Noites de Caos (novel) - Capítulo 06
Aquele aviso pareceu hostil, mas Eunha silenciosamente assentiu em concordância. A coisa mais importante para ela agora era ganhar dinheiro. Esse homem importante pagaria a ela mil moedas de tael. A julgar pela pilha de livros que o dono da loja trouxe, Eunha sabia que conseguiria pelo menos 500 moedas. Sua garganta provavelmente ficaria rouca, mas ela conseguiria suportar.
“Milorde, eu trouxe o leitor.”
“Entre.” – A voz que veio do outro lado da porta lhe deu arrepios. Era uma voz baixa e rouca.
Junto com o cheiro de madeira de pairava sobre a sala, havia um forte odor de tabaco e de tinta. Isso a lembrava de páginas de livro, molhadas com comida e bebida, que não secaram corretamente. A porta se abriu silenciosamente e uma luz suave e fraca iluminou o quarto.
Havia um homem sobre um assento feito de seda. Ele sorriu gentilmente enquanto olhava na direção onde ela estava. Ele usava um manto azul, que estava bem aberto. Ele tinha características faciais nobres, seus lábios eram vermelhos e de um belo formato, delicados como os de uma mulher. Por outro lado, era difícil dizer a cor de seus olhos, que eram como os de um animal selvagem.
Eunha sentiu como se fosse uma presa caminhando em direção à sua morte. Ela tentou o seu melhor para não se sentir intimidada, mas ainda estava com medo porque sabia o que a espada sob a mão direita dele representava. Parecia impossível se livrar da sensação de que estava entrando na caverna de um tigre, não a surpreenderia nem um pouco se esse homem de tirar o fôlego se transformasse de repente em um e a devorasse.
‘Como ele pode ser cego?’ – Eunha começou a pensar que o dono da livraria havia mentido para ela, porque o nobre definitivamente estava olhando diretamente para ela. Portanto, não poderia ser cego.
Parando a aproximadamente a dez passos dele, quando começou a se ajoelhar uma voz baixa e rouca a chamou – “Aproxime-se.”
Eunha se levantou, relutantemente andando mais dois passos para frente antes de parar novamente. No entanto, cada vez que ela parava seus passos, o homem, que tinha um sorriso no rosto, pedia para ela se aproximar ainda mais. Finalmente, quando estava a apenas um passo de distância, ela se ajoelhou e falou com a voz trêmula:
“Se eu chegar mais perto acabarei tocando nas pernas do Milorde.” – Quando olhou para cima, ele se inclinou para frente em seu assento, chegou mais perto do rosto dela e então colocou uma mão em sua bochecha, o que a assustou um pouco. – “M… Milorde…”
“Oh, você é uma menina… E muito jovem também.”
“Eu… Ainda que eu esteja usando saia ou calça, ler é ler.”
As pontas dos dedos dele eram macias, mas a palma da mão não, calos firmes esfregavam sua bochecha enquanto o polegar tocava seus lábios. Enquanto ele tocava seu rosto, ela manteve os olhos bem fechados.
“Se não quiser me contratar porque sou uma garota, entenderei.”
“Quem disse isso?”
“O quê?”
“Eu nunca disse que não iria contratá-la, só fiquei surpreso. Então, quantos anos você tem?”
“Eu… tenho dezoito anos.”
“Você é casada?”
“Ainda não.”
Ele baixou a mão depois que ela terminou de responder suas perguntas. Eunha respirou fundo e recuou um pouco.
Ela começou a questionar ainda mais a cegueira dele, mas certamente seria punida se perguntasse sobre isso. Além disso, não conseguia deixar de pensar em quão bonito ele era, mesmo em meio à situação atual. Ela poderia compará-lo à visão de uma gota de orvalho agarrada a uma folha no início da manhã? Ou ao momento em que o carvão começava a brilhar vermelho escarlate no meio de uma pilha de cinzas? Era difícil encontrar as palavras corretas para descrever a beleza desse homem. Eunha sentiu que se ela desviasse o olhar, ele simplesmente desapareceria.
Lembrando-se do aviso do guerreiro para não fazer perguntas, ela silenciosamente esperou que ele lhe pedisse algo. O homem estava tocando os lábios com os mesmos dedos que tinha usado para tocá-la antes de apontar para uma estante de livros.
“Vá até a estante e me traga o livro que está no topo daquela pilha.”
Seguindo suas instruções, Eunha localizou o livro e, ao entregá-lo a ele, percebeu que o título era “O Príncipe”. Era um livro que ela ainda não tinha lido, mas o título a deixou ainda mais confusa do que antes.
“Milorde, aqui está o livro que pediu.”
“Leia.”
“O quê?”
“Não me faça repetir. Preciso ver o quão boa você é antes de decidir quanto dinheiro lhe pagar.”
“C… Como devo proceder? Quer que eu interprete o conteúdo ou leia literalmente?”
“Isso parece interessante. Faça dos dois jeitos.”
Eunha podia sentir que o homem estava tendo dúvidas sobre suas habilidades. Ele provavelmente pensava que ela estivesse tentando tirar vantagem de sua cegueira fingindo saber ler e pegar o dinheiro sem fazer nenhum trabalho real. Ela virou as páginas do livro lentamente e cuidadosamente. Ele estava tão perto que ela podia sentir a respiração do homem em sua testa.
‘Não é como se ele fosse surdo, por que tenho que ler com ele a uma distância tão próxima?’
