Noites de Caos (novel) - Capítulo 04
“Casamento?!” – Eunha se levantou enquanto cerrava os punhos.
Lee Yongi já sabia que sua irmãzinha reagiria assim, então deixou cair uma bolsa de incenso na água do banho. Um doce aroma de flores começou a se espalhar pelo banheiro. Era o aroma que as cortesãs usavam enquanto se enfeitavam. Eunha nunca gostou do cheiro do incenso e imediatamente começou a procurar a bolsa. Lee Yongi suspirou e segurou seu braço.
“Me escute!”
“Irmã, por que está procurando um marido para mim? É porque eu não lhe obedeço sempre? Vou mudar minha atitude, então, por favor, pare. Vou ganhar dinheiro apenas entregando recados e não vou mais me meter em problemas””
“Eunha, você precisa se casar logo. Se ficar mais velha não vai conseguir encontrar um bom parceiro, terá que se contentar em ser concubina de algum velho.” – Lee Yongi respondeu firmemente. Ela não se importava com as promessas de Eunha.
Eunha perdeu as forças. Ela não sabia se era por causa do que Lee Yongi tinha acabado de lhe dizer ou se era vapor da água quente. Conforme ela foi ficando mais velha, começou a agir mais e mais como um homem. Quem iria querer uma esposa que fosse habilidosa em artes marciais e gostasse de caçar? Não só isso, Eunha pensava que Lee Yongi também queria passar com ela o resto de suas vidas, mas agora ela de repente está tentando encontrar um marido para ela?!
Eunha juntou os joelhos, apoiando o queixo sobre eles, e começou a chorar. – “Não vou a lugar nenhum sem você. Se quer que eu me case, terá que ir comigo.”
Lee Yongi sorriu com as palavras da irmã. Ela derramou um pouco de água em cima da cabeça. – “Não seja boba. Você é muito inteligente e gosta de ler, talvez um mercador seja um bom parceiro. Quero que você seja livre, Eunha.”
“Não.”
“Por quê? Quer se tornar uma cortesã também?” – Após ouvir a palavra cortesã, Eunha levantou a cabeça. Lee Yongi pegou uma toalha e enxugou as lágrimas dos olhos dela.
“Trabalho como cortesã há mais de dez anos. Durante esse tempo, desenvolvi um sexto sentido, eu estou realmente preocupada com você. Sei do que estou falando, então, por favor, me escute.”
***
Eunha não sabia quanto tempo havia passado. Ela estava começando a tremer devido à água fria, então se levantou e saiu do banheiro. Depois de retornar ao seu quarto, pegou os livros novos que havia ganhado do dono da livraria. Normalmente, ela ficaria emocionada em ler e aprender algo novo, mas agora, ela simplesmente não conseguia se concentrar nas palavras escritas nas páginas. Parecia ser uma história sobre uma garota se apaixonando por um garoto de uma família rival, mas ela não tinha certeza.
Eunha se levantou e sentou-se encostada na parede. Foi quando ela descobriu que o trabalho noturno havia começado. Ela podia ouvir as risadas sedutoras das mulheres e as vozes grossas dos homens. Embora estivesse acostumada com esse tipo de barulho, isso a incomodava mais do que nunca esta noite. Eunha pegou os livros e saiu do quarto.
A vasta casa das cortesãs estava iluminada como se ainda fosse dia. As cortesãs usavam roupas muito leves, como se não pudessem sentir o frio, e os criados estavam muito ocupados servindo comida e álcool. Eunha vestiu roupas de algodão para se proteger do frio e saiu furtivamente. Durante essas horas de maior movimento, os guardas não pareciam se importar com o que ela fazia, o que facilitava sua fuga.
“Senhor!” – Eunha chamou o dono da livraria.
Ele pareceu surpreso com a visita tarde da noite. – “O que você está fazendo aqui tão tarde da noite?”
“Preciso de um lugar para ler alguns livros sem ser incomodada. Se me deixar ficar aqui um pouco, eu lhe pagarei.”
Eunha tinha chegado aqui no momento certo. O dono da livraria estava planejando visitá-la para atender ao pedido do cliente cego que tinha estado lá mais cedo naquele dia. Ele começou a tremer ao se lembrar da aura perigosa do cliente.
“Parece que finalmente ficou sóbria!” – O dono da livraria lhe disse em tom sarcástico.
Eunha tirou o cocar e sorriu. – “Era tão óbvio assim?”
“Não era só o cheiro de álcool, você também cheirava a pólvora e carne de porco assada.”
“Sério? Ainda cheiro assim?”
“Está falando sério?”
“Cheiro a perfume agora, certo?”
“O cheiro é tão forte que consigo sentir o gosto.”
Eunha cheirou os braços dela. Ainda havia um pouco do cheiro do incenso nela. Ela ficou envergonhada e tirou os livros que havia trazido para ler. O dono da livraria deu a ela alguns doces e se sentou na frente dela.
“Lá está muito barulhento esta noite, vim aqui porque queria ler em silêncio.”
“Aquele cara rico está assediando Lee Yongi de novo?”
