Noites de Caos (novel) - Capítulo 12
Embora a serva fosse um tanto antipática, Eunha estava feliz. Para ser honesta, se o Milorde senhor fosse uma pessoa tão assustadora, a empregada não teria coragem de se sentar ali. Então, Eunha sentou-se o mais longe possível, como havia sido instruída, e se sentiu mais tranquila.
Logo depois, a empregada perguntou a Eunha enquanto a olhava com olhos curiosos. – “Por que você se veste com roupas masculinas? Seu rosto é muito bonito.”
“É só… um hábito. Meu primeiro nome é Eunha e o seu?”
“O meu é Gari, não tenho sobrenome e sou chamada de Gari desde que nasci.”
“Gari. Não sei o que significa, mas é um nome bonito.” – Quando ouviu que seu nome era bonito, as bochechas de Gari ficaram vermelhas imediatamente.
Ela virou a cabeça para o outro lado e murmurou desajeitadamente enquanto esfregava as pontas dos dedos – “Bobagem… De qualquer forma, saiba que serei eu quem cuidará do Milorde.”
“Certo.”
Eunha olhou ao redor do quarto de Jihak com o coração calmo. Talvez, por estar nervosa, nunca teve a chance de fazer isso nas vezes em que esteve aqui, mas havia muitos itens fascinantes e chamativos.
Havia óculos preciosos usados em telescópios e uma variedade incomum de cachimbos dispostos uniformemente. Gari, que achou Eunha ainda mais peculiar, estalou a língua e balançou a cabeça, movendo os acompanhamentos que estavam na mesa, por todo o lugar.
Eunha, que olhava ao redor com admiração, se encolheu em seu assento quando ouviu um barulho vindo de fora. A porta se abriu amplamente e Gari se levantou. A sombra de Seo Jihak estava acompanhada pelo cheiro de um perfume forte. Talvez ele tivesse tomado banho sem uma criada, pois seu cabelo longo estava molhado.
Ele franziu a testa como se esperasse ver Eunha ao lado da porta. Por alguma razão, seus olhos frios de aço eram como lâminas afiadas.
“Milorde, estou aqui conforme ordenou.” – Assustada, Eunha fez questão de reconhecer sua presença. Então, ele se virou na direção de Gari e estendeu a mão para Eunha, que entendeu sua necessidade de apoio e a segurou.
Mas Gari também correu para o outro lado e colocou a mão em volta da cintura dele. – “Milorde, é a Gari, eu o ajudarei. Trouxe peixe gulbi de cevada e sopa de batata-doce de abóbora hoje. Oh! Quer que eu penteie seu cabelo antes de comer?” – Gari murmurou palavras não solicitadas enquanto apoiava Jihak.
Ele simplesmente a encarou em silêncio antes de soltar um bufo. Então, parou e agarrou o pulso de Gari com força. – “Ah!”
“Eu já disse para não fazer perguntas a menos que eu permita. Quantas vezes terei que repetir?”
“M-Milorde, me desculpe, cometi um erro mortal.”
“Erro mortal… Quer morrer tanto assim?”
“Milorde, por favor, poupe-me.”
“Eunha.”
Eunha olhou para Jihak, que torcia o pulso de Gari sem hesitar enquanto mantinha seus olhos de aço na direção dela.
“Sim…?”
“De agora em diante você me servirá.”
“O quê? Mas uma serva é…”
“Não se preocupe, pagarei o suficiente.” – Jihak soltou a mão de Gari, que tremia de dor, e virou-se de lado.
Gari olhou para Jihak com olhos lacrimejantes antes de se levantar e ficar de pé perto da porta. Sua cabeça estava abaixada e seus ombros tremiam enquanto ela se recusava a encontrar os olhos de Eunha. Assim que viu Gari, que parecia mais jovem que ela, derramar lágrimas, Eunha foi até Jihak, que estendeu a mão para ela.
“O dinheiro não é o problema, mas não tenho ideia de como servir alguém. Gari seria mais habilidosa em ajudá-lo do que eu.” – Depois de dizer isso, ela pegou a mão dele e colocou em volta do ombro dela. Sua sedosa e bela roupa de dormir estava encharcada de seu cabelo molhado.
“Você é minha, ela não. Portanto, quero que você me sirva.” – Ele disse, quase como um sussurro, e então caminhou em direção ao armário onde suas roupas estavam penduradas.
Eunha, que percebeu que ele pretendia trocar a roupa molhada, o seguiu e puxou uma camisola vermelha que estava mais próxima dele. Ela recusou, mas seu corpo ainda se movia por conta própria.
“Não sei como fazer isso corretamente, Milorde.”
Jihak olhou para Eunha enquanto ela segurava a camisola maior que seu corpo em seus braços. Ao ver o pano vermelho sobre sua pele clara e bonita, começou uma estranha febre dentro dele que fez seus dedos dos pés ficarem dormentes.
“Tire minha roupa.” – Ele falou em um tom gentil, como se estivesse falando com uma criança, e colocou a mão de Eunha na frente de sua roupa de dormir. Ele notou o quão ásperos e rachados os dedos dela estavam enquanto tentava desajeitadamente puxar os laços.
