Noites de Caos (novel) - Capítulo 07 – Presa (1/2)
Depois de sair da casa de Jihak, Eunha olhou para trás várias vezes. As coisas que aconteceram lá não pareciam reais. Era como se ela tivesse sonhado. Ele não ofereceu nem 100 e nem 1000 moedas de tael, ofereceu o dobro. Ele estava a testando? Queria ver se ela só estava atrás do dinheiro? Talvez amanhã ele diga algo diferente.
Ela deu um tapa no rosto com as duas mãos, o que surpreendeu o dono da livraria. – “Ficou maluca? Por que está se batendo?”
“Fiz isso porque não consigo acreditar no que acabou de acontecer.”
“Por quê? Se apaixonou por aquele senhor à primeira vista?”
“Amor? Não. Ele disse que me pagaria muito dinheiro, então estou tendo dificuldade em acreditar que isso realmente aconteceu.” – Eunha andava silenciosamente enquanto esfregava as bochechas.
Como ela parecia estar com dificuldades em aceitar o fato, o dono da livraria disse a ela – “Sério? Bem, isso não me surpreende. Afinal, ele também me pagou muito dinheiro pelos livros. Mas tenha cuidado, se o que você tem em mãos for muito doce, pode ser ruim para sua saúde.”
“O senhor está certo, por isso eu me bati, para ver se eu conseguia voltar aos meus sentidos. Eu estava com medo de cair em uma armadilha.” – O sorriso dela era tão fofo quanto a neve do inverno. Song, o dono da livraria, virou-se e olhou para a casa de Seo Jihak. Ele se lembrou do que tinha ouvido lá. – “Quem imaginaria que o dono daquela casa é o príncipe herdeiro?”
Embora Seo Jihak tenha perdido essa posição. O rei atual tinha quatro filhos. Dentre eles, apenas Seo Jihak era filho da rainha e por isso o rei o favorecia muito. Entretanto, quando a rainha morreu e uma de suas concubinas assumiu sua posição, um banho de sangue começou na família real. Foi uma longa luta e os cidadãos foram os que sofreram as consequências disso.
A maioria das pessoas achava que Seo Jihak acabaria assumindo o trono. Mas isso não aconteceu. No final, ele perdeu seu posto e foi forçado a ir morar no campo. Não só isso, mas ele também perdeu a visão. O dono da livraria Song tinha interesse em política, então estava ciente do que acontecia na capital.
‘Não acredito que uma pessoa tão assustadora queira a Eunha’. – O dono não conseguia deixar de pensar em como as coisas ficariam perigosas.
No entanto, não tinha certeza se deveria mencionar isso a ela. Esta poderia ser sua única chance de tirar a irmã da vida de cortesã. O Sr. Song afastou o pensamento e deu a Eunha um doce que havia recebido enquanto esperava que ela retornasse.
“Foi a primeira vez que comi algo tão doce e delicioso, deveria experimentar também.”
Eunha sorriu no momento em que viu o doce coberto com um pano de algodão. – “Muito obrigada. Senhor, se tudo correr bem, eu definitivamente retribuirei sua generosidade.”
O sorriso doce e adorável dela fez seu coração doer, mas ele decidiu ignorar.
***
Quando Eunha retornou com o remédio, a febre de Yongi havia diminuído consideravelmente. Enquanto a febre se recusava a baixar, Chunhe a carregou até a banheira para resfriar seu corpo. Somente depois de um banho frio Yongi conseguiu voltar aos seus sentidos.
“Irmã, este é um remédio que o próprio doutor Seo fez, então, por favor, tome. Além disso, vamos compartilhar este doce, foi dado a mim pelo dono da livraria.”
“…Obrigada, Eunha.”
“Ainda está com dor?” – Eunha perguntou enquanto tocava a testa de Yongi.
Yongi balançou a cabeça enquanto pegava o remédio. Depois, cortou o doce ao meio e deu uma porção para Eunha.
Enquanto comia o doce, Eunha tentava pensar em como contar à irmã sobre os acontecimentos do dia. Estavam com medo de Yongi descobrir sobre seu novo emprego como leitora, talvez sua irmã até ficasse mais doente depois de descobrir a verdade. No entanto, se não dissesse nada, Yongi ficaria muito brava. Entretanto, no final, ela decidiu manter isso em segredo.
“Irmã, vou começar a trabalhar com o dono da livraria.”
Yongi levantou as sobrancelhas em resposta e Eunha viu sua própria expressão refletida em seus olhos. Embora seus estilos de vestir fossem completamente diferentes, elas ainda se pareciam muito.
“Que tipo de trabalho vai fazer com o Sr. Song?”
“Um parente dele vende livros escritos em língua ocidental, por isso que ele tem tantos deles em sua livraria. Esse parente precisa de mais ajudantes, os livros originais são muito caros e por isso está os transcrevendo, mas não há muitas pessoas que saibam ler e escrever a língua ocidental, então me pediu para ajudar.”
Eunha ficou surpresa com o quão bem ela estava mentindo. Ela nem ficou nervosa. Yongi acreditou em suas mentiras e agora estava sorrindo enquanto acariciava as bochechas de Eunha.
“Fico feliz que ele tenha uma opinião tão boa sobre você.”
“É que eu sou ótima nisso!”
“Sim, você é muito inteligente. Me sinto aliviada agora.” – Yongi suspirou de alívio.