O homem acendeu um cachimbo e a fumaça do cigarro começou a se espalhar pela sala. Eunha estava comendo os doces com uma expressão irritada no rosto. Depois de comer o doce em silêncio por um tempo, ela fechou o livro e perguntou:
“Senhor, estive pensando uma coisa. Quanto custa para libertar uma cortesã da casa de cortesãs?”
“Por quê? Está planejando libertar Lee Yongi?”
“Por que não? Sabe que é por isso que estou trabalhando tanto, certo? É tudo para que eu possa libertar minha irmã da casa de cortesãs.”
O dono deu uma batidinha no cigarro para se livrar das cinzas e expirou enquanto tentava pensar em uma resposta. – “Vamos ver… Normalmente, para ter uma cortesã se tornando sua concubina, é necessário um pagamento de 300 moedas tael. Então, para alguém como Lee Yongi, você provavelmente precisará de pelo menos mil.”
O dono estava brincando com sua barba enquanto observava Eunha. Ela era definitivamente a irmã mais nova de Lee Yongi. Sempre que ela estava vestida como um menino parecia apenas um jovem muito bonito, mas quando ela trocava de roupa, sua beleza realmente se destacava.
O homem, que pediu para ser apresentado a Eunha, mencionou sua cegueira, então não havia como ele ter visto a beleza dela. Ele provavelmente só precisava de alguém que conseguisse ler para ele.
Eunha ficou chocada com a enorme quantidade de moedas que precisava. – “Eu sabia que libertar minha irmã custaria muito dinheiro, mas nunca pensei que seriam necessárias mil moedas de tael.”
“Vai mesmo me dizer que não sabia? Sabe quantas pessoas querem pôr as mãos na flor número um?”
“Senhor, minha irmã não é uma flor, ela é humana.”
“Eu sei, eu sei. Só usei essa expressão porque todo mundo a chama assim.” – O dono da livraria disse que enquanto esperava a oportunidade de compartilhar a mensagem que ele tinha.
“Eunha…”
“Sim?”
“Quer trabalhar como leitora?”
“Leitora?”
“Sim, há alguém que precisa de uma pessoa que possa ler livros escritos em língua ocidental.” – O dono explicou nervosamente.
Eunha parecia confusa, mas também curiosa, então ele decidiu lhe fazer uma proposta que ela não poderia recusar. – “Ele me disse que lhe pagaria muito dinheiro. Então… Está interessada?”
***
Lee Yongi parou de sorrir, ela estava cerrando os punhos com força suficiente para deixar marcas em suas mãos. – “Minha irmãzinha não está destinada a se tornar uma cortesã. Então por que…”
Simdeok riu enquanto observava os lábios trêmulos de Lee Yongi. – “Como sabe se ela está destinada ou não? Graças à sua beleza, há muitas pessoas me perguntando sobre Eunha.”
“Essa não é uma razão boa o suficiente para forçar alguém a esse estilo de vida. Não permitirei que minha irmã viva como cortesã.” – O pesadelo de Lee Yongi havia se tornado realidade. Simdeok era alguém que não se importava com a vontade dos outros e era perfeitamente capaz de forçar alguém a esse estilo de vida.
Quando Lee Yongi era mais jovem, ela costumava ter medo de olhar nos olhos de Simdeok, mas naquele momento, ela não estava assustada. Este lugar estava aberto graças a ela, não a Simdeok, pois ela era sua principal fonte de renda. Lee Yongi sempre pensou que Simdeok não ousaria tocar em Eunha por esse motivo.
“Lorde Jo Youngho me pediu para lhe entregar a ele. Ele quer que você se torne sua concubina. Como ele me ajudou muito no passado, eu não pude recusar imediatamente, mas devo dar a ele uma resposta em breve. Então, a escolha é sua. Se torne concubina dele ou farei de Eunha uma cortesã.”
Lee Yongi riu das palavras que acabara de ouvir. – “Ele não é o imperador. Já tem sete filhos e cinco concubinas e você quer que eu me torne a sexta? Como ousa fazer uma proposta tão ridícula para mim?”
Simdeok abaixou sua xícara de chá com raiva e olhou feio para Lee Yongi. Enquanto isso, Lee Yongi olhou feio de volta.
“Parece que o Jovem Mestre Yoon tem aquela garota em seu coração. Eu dei a vocês duas um lugar para ficar e comida para comer, é assim que me recompensam?! Eu já disse a você que uma linha precisava ser traçada entre eles! Acha que ela já não sabe sobre os sentimentos dele?!”
Lee Yongi fechou os olhos para pensar. Eunha não estava ciente dos sentimentos do Jovem Mestre Yoon. Ela nunca tinha estado com um homem, portanto, não havia como ela ter continuado a amizade sabendo dos sentimentos de Shihoon. Depois de se acalmar um pouco, Simdeok encheu sua xícara com chá, as folhas de chá branco exalavam um aroma muito puro e limpo. Limpo, diferente deste lugar.
“Vou procurar marido para Eunha. Também estou incomodada com o que acabou de dizer. No entanto, ela não está ciente dos sentimentos entre homens e mulheres e, além disso, não tem sentimentos pelo Jovem Mestre Shihoon. Como posso não saber quando ela é minha irmãzinha? Dê-me algum tempo. Depois que eu conseguir um bom marido para ela, planejo viver uma vida silenciosa como uma freira, então, por favor…”