Noites de Caos (novel) - Capítulo 31
Tradução: Gab
Revisão: Aeve
Suas mãos quentes tocaram a pele fria dela. Eun-Ha se encolheu, surpresa. — “O senhor não está com frio?”
“É minha culpa.”
“Não, a culpa é do vento, pois a janela está aberta. É inverno. Nesta estação em que neva, os seres vivos padecem.” — Embora seu corpo tremesse, a leitora respondeu com bastante calma. Então, virou a página. Jihak havia perdido a visão há, no máximo, um ano. Ela achava que ele ainda mantinha contato visual por hábito.
“Você está certa… mas a culpa também é minha.” — Eun-Ha o ouvia com os olhos fixos no livro. — “Antigamente, eu tapava os ouvidos porque não queria ouvir os barulhos. Mas, quando fiquei cego, percebi como os sons são agradáveis. Os galhos se movendo, os uivos, até os passos rápidos de alguém.” — Um leve sorriso surgiu em seu rosto.
As orelhas dela ficaram vermelhas, porque ela era a única que corria naquela casa. — “Serei mais cuidadosa.”
De repente, ela percebeu que a montanha estava estranhamente silenciosa. Não conseguia nem ouvir o pio de uma coruja. Não era um bom sinal. — “…Consegue ouvir os uivos, Milorde?”
“Sim, eu os ouvia com frequência, mas ultimamente tem estado quieto. Os três dias em que esteve fora foram excepcionalmente silenciosos.”
Jihak percebeu que Eun-Ha estava surpresa, mas conteve sua reação. Ela suspeitava que ele era cego, ele não podia ser desleixado. Ou ele morreria ou seu desejo seria realizado. Só havia uma escolha possível: ele precisava continuar fingindo.
“O senhor já escutou um tigre?” — Ela olhou para a janela com uma expressão séria.
Jihak franziu a testa. — “Um tigre?”
“Sim. Eu encontrei um tigre por acaso.”
“É mesmo? Mas como sobreviveu?”
“Não estou me gabando, mas já andei com caçadores de tigres. Sei usar um rifle e também o arco. Eu era usada como isca para os caçadores o matarem.
Jihak assentiu enquanto brincava com o cabelo dela. — “Você tem um talento incrível. Uma garota tão delicada capaz de caçar tigres.”
Embora soubesse que não era sensato, ela não pôde deixar de perguntar: — “Já viu um tigre antes de ficar cego?”
“Não. Como é?”
Quando ele a olhou com seus olhos suavemente curvados, seu coração começou a bater mais rápido. Então Eun-Ha começou a explicar com gestos exagerados. — “É incrível. Alguns homens desmaiaram. Felizmente, tínhamos caquis secos. Tigres têm medo de caquis secos.”
“Eu me lembro. Mencionou que tinha medo de caquis secos porque eles faziam as crianças pararem de chorar imediatamente, não é verdade?”
“É isso mesmo. Em todas as cidades penduram caquis secos em postes no inverno.”
Ele caiu na gargalhada.
O frio era tão intenso que ela quase batia os dentes, mas aguentou. Eun-Ha olhou com medo para a janela. Uma noite silenciosa significava que algo se movia. Quando o predador da montanha se movimentava, também significava que os pequenos animais, os quais eram suas presas, estavam escondidos.
“Se estiver com frio, venha até aqui, Eun-Ha.”
Ela estava com tanto frio que tremia. — “Como?”
“Venha aqui. Temo que, desse jeito, possa morrer congelada.”
Desta vez, ela olhou profundamente para as próprias pernas. Evitando o olhar dele. Seu corpo ficaria quente se ela fosse até ele, mas provavelmente morreria por não ser capaz de respirar. Eun-Ha não queria se lembrar do beijo.
“Quer morrer congelada?”
“Posso aguentar.”
“Que teimosa.” — Ele franziu a testa, porém não insistiu. Ela manteve o olhar fixo no livro. — “Então, ouvirei sua voz a noite toda pela primeira vez em muito tempo.”