Eunha também sentiu uma sensação de alívio após ver a reação da irmã. Embora tivesse mentido para ela, tudo isso era para ajudá-la.
Como sua febre estava começando a piorar novamente, Eunha deixou Yongi descansar e começou a arrumar suas coisas. Ela pensou que conseguiria vir a cada dez dias para ver sua irmã, mas talvez seu empregador achasse suspeito se visitasse sua irmã com muita frequência. Talvez uma vez por mês fosse melhor.
Como ela usava principalmente roupas masculinas, não tinha muitas coisas para embalar, depois de embalar suas tintas e penas seu quarto começou a ficar vazio. Por fim, ela pegou o pote de dinheiro e colocou um selo nele. Agora, ninguém ousaria tocá-lo, só então ela ficou satisfeita e deitou-se ao lado da irmã.
Amanhã, ela teria que encontrar aquele homem assustador novamente. No entanto, as pessoas dizem que é possível se adaptar a qualquer coisa depois de um tempo, até mesmo a pessoas assustadoras. Com uma mente muito determinada, Eunha se cobriu e abraçou Yongi.
Pensamentos de não poder ver sua irmã por um tempo a deixaram triste. Geralmente, ela se comportava como um garota adulta, mas quando estava com a irmã ela sempre se sentia como uma criança. Ela encontrava conforto nos braços de Yongi, que era como uma figura materna para ela, e fechou os olhos. Aquela noite pareceu mais curta que o normal.
***
“Como o dono da casa não permitiu, não poderá sair de casa a partir de hoje.” – Cedo na manhã seguinte, os guardas bloquearam a saída de Eunha de sair da casa das cortesãs.
Song, o dono da livraria, não conseguia acreditar no que estava acontecendo. – “Por que estão fazendo isso? Ela não é uma cortesã!”
“Você não tem nada a ver com o assunto, velho. Nós só recebemos ordens da dona da casa.”
“Tenho certeza de que ela deve ter suas razões, mas ainda assim, tratar essa criança como uma cortesã é errado!”
Eunha, que normalmente tinha muito medo dos guardas, olhou para eles enquanto se perguntava como as coisas tinham chegado a esse ponto. A dona da casa das cortesãs nunca se importou com ela. Ela só ficava brava quando ela voltava atrasada dos estudos com o Jovem Mestre Yoon. Eunha entendia sua raiva, mas não queria parar de estudar por medo.
“Por que ela deu tal ordem?” – Eunha se perguntou.
“Senhor Song, volte por enquanto. Conte ao Milorde sobre a situação atual e peça a ele mais tempo. Tentarei sair daqui o mais rápido possível.”
“Oh… Certo. É a primeira vez que vejo ou ouço sobre tal absurdo. Vocês todos vão se arrepender disso!”
Os guardas não pareciam se importar com o aviso do Sr. Song. Pouco depois de ele ter saído, Yongi apareceu na entrada e começou a gritar com os guardas que estavam bloqueando Eunha.
“O que estão fazendo?! Como ousam bloquear o caminho dela?! Isso é uma ordem da senhora?!”
“Sim, então se você tiver alguma reclamação vá falar com ela.”
“Como ousa falar assim comigo?! Eunha, espere por mim. Eu vou falar com ela.”
Eunha sentiu que era melhor permanecer em silêncio. Agora ela estava começando a entender por que sua irmã queria que ela saísse daquela casa o mais rápido possível. E por que ela chorava todas as noites. A razão pela qual aquela senhora não queria que ela saísse daquela casa era óbvia.
“Estou aqui. Não precisa me procurar.” – Simdeok apareceu no momento em que Yongi estava prestes a se virar e os guardas se ajoelharam ao avistá-la.
Eunha e Yongi a confrontaram imediatamente. – “Por que deu essa ordem?”
Simdeok sorriu para o comentário severo de Yongi. Ela ficou na frente de Eunha e examinou-a da cabeça aos pés. Simdeok era concubina do ministro da defesa e dona da casa da cortesã. Ela ainda era tecnicamente uma plebeia, já que não conseguiu se tornar a esposa oficial. Apesar disso, tinha mais poder e influência do que a maioria dos nobres.
“Mesmo que esteja vestindo roupas masculinas, não pode esconder esse belo rosto.”
Eunha mordeu os lábios e respondeu – “Sou grata por suas palavras, mas não tenho intenção de viver da minha aparência.”
“Viver da aparência, hm? Eunha, você e sua irmã é uma plebeia, por que está agindo como se não fosse? Acha que é uma benção o fato de vocês duas poderem dormir em um quarto confortável e comer comidas deliciosas?” – Falou Simdeok de forma horrivelmente elegante. – “Ela é uma criança teimosa, então tranque-a. Não quero que veja o Jovem Mestre Yoon mais.”
“Prenderem ela?!’ – Mas Eunha silenciou Yongi, que estava prestes a gritar.
“Parece que houve um mal-entendido. Não sairei para ver o Jovem Mestre Yoon, vou trabalhar em um lugar bem longe daqui.”
Simdeok franziu a testa em desgosto depois de ouvir a palavra “trabalho”. – “Estou cansada de ouvir essa mentira. Se não consigo fazer o Jovem Mestre Yoon desistir de você, então irei impedir que se vejam. Já que sua irmã rejeitou minha oferta, esta é minha única escolha. Alguém tão descarada quanto você, que gosta de se vestir como um homem, vai se acostumar rápido. Guardas! O que estão fazendo?! Levem-a para o quarto!”.