Eunha deve ter notado seu olhar direcionado para as pontas dos dedos dela, porque a maneira como ela tentou cobri-los enquanto desamarrava as roupas dele foi muito frustrante. Talvez ela estivesse desconfiada. Talvez ela suspeitasse que os olhos dele estavam bons, mas ficava em silêncio porque não queria morrer.
“Por favor, me perdoe se eu cometer algum erro.”
“Tudo bem.”
Depois que ela rapidamente desamarrou os laços da frente, o corpo forte e firme do homem nu refletiu em seus olhos. Eunha mordeu os lábios trêmulos enquanto a camisola molhada caía no chão e apressadamente colocou o novo pano em volta dos ombros dele.
Ela havia vivido em Buyeong e tinha visto todo tipo de coisa. Já viu um homem bêbado esparramado no chão com seus genitais de fora e até mesmo um casal acasalando como animais sob um bordo. No entanto, o corpo dos homens que ela viu naquela época não se pareciam com o dele. Eunha não conseguia tirar os olhos do corpo magro e bem-definido de Jihak. – ‘Como alguém que nem enxergava poderia ter um corpo mais firme que o dos guerreiros?’.
A água do cabelo dele pingava por entre seu abdômen. Os olhos dela seguiram a trilha, prendendo a respiração ao ver o enorme volume que aparecia na cueca dele. Por algum motivo, seu membro estava erguido e saltando para fora da cueca.
“Suas mãos são lentas.”
Assustada com as palavras que saíram de cima de sua cabeça, Eunha retirou as mãos e então olhou para cima. Suas bochechas estavam tão vermelhas quanto as de alguém com febre alta.
“E-Eu terminei. No entanto, não sei como ajudar com sua refeição…”
“Não se preocupe. Tudo o que precisa fazer é colocar na minha boca.”
“Milorde, eu sei atuar como leitora, não servir…”
“Não quer me servir?” – Jihak se virou depois de amarrar habilmente a roupa de dormir. Eunha o seguiu enquanto ele andava tranquilamente sem apoio.
“O senhor já tem uma criada, então como eu poderia…” – Eunha implorou.
“Está falando daquilo?” – Jihak disse com hostilidade óbvia e agarrou a mão de Eunha para sentar-se em frente à mesa de comida. – “Você tem alguma ideia de onde ela veio?” – Jihak fechou os olhos gentilmente e estendeu a mão para Eunha.
Eunha olhou para a forma pálida e trêmula de Gari enquanto ela deslizava utensílios de cozinha em sua mão.
“Eunha, deixe-me contar uma história muito divertida.”
“Sim, Milorde…”
“Eu não nasci cego. Minha visão simplesmente começou a ficar gradualmente turva um dia… Pouco antes de um dia particularmente importante, fiquei completamente cego. O médico disse que eu havia sido envenenado, alguém que me detestava causou essa cegueira. Mas, pensando bem, talvez estivessem com muito medo de tirar minha vida. Então, em vez disso, eles prejudicaram minha visão e colocaram alguém perto de mim.”
Com as mãos trêmulas, Eunha usou os hashis para espalhar o peixe. – ‘Que tipo de nobre usaria veneno para tentar prejudicar outro nobre? Por qual razão? Que tipo de vida terrível seu senhor viveu para perder a visão por causa de veneno?’
Ele não disse mais nada enquanto colocava a comida na boca, apenas o som da cera derretida caindo do castiçal preenchia o silêncio. Até a maneira como seus dedos longos e lindos seguravam os utensílios parecia digna.
“É por isso que não posso confiar em mais ninguém além de você, não confio em nada que não seja meu.”
Gari caiu no chão naquele momento, de bruços, enquanto tremia. Eunha, por outro lado, estava duvidosa e confusa sobre o porquê de Jihak confiar nela. Não havia nada de especial nela, além disso, não fazia apenas 3 ou 4 dias desde que a conheceu? Além disso, por que ele continuava chamando-a de “minha”?
“O senhor pode… realmente confiar em mim? Eu não fiz nada para merecer sua confiança.” – Depois de testemunhar o que aconteceu com as pessoas que foram rudes com ele na noite passada, Eunha fez questão de dizer isso abertamente, mas com cuidado.
Jihak caiu na gargalhada, deixou cair seus utensílios e abriu seus olhos previamente fechados. – “Você é diferente… Tem algo que deseja proteger e sabe muito bem que não há mais ninguém que possa realizar seu desejo além de mim.”
Ela levantou a cabeça desta vez enquanto colocava alguns vegetais em cima do arroz branco dele. As palavras dele apontaram exatamente o que a deixava curiosa. Ele sabia muito bem que ela estava desesperada o suficiente para implorar de joelhos e sabia por que ela não o trairia. Bem, se ainda houvesse esperança, pelo menos…
“Se me disser como, eu… serei sua serva.” – Eunha disse com uma voz fraca e olhou para Jihak. – “Mas não preciso de mais dinheiro. Serei as mãos e os olhos do Milorde, mas em troca poderia me ajudar no futuro?”