Noites de Caos (novel) - Capítulo 11
Depois de seguir Yuljae para dentro, Eunha agarrou a bainha do manto dele com uma expressão ansiosa.
“Senhor, só para que saiba, o hematoma no meu rosto foi culpa minha. Eu bati em mim mesma com muita força enquanto tentava me acalmar…”
“Não posso mentir para meu Senhor.”
“Se precisa dizer alguma coisa, diga a ele que me bati… Por favor, faça isso por mim.” – Eunha segurou o manto de Yuljae com força.
Yuljae olhou silenciosamente para Eunha, que mal alcançava a ponta de seu queixo, e suspirou brevemente antes de abrir a porta para o quarto interno. Seo Jihak estava sentado perto de uma janela com vista para o quintal e o jardim quando virou a cabeça na direção do som.
“…Oh, Eunha.”
Embora Jihak não tivesse ordenado, Eunha se aproximou dele com a cabeça abaixada e parou somente depois que a bainha de seu manto entrou em seu campo de visão.
“Milorde.”
Quando Eunha caiu de joelhos, ele gentilmente largou o cachimbo e baixou o olhar. – “Isso mesmo… Como esperado, você aprende rápido. Este é o seu lugar agora… Lembre-se disso.”
“Sim, Milord.” – Eunha levantou os olhos ao mesmo tempo que as nuvens se abriram e uma luz brilhante entrou no quarto. Por um momento, parte do rosto de Jihak foi banhada por uma luz dourada. Seus olhos e até mesmo seus cílios pareciam brilhar devido ao sol.
Enquanto as nuvens cheias de neve obscureciam o sol novamente, um frio rapidamente circulou no quarto. Preocupado com a corrente de ar frio que entrava, Yuljae se aproximou e fechou a janela.
Quando Eunha baixou o olhar novamente, seus olhos percorreram o contorno do queixo dele, que era liso e sem nenhuma imperfeição. Ela não sabia se devia agradecê-lo por salvá-la ontem ou fingir ignorância.
“Yuljae, verificou o rosto da garota? Ainda é o mesmo ou ela foi ferida?”
Yuljae ficou atrás de Jihak e olhou para Eunha com as sobrancelhas franzidas. Eunha olhou para Yuljae com as mãos entrelaçadas e rapidamente balançou a cabeça.
“Senhor, por favor.” – Ela falou sem emitir som para evitar que Jihak percebesse.
Depois de ler as palavras em seus lábios, Yuljae se ajoelhou diante de Jihak com um olhar preocupado no rosto. Desde o momento em que ela tolamente tentou enganar o Milorde, Seo Jihak não tirou os olhos dela.
“Há um hematoma em sua bochecha, mas diz que ela mesma fez isso.”
“Ela fez isso consigo mesma?”
“Sim, para se acalmar.” – O tom do guerreiro era seco, dificultando a compreensão do verdadeiro significado de suas palavras. Embora ele não tenha mentido sobre o hematoma, ele não explicou nem disse mais nada.
“Não. Já que concordou em ser minha, não pode machucar seu rosto desse jeito. Avisei que nenhuma flor floresceria se houvesse um arranhão sequer em seu rosto.” – A mão suave de Jihak tocou sua bochecha no exato ponto em que ela havia sido atingida pela dona da casa das cortesãs.
Eunha enrijeceu-se e olhou para ele, assustada com a temperatura corporal anormalmente fria. – “Estou bem. Não é…” – Eunha teve que se conter para não encarar os lábios de Jihak, que estavam curvados de forma arrogante, enquanto ela se explicava.
“Foi assustador. Naquela noite, por razões desconhecidas, duas pessoas morreram. Eu estava em pânico, então, para me acalmar…”
“Você se bateu?”
“Sim…! Pensei que me ajudaria a evitar cometer erros…”
Jihak riu em resposta e decidiu que era melhor não dar mais problemas para Eunha. Se ele a pressionasse mais e ela se recusasse a trabalhar, teria que cortar sua garganta imediatamente. Mas… Fazer isso seria um desperdício.
