As Noites da Imperatriz (novel) - Capítulo 12
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Tradução: Gab
Revisão: Gab
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A Imperatriz, sentada majestosamente à cabeceira da mesa, olhava para os nobres aristocratas que ostentavam expressões rígidas. Sua maquiagem, incomumente pesada, fazia-a parecer mais uma boneca. Ela era bela, poderosa, um rosto raro de se encontrar, embora poucos ainda se lembrassem da garota que um dia sorrira tão brilhante quanto uma flor da primavera.
“Por que estão todos em um silêncio mortal?” — sua voz era fria.
Há pouco, um ar desconfortável pairara na sala de conferências quando ela propôs a redução dos impostos sobre os cidadãos. O mais velho dos presentes, o Marquês Kelon, abriu a boca: — “Vossa Majestade, os impostos não aumentaram significativamente em comparação aos anos anteriores. E, com todo o orçamento já planejado para o próximo ano, um corte súbito de prejudicaria gravemente nossas finanças.”
“De fato. Mas não posso permitir que meus súditos sofram na pobreza por três anos consecutivos. Não acha, Marquês?” — respondeu a Imperatriz com frieza.
O Marquês Kelon cerrou o punho. — “Vossa Majestade, embora eu ache deveras louvável que se preocupe com meu povo, não precisa se inquietar tanto. Cada território tem seus próprios meios.”
As palavras dele soaram exageradas, com uma suavidade afiada na voz. Insinuava, de modo eufemístico e infantil, que a Imperatriz Regente não deveria se intrometer em seus assuntos. Um riso debochado escapou da boca de alguns aristocratas. A Imperatriz não se moveu.
“O alívio aos súditos é o que devemos considerar após os precedentes de isenção tributária.”
Tendo passado toda a vida desfrutando dos prazeres do privilégio e da riqueza dentro dos corredores do palácio, ela não conhecia as experiências do povo comum. Ainda assim, um cálculo analítico simples mostraria que a vida deles, neste momento, estava em necessidade extrema de ajuda.
A sucessão de três anos de colheitas ruins e fome levara os lares do povo à miséria e, em alguns casos, à pobreza extrema. Muitos morreriam antes que o inverno terminasse, caso a conversa falhasse. Sendo uma marionete ou não, ela usaria seu poder como Imperatriz para garantir que seus súditos fossem alimentados.
“Vossa Majestade, a redução de impostos apenas reduzirá a verba que flui para a família real. Como pretende preencher o tesouro nacional? Tem um plano?” — perguntou o Duque Silas, um oficial proeminente apesar da pouca idade.
A Imperatriz Regente o encarou sem desviar de seu olhar penetrante. — “Enviarei uma auditoria a cada propriedade para recolher a tributação ilegal. Como já devem saber, há aristocratas que se deleitam em luxo e prazeres excessivos, mas nunca se preocupam em pagar um único centavo em impostos por conveniência própria. Eles serão multados pelo uso indevido dos impostos. Isso será mais do que suficiente para preencher nossos cofres nacionais. Devo acrescentar que itens de luxo também serão taxados. Não são uma necessidade, e sim um desejo. Não podemos esbanjar quando nossos súditos precisam de ajuda.”
“Vossa Majestade” — o Duque Silas não se preocupou em esconder a expressão irritada e prosseguiu — “acredita que exista um nobre que aceite tal proposta? Pense bem.”
“Não há motivo para não aceitá-la. Não é nosso dever, como nobreza e classe governante, dar quando o país passa por tempos difíceis, o nosso dever de servir ao povo?”— Recaiu-se um pesado silêncio.
As palavras obstinadas da governante foram como água fria derramada sobre eles. Uma tensão densa se espalhou entre ela e os aristocratas. Aranrhod Linister era uma Imperatriz Reinante normalmente calma, mas às vezes teimosa e firme em suas convicções — algo de que ela própria não tinha plena consciência.
O Duque Silas estalou a língua, frustrado, e olhou para a Imperatriz com uma expressão decidida. Ele, por si mesmo, era fraco demais para sentar-se ao trono. Silas fazia inimigos com facilidade ao agir como advogado do diabo, embora mal conseguisse se proteger. Gostava da Imperatriz Regenre, apreciava seu espírito interessado — algo que não via nos outros aristocratas. Mas também não queria envolver-se em algo que exigisse cortar a própria carne para alimentar as massas.
O Duque voltou o olhar para o Grão-Duque. Ele era o leal apoiador da Imperatriz e detinha mais poder do que todos os outros na sala juntos. Graças a ele, ela podia expressar seus pensamentos livremente, sem obstruções. O Duque Silas se perguntou como aquele encontro terminaria.
Tudo estava nas mãos do Grão-Duque. Todos os grandes acontecimentos recentes haviam se originado dele. Seria ele o mais atingido caso a auditoria se realizasse. O Duque Silas voltou a olhar para a Imperatriz. O rosto dela, escondido sob a pesada maquiagem, certamente empalideceria. Alguns outros aristocratas, percebendo que o Grão-Duque ainda não havia se posicionado ao lado da Imperatriz, começaram a protestar em voz alta.
A Imperatriz permaneceu em silêncio durante todo o tempo enquanto a atmosfera da sala de conferências se tornava cada vez mais acalorada. O menos esperado, o Duque Silas, propôs um meio-termo: — “Vossa Majestade, falando realisticamente, é difícil reduzir os impostos, mas como Vossa vontade é persistente, podemos considerar congelá-los no mesmo nível do ano passado. Vossa Majestade, por favor, faça uma concessão.”
“Mas…” — a Imperatriz Reinante hesitou, incapaz de dar uma resposta imediata.
À medida que seu silêncio se prolongava, os olhares zombeteiros dos aristocratas se tornavam mais cruéis. O Grão-Duque ainda não havia dado a sua opinião, e enquanto isso, eles se tornavam ainda mais ousados. A Imperatriz apertou a bainha de suas vestes. Já previra reações veementes deles. Nunca acreditara ingenuamente que todas as suas intenções seriam realizadas. Mas pensara que poderia suportar… não percebera, porém, que tanto sua mente quanto seu corpo estavam exaustos. Ela estava cansada. Queria ir embora, escapar.— “…Temos mesmo de ceder enquanto nosso povo sofre?”
Não deveria ter esperado muito deles. Talvez fosse melhor aceitar o a sugestão do Duque do que não obter nada. A Imperatriz Regente endireitou as costas e olhou diretamente para os aristocratas. Dezenas de pares de olhos a observavam de forma voraz, como lobos prontos para atacá-la a qualquer momento.
Ela apertou ainda mais o tecido entre os dedos. Sabia que fora derrotada. Os olhos deles cantavam vitória. Uma profunda sensação de impotência golpeou-lhe o peito.— “…Tenho de permanecer no trono enquanto assisto a meus súditos sofrerem impotentes?”
Foi quando a Imperatriz estava prestes a aceitar, desolada, a proposta do Duque, que o Grão-Duque, que até então observava os acontecimentos em silêncio, abriu a boca: — “Vossa Majestade, eu, Grão-Duque de Roark, aceito as auditorias e a redução dos impostos.”