar de Annette. – “Prometo lhe fazer feliz pelo resto da sua vida.”
Os olhos dela se arregalaram. Annette cobriu a boca com uma mão e o abraçou em um abraço avassalador. Heiner riu e passou o braço em volta das costas dela. Estrelas caíam sobre as ondas. A visão do barco e do homem e da mulher flutuando em um mundo brilhante era tão bonita quanto uma pintura.
Correntes de ar criadas de longe fluíram e destruíram a cena. Sua visão gradualmente entrou em colapso. No meio das ruínas, apenas a voz de Heiner ressoou como um eco.
“Prometo lhe fazer feliz pelo resto da sua vida.”
“Felizes para sempre…”
“Para sempre…”
“Você será infeliz ao meu lado pelo resto de sua vida.”
Annette acordou assustada.