Ele então acariciou gentilmente o rosto dela e então retirou a mão. – “Tudo bem. Só desta vez vou deixar passar. Se entendeu, levante e pegue aquele livro.”
Eunha deu um passo para trás como uma fera evitando uma armadilha e pegou o livro no chão. Era o mesmo livro que ela havia lido da última vez… Ele estava cheio de palavras e frases assustadoras. Enquanto isso, Jihak pegou o cachimbo de tabaco que estava guardado há algum tempo e falou com Yuljae, que ainda estava ajoelhado diante dele.
“Mande Eunha para outra sala e prepare-se para receber os convidados. Quando terminar, traga-a de volta.”
“Sim, Milorde.” – Quando Yuljae assentiu para ela, rapidamente deu um passo para trás, abriu a porta e saiu. Eunha fugiu do quarto quase correndo, seus passos gradualmente desaparecendo pelo corredor.
Jihak, então, caiu na gargalhada como se achasse a situação bastante divertida. Mesmo depois de 10 anos ao seu lado, foi a primeira vez que Yuljae viu Jihak com um largo sorriso e expressão satisfeita. Durante seu tempo como príncipe herdeiro, devido aos costumes, ele não conseguia rir de verdade. Embora também não havia motivos para rir, porque estava desiludido com tudo.
“Ela se juntou à caça de um tigre.”
“Sim. Ela tem boas habilidades com armas e autodefesa. Ela também tem uma boa reputação na cidade, embora tenham me evitado por suspeita.”
“Hmm… Cncontramos uma isca muito boa. Se ela for bem conhecida e tiver uma boa reputação, será mais fácil espalhar rumores.” – Jihak parou de sorrir, balançando a cabeça enquanto olhava pela mesma janela que Yuljae havia fechado antes. – “Já faz tempo que não vou a um Tawi…”*
(Tawi: Uma caçada de 1 a 2 dias organizada pelo príncipe herdeiro e conduzida por soldados.)
“Sete anos.” – O tom de Yuljae era áspero.
Jihak sorriu levemente, tocando a espada à sua direita como se estivesse acariciando gentilmente o corpo de uma mulher.
“Hoje uma armadilha será armada. Quando o sol se pôr, traga a garota aqui e deixem que ouçam sua voz. Estou ansioso para ver o quão rápido a notícia de minha cegueira chegará aos ouvidos de pessoas ardilosas.”
***
Eunha colocou um marcador no meio do livro que estava lendo e franziu a testa. Depois de se concentrar por horas, seus olhos doíam e sua cabeça latejava. – ‘Por que ele quer que eu leia um livro tão terrível?’ – Suspirando profundamente, Eunha fechou o livro antes de terminar de olhar metade dele e depois de se deitar olhou fixamente para o teto.
‘Estou com fome…’ – Mesmo nessa situação, ela ainda se sentia faminta e cansada.
O quarto ficava bem perto do quarto do Milorde. Tão perto que conseguiria ouvir se ele chamasse seu nome. Um quarto pequeno, mas aconchegante. Ao contrário do quarto que dividia com a irmã na casa da cortesã, este quarto parecia pertencer a um estudioso e não a uma mulher.
Em uma parede, havia uma estante cheia de livros incríveis, e não havia um único Gyeongdae*, que era comum no quarto de uma cortesã. Havia um boryo* grosso, perfeito para deitar-se, uma escrivaninha pessoal e um biombo com uma pintura do Sagunja*.
(Gyeongdae: Um estojo com espelho na tampa, geralmente tem de uma a três gavetas onde cosméticos podem ser armazenados.
Boryo: Um colchão tradicional coreano que é grosso, recheado com algodão ou pele e coberto com um pano fino.
Sagunja: Arte chinesa conhecida como “Quatro Cavalheiros” ou “Quatro Nobres”, que se refere às quatro plantas: a flor de ameixa, a orquídea, o crisântemo e o bambu.)
