As Noites da Imperatriz (novel) - Capítulo 15
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Tradução: Gab
Revisão: Gab
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Flashback…
Aranrhod Linister, a primeira e última filha da linhagem imperial do império, deslizou para fora da cama e puxou as roupas escondidas embaixo dela. Conseguiu obter camisas largas e calças justas persuadindo uma jovem serva de altura e porte semelhantes aos seus. Para a serva, aquilo soou como uma ameaça, mas para Aran, era sinceridade.
Ela trocou de roupa e prendeu o longo cabelo loiro platinado diante do espelho. Olhou para si mesma. Era roupa masculina, e parecia estranho, mas não ficou tão ruim. Na verdade… ela gostou. Era muito mais confortável do que os vestidos que usava todos os dias.
“Certo.”
Ela remexeu debaixo da cama mais uma vez e pegou a espada de madeira e o livro. Apanhou a espada com cuidado e olhou ao redor, cambaleando um pouco por causa do peso. Quase caiu… mas não se deixou desanimar.
Ultimamente, ela passara a admirar as cavaleiras da Ordem Imperial. Todos os dias, lançava olhares furtivos quando as via com seus uniformes negros, manejando com destreza espadas afiadas. Esquecendo-se de seu corpo frágil, imaginava-se como uma cavaleira.
Certa vez, em seu décimo terceiro aniversário, pediu ao pai que lhe ensinasse esgrima como presente. Seu pai a adorava e sempre atendia a seus pedidos, mas esse… quase infartou tentando acalmá-la. Tentou, embora em vão, rejeitar a sua súplica, mas o olhar dela não era algo que pudesse ignorar. No fim, foi forçado a ceder.
Ela aprenderia o caminho da espada quando estivesse na idade certa.
Mas ela não tinha intenção de esperar até lá.
Muito bem.
Se era assim, aprenderia o caminho da espada sozinha. Aran escapou do quarto pela janela, com a espada amarrada à cintura com um barbante. Estava feliz que seu quarto não ficasse tão alto, caso contrário seria difícil fugir.
Escondida nas sombras da noite, correu até o lugar onde sonhava estar durante o dia. Ao chegar, retirou as velas presas sob os braços e as acendeu. Depois, abriu o livro e observou o cavaleiro retratado. Copiou sua postura como descrito, mas todos os movimentos eram desajeitados.
Ainda assim, ela não desistiu.
A cada golpe com a espada de madeira, sua respiração tornava-se mais pesada, até que ficou completamente sem fôlego. Sem conseguir continuar, arremessou a espada de madeira para o lado e caiu estirada no chão. Estava em plena madrugada, mas a lua ainda não brilhara. Parecia, entretanto, prestes a romper o céu junto às estrelas cintilantes.
A brisa da noite refrescou sua testa úmida, e Aran fechou os olhos, satisfeita. Nesse momento, um movimento repentino ecoou.
“Quem está aí?”— Aran perguntou. Levantando-se depressa, pegou a espada de madeira ao seu lado.
Por mais tarde que fosse, as chances de uma princesa imperial enfrentar perigo iminente eram tão baixas quanto as de um plebeu ser atingido por um raio no meio da rua, mas, ainda assim, Aran empunhou a espada com firmeza.
“…”
As únicas pessoas que saíam a essa hora da noite eram as criadas. Talvez estivessem planejando assustá-la… ou contar ao seu pai que viram a filha vagando tarde da noite. Com esse pensamento, os olhos de Aran brilharam e ela encarou a escuridão atentamente.
“Quem está aí?”— Insistiu.
“Sou Enoch… da Casa dos Roark”— Respondeu a voz.
Então um garoto surgiu.
“A Casa dos Roark…?”— Aran abriu a boca, sem pensar em nada, esquecendo no mesmo instante sua determinação de assustar o intruso.
Talvez ela não fosse tão confiante quanto imaginava, assim como a lua que ainda não tinha coragem de aparecer no céu.
O garoto olhou para o cabelo da princesa.
Cabelos loiros claros o suficiente para parecerem prateados a primeira vista… o símbolo da família imperial.
Ao reconhecê-la, ele se ajoelhou imediatamente.— “Vossa Alteza é a Princesa Aranrhod. É uma honra conhecê-la.”
Aran ficou constrangida ao vê-lo cumprimentá-la tão educadamente. Nunca em toda a sua vida havia visto um ser humano tão belo.
Seu coração começou a disparar.
“Ahm…”
Ainda bem que era noite. Oculta pela escuridão, o garoto não seria capaz de perceber o quão desarrumada ela estava, suada e suja. E suas bochechas… estavam vermelhas como maçãs maduras. Enoch, alheio às circunstâncias de Aran, inclinou a cabeça e a observou, hesitante.
“Vossa Alteza… está passando mal?”— Ele não sabia o que ela estivera fazendo ali, mas sua postura… parecia estranha.
Estaria em perigo? Talvez estivesse ferida?
Enoch se levantou, tomado por um súbito temor de que algo terrível tivesse acontecido à princesa.
“Não! Fique longe!”— A Aran recuou, gritando de forma aguda.
Ela estava envergonhada. Cheirava a suor.
Vergonha… era um sentimento estranho. Ela, que sempre fora elogiada, nunca sentira aquilo. A constatação a abalou. Ela estaria… tímida?
Seu pedido desesperado fez o Enoch parar.
“A senhorita não está ferida?”— ele perguntou.
“Não. Não estou ferida. Então… não chegue mais perto, está bem?”
“Sim, Vossa Alteza.”
Com a calma dele, Aran percebeu a tolice de sua reação. Seu comportamento não tinha lógica alguma, mas de uma coisa tinha certeza: quanto mais ficasse ali, maior a chance de fazer alguma bobagem.
Decidiu ir embora antes que se tornasse uma completa idiota.
“M-mantenha segredo sobre ter me visto… ou então…”— Aran hesitou, incapaz de dizer a ameaça que engasgava em sua garganta.
Como ousaria ameaçar aquele garoto tão bonito?
Virou-se rapidamente e foi embora.
De volta ao quarto, a Aran largou a espada de madeira e desabou sobre a cama. Teve dificuldade para dormir. Seu coração continuava acelerado. A imagem daquele belo garoto dominava a sua mente.
…Seria isso amor?
No dia seguinte, descobriu que o garoto era seu noivo.
Aquele era o dia mais feliz da sua vida.