Noites de Caos (novel) - Capítulo 10 – Oito mil moedas de tael
“O ex-príncipe herdeiro está aqui.”
Yoon, que não via o pai há muito tempo, ficou surpreso com suas palavras. – “Por ex-príncipe herdeiro, o senhor quer dizer…”
“Sim, o homem que perdeu sua posição e ficou cego após comer uma planta venenosa. Seo Jihak, o príncipe louco, está aqui.” – O Ministro da Defesa tomou um gole de álcool.
Enquanto Shihoon rapidamente enchia sua xícara, ele verificou a expressão de seu pai. – “Isso é uma má notícia para o senhor?”
O Ministro da Defesa estalou a língua e olhou para o filho, que não tinha interesse em política. – “Por que pensa isso?”
“Porque sua expressão não está muito boa, parece preocupado com alguma coisa.”
“Ainda não sei se a presença dele será algo bom ou ruim para mim. Mas preciso colocá-lo sob vigilância.”
“Quer colocar o ex-príncipe herdeiro sob vigilância?”
“Sim. Há muitas coisas que preciso descobrir. Preciso confirmar se ele realmente perdeu a visão ou simplesmente enlouqueceu. Também preciso ter certeza de que ele não está planejando recuperar sua antiga posição.”
‘É hora de pôr fim a esse conflito…’
O Ministro estava olhando ao redor da sala quando algo chamou sua atenção. Um pergaminho pendurado na parede. Em particular, a caligrafia era suave e delicada, uma indicação de que o autor provavelmente não era um homem.
“Esta não é sua caligrafia.”
Yoon corou com a pergunta do Ministro. – “Eu pendurei porque achei muito bonita.”
“É muito bonita mesmo. Essa letra pertence a uma mulher? É alguém que guarda em seu coração?”
A maneira mais fácil para ele se casar era fazer o exame de funcionário público e se tornar um funcionário do governo. Embora estivesse mais do que pronto, Yoon adiou o exame com a desculpa de que não seria justo com seus irmãos mais velhos. Ver Yoon se rebaixar para evitar conflitos com seus irmãos, apesar de ser o mais inteligente, enchia o Ministro de culpa.
“Pode me dizer. Se ela for de uma boa família tentarei arranjar um casamento.”
“Não tenho certeza da identidade do autor, pois o encontrei por pura coincidência. Quando eu me cansar dele, provavelmente o retirarei. Portanto, não há nada com que se preocupar, Vossa Excelência.” – Quando a mentira saiu de seus lábios, a mandíbula de Yoon se apertou e ele ficou enjoado. Mas ele sorriu, esperando mascarar seu desconforto. O autor da poesia em sua parede era Eunha, que no ano anterior foi vê-lo em seu aniversário e o presenteou.
— Eu realmente não sabia o que lhe dar… Este é um poema que gosto. Se não gostar, sinta-se livre para jogá-lo fora. Sinto muito por este presente sem graça. Quando eu ganhar muito dinheiro, prometo te dar a melhor tinta!
Ele não trocaria o presente dela por nada no mundo. Por isso, desviou o olhar da parede, sabia que quanto mais afeição demonstrasse para Eunha, mais ela sofreria.
“Ah, a propósito. Outro exame está marcado para acontecer em breve. Seus irmãos já passaram no exame, então agora é sua vez.”
“Ainda tenho muito que aprender.”
“Você é muito bom em mentir, mas conheço meu filho. Faça o exame e venha trabalhar para mim, eu o recomendarei para uma boa posição.”
Yoon sorriu amargamente e abaixou a cabeça. Ele não podia mais recusar os desejos do pai.
“Sim, começarei a me preparar para o exame.”
***
Na manhã seguinte, quando Eunha foi ver Simdeok, o cheiro de sangue ainda estava no ar. Ela não conseguiu pregar os olhos a noite inteira que passou trancada dentro do quarto, não queria que Yongi a visse assim, nem queria explicar a situação para a irmã. Ela já sabia o que Yongi diria se a visse, vestida como uma cortesã e com uma expressão tão pálida e vazia quanto a de um cadáver.
Parecia que a dona da casa das cortesãs também não tinha dormido a noite toda. Ela acendeu seu cachimbo e olhou para Eunha, que estava novamente usando roupas masculinas. – “Por que veio me ver tão cedo? Não é como se tivesse vindo me cumprimentar, certo?”
Eunha se conteve, ignorando o comentário sarcástico, e se ajoelhou – “Estou aqui para pedir um favor.”
O quarto estava cheio de plantas e ornamentos de países estrangeiros. Havia também muitos livros que ela ainda não tinha conseguido ler. No meio desse luxo, Simdeok estava usando um robe simples, seus olhos arregalados em descrença.
“Sabe que não ouvirei nenhum dos seus pedidos, certo?”
“Não entendo completamente o que aconteceu ontem. Eu só trabalho para aquele homem como leitora. Por favor, não entenda errado.”
“Uma leitora, hein? Claro, agora lê para ele com essa sua voz doce. Eventualmente, vai abrir suas pernas e tomar a semente dele. E daí, o que quer de mim?” – Eunha sabia que as palavras de Simdeok tinham a intenção de humilhá-la, pois a Senhora da casa não era do tipo que pensava duas vezes antes de dizer as palavras mais grosseiras.