Mas, estranhamente, ela sentiu que este lugar lhe convinha mais do que o quarto de sua irmã. Parecia assemelhar-se ao quarto do Jovem Mestre Shihoon, que havia espiado por acaso.
‘Agora que penso nisso, ele deve estar muito preocupado depois de ouvir as notícias…’
O jovem mestre Shihoon a amava e a estimava como sua própria irmã mais nova. Quando ele soubesse que ela havia desaparecido sem dizer uma palavra a procuraria por toda a vila, Shihoon era definitivamente o tipo de pessoa que faria algo assim.
Ele era uma pessoa tão doce, e provavelmente é por isso que Yongi, sua irmã mais velha, o amava de todo o coração. Se eles se casassem apenas dias felizes os seguiriam. O Jovem Mestre também parecia gostar de sua irmã mais velha, pois visitava a casa das cortesãs sob o pretexto de ver sua mãe. Caso contrário, ele não a escoltaria frequentemente até a entrada da casa.
Eunha cerrou os punhos, lembrando-se da última expressão que vira no rosto de Yongi. – ‘Mas… Esse homem… Quem é ele? Que tipo de pessoa de alto escalão não poderia ser influenciada por Simdeok?’ – Simdeok também não o denunciou aos oficiais do governo, apesar das mortes de seus guardas. Em vez disso, silenciosamente enterrou o caso, fingindo que nada havia acontecido e até forçou seus subordinados a fazerem o mesmo.
Com a mente sobrecarregada, Eunha se levantou e saiu com seu livro na mão. Como ainda não tinha visto o interior da casa, decidiu olhar ao redor até que o Milorde a chamasse. A vista era fascinante. Depois, ela passou pela cozinha onde um delicioso aroma permanecia e olhou ao redor do jangdokdae*, que estava forrado com centenas de jarras.
(Jangdokdae: Um espaço externo, geralmente um terraço, usado para armazenar ou fermentar alimentos.)
Enquanto andava sem rumo, se deparou com o que parecia ser a casa principal. Ela deu uma olhada furtiva no pavilhão de frente para a floresta, onde um bando de servos podia ser visto servindo os convidados importantes. Era um lugar maravilhoso no qual alguém poderia se perder se não prestasse muita atenção.
Quando Eunha retornou aos seus aposentos, um assustado Sr. Kim estava esperando por ela. – “Por que saiu sem dizer uma palavra?!” – ele gritou de repente e olhou ao redor com medo. “O Milorde está procurando por você. Vá depressa.” – disse ele em voz baixa.
“Nesse curto período de tempo?”
“Por isso eu disse para esperar em seu quarto!”
“Desculpe. Eu estava me sentindo desconfortável, então decidi dar uma olhada pela casa…” – Eunha tirou os sapatos e correu pelo chão de madeira. Então, num piscar de olhos, estava parada na frente da porta de Jihak.
“É a Eunha, Milorde.” – Mas nenhuma palavra de permissão foi ouvida. Ela nem sentiu o cheiro da fumaça de antes. Olhou para a porta confusa e se perguntou se deveria tentar abri-la.
“Quem é você? Por que está parada na porta do Milorde como um ladrão?” – Eunha se virou para a voz da mulher e sorriu sem jeito quando viu uma criada segurando um vaso.
“Sinto muito. Sou uma leitora e fui convocada pelo Milorde, mas não sei para onde…”
A criada olhou feio para Eunha, então a empurrou para o lado e abriu a porta. – “Ele está no banho, mas você é realmente uma leitora…?”
“Certo. Devo voltar depois que ele terminar o banho…?” – Eunha perguntou enquanto seguia a criada para dentro, que habilmente arrumou as almofadas, a mesa e sentou-se antes de balançar a cabeça.
“Ele estará aqui em breve. Preciso cuidar das refeições do Milorde, então mantenha distância e não fale comigo.”