“Niccolò Maquiavel ao Magnífico Lorenzo de Medici.”
Quando ela começou a ler sobre a monarquia os olhos dele começaram a brilhar enquanto a observava de cima. Recitar parágrafos cheios de palavras que ela nunca tinha visto antes deixou Eunha envergonhada, mas ela conseguiu entender o significado quase imediatamente. O texto era uma carta que um subordinado havia escrito ao seu rei, mas que deveria ser vista por todos. Enquanto ela lia o homem sorria para ela com satisfação.
“Espero que ouvir a leitura uma pessoa de baixo status sobre como governar um território não o incomode.”
Seus olhos tremiam enquanto lia um livro cheio de palavras pesadas que não deveriam ser ditas em voz alta. Quando Eunha diminuiu lentamente a velocidade da leitura e olhou para cima, o homem levantou uma sobrancelha enquanto segurava um longo cigarro na boca.
“Você está indo bem.”
“Fico feliz que esteja satisfeito.”
“Quem lhe ensinou a ler?”
“Alguém próximo a mim foi um bom professor.”
“Então, qual é o preço da sua voz?” – Diante da pergunta do homem, ela baixou o olhar.
Uma chance como essa nunca mais aconteceria. Se ela deixasse essa oportunidade passar, provavelmente se arrependeria pelo resto da vida.
“Acho que minha voz vale pelo menos mil moedas de tael.”
“Mil moedas, hein?” – Ele provavelmente pensou que ela havia pedido demais.
‘Devo baixar meu preço para setecentas moedas?’ – Eunha se perguntou.
Até que de repente ele tocou seu queixo com o dedo. – “Só isso?” – Ele perguntou, levantando o rosto dela e sorrindo.
“Lhe pagarei o dobro. Não, o quádruplo. Mas, você deve ler pelo menos trinta livros para mim. Quando terminar, renegociaremos o preço do próximo lote.”
“S… Sério?”
“Mas antes disso, há algo que deve se lembrar.”
Eunha engoliu em seco e assentiu. Suas mãos tremiam. Ele tinha acabado de lhe dar uma corda que a ajudaria a subir na escala social. Se fosse o quádruplo do valor que ela havia pedido, seria mais do que dinheiro suficiente para comprar a liberdade da irmã. Ela também poderia comprar uma casa e até abrir uma loja. Esse dinheiro seria sua salvação.
Então, de repente, ele parou de sorrir e abaixou a cabeça para sussurrar em seu ouvido: – “Agora sou o dono de sua voz. A qualquer momento, se eu sentir vontade de ouvi-la… Você estará aqui, sempre. Entendido?”
***
Jihak estava fumando enquanto olhava para o local onde Eunha estava ajoelhada até recentemente lendo o livro que havia pedido, a fumaça escapava lentamente de seus lábios. Ele usou a piteira para virar as páginas do livro, já o lera tantas vezes que o havia memorizado.
Portanto, como ele já havia memorizado todo o conteúdo do livro, sabia que ela não havia mentido sobre suas habilidades. Se a garota tivesse tentado falsificar a leitura ou mentir sobre o conteúdo do livro, teria quebrado o pescoço dela ali mesmo. Aquele pescoço pálido e fino era tão delicado que uma das mãos dele seria o suficiente para esmagá-lo. Mas ela tentou o seu melhor até o fim.
“Milorde, o leitor já foi embora.” – Yuljae se ajoelhou diante de Jihak, sorrindo, e dirigiu seu olhar para ele.
“Yuljae, mande alguém espalhar um boato de que o antigo príncipe herdeiro, Seo Jihak, contratou um leitor. Certifique-se de que descrevam o fato de que ela estava vestida com roupas masculinas e ele apenas a fez ler para ele.”
“Entendido.”
Jihak abriu a janela ao lado e a fumaça que enchia o quarto saiu, clareando sua visão.
“Se esse rumor se espalhar pela capital os oficiais corruptos provavelmente acreditarão na mentira sobre minha cegueira. Pensarão que ela é minha fraqueza e tentarão localizá-la. As coisas vão ficar interessantes.” – Seo Jihak sorriu maliciosamente,
‘Qual era mesmo o nome dela? Eunha?’
Só havia uma razão para escolher alguém tão pequeno, suave e mentalmente fraco quanto ela. Para usá-la como isca. Ele precisava de uma isca inteligente, mas frágil o suficiente para que fosse fácil de matar. Quando ela não fosse mais útil poderia descartá-la, embora fosse bonita demais para simplesmente jogar ser jogada fora depois de usada, o fato de ela ser de classe baixa não mudava nada. Mesmo que ela morresse, ninguém se importaria, mas quando ele se lembrou do olhar dela começou a se sentir estranho.
“Ficará sentado observando-a ser ameaçada?”
Jihak estava olhando pela janela, mas se virou para Yuljae e lhe deu um olhar frio ao ouvir sua pergunta. Yuljae se curvou enquanto tremia. – “Perdoe minha intromissão, Milorde.”
Jihak se levantou depois de bater na cinza do cigarro. Ele tinha mais de 1,80 m de altura e ombros largos. Por um momento, Seo Jihak olhou para Yuljae com a presença majestosa de quando ainda era o príncipe herdeiro.
“Não está curioso para ver quem tentará abordá-la primeiro? Bem, não importa quem seja, não serão capazes de matá-la. Afinal, ela concordou em se tornar minha. Então, se ela vive ou não, isso é algo que eu decidirei. Não concorda?”