Eunha lutou para reprimir seu orgulho enquanto se curvava. – “Quero tirar minha irmã da casa das cortesãs. Vou retribuir tudo o que fez por nós. Se nos deixar ir embora, iremos morar em algum lugar bem longe e você nunca mais terá notícias nossas.”
Simdeok descartou as cinzas dando uma batidinha em seu cachimbo e então sorriu amargamente para Eunha. – “Vai pagar pela liberdade de Yongi? Pode pagar por ela?”
Eunha sentiu um suor frio escorrer pelas costas. Por um breve momento, o único som foi o dos pássaros cantando do lado de fora da janela.
“O preço para Yongi é 4.000 moedas tael… não, 5.000 moedas. Além disso, um indivíduo muito importante pediu que ela se tornasse sua concubina. Se eu negar seu pedido, o custo de seu perdão custará outras 3.000 moedas. Isso eleva o total para 8.000 moedas.” – Simdeok sorriu quando viu o sangue sumir do rosto de Eunha.
“Ela é minha filha. Eu a acolhi, alimentei e criei. Eu poderia muito bem ser a mãe de Yongi. Não tem como eu vender minha filha por uma pequena quantia de dinheiro. Eunha, sua irmã continuará sendo minha filha até que eu diga o contrário.”
“Isso é ridículo! Como pode pedir 8.000 moedas?!” – Eunha ficou sem palavras.
Ela estava exigindo o dobro da quantia que o Lorde alegava ser o valor de Eunha. No entanto, Eunha endireitou os ombros em desafio. Vendo isso, Simdeok levantou o queixo de Eunha com a ponta do cachimbo e falou calmamente.
“Esta é a vingança pela humilhação de ontem. Se quer salvar sua irmã tanto assim, peça 8.000 moedas para aquele cavalheiro. Quem sabe. Talvez consiga se chupá-lo algumas vezes.”
Eunha se levantou e saiu do quarto de Simdeok com uma expressão devastada e olhos cheios de decepção. Parados na frente da entrada estavam dois novos substitutos para os guardas assassinados ontem. Eunha correu em direção ao seu quarto, certificando-se de que ninguém a visse.
Sua respiração era áspera e irregular. Ela sentiu uma dor aguda no peito, como se estivesse prestes a ter um ataque cardíaco. Ela caiu no chão assim que entrou em seu quarto e olhou para a parede enquanto ofegava pesadamente.
‘8 mil… 8 mil moedas de tael…’
Era como se tivesse caído em um abismo. Ela fechou os olhos e tentou se acalmar, queria desesperadamente ir embora antes que sua irmã pudesse encontrá-la. Mesmo que Simdeok tivesse proibido os servos de falar sobre o incidente da noite passada, era apenas uma questão de tempo até que a verdade chegasse aos ouvidos de Yongi. Por fim, ela escapou da casa da cortesã pela porta principal. Surpreendentemente, ninguém tentou impedi-la.
Eunha correu em direção à livraria, onde o dono a esperava ansiosamente. – “Senhor!”
“Meu Deus, Eunha! Você está segura!”
“Claro, estou segura. Lhe deixei preocupado?”
“Não faz ideia de quão ansioso eu estive! Quando fui até o Milorde e expliquei o que aconteceu, fiquei tremendo de medo de estar prestes a morrer! Ele a acabou salvando, certo?”
Eunha assentiu, desejando poder esquecer tudo o que aconteceu na noite passada. – “Sim, e tudo graças ao senhor.”
Quando o Sr. Song sorriu e afagou sua cabeça, Eunha decidiu poupá-lo dos detalhes. Afinal, duas pessoas morreram.
Acompanhada pelo Sr. Song, caminhou em direção à propriedade de Seo Jihak. Ao longo do caminho, viu mulheres fazendo bolinhos e preparando sopas. Eunha olhou para o céu. O sol estava escondido atrás de uma massa de nuvens cinzentas e feias, então provavelmente começaria a nevar em breve. Naquele momento, o céu parecia suas emoções ocultas.
“Eunha.”
“Sim?”
“Dizem que as recompensas são mais doces depois de passar por momentos difíceis e desafiadores, então vamos fazer o nosso melhor.”
Após chegar à entrada que lembrava um palácio, o sr. Song agarrou as mãos de Eunha. Havia muito que ele queria contar a ela, mas estava com dúvidas, talvez as coisas não fossem tão ruins quanto ele pensava.
Quando Seo Jihak, o antigo príncipe herdeiro, soube que tinham aprisionado Eunha, pegou sua própria espada e foi direto para a casa das cortesãs. Isso significava que ele a considerava alguém útil, tal fato poderia mudar a vida dela para melhor. Ele não queria dizer nada, pois tinha medo de estragar essa oportunidade para ela. No final, o Sr. Song decidiu manter a verdadeira identidade de Seo Jihak em segredo de Eunha. ‘Tenho certeza de que essa garota inteligente descobrirá a verdade sozinha.’
“Vamos nos ver de novo em breve. Tentarei vir aqui pelo menos uma vez por semana, certo? Não se esqueça de comer todas as refeições.”
“Claro, por favor, tome cuidado.”
“Até logo!”
Depois de se curvar a ele, ela bateu na porta. Então, como se estivessem esperando por sua chegada, um guarda abriu e a cumprimentou. Quando Eunha cruzou a soleira, sentiu o cheiro da fumaça vindo da sala principal, olhando na direção de onde a fumaça vinha, avistou o Milorde olhando para ela com um sorriso no rosto.
“Você finalmente chegou.”